On done le nom de
Nébuleuses à des taches
blanchâtres que l’on
voit çà et là, dans toutes
les parties du ciel.
DELAUNAY
No seio majestoso do
infinito,
— Alvos cisnes do mar da imensidade, —
Flutuam tênues sombras
fugitivas
Que a multidão supõe densas
caligens,
E a ciência reduz a grupos
validos;
Vejo-as surgir à noite,
entre os planetas,
Como visões gentis à flux
dos sonhos;
E as esferas que curvam-se
trementes
Sobre elas desfolhando
flores d'ouro,
Roubam-me instantes ao
sofrer recôndito!
Costumei-me a sondar-lhe os
mistérios
Desde que um dia a flâmula
da ideia
Livre, ao sopro do gênio,
abriu-me o templo
Em que fulgura a inspiração
em ondas;
A seguir-lhes no espaço as
longas clâmides
Orladas de incendidos
meteoros;
E quando da procela o tredo
arcanjo
Desdobra n’amplidão as
negras asas,
Meu ser pelo teísmo
desvairado
Da loucura debruça-se no
pélago!
Sim! São elas a mais gentil
feitura
Que das mãos do Senhor há
resvalado!
Sim! De seus seios na
dourada urna,
A piedosa lágrima dos
anjos,
Ligeira se converte em
astro esplêndido!
No momento em que o mártir
do calvário
A cabeça pendeu no infame
lenho,
A voz do Criador, em santo
arrojo,
No macio frouxel de seus
fulgores
Ao céu arrebatou-lhe o
calmo espírito!
Mesmo o sol que nas orlas
do oriente
Livre campeia e sobre nós
desata
A chuva de mil raios
luminosos,
Nos lírios siderais de seu
regaço
Repousa a fronte e despe a
rubra túnica!
No constante volver dos
vagos eixos,
(Os orbes em parábolas se
encurvam
Bebendo alento no seu manso
brilho!
E o tapiz movediço do
universo
Mais belo ondeia com seus
prantos fúlgidos!
E quantos infelizes não
olvidam
|O horóscopo fatal de
horrenda sorte,
Se no correr das auras
vespertinas
Seus seres vão pousar-lhes
sobre à coma,
Que as madeixas enastram do
crepúsculo!
Quanta rosa de amor não
abre o cálix
Ao bafejo inefável das
quimeras
No coração temente da
donzela,
Que, da lua ao clarão
dourando as cismas,
Lhes segue os rastros na
cerúlea abóbada?
Um dia no meu peito o
desalento
Cravou sangrenta garra;
trevas densas
Nublaram-me o horizonte,
onde brilhava
A matutina estrela do
futuro.
Da descrença senti os frios
ósculos;
Mas no horror do abandono
alçando os olhos
(Com tímida oração ao céu
piedoso,
Eu vi que elas, do chão do
firmamento,
Brotavam em lucíferos
corimbos
Enlaçando-me o busto em
raios mórbidos!
Oh! Amei-as então! Sobre a
corrente
De seus brandos, notívagos
lampejos,
“Audaz librei-me nas azuis
esferas;
Inclinei-me, de flamas
circundada
Sobre o abismo do mundo
torvo e lúgubre!
Ergui-me ainda mais da
poesia
Desvendei as lagunas
encantadas,
E prelibei delícias
indizíveis
Do sentimento nas caudais
sagradas
Ao clarão divinal do sol da
glória!
Quando desci mais tarde,
deslumbrada
De tanta luz e inspiração,
ao vale
Que pelo espaço abandonei
sorrindo,
E senti calcinar-me as
débeis plantas
Do deserto as areias
ardentíssimas;
(Ao fugir das sendaes que
estende a noite
Sobre o leito da terra
adormecida,
Fitei chorando a aurora que
surgia!
E — ave de amor — a solidão
dos ermos
Povoei de gorjetas
melancólicos!...
Assim nasceram os meus
tristes versos,
Que do mundo falaz fogem às
pompas!
Não dormem eles sob os
áureos tetos
Das térreas potestades, que
falecem
De morbidez nos flácidos
triclínios!
Cortando as brumas glaciais
do inverno
Adejam nas estâncias
consteladas!...
Onde elas pairam; e à luz
da liberdade
Devassando os mistérios do
infinito,
Vão no sólio de Deus rolar
exânimes!...