Thursday 29 April 2021

Thursday's Serial: "O Guarani" by José de Alencar (in Portuguese) - XV

Capítulo XIII: Combate

Eram seis horas da manhã.

O sol elevando-se no horizonte derramava cascatas de ouro sobre o verde brilhante das vastas florestas.

O tempo estava soberbo; o céu azul, esmaltado de pequenas nuvens brancas que se achamalotavam como as dobras de uma lençaria.

Os Aimorés, grupados em torno de alguns troncos já meio reduzidos a cinza, faziam preparativos para dar um ataque decisivo.

O instinto selvagem supria a indústria do homem civilizado; a primeira das artes foi incontestavelmente a arte da guerra, — a arte da defesa e da vingança, os dois mais fortes estímulos do coração humano.

Nesse momento os Aimorés preparavam setas inflamáveis para incendiar a casa de D. Antônio de Mariz; não podendo vencer o inimigo pelas armas, contavam destruí-lo pelo fogo.

A maneira por que arranjavam esses terríveis projéteis, que lembravam os pelouros e bombardas dos povos civilizados, era muito simples: envolviam a ponta da flecha com flocos de algodão embebidos na resina da almécega.

Essas setas assim inflamadas, despedidas dos seus arcos voavam pelos ares e iam cravar-se nas vigas e portas das casas; o fogo que o vento incitava, lambia a madeira, estendia a sua língua vermelha, e lastrava pelo edifício.

Enquanto se ocupavam com esse trabalho, um prazer feroz animava todas essas fisionomias sinistras, nas quais a braveza, a ignorância e os instintos carniceiros tinham quase de todo apagado o cunho da raça humana.

Os cabelos arruivados caiam-lhe sobre a fronte e ocultavam inteiramente a parte mais nobre do rosto, criada por Deus para a sede da inteligência, e para o trono donde o pensamento deve reinar sobre a matéria.

Os lábios decompostos, arregaçados por uma contração dos músculos faciais, tinham perdido a expressão suave e doce que imprimem o sorriso e a palavra; de lábios de homem se haviam transformado em mandíbulas de fera afeitas ao grito e ao bramido.

Os dentes agudos como a presa do jaguar, já não tinham o esmalte que a natureza lhes dera; armas ao mesmo tempo que instrumento da alimentação, o sangue os tingira da cor amarelenta que têm os dentes dos animais carniceiros.

As grandes unhas negras e retorcidas que cresciam nos dedos, a pele áspera e calosa, faziam de suas mãos, antes garras temíveis, do que a parte destinada a servir ao homem e dar ao aspecto a nobreza do gesto.

Grandes peles de animais cobriam o corpo agigantado desses filhos das brenhas, que a não ser o porte ereto se julgaria alguma raça de quadrúmanos indígenas do novo mundo.

Alguns se ornavam de penas, e colares de ossos; outros completamente nus tinham o corpo untado de óleo por causa dos insetos.

Entre todos distinguia-se um velho que parecia ser o chefe da tribo. Sua alta estatura, direita apesar da idade avançada, dominava a cabeça dos seus companheiros sentados ou agrupados em torno do fogo.

Não trabalhava; presidia apenas aos trabalhos dos selvagens, e de vez em quando lançava um olhar de ameaça para a casa que se elevava ao longe sobre o rochedo inexpugnável.

Ao lado dele, uma bela índia, na flor da idade, queimava sobre uma pedra cova algumas folhas de tabaco, cuja fumaça se elevava em grossas espirais e cingia a cabeça do velho de uma espécie de brama ou névoa.

Ele aspirava esse aroma embriagador que fazia dilatar o seu vasto peito, e dava a sua fisionomia terrível um quer que seja de sensual, que se poderia chamar a voluptuosidade dos seus instintos de canibal. Envolta pelo fumo espesso que se enovelava em torno dela, aquela figura fantástica parecia algum ídolo selvagem, divindade criada pelo fanatismo desses povos ignorantes e bárbaros.

De repente a pequena índia que soprava o brasido queimando as folhas de pitima estremeceu, levantou a cabeça, e fitou os olhos no velho, como para interrogar a sua fisionomia. Vendo-o calmo e impassível, a menina debruçou-se sobre o ombro do selvagem, e tocandolhe de leve na cabeça, disse-lhe uma palavra ao ouvido. Ele voltou-se tranqüilamente, um riso sardônico mostrou os seus dentes; sem responder obrigou a índia a sentar-se de novo, e a voltar à sua ocupação.

Pouco tempo havia passado depois deste pequeno incidente, quando a menina tornou a estremecer; tinha ouvido perto o mesmo rumor que já ouvira ao longe. Ao passo que ela espantada procurava confirmar-se, um dos selvagens sentados em roda do fogo a trabalhar fez o mesmo movimento que a índia, e levantou a cabeça.

Como se um fio elétrico se comunicasse entre esses homens e imprimisse a todos sucessivamente o mesmo movimento, um após outro interrompeu o seu trabalho de chofre, e inclinando o ouvido pôs-se à escuta.

A menina não escutava só; colocando-se longe do fumo e de encontro à brisa que soprava, de vez em quando aspirava o ar com a finura de olfato com que os cães farejam a caça.

Tudo isto passou rapidamente, sem que os atores desta cena tivessem nem sequer o tempo de trocar uma observação e dizer o seu pensamento.

De repente a índia soltou um grito; todos voltaram-se para ela e a viram trêmula, ofegante, apoiando-se com uma mão sobre o ombro do velho cacique, e a outra estendida na direção da floresta que passava a duas braças servindo de fundo a esse quadro.

O velho ergueu-se então sempre com a mesma calma feroz e sinistra; e empunhando a sua pesada tangapema, que parecia uma clava de ciclope, fê-la girar sobre a sua cabeça como um junco; depois fincando-a no chão, e apoiando-se sobre ela, esperou.

Os outros selvagens armados de arcos e tacapes, espécie de longas espadas de pau que cortavam como ferro, colocaram-se a par do velho, e prontos para o ataque, esperavam como ele. As mulheres misturaram-se com os guerreiros; as crianças e meninos, defendidos pela barreira que opunham os combatentes, conservaram-se no centro do campo.

Todos com os olhos fitos, os sentidos aplicados, contavam ver o inimigo aparecer a cada momento e se preparavam para cair sobre ele com a audácia e ímpeto de ataque que distinguia a raça dos Aimorés.

Um segundo se passou nesta expectativa inquieta.

O estalido que a princípio tinham ouvido cessou completamente; e os selvagens cobrando-se do susto, voltaram aos seus trabalhos, convencidos de que tinham sido iludidos por algum vago rumor na floresta.

Mas o inimigo caiu no meio deles, subitamente, sem que pudessem saber se tinha surgido do seio da terra, ou se tinha descido das nuvens.

Era Peri.

Altivo, nobre, radiante da coragem invencível e do sublime heroísmo de que já dera tantos exemplos, o índio se apresentava só em face de duzentos inimigos fortes e sequiosos de vingança.

Caindo do alto de uma árvore sobre eles, tinha abatido dois; e volvendo o seu montante como um raio em torno de sua cabeça abriu um círculo no meio dos selvagens.

Então encostou-se a uma lasca de pedra que descansava sobre uma ondulação do terreno, e preparou-se para o combate monstruoso de um só homem contra duzentos.

A posição em que se achava o favorecia, se isso é possível à vista de uma tal disparidade de número: apenas dois inimigos podiam atacá-lo de frente.

Passado o primeiro espanto, os selvagens bramindo atiraram-se todos como uma só mole, como uma tromba do oceano, contra o índio que ousava atacá-los a peito descoberto.

Houve uma confusão, um turbilhão horrível de homens que se repeliam, tombavam e se estorciam; de cabeças que se levantavam e outras que desapareciam; de braços e dorsos que se agitavam e se contraiam, como se tudo isto fosse partes de um só corpo, membros de algum monstro desconhecido debatendo-se em convulsões.

No meio desse caos via-se brilhar aos raios do sol com reflexos rápidos e luzentes a lamina do montante de Peri, que passava e repassava com a velocidade do relâmpago quando percorre as nuvens e atravessa o espaço.

Um coro de gritos, imprecações e gemidos roucos e abafados, confundindo-se com o choque das armas, se elevava desse pandemônio, e ia perder-se ao longe nos rumores da cascata.

Houve uma calma aterradora; os selvagens imóveis de espanto e de raiva suspenderam o ataque; os corpos dos mortos faziam uma barreira entre eles e o inimigo.

Peri abaixou o seu montante e esperou; seu braço direito fatigado desse enorme esforço não podia mais servir-lhe e caía inerte; passou a arma para a mão esquerda.

Era tempo.

O velho cacique dos Aimorés se avançava para ele sopesando a sua imensa clava crivada de escamas de peixe e dentes de fera; alavanca terrível que o seu braço possante fazia jogar com a ligeireza da flecha.

Os olhos de Peri brilharam; endireitando o seu talhe, fitou no selvagem esse olhar seguro e certeiro, que não o enganava nunca.

O velho aproximando-se levantou a sua clava e imprimindo-lhe o movimento de rotação, ia descarregá-la sobre Peri e abatê-lo; não havia espada nem montante que pudesse resistir àquele choque.

O que passou-se então foi tão rápido, que não é possível descrevê-lo; quando o braço do velho volvendo a clava ia atirá-la, o montante de Peri lampejou no ar e decepou o punho do selvagem; mão e clava foram rojar pelo chão.

O velho selvagem soltou um bramido, que repercutiu ao longe pelos ecos da floresta, e levantando ao céu o seu punho decepado atirou as gotas de sangue que vertiam, sobre os Aimorés, como conjurando-os à vingança.

Os guerreiros lançaram-se para vingar o seu chefe; mas um novo espetáculo se apresentava aos seus olhos.

Peri, vencedor do cacique, volveu um olhar em torno dele, e vendo o estrago que tinha feito, os cadáveres dos Aimóres amontoados uns sobre os outros, fincou a ponta do montante no chão e quebrou a lamina. Tomou depois os dois fragmentos e atirou-os ao rio.

Então passou-se nele uma luta silenciosa, mas terrível para quem pudesse compreendê-la. Tinha quebrado a sua espada, porque não queria mais combater; e decidira que era tempo de suplicar a vida ao inimigo.

Mas quando chegou o momento de realizar essa súplica, conheceu que exigia de si mesmo uma coisa sobre-humana, uma coisa superior às suas forças.

Ele, Peri, o guerreiro invencível, ele, o selvagem livre, o senhor das florestas, o rei dessa terra virgem, o chefe da mais valente nação dos Guaranis, suplicar a vida ao inimigo! Era impossível.

Três vezes quis ajoelhar, e três vezes as curvas de suas pernas distendendo-se como duas molas de aço o obrigaram a erguer-se.

Finalmente a lembrança de Cecília foi mais forte do que a sua vontade.

Ajoelhou.

 

 

Capítulo XIV: O Prisioneiro

Quando os selvagens se precipitavam sobre o inimigo, que já não se defendia e se confessava vencido, o velho cacique adiantou-se; e deixando cair a mão sobre o ombro de Peri, fez um movimento enérgico com o braço direito decepado.

Esse movimento exprimia que Peri era seu prisioneiro, que lhe pertencia como o primeiro que tinha posto a mão sobre ele, como seu vencedor; e que todos deviam respeitar o seu direito de propriedade, o seu direito de guerra.

Os selvagens abaixaram as armas e não deram um passo; esse povo bárbaro tinha seus costumes e suas leis; e uma delas era esse direito exclusivo do vencedor sobre o seu prisioneiro de guerra, essa conquista do fraco pelo forte.

Tinham em tanta conta a glória de trazerem um cativo do combate e sacrificá-lo no meio das festas e cerimônias que costumavam celebrar, que nenhum selvagem matava o inimigo que se rendia; fazia-o prisioneiro.

Quanto a Peri, vendo o gesto do cacique e o efeito que produzia, a sua fisionomia expandiu-se; a humildade fingida, a posição suplicante que por um esforço supremo conseguira tomar, desapareceu imediatamente.

Ergueu-se, e com um soberbo desdém estendeu os punhos aos selvagens que por mandado do velho se dispunham a ligar-lhe os braços; parecia antes um rei que dava uma ordem aos seus vassalos, do que um cativo que se sujeitava aos vencedores; tal era a altivez do seu porte e o desprezo com que encarava o inimigo.

Os Aimorés, depois de ligarem os punhos do prisioneiro, o conduziram a alguma distancia à sombra de uma árvore, e ai o prenderam com uma corda de algodão matizada de várias cores a que os Guaranis chamavam muçurana.

Depois, ao passo que as mulheres enterravam os mortos, reuniram-se em conselho, presididos pelo velho cacique, a quem todos ouviam com respeito e respondiam cada um por sua vez.

Durante o tempo que os guerreiros falavam, a pequena índia escolhia os melhores frutos, as bebidas mais bem preparadas, e oferecia ao prisioneiro, a quem estava encarregada de servir.

Peri, sentado sobre a raiz da árvore e apoiado contra o tronco, não percebia o que se passava em torno dele; tinha os olhos fitos na esplanada da casa que se elevava a alguma distancia.

Via o vulto de D. Antônio de Mariz que assomava por cima da paliçada; e suspensa ao seu braço, reclinada sobre o abismo, Cecília, sua linda senhora, que lhe fazia de longe um gesto de desespero; ao lado Álvaro e a família.

Tudo o que ele havia amado neste mundo ali estava diante de seus olhos; sentia um prazer intenso por ver ainda uma vez esses objetos de sua dedicação extrema, de seu amor profundo.

Adivinhava e compreendia o que sentia então o coração de seus bons amigos; sabia que sofriam vendo-o prisioneiro, próximo a morrer, sem terem o poder e a força para salvá-lo das mãos do inimigo.

Consolava-o porém essa esperança que estava prestes a realizar-se; esse gozo inefável de salvar sua senhora, e de deixá-la feliz no seio de sua família, protegida pelo amor de Álvaro.

Enquanto Peri, preocupado por essas idéias, enlevava-se ainda uma vez em contemplar mesmo de longe a figura de Cecília, a índia de pé, defronte dele, olhava-o com um sentimento de prazer misturado de surpresa e curiosidade.

Comparava suas formas esbeltas e delicadas com o corpo selvagem de seus companheiros; a expressão inteligente de sua fisionomia com o aspecto embrutecido dos Aimorés; para ela, Peri era um homem superior e excitava-lhe profunda admiração.

Foi só quando Cecília e D. Antônio de Mariz desapareceram da esplanada, que Peri, lançando ao redor um olhar para ver se a sua morte ainda se demoraria muito, descobriu a índia perto dele.

Voltou o rosto e continuou a pensar em sua senhora e a rever a sua imagem; debalde a menina selvagem lhe apresentava um lindo fruto, um alimento, um vinho saboroso; ele não lhe dava atenção.

A índia tornou-se triste por causa dessa obstinação com que o prisioneiro recusava o que lhe oferecia e achegando-se levantou a cabeça pensativa de Peri.

Havia nos olhos da menina tanto fogo, tanta lubricidade no seu sorriso; as ondulações mórbidas do seu corpo traiam tantos desejos e tanta voluptuosidade, que o prisioneiro compreendeu imediatamente qual era a missão dessa enviada da morte, dessa esposa do túmulo, destinada a embelezar os últimos momentos da vida!

O índio voltou o rosto com desdém; recusava as flores como tinha recusado os frutos; repelia a embriaguez do prazer como havia repelido a embriaguez do vinho.

A menina enlaçou-o com os braços, murmurando palavras entrecortadas de uma língua desconhecida, da língua dos Aimorés, que Peri não entendia; era talvez uma súplica, ou um consolo com que procurava mitigar a dor do vencido.

Mal sabia que o índio ia morrer feliz e esperava o suplício como a realização de um sonho doce, como a satisfação de um desejo querido e por muito tempo afagado com amor.

Mas podia ela, pobre selvagem, pressentir e mesmo compreender semelhante coisa? O que sabia era que Peri ia ser morto; que ela devia suavizarlhe a última hora; e cumpria esse dever com um certo contentamento.

Peri sentindo os braços da menina cingirem seu colo, repeliu-a vivamente para longe de si; e voltando procurou ver por entre as folhas se descobria os preparativos que os Aimorés faziam para o sacrifício.

Tardava-lhe o momento supremo em que devia ser imolado à cólera e à vingança dos inimigos; sua altivez revoltava-se contra essa humilhação do cativeiro.

A índia continuava a olhá-lo tristemente, e sem compreender por que a repelia; ela era linda e desejada por todos os jovens guerreiros de sua tribo; seu pai, o velho cacique, tinha-a destinado para o mais valente prisioneiro, ou para o mais forte dos vencedores.

Depois de conservar-se muito tempo nesta posição, a menina adiantou-se de novo, tomou um vaso cheio de cauim, e apresentou-o a Peri sorrindo e quase suplicante.

Ao gesto de recusa que fez o índio, ela deitou o vaso no rio, e escolhendo sobre as folhas um cardo vermelho e doce como um favo de mel, estendeu a mão e tocou com o fruto a boca do prisioneiro.

Peri enjeitou o fruto como tinha enjeitado o vinho, e a virgem selvagem atirando-o por sua vez ao rio, aproximou-se e ofereceu ao prisioneiro seus lábios encarnados, ligeiramente distendidos como para receberem o beijo que pediam.

O índio fechou os olhos e pensou em sua senhora. Elevando-se até Cecília, seu pensamento desprendia-se do invólucro terrestre e adejava numa atmosfera pura e isenta da fascinação dos sentidos que escraviza o homem.

Contudo Peri sentia o hálito ardente da menina que lhe requeimava as faces: entreabriu os olhos, e viu-a na mesma posição, esperando uma carícia, um afago daquele a quem a sua tribo mandara que amasse, e a quem ela já amava espontaneamente.

Na vida selvagem, tão próxima da natureza, onde a conveniência e os costumes não reprimem os movimentos do coração, o sentimento é uma flor que nasce como a flor do campo, e cresce em algumas horas com uma gota de orvalho e um raio de sol.

Nos tempos de civilização, ao contrário, o sentimento torna-se planta exótica; que só vinga e floresce nas estufas, isto é, nos corações onde o sangue é vigoroso, e o fogo da paixão ardente e intenso.

Vendo Peri no meio do combate, só contra toda a sua tribo, a índia o admirara: contemplando-o depois quando prisioneiro, o achara mais belo do que todos os guerreiros.

Seu pai a destinara para esposa do inimigo que ia ser sacrificado; e portanto ela que começara por admirá-lo, acabava por desejá-lo, por amá-lo, algumas horas apenas depois que o tinha visto.

Mas Peri, frio e indiferente, não se comovia, nem aceitava essa afeição passageira e efêmera que tinha começado com o dia e devia acabar com ele; sua idéia fixa, a lembrança de seus amigos, o protegia contra a tentação.

Voltando as costas, levantou os olhos ao céu para evitar o rosto da selvagem que acompanhava a sua vista, como certas flores acompanham a rotação aparente do sol.

Entre a folhagem das árvores passava-se uma das cenas graciosas e singelas, que a cada momento no campo se oferecem à atenção daqueles que estudam a natureza nas suas pequenas criaturas.

Um casal de corrixos, que tinha feito o seu ninho num ramo, sentindo a habitação do homem e o fogo embaixo da árvore, mudava a sua pequena casa de palha e algodão.

Um desfazia com o bico o ninho, e o outro conduzia a palha para longe, para o lugar onde iam novamente fabricá-lo; quando acabaram este trabalho, acariciaram-se, e batendo as asas foram esconder o seu amor nalgum lindo retiro.

Peri se divertia em ver esse inocente idílio, quando a índia levantando-se de repente soltou um pequeno grito de alegria e de prazer, e sorrindo mostrou ao prisioneiro os dois passarinhos que voavam um a par do outro sobre a cúpula da floresta.

Enquanto ele procurava compreender o que queria dizer este aceno, a virgem desapareceu, e voltou quase imediatamente trazendo um instrumento de pedra que cortava como faca e um arco de guerra.

Aproximou-se do índio, soltou-lhe os laços que lhe ligavam os punhos, e partiu a muçurana que o prendia à árvore. Executou isto com uma extrema rapidez; e entregando a Peri o arco e as flechas, estendeu a mão na direção da floresta, mostrando-lhe o espaço que se abria diante deles.

Seus olhos e seu gesto falavam melhor do que a sua linguagem inculta, e exprimiam claramente o seu pensamento:

— Tu és livre. Partamos!

Wednesday 28 April 2021

Memorandum from Archbishop Fernando Guimarães to Archbishop Walmor Oliveira De Azevedo (in Portuguese)

Exmo. e Revmo

Dom Walmor Oliveira De Azevedo

Presidente da CNBB

 

Excelência e prezado Irmão,

 

Com relação à Campanha da Fraternidade de 2021, em consciência, devo declarar o seguinte.

 

1. O Serviço de Assistência Religiosa às Forças Armadas e Auxiliares é ecumênico em sua própria natureza e na atuação concreta junto à família militar. Os segmentos católicos, protestantes e kardecistas, aos quais pertence a maioria dos membros das Forças Armadas, convivem em harmonia e trabalham juntos. Nas celebrações inter-religiosas procuramos insistir sobre valores comuns, partilhados por todos, e evitamos aqueles temas que são contraditórios ou não aceitos por todas as igrejas e denominações. O diálogo inter-religioso é necessário e oportuno somente quando, no respeito às diversas expressões da fé, é realizado em sedes competentes. A evangelização dos fiéis, no entanto, em qualquer tempo e ainda em um tempo especial como é a quaresma católica, não é espaço para se dialogar sobre temas polêmicos e contrários à autêntica doutrina de nossa Igreja.

 

2. Compete aos bispos diocesanos, como autênticos Mestres e guardiões do Depósito da Fé, garantir a ortodoxia da fé que é pregada aos seus diocesanos. Esta missão, objeto de solene juramento por parte de cada um de nós antes de nossa ordenação episcopal, compromete a minha consciência de bispo e a ela jamais poderei renunciar.

 

3. Por este motivo, comunico-lhe que no Ordinariado Militar do Brasil, durante a quaresma deste ano, seguiremos as orientações teológico-litúrgicas próprias do tempo quaresmal e não serão utilizados quaisquer dos materiais produzidos oficialmente para a Campanha da Fraternidade deste ano. Nossos Capelães Militares estão sendo orientados, caso desejem abordar o tema da mesma, a utilizar unicamente a Fratelli tutti, do Papa Francisco.

 

4. Também o percentual da coleta destinado a esta Conferência Episcopal – e repartindo com outras entidades promotoras da Campanha – não será enviado e sim, realmente e efetivamente, empregado no socorro aos pobres, através de obra social reconhecida pelo Ordinariado Militar. Sobre este uso, será meu cuidado prestar contas posteriormente à Presidência.

 

Em união de oração, pela construção de uma autêntica comunhão episcopal.

 

Dom Fernando Guimarães

Arcebispo Ordinário Militar do Brasil

Tuesday 27 April 2021

Tuesday's Serial: “In Ghostly Japan” by Lafcadio Hearn (in English) - the end

 STORY OF A TENGU[1]

In the days of the Emperor Go-Reizei, there was a holy priest living in the temple of Saito, on the mountain called Hiyei-Zan, near Kyōto. One summer day this good priest, after a visit to the city, was returning to his temple by way of Kita-no-Ōji, when he saw some boys ill-treating a kite. They had caught the bird in a snare, and were beating it with sticks. “Oh, the, poor creature!” compassionately exclaimed the priest;—“why do you torment it so, children?” One of the boys made answer:—“We want to kill it to get the feathers.” Moved by pity, the priest persuaded the boys to let him have the kite in exchange for a fan that he was carrying; and he set the bird free. It had not been seriously hurt, and was able to fly away.

Happy at having performed this Buddhist act of merit, the priest then resumed his walk. He had not proceeded very far when he saw a strange monk come out of a bamboo-grove by the road-side, and hasten towards him. The monk respectfully saluted him, and said:—“Sir, through your compassionate kindness my life has been saved; and I now desire to express my gratitude in a fitting manner.” Astonished at hearing himself thus addressed, the priest replied:—“Really, I cannot remember to have ever seen you before: please tell me who you are.” “It is not wonderful that you cannot recognize me in this form,” returned the monk: “I am the kite that those cruel boys were tormenting at Kita-no-Ōji. You saved my life; and there is nothing in this world more precious than life. So I now wish to return your kindness in some way or other. If there be anything that you would like to have, or to know, or to see,—anything that I can do for you, in short,—please to tell me; for as I happen to possess, in a small degree, the Six Supernatural Powers, I am able to gratify almost any wish that you can express.” On hearing these words, the priest knew that he was speaking with a Tengu; and he frankly made answer:—“My friend, I have long ceased to care for the things of this world: I am now seventy years of age; neither fame nor pleasure has any attraction for me. I feel anxious only about my future birth; but as that is a matter in which no one can help me, it were useless to ask about it. Really, I can think of but one thing worth wishing for. It has been my life-long regret that I was not in India in the time of the Lord Buddha, and could not attend the great assembly on the holy mountain Gridhrakûta. Never a day passes in which this regret does not come to me, in the hour of morning or of evening prayer. Ah, my friend! if it were possible to conquer Time and Space, like the Bodhisattvas, so that I could look upon that marvellous assembly, how happy should I be!”

“Why,” the Tengu exclaimed, “that pious wish of yours can easily be satisfied. I perfectly well remember the assembly on the Vulture Peak; and I can cause everything that happened there to reappear before you, exactly as it occurred. It is our greatest delight to represent such holy matters…. Come this way with me!”

And the priest suffered himself to be led to a place among pines, on the slope of a hill. “Now,” said the Tengu, “you have only to wait here for awhile, with your eyes shut. Do not open them until you hear the voice of the Buddha preaching the Law. Then you can look. But when you see the appearance of the Buddha, you must not allow your devout feelings to influence you in any way;—you must not bow down, nor pray, nor utter any such exclamation as, ‘Even so, Lord!’ or ‘O thou Blessed One!’ You must not speak at all. Should you make even the least sign of reverence, something very unfortunate might happen to me.” The priest gladly promised to follow these injunctions; and the Tengu hurried away as if to prepare the spectacle.

The day waned and passed, and the darkness came; but the old priest waited patiently beneath a tree, keeping his eyes closed. At last a voice suddenly resounded above him,—a wonderful voice, deep and clear like the pealing of a mighty bell,—the voice of the Buddha Sâkyamuni proclaiming the Perfect Way. Then the priest, opening his eyes in a great radiance, perceived that all things had been changed: the place was indeed the Vulture Peak,—the holy Indian mountain Gridhrakûta; and the time was the time of the Sûtra of the Lotos of the Good Law. Now there were no pines about him, but strange shining trees made of the Seven Precious Substances, with foliage and fruit of gems;—and the ground was covered with Mandârava and Manjûshaka flowers showered from heaven;—and the night was filled with fragrance and splendour and the sweetness of the great Voice. And in mid-air, shining as a moon above the world, the priest beheld the Blessed One seated upon the Lion-throne, with Samantabhadra at his right hand, and Manjusri at his left,—and before them assembled—immeasurably spreading into Space, like a flood Of stars—the hosts of the Mahâsattvas and the Bodhisattvas with their countless following: “gods, demons, Nâgas, goblins, men, and beings not human.” Sâriputra he saw, and Kâsyapa, and Ânanda, with all the disciples of the Tathâgata,—and the Kings of the Devas,—and the Kings of the Four Directions, like pillars of fire,—and the great Dragon-Kings,—and the Gandharvas and Garudas,—and the Gods of the Sun and the Moon and the Wind,—and the shining myriads of Brahmâ’s heaven. And incomparably further than even the measureless circling of the glory of these, he saw—made visible by a single ray of light that shot from the forehead of the Blessed One to pierce beyond uttermost Time—the eighteen hundred thousand Buddha-fields of the Eastern Quarter with all their habitants,—and the beings in each of the Six States of Existence,—and even the shapes of the Buddhas extinct, that had entered into Nirvâna. These, and all the gods, and all the demons, he saw bow down before the Lion-throne; and he heard that multitude incalculable of beings praising the Sûtra of the Lotos of the Good Law,—like the roar of a sea before the Lord. Then forgetting utterly his pledge,—foolishly dreaming that he stood in the very presence of the very Buddha,—he cast himself down in worship with tears of love and thanksgiving; crying out with a loud voice, “O thou Blessed One!”…

Instantly with a shock as of earthquake the stupendous spectacle disappeared; and the priest found himself alone in the dark, kneeling upon the grass of the mountain-side. Then a sadness unspeakable fell upon him, because of the loss of the vision, and because of the thoughtlessness that had caused him to break his word. As he sorrowfully turned his steps homeward, the goblin-monk once more appeared before him, and said to him in tones of reproach and pain:—“Because you did not keep the promise which you made to me, and heedlessly allowed your feelings to overcome you, the Gohotendó, who is the Guardian of the Doctrine, swooped down suddenly from heaven upon us, and smote us in great anger, crying out, ‘How do ye dare thus to deceive a pious person?’ Then the other monks, whom I had assembled, all fled in fear. As for myself, one of my wings has been broken,—so that now I cannot fly.” And with these words the Tengu vanished forever.

 

[1] This story may be found in the curious old Japanese book called Jikkun-Shō. The same legend has furnished the subject of an interesting Nō-play, called Dai-É (“The Great Assembly”).

    In Japanese popular art, the Tengu are commonly represented either as winged men with beak-shaped noses, or as birds of prey. There are different kinds of Tengu; but all are supposed to be mountain-haunting spirits, capable of assuming many forms, and occasionally appearing as crows, vultures, or eagles. Buddhism appears to class the Tengu among the Mârakâyikas.

 

AT YAIDZU

I

Under a bright sun the old fishing-town of Yaidzu has a particular charm of neutral color. Lizard-like it takes the grey tints of the rude grey coast on which it rests,—curving along a little bay. It is sheltered from heavy seas by an extraordinary rampart of boulders. This rampart, on the water-side, is built in the form of terrace-steps;—the rounded stones of which it is composed being kept in position by a sort of basket-work woven between rows of stakes driven deeply into the ground,—a separate row of stakes sustaining each of the grades. Looking landward from the top of the structure, your gaze ranges over the whole town,—a broad space of grey-tiled roofs and weather-worn grey timbers, with here and there a pine-grove marking the place of a temple-court. Seaward, over leagues of water, there is a grand view,—a jagged blue range of peaks crowding sharply into the horizon, like prodigious amethysts,—and beyond them, to the left, the glorious spectre of Fuji, towering enormously above everything. Between sea-wall and sea there is no sand,—only a grey slope of stones, chiefly boulders; and these roll with the surf so that it is ugly work trying to pass the breakers on a rough day. If you once get struck by a stone-wave,—as I did several times,—you will not soon forget the experience.

At certain hours the greater part of this rough slope is occupied by ranks of strange-looking craft,—fishing-boats of a form peculiar to the locality. They are very large,—capable of carrying forty or fifty men each;—and they have queer high prows, to which Buddhist or Shintō charms (mamori or shugo) are usually attached. A common form of Shintō written charm (shugo) is furnished for this purpose from the temple of the Goddess of Fuji: the text reads:—Fuji-san chōjō Sengen-gu dai-gyō manzoku,—meaning that the owner of the boat pledges himself, in case of good-fortune at fishing, to perform great austerities in honor of the divinity whose shrine is upon the summit of Fuji.

In every coast-province of Japan,—and even at different fishing-settlements of the same province,—the forms of boats and fishing-implements are peculiar to the district or settlement. Indeed it will sometimes be found that settlements, within a few miles of each other, respectively manufacture nets or boats as dissimilar in type as might be the inventions of races living thousands of miles apart. This amazing variety may be in some degree due to respect for local tradition,—to the pious conservatism that preserves ancestral teaching and custom unchanged through hundreds of years: but it is better explained by the fact that different communities practise different kinds of fishing; and the shapes of the nets or the boats made, at any one place, are likely to prove, on investigation, the inventions of a special experience. The big Yaidzu boats illustrate this fact. They were devised according to the particular requirements of the Yaidzu-fishing-industry, which supplies dried katsuo (bonito) to all parts of the Empire; and it was necessary that they should be able to ride a very rough sea. To get them in or out of the water is a heavy job; but the whole village helps. A kind of slipway is improvised in a moment by laying flat wooden frames on the slope in a line; and over these frames the flat-bottomed vessels are hauled up or down by means of long ropes. You will see a hundred or more persons thus engaged in moving a single boat,—men, women, and children pulling together, in time to a curious melancholy chant. At the coming of a typhoon, the boats are moved far back into the streets. There is plenty of fun in helping at such work; and if you are a stranger, the fisher-folk will perhaps reward your pains by showing you the wonders of their sea: crabs with legs of astonishing length, balloon-fish that blow themselves up in the most absurd manner, and various other creatures of shapes so extraordinary that you can scarcely believe them natural without touching them.

The big boats with holy texts at their prows are not the strangest objects on the beach. Even more remarkable are the bait-baskets of split bamboo,—baskets six feet high and eighteen feet round, with one small hole in the dome-shaped top. Ranged along the sea-wall to dry, they might at some distance be mistaken for habitations or huts of some sort. Then you see great wooden anchors, shaped like ploughshares, and shod with metal; iron anchors, with four flukes; prodigious wooden mallets, used for driving stakes; and various other implements, still more unfamiliar, of which you cannot even imagine the purpose. The indescribable antique queerness of everything gives you that weird sensation of remoteness,—of the far away in time and place,—which makes one doubt the reality of the visible. And the life of Yaidzu is certainly the life of many centuries ago. The people, too, are the people of Old Japan: frank and kindly as children—good children,—honest to a fault, innocent of the further world, loyal to the ancient traditions and the ancient gods.

 

II

I happened to be at Yaidzu during the three days of the Bon or Festival of the Dead; and I hoped to see the beautiful farewell ceremony of the third and last day. In many parts of Japan, the ghosts are furnished with miniature ships for their voyage,—little models of junks or fishing-craft, each containing offerings of food and water and kindled incense; also a tiny lantern or lamp, if the ghost-ship be despatched at night. But at Yaidzu lanterns only are set afloat; and I was told that they would be launched after dark. Midnight being the customary hour elsewhere, I supposed that it was the hour of farewell at Yaidzu also, and I rashly indulged in a nap after supper, expecting to wake up in time for the spectacle. But by ten o’clock, when I went to the beach again, all was over, and everybody had gone home. Over the water I saw something like a long swarm of fire-flies,—the lanterns drifting out to sea in procession; but they were already too far to be distinguished except as points of colored light. I was much disappointed: I felt that I had lazily missed an opportunity which might never again return,—for these old Bon-customs are dying rapidly. But in another moment it occurred to me that I could very well venture to swim out to the lights. They were moving slowly. I dropped my robe on the beach, and plunged in. The sea was calm, and beautifully phosphorescent. Every stroke kindled a stream of yellow fire. I swam fast, and overtook the last of the lantern-fleet much sooner than I had hoped. I felt that it would be unkind to interfere with the little embarcations, or to divert them from their silent course: so I contented myself with keeping close to one of them, and studying its details.

The structure was very simple. The bottom was a piece of thick plank, perfectly square, and measuring about ten inches across. Each one of its corners supported a slender slick about sixteen inches high; and these four uprights, united above by cross-pieces, sustained the paper sides. Upon the point of a long nail, driven up through the centre of the bottom, was fixed a lighted candle. The top was left open. The four sides presented five different colors,—blue, yellow, red, white, and black; these five colors respectively symbolizing Ether, Wind, Fire, Water, and Earth,—the five Buddhist elements which are metaphysically identified with the Five Buddhas. One of the paper-panes was red, one blue, one yellow; and the right half of the fourth pane was black, while the left half, uncolored, represented white. No kaimyō was written upon any of the transparencies. Inside the lantern there was only the flickering candle.

I watched those frail glowing shapes drifting through the night, and ever as they drifted scattering, under impulse of wind and wave, more and more widely apart. Each, with its quiver of color, seemed a life afraid,—trembling on the blind current that was bearing it into the outer blackness…. Are not we ourselves as lanterns launched upon a deeper and a dimmer sea, and ever separating further and further one from another as we drift to the inevitable dissolution? Soon the thought-light in each burns itself out: then the poor frames, and all that is left of their once fair colors, must melt forever into the colorless Void.

Even in the moment of this musing I began to doubt whether I was really alone,—to ask myself whether there might not be something more than a mere shuddering of light in the thing that rocked beside me: some presence that haunted the dying flame, and was watching the watcher. A faint cold thrill passed over me,—perhaps some chill uprising from the depths,—perhaps the creeping only of a ghostly fancy. Old superstitions of the coast recurred to me,—old vague warnings of peril in the time of the passage of Souls. I reflected that were any evil to befall me out there in the night,—meddling, or seeming to meddle, with the lights of the Dead,—I should myself furnish the subject of some future weird legend…. I whispered the Buddhist formula of farewell—to the lights,—and made speed for shore.

As I touched the stones again, I was startled by seeing two white shadows before me; but a kindly voice, asking if the water was cold, set me at ease. It was the voice of my old landlord, Otokichi the fishseller, who had come to look for me, accompanied by his wife.

“Only pleasantly cool,” I made answer, as I threw on my robe to go home with them.

“Ah,” said the wife, “it is not good to go out there on the night of the Bon!”

“I did not go far,” I replied;—“I only wanted to look at the lanterns.”

“Even a Kappa gets drowned sometimes,”[1] protested Otokichi. “There was a man of this village who swam home a distance of seven ri, in bad weather, after his boat had been broken. But he was drowned afterwards.”

Seven ri means a trifle less than eighteen miles. I asked if any of the young men now in the settlement could do as much.

“Probably some might,” the old man replied. “There are many strong swimmers. All swim here,—even the little children. But when fisher-folk swim like that, it is only to save their lives.”

“Or to make love,” the wife added,—“like the Hashima girl.”

“Who?” queried I.

“A fisherman’s daughter,” said Otokichi. “She had a lover in Ajiro, several ri distant; and she used to swim to him at night, and swim back in the morning. He kept a light burning to guide her. But one dark night the light was neglected—or blown out; and she lost her way, and was drowned…. The story is famous in Idzu.”

—“So,” I said to myself, “in the Far East, it is poor Hero that does the swimming. And what, under such circumstances, would have been the Western estimate of Leander?”

 

[1] This is a common proverb:—Kappa mo oboré-shini. The Kappa is a water-goblin, haunting rivers especially.

 

III

Usually about the time of the Bon, the sea gets rough; and I was not surprised to find next morning that the surf was running high. All day it grew. By the middle of the afternoon, the waves had become wonderful; and I sat on the sea-wall, and watched them until sundown.

It was a long slow rolling,—massive and formidable. Sometimes, just before breaking, a towering swell would crack all its green length with a tinkle as of shivering glass; then would fall and flatten with a peal that shook the wall beneath me…. I thought of the great dead Russian general who made his army to storm as a sea,—wave upon wave of steel,—thunder following thunder…. There was yet scarcely any wind; but there must have been wild weather elsewhere,—and the breakers were steadily heightening. Their motion fascinated. How indescribably complex such motion is,—yet how eternally new! Who could fully describe even five minutes of it? No mortal ever saw two waves break in exactly the same way.

And probably no mortal ever watched the ocean-roll or heard its thunder without feeling serious. I have noticed that even animals,—horses and cows,—become meditative in the presence of the sea: they stand and stare and listen as if the sight and sound of that immensity made them forget all else in the world.

There is a folk-saying of the coast:—“The Sea has a soul and hears.” And the meaning is thus explained: Never speak of your fear when you feel afraid at sea;—if you say that you are afraid, the waves will suddenly rise higher. Now this imagining seems to me absolutely natural. I must confess that when I am either in the sea, or upon it, I cannot fully persuade myself that it is not alive,—a conscious and a hostile power. Reason, for the time being, avails nothing against this fancy. In order to be able to think of the sea as a mere body of water, I must be upon some height from whence its heaviest billowing appears but a lazy creeping of tiny ripples.

But the primitive fancy may be roused even more strongly in darkness than by daylight. How living seem the smoulderings and the flashings of the tide on nights of phosphorescence!—how reptilian the subtle shifting of the tints of its chilly flame! Dive into such a night-sea;—open your eyes in the black-blue gloom, and watch the weird gush of lights that follow your every motion: each luminous point, as seen through the flood, like the opening and closing of an eye! At such a moment, one feels indeed as if enveloped by some monstrous sentiency,—suspended within some vital substance that feels and sees and wills alike in every part, an infinite soft cold Ghost.

 

IV

Long I lay awake that night, and listened to the thunder-rolls and crashings of the mighty tide. Deeper than these distinct shocks of noise, and all the storming of the nearer waves, was the bass of the further surf,—a ceaseless abysmal muttering to which the building trembled,—a sound that seemed to imagination like the sound of the trampling of infinite cavalry, the massing of incalculable artillery,—some rushing, from the Sunrise, of armies wide as the world.

Then I found myself thinking of the vague terror with which I had listened, when a child, to the voice of the sea;—and I remembered that in after-years, on different coasts in different parts of the world, the sound of surf had always revived the childish emotion. Certainly this emotion was older than I by thousands of thousands of centuries,—the inherited sum of numberless terrors ancestral. But presently there came to me the conviction that fear of the sea alone could represent but one element of the multitudinous awe awakened by its voice. For as I listened to that wild tide of the Suruga coast, I could distinguish nearly every sound of fear known to man: not merely noises of battle tremendous,—of interminable volleying,—of immeasurable charging,—but the roaring of beasts, the crackling and hissing of fire, the rumbling of earthquake, the thunder of ruin, and, above all these, a clamor continual as of shrieks and smothered shoutings,—the Voices that are said to be the voices of the drowned., Awfulness supreme of tumult,—combining all imaginable echoings of fury and destruction and despair!

And to myself I said:—Is it wonderful that the voice of the sea should make us serious? Consonantly to its multiple utterance must respond all waves of immemorial fear that move in the vaster sea of soul-experience. Deep calleth unto deep. The visible abyss calls to that abyss invisible of elder being whose flood-flow made the ghosts of us.

Wherefore there is surely more than a little truth in the ancient belief that the speech of the dead is the roar of the sea. Truly the fear and the pain of the dead past speak to us in that dim deep awe which the roar of the sea awakens.

But there are sounds that move us much more profoundly than the voice of the sea can do, and in stranger ways,—sounds that also make us serious at times, and very serious,—sounds of music.

Great music is a psychical storm, agitating to unimaginable depth the mystery of the past within us. Or we might say that it is a prodigious incantation, every different instrument and voice making separate appeal to different billions of prenatal memories. There are tones that call up all ghosts of youth and joy and tenderness;—there are tones that evoke all phantom pain of perished passion;—there are tones that resurrect all dead sensations of majesty and might and glory,—all expired exultations,—all forgotten magnanimities. Well may the influence of music seem inexplicable to the man who idly dreams that his life began less than a hundred years ago! But the mystery lightens for whomsoever learns that the substance of Self is older than the sun. He finds that music is a Necromancy;—he feels that to every ripple of melody, to every billow of harmony, there answers within him, out of the Sea of Death and Birth, some eddying immeasurable of ancient pleasure and pain.

Pleasure and pain: they commingle always in great music; and therefore it is that music can move us more profoundly than the voice of ocean or than any other voice can do. But in music’s larger utterance it is ever the sorrow that makes the undertone,—the surf-mutter of the Sea of Soul…. Strange to think how vast the sum of joy and woe that must have been experienced before the sense of music could evolve in the brain of man!

Somewhere it is said that human life is the music of the Gods,—that its sobs and laughter, its songs and shrieks and orisons, its outcries of delight and of despair, rise never to the hearing of the Immortals but as a perfect harmony…. Wherefore they could not desire to hush the tones of pain: it would spoil their music! The combination, without the agony-tones, would prove a discord unendurable to ears divine.

And in one way we ourselves are as Gods,—since it is only the sum of the pains and the joys of past lives innumerable that makes for us, through memory organic, the ecstasy of music. All the gladness and the grief of dead generations come back to haunt us in countless forms of harmony and of melody. Even so,—a million years after we shall have ceased to view the sun,—will the gladness and the grief of our own lives pass with richer music into other hearts—there to bestir, for one mysterious moment, some deep and exquisite thrilling of voluptuous pain.

Saturday 24 April 2021

Excellent Readings: Sonnet LXXIX by William Shakespeare (in English)

Whilst I alone did call upon thy aid,
My verse alone had all thy gentle grace;
But now my gracious numbers are decayed,
And my sick Muse doth give an other place.
I grant, sweet love, thy lovely argument
Deserves the travail of a worthier pen;
Yet what of thee thy poet doth invent
He robs thee of, and pays it thee again.
He lends thee virtue, and he stole that word
From thy behaviour; beauty doth he give,
And found it in thy cheek: he can afford
No praise to thee, but what in thee doth live.
   Then thank him not for that which he doth say,
   Since what he owes thee, thou thyself dost pay.

Friday 23 April 2021

Friday's sung Word: "É Preciso Discutir" by Noel Rosa (in Portuguese)

 01: Na introdução deste samba
Quero avisar por um modo qualquer
Que esta briga é por causa de uma mulher

02: E eu aviso também
Que neste samba agora me meto
Pra cantar com Francisco Alves em dueto

02: É preciso discutir
01: Mas não quero discussão
02: Da discussão sai a razão
01: Mas às vezes sai pancada
02: A questão é complicada
01: Quero ver a decisão

02: A mulher tem que ser minha
01: A mulher não traz letreiro
02: Foi comigo que ela vinha
01: Mas fui eu quem viu primeiro
02: Ela é minha porque vi
01: Mas quem segurou fui eu
02: A CONVERSA já meti
01: A mulher não escolheu
02: (E podes crer que é...)

02: Já perdi a paciência...
01: Eu por ela me arrisco
02: Sou capaz de violência
01: Mas não vai quebrar o disco
02: Quanto tempo foi perdido
01: Perdi tempo pra ganhar
02: Ganhar fama de atrevido
01: Quem se atreve quer brigar
(E podes crer que...)


 
 You can listen "É Preciso Discutir" sung by Francisco Alves and Mário Reis with Copacabana Orchestra here.