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Friday 2 October 2015

“Pátria”by Olavo Bilac (in Portuguese)



Pátria, latejo em ti, no teu lenho por onde
circulo! E sou perfume, e sombra, e sol, e orvalho!
E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde
E subo do cerne ao céu de galho em galho!

Dos teus líquens, dos teus cipós, da tua fronde
Do ninho que gorgeia em teu doce agasalho,
Do fruto a amadurar que em teu seio se esconde
De ti, rebento em luz e em cânticos me espalho!

Vivo, choro em teu pranto; em teus dias felizes
No alto, como uma flor, em ti pompeio e exulto!
E eu morto — sendo tu cheia de cicatrizes.

Tu golpeada e insultada — eu tremerei sepulto:
E os meus ossos no chão, como as raízes
se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto!

Friday 20 March 2015

“Maldição” by Olavo Bilac (in Portuguese)



Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrira como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas e sem prazer!
Pela tristeza do que tenho sido!
Pelo esplendor do que deixei de ser!

Wednesday 30 July 2014

“A Bocage” by Olavo Bilac (in Portuguese)



Tu que no pego impuro das orgias,
Mergulhavas ansioso e descontente,
E, quando à tona vinhas de repente,
Cheias as mãos de pérolas trazias.

Tu, que do amor e pelo amor vivias,
E que, como de límpida nascente,
Dos lábios e dos olhos a torrente
Dos versos e das lágrimas vertias;

Mestre querido! Viverás, enquanto
Houver quem pulse o mágico instrumento,
E preze a língua que prezavas tanto;

E enquanto houver num canto do universo,
Quem ame e sofra, e amor e sofrimento
Saiba, chorando, traduzir no verso.

Thursday 15 May 2014

"Benedícite" by Olavo Bilac (in Portuguese)



Bendito o que, na terra, o fogo fez, ereto
E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada e o que no chão abjeto,
Fez, aos beijos do sol, o ouro brotar do trigo;

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E que os fios urdiu; e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo.

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano;
E o que inventou o canto; e o que criou a lira;
E o que domou o raio; e o que alçou o aeroplano.

Mas, bendito entre os mais, o que, no dó profundo,
Descobriu a esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo.

Friday 3 January 2014

"Ouvir Estrelas" by Olavo Bilac (in Portuguese)




Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que para ouvi-las, muita vez desperto
Eu abro a janela, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?

E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas!