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Saturday 11 May 2024

Good Reading: "Brasil" by St. Joseph of Anchieta (in Portuguese and Latin)

O Brasil que, sem justiça,
andava mui cego e torto,
vós o metereis no porto
se lançar de si a cobiça
que de vivo o torna morto.

Quae sine iustitia prauo Brasilia cursu
ibat et obliquum, caeca, tenebat iter,
nunc directa, tuae iusto moderamine uirgae,
seruabit, tuis rectis, iusque piumque uisu.

Wednesday 8 May 2024

Excellent Readings: Sonnet CV by William Shakespeare (in English)

Let not my love be called idolatry,
Nor my beloved as an idol show,
Since all alike my songs and praises be
To one, of one, still such, and ever so.
Kind is my love to-day, to-morrow kind,
Still constant in a wondrous excellence;
Therefore my verse to constancy confined,
One thing expressing, leaves out difference.
Fair, kind, and true, is all my argument,
Fair, kind, and true, varying to other words;
And in this change is my invention spent,
Three themes in one, which wondrous scope affords.
   Fair, kind, and true, have often lived alone,
   Which three till now, never kept seat in one.

Saturday 27 April 2024

Good Reading: "Adventurer" by Robert E. Howard (in English)

Dusk on the sea; the fading twilight shifts'
The night wind bears the ocean's whisper dim—
Wind, on your bosom many a phantom drifts—
A silver star climbs up the blue world rim.
Wind, make the green leaves dance above me here
And idly swing my silken hammock—so;
Now, on that glimmering molten silver mere
Send the long ripples wavering to and fro.
And let your moon-white tresses touch my face
And let me know your slim-armed, cool embrace
While to my dreamy soul you whisper low.

Dream—aye, I've dreamed since last night left her tower
And now again she comes on star-soled feet.
Welcome, old friend; here in this rose-gemmed bower
I've drowsed away your Sultan's golden heat.
Here in my hammock, Time I've dreamed away
For I have but to stretch a hand out, lo,
I'm treading langurous shores of Yesterday,
Moon-silvered deserts or the star-weird snow;
I float o'er seas where ships are purple shells,
I hear the tinkle of the camel bells
That waft down Cairo's streets when dawn winds blow.

South Seas! I watch when dusky twilight comes
Making vague gods of ancient, sea-set trees.
The world path beckons—loud the mystic drums—
Here at my hand the magic golden keys
That fit the doors of Romance, Wonder, strange
Dim gossamer adventures; seas and stars.
Why, I have roamed the far Moon Mountain range
When sunset minted gold in shimmering bars.
All eager eyed I've sailed from ports of Spain
And watched the flashing topaz of the Main
When dawn was flinging witch fire on the spars.

I am content in dreams to roam my fill
The vagrant, drifting sport of wind and tide,
Slave of the greater freedom, venture's thrill;
Here every magic ship on which I ride.
Gold, green, blue, red, a priceless treasure trove,
More wealth than ever pirate dared to dream.
My hammock swings—about the world I rove.
The sunset's dusk, the dawning's glide and gleam,
Moon-dappled leaves are murmuring in the wind
Which whispers tales. Lo, Tyre is just behind,
Through seas of dawn I sail, Romance abeam.

Wednesday 24 April 2024

Good Reading: "Sie pur, fuor di mie propie, c’ogni altr’arme" by Michelangelo Buonarroti (in Italian)

   La vita del mie amor non è ’l cor mio,
c’amor di quel ch’i’ t’amo è senza core;
dov’è cosa mortal, piena d’errore,
esser non può già ma’, nè pensier rio.
  Amor nel dipartir l’alma da Dio
me fe’ san occhio e te luc’ e splendore;
nè può non rivederlo in quel che more
di te, per nostro mal, mie gran desio.
  Come dal foco el caldo, esser diviso
non può dal bell’etterno ogni mie stima,
ch’exalta, ond’ella vien, chi più ’l somiglia.
  Poi che negli occhi ha’ tutto ’l paradiso,
per ritornar là dov’i’ t’ama’ prima,
ricorro ardendo sott’alle tuo ciglia.

Wednesday 17 April 2024

Good Reading: "Pórtico" by Raul de Leoni (in Portuguese)

 

Alma de origem ática, pagã,

Nascida sob aquele firmamento

Que azulou as divinas epopeias,

Sou irmão de Epicuro e de Renan,

Tenho o prazer sutil do pensamento

E a serena elegância das ideias...

 

Há no meu ser crepúsculos e auroras,

Todas as seleções do gênio ariano,

E a minha sombra amável e macia

Passa na fuga universal das horas,

Colhendo as flores do destino humano

Nos jardins atenienses da Ironia...

 

Meu pensamento livre, que se achega

De ideologias claras e espontâneas,

É uma suavíssima cidade grega,

Cuja memória

É uma visão esplêndida na história

Das civilizações mediterrâneas.

 

Cidade da Ironia e da Beleza,

Fica na dobra azul de um golfo pensativo,

Entre cintas de praias cristalinas,

Rasgando iluminuras de colinas,

Com a graça ornamental de um cromo vivo:

Banham-na antigas águas delirantes,

Azuis, caleidoscópicas, amenas,

Onde se espelha, em refrações distantes,

O vulto panorâmico de Atenas...

 

Entre os deuses e Sócrates assoma

E envolve na amplitude do seu gênio

Toda a grandeza grega a que remonto;

Da Hélade dos heróis ao fim de Roma,

Das cidades ilustres do Tirreno

Ao mistério das ilhas do Helesponto...

 

Cidade de virtudes indulgentes,

Filha da Natureza e da Razão,

– Já eivada da luxúria oriental, –

Ela sorri ao Bem, não crê no Mal,

Confia na verdade da Ilusão

E vive na volúpia e na sabedoria,

Brincando com as ideias e com as formas...

 

No passado pensara muito e, até,

Tentara penetrar o mundo das essências,

Sofrera muito nessa luta inútil,

Mas, por fim, foi perdendo a íntima fé

No pensamento, e agora pensa ainda,

Numa serenidade indiferente,

Mas se conforta muito mais, talvez,

Na alegria das belas aparências,

Que na contemplação das ideias eternas.

 

Cidade amável em que a vida passa,

Desmanchando um colar de reticências:

Tem a alma irônica das decadências

E as cristalizações de um fim de raça...

 

Conserva na memória dos sentidos

A expressão das origens seculares,

E entre os seus habitantes há milhares

Descendentes dos deuses esquecidos;

Que os demais todos têm, inda bem vivo,

Na nobre geometria do seu crânio

O mais puro perfil dólico-louro...

 

Os deuses da cidade já morreram...

Mas, amando-os ainda, alegremente,

Ela os tem no desejo e na lembrança;

E foi a ela (é grande o seu destino!)

Que Julião, o Apóstata, expirando,

Mandou a sua última esperança.

Pela boca de Amniano Marcelino...

 

Cidade de harmonias deliciosas

Em que, sorrindo à ronda dos destinos,

Os homens são humanos e divinos

E as mulheres são frescas como as rosas...

 

Jardins de perspectivas encantadas

– Hermas de faunos nas encruzilhadas –

Abrem ao ouro do sol leques de esguias

Alamedas: efebos, poetas, sábios

Cruzam-nas, dialogando, suavemente,

Sobre a mais meiga das filosofias,

Fímbrias de taças lésbias entre os lábios

E emoções dionisíacas nos olhos...

 

Como são luminosos seus jardins

De alegres coloridos musicais!

No florido beiral dos tanques, debruados

De rosas e aloés e anêmonas e mirtos,

Bebem pombas branquíssimas e castas,

E finamente límpidas e trêmulas

Irisadas, joviais e transparentes,

As águas aromáticas, sorrindo,

Tombam da boca austera dos tritões,

Garganteando furtivos ritornelos...

 

Dentro a moldura em fogo das auroras,

Pelas praias de opala e de ouro, antigas,

Na maciez das areias, em coréias,

Bailam rondas sadias e sonoras

De adolescentes e de raparigas,

Copiando o friso das Panatenéias...

 

Na orla do mar, seguindo a curva ondeante

Do velho cais esguio e deslumbrante,

Quando o horizonte e o céu, em lusco-fusco

Somem na porcelana dos ocasos,

Silhuetas fugitivas

De lindas cortesãs de Agrigento e de Chipre,

Como a sonhar, olham, perdidamente,

A volta das trirremes e das naves,

Que lhes trazem o espírito do Oriente,

Em pedrarias, lendas e perfumes...

 

Então, ondulam no ar diáfano e fluente

Suavidades idílicas, acordes

De avenas, cornamusas e ocarinas

Que vêm de longe, da alma branca dos pastores,

Trazidas pelos ventos transmontanos

E espiritualizadas em surdinas...

 

Terra que ouviu Platão antigamente...

Seu povo espiritual, lírico e generoso,

Que sorri para o mundo e para os seus segredos,

Não ouve mais o oráculo de Elêusis,

Mas ama ainda, quase ingenuamente,

A saudade gloriosa dos seus deuses,

Nas canções ancestrais dos citaredos

E nos epitalâmios do nascente...

 

Seus filhos amam todas as ideias,

Na obra dos sábios e nas epopeias;

Nas formas límpidas e nas obscuras,

Procurando nas cousas entendê-las

– Fugas de sentimento e sutileza –

E as entendem na própria natureza,

Ouvindo Homero no rumor das ondas,

Lendo Platão no brilho das estrelas...

 

Seus poetas, homens fortes e serenos,

Fazem uma arte régia, aguda e fina

Com a doçura dos últimos helenos

Estilizada em ênfase latina...

 

E os velhos da cidade, suaves poentes

De radiantes retores e sofistas,

Passam, olhando as cousas e as criaturas,

Com piedosos sorrisos indulgentes,

Em que longas renúncias otimistas

Se vão abrindo, entre ironias puras,

Sobre todos os sonhos do Universo...

 

Revendo-se num século submerso,

Meu pensamento, sempre muito humano,

É uma cidade grega decadente,

Do tempo de Luciano,

Que, gloriosa e serena,

Sorrindo da palavra nazarena,

Foi desaparecendo lentamente,

No mais suave crepúsculo das cousas...

Wednesday 10 April 2024

Good Reading: "The Humble-Bee" by Ralph W. Emerson (in English)

Burly, dozing humble-bee,
Where thou art is clime for me.
Let them sail for Porto Rique,
Far-off heats through seas to seek;
I will follow thee alone,
Thou animated torrid-zone!
Zigzag steerer, desert cheerer,
Let me chase thy waving lines;
Keep me nearer, me thy hearer,
Singing over shrubs and vines.


Insect lover of the sun,
Joy of thy dominion!
Sailor of the atmosphere;
Swimmer through the waves of air;
Voyager of light and noon;
Epicurean of June;
Wait, I prithee, till I come
Within earshot of thy hum,—
All without is martyrdom.


When the south wind, in May days,
With a net of shining haze
Silvers the horizon wall,
And with softness touching all,
Tints the human countenance
With a color of romance,
And infusing subtle heats,
Turns the sod to violets,
Thou, in sunny solitudes,
Rover of the underwoods,
The green silence dost displace
With thy mellow, breezy bass.


Hot midsummer's petted crone,
Sweet to me thy drowsy tone
Tells of countless sunny hours,
Long days, and solid banks of flowers;
Of gulfs of sweetness without bound
In Indian wildernesses found;
Of Syrian peace, immortal leisure,
Firmest cheer, and bird-like pleasure.


Aught unsavory or unclean
Hath my insect never seen;
But violets and bilberry bells,
Maple-sap and daffodels,
Grass with green flag half-mast high,
Succory to match the sky,
Columbine with horn of honey,
Scented fern, and agrimony,
Clover, catchfly, adder's-tongue
And brier-roses, dwelt among;
All beside was unknown waste,
All was picture as he passed.


Wiser far than human seer,
Yellow-breeched philosopher!
Seeing only what is fair,
Sipping only what is sweet,
Thou dost mock at fate and care,
Leave the chaff, and take the wheat.
When the fierce northwestern blast
Cools sea and land so far and fast,
Thou already slumberest deep;
Woe and want thou canst outsleep;
Want and woe, which torture us,
Thy sleep makes ridiculous.

Saturday 16 March 2024

Good Reading: "Como Vem Guerreira!" by Saint Joseph of Anchieta (in Portuguese)

Como, vem guerreira

a morte espantosa!

Como vem guerreira

e temerosa!

 

Suas armas são doença,

com que a todos acomete.

Por qualquer lugar se mete,

sem nunca pedir licença.

Tanto que se dá sentença

da morte espantosa,

como vem guerreira

e temerosa!

 

Por muito poder que tenha,

ninguém pode resistir.

Dá mil voltas, sem sentir,

mais ligeira que uma azenha.

Quando manda Deus que venha

a morte espantosa,

como vem guerreira

e temerosa!

 

A uns caça quando comem,

sem que engulam o bocado.

Outros mata no pecado,

Sem que gosto nele tomem.

Quando menos teme homem

a morte espantosa,

como vem guerreira

e temerosa!

 

A ninguém que dar aviso,

porque vem como ladrão.

Se não acha contrição,

então mata mais de liso.

Quando toma de improviso,

a morte espantosa,

como vem guerreira

e temerosa!

 

Quando esperas de viver

longa vida, mui contente,

ela entra, de repente,

sem deixar-te a perceber.

Quando mostra seu poder,

a morte espantosa,

como vem guerreira

a temerosa!

 

Tudo lhe serve de espada,

com tudo pode matar;

em todos acha lugar

para dar sua estocada.

A terrível bombardada

da morte espantosa,

como vem guerreira

e temerosa!

 

A primeira morte mata

o corpo, com quanto tem.

A segunda, quando vem,

a alma e o corpo rapa.

Co'o inferno se contrata

a morte espantosa.

Como vem guerreira

e temerosa!

Wednesday 13 March 2024

Excellent Readings: Sonnet CIV by William Shakespeare (in English)

To me, fair friend, you never can be old,
For as you were when first your eye I ey'd,
Such seems your beauty still. Three winters cold,
Have from the forests shook three summers' pride,
Three beauteous springs to yellow autumn turned,
In process of the seasons have I seen,
Three April perfumes in three hot Junes burned,
Since first I saw you fresh, which yet are green.
Ah! yet doth beauty like a dial-hand,
Steal from his figure, and no pace perceived;
So your sweet hue, which methinks still doth stand,
Hath motion, and mine eye may be deceived:
   For fear of which, hear this thou age unbred:
   Ere you were born was beauty's summer dead.

Saturday 17 February 2024

Good Reading: "Cântico de Núpcias" by D. Marcos Barbosa (in Portuguese)

 Nossos caminhos são agora um só caminho,

nossas almas, uma só alma.

Cantarão para nós os mesmos pássaros,

e os mesmos anjos desdobrarão sobre nós

as invisíveis asas.

Temos agora por espelho os nossos olhos;

o teu riso dirá a minha alegria,

e o teu pranto, a minha tristeza.

Se eu fechar os olhos, tu estarás presente;

se eu adormecer, serás o meu sonho;

e serás, ao despertar, o sol que desponta.

 

Nossos mapas serão iguais,

e traçaremos juntos os mesmos roteiros

que conduzam às fontes escondidas

e aos tesouros ocultos.

Na mesma página do Evangelho encontraremos o Cristo,

partiremos na ceia o mesmo pão;

meus amigos serão os teus amigos,

perdoaremos com iguais palavras

aqueles que nos invejam.

 

Será nossa leitura à luz da mesma lâmpada,

aqueceremos as mãos ao mesmo fogo

e veremos em silêncio desabrochar no jardim

a primeira rosa da Primavera.

Iremos depois nos descobrindo nos filhos que crescem,

e não mais saberemos distinguir em cada um

os meus traços e os teus,

o meu e o teu gesto,

e então nos tornaremos parecidos.

E nem o mundo nem a guerra nem a morte,

nada mais poderá separar-nos,

pois seremos mais que nunca,

em cada filho,

uma só carne

e um só coração.

 

Que o homem não separe o que Deus uniu.

Que o tempo não destrua a aliança que nos prende,

nem os amores, o amor.

 

Que eu não tenha outro repouso que o teu peito,

outro amparo que a tua mão,

outro alimento que o teu sorriso.

E, quando eu fechar os olhos para a grande noite,

sejam tuas as mãos que hão de fechá-los.

E, quando os abrir para a visão de Deus,

possa contemplar-te como o caminho

que me levou, dia após dia,

à fonte de todo amor.

 

Nossos caminhos são agora um só caminho,

nossas almas, uma só alma.

Já não preciso estender a mão para alcançar-te,

já não precisas falar para que eu te escute...