Showing posts with label Vicente de Carvalho. Show all posts
Showing posts with label Vicente de Carvalho. Show all posts

Thursday 21 November 2013

A Flor e a Fonte by Vicente de Carvalho (in Portuguese)



Deixa-me, fonte! Dizia
A flor tonta de terror
E a fonte sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

Deixa-me, deixa-me, fonte!
Dizia a flor a chorar:
Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar.

E a fonte rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria
Corria levando a flor.

Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!...

Chorava a flor e gemia
Branca, branca de terror.
E a fonte, sonora e fria
Rolava levando a flor.

Adeus sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do por-do-sol.

Carícia das brisas leves
Que abrem rasgões de luar..
Fonte, fonte não me leves,
Não me leves para o mar!...

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como o da fonte e da flor

Monday 28 October 2013

Velho Tema by Vicente de Carvalho (in Portuguese)



Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz sempre adiada
E que não chega nunca em toda vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos.

Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.