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Tuesday 24 November 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraes (in Portuguese)

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranqüilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?   

Saturday 17 October 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese Language)



Ninguém anda com Deus mais do que eu ando,
Ninguém segue os seus passos como sigo.
Não bendigo a ninguém, e nem maldigo:
Tudo é morto num peito miserando.

Vejo o sol, a lua e todo o bando
Das estrelas no olímpico jazigo.
A misteriosa mão de deus o trigo
Que ela plantou aos poucos vai ceifando.

E vão-se as horas em completa calma.
Um dia (já vem longe ou já vem perto?)
Tudo que sofro e que sofri se acalma.

Ah se chegasse em breve o dia incerto!
Far-se-á luz dentro de mim, pois a minh'alma
Será trigo de Deus no céu aberto...

Thursday 24 September 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese Language)



Cantem outros a clara cor virente
Do bosque em flor e a luz do dia eterno...
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
Cantem a primavera: eu canto o inverno.

Para muitos o imoto céu clemente
É um manto de carinho suave e terno:
Cantam a vida, e nenhum deles sente
Que decantando vai o próprio inferno.

Cantem esta mansão, onde entre prantos
Cada um espera o sepulcral punhado
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...

Cada um de nós é a bússola sem norte.
Sempre o presente pior do que o passado.
Cantem outros a vida: eu canto a morte...

Saturday 29 August 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão - "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria..."
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"

Wednesday 5 August 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Negro navio que se fez ao largo,
Velas pandas ao vento do nordeste,
Volta de novo este pesar amargo
Que foi todo consolo que me deste.

Pisando espinhos, no letal letargo
De quem segue por uma noite agreste,
Sou o cruzado que vai sobre o mar largo
Morrer de mágua, e fome, e guerra, e peste.

Não mais jasmins neste horto do meu peito.
Ouve-me tu, que ainda és uma criança;
É um sepulcro de vivos todo leito.

Tudo espero de ti, alma querida;
Mas não sabes, Senhora, que a esperança
É o maior desespero desta vida!

Wednesday 8 July 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Quiseras ser a Laura de Petrarca
E ter o nome engrinaldado em oiro...
Sentir-te a branca, etérea, sublime arca
Adonde poisaria o amor vindoiro...

Beatriz que Dante, o sempiterno, marca
Com o gênio e do céu faz o mor tesoiro...
Natércia que Camões, vencendo a Parca,
Imortaliza pelo Tejo e Doiro...

Quiseras ser qualquer das três, ou ainda
Essa, que tem p'ra nós memória infinda,
Bucólica Marília de Dirceu...

Mas se eles eram tudo e eu não sou nada,
Nenhuma foi como tu foste amada,
Nenhum deles na terra amou como eu!

Monday 15 June 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Desesperanças! réquiem tumultuário
Na abandonada igreja sem altares...
A noite é branca, o esquife é solitário,
E a cova, ao longe, espreita os meus pesares.

Sinos que dobram, dobras de sudário!
No silêncio das noites tumulares
Há de surgir o espectro funerário,
Cujos olhos sem luz não tem olhares.

Santo alívio de paz, consolo pio,
Fonte clara no meio do deserto,
Manto que cobre aqueles que têm frio!

Eis-me esperando o derradeiro trono:
Que a morte vem de manso, em dia incerto,
E fecha os olhos dos que têm mais sono...

Saturday 9 May 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Como se moço e não bem velho eu fosse,
Uma nova ilusão veio animar-me,
Na minh'alma floriu um novo carme,
O meu ser para o céu alcandorou-se.

Ouvi gritos em mim como um alarme.
E o meu olhar, outrora suave e doce,
Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se
Todo em raios, que vinham desolar-me.

Vi-me no cimo eterno da montanha
Tentando unir ao peito a luz dos círios
Que brilhavam na paz da noite estranha.

Acordei do áureo sonho em sobressalto;
Do céu tombei ao caos dos meus martírios,
Sem saber para que subi tão alto...

Saturday 11 April 2015

Sonnet by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Mãos que os lírios invejam, mãos eleitas
Para aliviar de Cristo os sofrimentos,
Cujas veias azuis parecem feitas
Da mesma essência astral dos olhos bentos;

Mãos de sonho e de crença, mãos afeitas
A guiar do moribundo os passos lentos,
E em séculos de fé, rosas desfeitas
Em hinos sobre as torres dos conventos.

Mãos a bordar o santo Escapulário,
Que revelastes, para quem padece,
O inefável consôlo do Rosário;

Mãos ungidas no sangue da Coroa,
Deixai tombar sobre minh'alma em prece
A benção que redime e que perdoa!

Friday 13 March 2015

"Sinos" by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Escuto ainda a voz dos campanários
Entre aromas de rosas e açucenas,
Vozes de sinos pelos santuários,
Enchendo as grandes vastidões serenas...

E seguindo outros seres solitários
Retomo velhos quadros, velhas cenas,
Rezando as orações dos Septenários,
Dos Ofícios, dos Terços, das Novenas...

A morte que nos salva não nos priva
De ir ao pé de um sacrário abandonado
Chorar, como inda faz a alma cativa!

Ó sinos dolorosos e plangentes,
Cantai como cantáveis no passado,
Dizendo a mesma fé que salva os crentes!

Sunday 15 February 2015

“Rosas” by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)



Rosas que já fostes, desfolhadas
Por mãos também que já se foram; rosas
Suaves e tristes! Rosas que as amadas
Mortas também, beijaram suspirosas...

Umas rubras e vãs, outras fanadas,
Mas cheias do calor das amorosas...
Sois aroma de alfombra silenciosas
Onde dormiram tranças destrançadas.

Umas brancas, da cor das pobres freiras,
Outras cheias de viço e de frescura,
Rosas primeiras, rosas derradeiras!

Ai! quem melhor que vós, se a dor perdura,
Para coroar-me, rosas passageiras,
O sonho que se esvai na desventura?

Saturday 17 January 2015

“Pulchra Ut Luna” by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)



Celeste... É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste...
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste... E como tu és do céu não amas:
Forma imortal que o espírito reveste
De luz, não temes sol, não temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

Incoercível como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio à noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hóstia sagrada.

Wednesday 17 December 2014

“Ossa Mea” by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)



II

Mãos de finada, aquelas mãos de neve,
De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve,
Que parece ordenar mas que suplica.

Erguem-se ao longe como se as eleve
Alguém que ante os altares sacrifica:
Mãos que consagram, mãos que partem breve,
Mas cuja sombra nos meus olhos fica...

Mãos de esperança para as almas loucas,
Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,
Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
Cerrando os olhos das visões defuntas...

Friday 28 November 2014

“Cisnes Brancos” by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.

Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.

Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.

Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.

Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem.

Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: - Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.

Thursday 6 November 2014

“A Catedral” by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)

Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral eburnea do meu sonho
Aparece na paz do ceu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma aurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.

A catedral eburnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tao cansados ponho,
Recebe a bencao de Jesus.
E o sino clama em lugebres responsos:

"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Por entre lirios e lilases desce

A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral eburnea do meu sonho
Aparece na paz do ceu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O ceu e todo trevas: o vento uiva.
Do relampago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral eburnea do meu sonho
Afunda-se no caos do ceu medonho
Como um astro que ja morreu.

E o sino chora em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Wednesday 8 October 2014

“Árias e Canções” by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)



A suave castelã das horas mortas
Assoma à torre do castelo. As portas,
Que o rubro ocaso em onda ensangüentara,
Brilham do luar à luz celeste e clara.

Como em órbitas de fatias caveiras
Olhos que fossem de defuntas freiras,
Os astros morrem pelo céu pressago...
São como círios a tombar num lago.

E o céu, diante de mim, todo escurece...
E eu que nem sei de cor uma só prece!
Pobre alma, que me queres, que me queres?
São assim todas, todas as mulheres.

Saturday 9 November 2013

Ismália by Alphonsus de Guimaraens (in Portuguese)



            Quando Ismália enlouqueceu,
            Pôs-se na torre a sonhar...
            Viu uma lua no céu,
            Viu outra lua no mar.

            No sonho em que se perdeu,
            Banhou-se toda em luar...
            Queria subir ao céu,
            Queria descer ao mar...

            E, no desvario seu,
            Na torre pôs-se a cantar...
            Estava perto do céu,
            Estava longe do mar...

            E como um anjo pendeu
            As asas para voar...
            Queria a lua do céu,
            Queria a lua do mar...

            As asas que Deus lhe deu
            Ruflaram de par em par...
            Sua alma subiu ao céu,
            Seu corpo desceu ao mar...