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Wednesday 31 March 2021

Letter from Joseph Cardinal Zen to Robert Cardinal Sarah (translated into Portuguese)

Para Sua Eminência

Cardeal Robert Sarah

 

Cara Eminência,

 

Dor e indignação invadem meu coração quando ouço uma notícia incrível: eles proibiram missas particulares em San Pedro ?!

Não fosse pelas restrições impostas pelo coronavírus, eu pegaria o primeiro vôo para vir a Roma e me ajoelharia em frente à porta de Santa Marta até que o Santo Padre retirasse o edital.

Foi o que mais fortaleceu minha fé cada vez que vim a Roma: exatamente às sete horas entrei na sacristia (quase sempre encontrava o santo, o arcebispo e depois o cardeal Paolo Sardi), um jovem padre veio e ele me ajudava a vestir as vestimentas, aí eles me levavam para um altar (na basílica ou nas grutas eu não ligava, estávamos na basílica de São Pedro!). Creio que estas são as Missas que, em toda a minha vida, celebrei com mais fervor e emoção, às vezes com lágrimas rezando pelos nossos mártires vivos na China (agora abandonada e empurrada para o seio da igreja cismática pela "Santa Sé" apresentou aquele documento de junho de 2020 sem assinaturas e sem a revisão da Congregação para a Doutrina).

É hora de reduzir o excesso de poder do Secretário de Estado. Tirar as mãos sacrílegas da casa comum de todos os fiéis do mundo! Que eles se contentem em brincar de diplomacia mundana com o pai das mentiras. Faça do Secretário de Estado "um covil de ladrões", mas deixe o povo dedicado de Deus em paz!

 

"Era noite!" (João 13:30)

 

Seu irmão

 

Joseph Zen, SDB



Wednesday 15 January 2020

Speech of Cardinal Robert Sarah at the Youth Synod, 2018 (in English)



Young people put forward various requests in the field of moral doctrine. On the one hand, they demand clarity from the Church regarding some questions of particular concern to them: freedom in all areas and not only in sexual relations, non-discrimination on the grounds of sexual orientation, equality between men and women, even within the Church, etc., (cf. IL 53). On the other hand, they are calling for an open and unprejudiced discussion on moral questions, but even expect a radical change, a real reversal of the Church's teaching in these areas. In practice, they are asking “that the Church change her teachings” (Final Document, Pre-Synodal Meeting, Part II, no. 5).
Yet the doctrine of the Church on the above questions is not lacking in clarity: it’s enough to quote the Catechism of the Catholic Church (cf. Section Two, Chapter II, Art. 6). In particular, on the widely discussed issue today of homosexuality, the doctrine of the Church is clear (cf. CCC nos. 2357-2359; the two Documents of the CDF: Letter to the Bishops of the Catholic Church on the Pastoral Care of Homosexual Persons, 1986; Some Considerations Concerning the Response to Legislative Proposalson the Non-Discrimination of Homosexual Persons, 1992). That the content of these documents is not shared by the people to whom they refer is another issue, but the Church cannot be accused of a lack of clarity. If anything, there will be a lack of clarity on the part of some pastors in the exposition of the doctrine. In this case, one who exercises the munus docendi should make a profound examination of conscience before God.
It is, therefore, a question of proposing with courage and honesty the Christian ideal in keeping with Catholic moral doctrine, and not of watering it down by hiding the truth in order to attract young people into the bosom of the Church. Young people themselves say this, in the final document of the Pre-Synodal Meeting: “The young have many questions about the faith, but desire answers which are not watered-down, or which utilize pre-fabricated formulations.” (Final Document, Pre-Synodal Meeting, Part III, no. 11).
Perhaps we should keep more in mind that passage from the Gospel in which Jesus does not lower the demands of his call to the rich young man who wanted to follow him (cf. Mk 10:17-22). Besides, an unmistakable trait of the condition of young people is the desire to continually seek high and demanding ideals in all areas, not only in the personal realm of the area of feelings and emotions or the professional sphere, but also in justice, in transparency in the fight against corruption, in respect for human dignity. Underestimating the healthy idealism of young people can be a grave disservice to them, since it closes the doors to a true process of growth, maturity and holiness. Thus, by respecting and promoting the idealism of young people, they can become the most precious resource for a society that wants to grow and improve.

+Robert Cardinal Sarah
Prefect, Congregation for Divine Worship and the Discipline of the Sacraments

Saturday 1 September 2018

Sermon of Cardinal Robert Sarah at Chartres Cathedral (translated into Portuguese)


Peregrinação Paris-Chartres 2018.
Segunda-Feira de Pentecostes, 21 de maio de 2018.



Permitam-me em primeiro lugar agradecer calorosamente a Sua Excelência, Dom Philippe Christory, bispo de Chartres, pelo seu acolhimento nesta maravilhosa Catedral.
                Queridos peregrinos de Chartres,
                “A luz veio ao mundo”, diz-nos hoje o Evangelho, “e os homens preferiram as trevas”.
                E vocês, queridos peregrinos, acolheram a única Luz que não engana? Acolheram a Luz de Deus? Vocês caminharam durante três dias. Rezaram, cantaram, sofreram debaixo do sol e da chuva… Acolheram a Luz em seus corações? Renunciaram realmente às trevas? Escolheram seguir o Caminho, seguindo Jesus, que é a Luz do mundo?
                Queridos amigos, permitam-me fazer esta pergunta radical, porque, se Deus não é a nossa Luz, todo o resto se torna inútil. Sem Deus, tudo é escuridão.
                Deus veio até nós e se fez homem. Revelou-nos a única verdade que salva, foi morto para nos resgatar do pecado e, no Pentecostes, nos deu o Espírito Santo e nos ofereceu a Luz da fé. Mas nós preferimos as trevas!
                Olhemos ao nosso redor! A sociedade ocidental decidiu se organizar sem Deus. Ela está agora entregue às luzes cintilantes e enganadoras da sociedade do consumismo, do lucro a qualquer preço, do individualismo sem medida.
                Um mundo sem Deus é um mundo de trevas, de mentiras e de egoísmo.
                Sem a Luz de Deus, a sociedade ocidental se tornou como um barco sem rumo na noite! Ela já não tem amor para receber os filhos, para os proteger desde o seio materno, para os preservar da agressão da pornografia.
                Privada da Luz de Deus, a sociedade ocidental já não sabe respeitar os seus idosos, nem acompanhar os seus doentes no caminho da morte, nem dar lugar aos mais pobres e aos mais fracos.
                Ela foi entregue às trevas do medo, da tristeza e do isolamento. Não tem mais do que um vazio e um nada para oferecer. Deixa proliferar as ideologias mais loucas.
                Uma sociedade ocidental sem Deus pode tornar-se o berço de um terrorismo ético e moral mais viral e mais destrutivo que o terrorismo dos islamistas. Lembrem-se de que Jesus nos disse:

    “Não temais aqueles que matam o corpo e não podem matar a alma; antes, tenham medo daquele que pode fazer perecer a alma e o corpo no inferno” (Mt 10, 28).

Queridos amigos, perdoem-me esta descrição, mas é preciso ser lúcido e realista. Se eu lhes falo assim, é porque, no meu coração de padre e de pastor, eu sinto muito por tantas almas perdidas, tristes, inquietas e sozinhas!
                Quem as conduzirá rumo à Luz?
                Quem lhes mostrará o caminho da verdade, o verdadeiro caminho da liberdade, que é o caminho da Cruz?
                Vamos deixá-las entregar-se ao erro, ao niilismo desesperado ou ao islamismo agressivo sem fazer nada?
                Nós devemos gritar ao mundo que a nossa esperança tem um nome: Jesus Cristo, o único Salvador do mundo e da humanidade!
                Queridos peregrinos da França, olhem para esta catedral! Os antepassados de vocês a construíram para proclamar a sua fé!
                Tudo, na sua arquitetura, na sua escultura, nos seus vitrais, proclama a alegria de ser salvo e amado por Deus. Os seus antepassados não eram perfeitos, não estavam livres de pecado. Mas eles queriam deixar a luz da fé iluminar as suas trevas!
                Hoje também vocês, povo da França, acordem! Escolham a luz! Renunciem às trevas!
                Como?
                O Evangelho nos responde: “Aquele que age segundo a verdade vem para a luz”. Deixemos a Luz do Espírito Santo iluminar as nossas vidas concretamente, simplesmente, até os recônditos mais profundos do nosso ser!
                Agir segundo a verdade é, em primeiro lugar, colocar Deus no centro da nossa vida, como a Cruz é o centro desta catedral. Meus irmãos, escolhamos voltar-nos a Ele todos os dias!
                Agora, assumamos o compromisso de reservar todos os dias alguns minutos de silêncio para nos voltarmos a Deus, para dizer a Ele: “Senhor, reina em mim! Eu Te entrego a minha vida!”
                Queridos peregrinos, sem silêncio não há luz. As trevas se alimentam do barulho incessante do mundo, que nos impede de nos voltarmos para Deus.
                Tomemos como exemplo a liturgia de hoje. Ela nos leva à adoração, ao temor filial e amoroso perante a grandeza de Deus. Ela culmina na consagração, onde todos juntos, voltados para o altar, de olhar fixo na Eucaristia, na cruz, comungamos em silêncio, no recolhimento e na adoração.
                Queridos irmãos, amemos essas celebrações litúrgicas que nos fazem saborear a presença silenciosa e transcendente de Deus e nos fazem voltar para o Senhor.
                Queridos irmãos padres, eu quero me dirigir agora especialmente a vocês. O Santo Sacrifício da Missa é o lugar onde vocês encontrarão a luz para o seu ministério. O mundo em que vivemos pede a nossa atenção sem cessar. Nós estamos constantemente em movimento, sem nos preocuparmos em parar e dedicar um tempo a procurar um lugar deserto para descansar um pouco, na solidão e no silêncio, na companhia do Senhor. Grande seria o perigo de nos tornarmos apenas “trabalhadores sociais”. Se isso acontecesse, nós não daríamos mais a Luz de Deus, mas a nossa própria luz, que não é a Luz que os homens esperam. O que o mundo espera dos padres é Deus e a Luz da Sua Palavra, proclamada sem ambiguidade nem falsificação.
                Saibamos voltar-nos para Deus numa celebração litúrgica recolhida, cheia de respeito, de silêncio e marcada pela sacralidade. Não inventemos nada na liturgia: recebamos tudo de Deus e da Igreja. Não procuremos nela o espetáculo ou o sucesso. A liturgia nos ensina: ser sacerdote não é, em primeiro lugar, fazer muito, mas sim estar com o Senhor na cruz!
                A liturgia é o lugar onde o homem encontra Deus cara a cara. A liturgia é o momento mais sublime onde Deus nos ensina a “reproduzir em nós a imagem do Seu Filho Jesus Cristo, para que Ele seja o primogênito de uma multidão de irmãos” (Rm 8, 29). Ela não é nem deve ser uma ocasião de ruptura, de luta ou de disputa.
                Na forma ordinária, assim como na forma extraordinária do rito romano, o essencial é nos voltarmos à Cruz, a Cristo, nosso Oriente, nosso Tudo e nosso único Horizonte! Seja da forma que for, ordinária ou extraordinária, saibamos sempre celebrar, como neste dia, segundo o que nos ensina o Concílio Vaticano II: com nobre simplicidade, sem sobrecargas inúteis, sem estética fictícia e teatral, mas com o sentido do sagrado, a preocupação primeira da glória de Deus e com verdadeiro espírito de filhos da Igreja de hoje e de sempre!
                Queridos irmãos sacerdotes, guardem sempre esta certeza: estar com Cristo na cruz, é isto o que o celibato sacerdotal proclama ao mundo! O projeto, de novo proposto por alguns, de desvincular o celibato do sacerdócio, conferindo o sacramento da ordem a homens casados (os viri probati), por, dizem eles, “razões ou necessidades pastorais”, teria graves consequências, na realidade, de romper com a tradição apostólica. Nós fabricaríamos um sacerdócio à nossa medida humana, mas não perpetuaríamos, não prolongaríamos o sacerdócio de Cristo, obediente, pobre e casto. De fato, o sacerdote não é somente “alter Christus”, mas é, verdadeiramente, “Ipse Christus”: o próprio Cristo! E é por isso que o caminho para seguir a Cristo e a Igreja será sempre um sinal de contradição!
                A vocês, queridos cristãos leigos, comprometidos na vida das cidades, eu quero me dirigir com força: não tenham medo! Não tenham medo de levar a esse mundo a Luz de Cristo!
                O primeiro testemunho de vocês deve ser sempre o seu exemplo: ajam segundo a verdade! Nas suas famílias, na sua profissão, nas suas realidades sociais, econômicas, políticas, que seja Cristo a sua Luz! Não tenham medo de testemunhar que a sua alegria vem de Cristo!
                Eu lhes peço, não escondam a fonte da sua esperança! Pelo contrário: proclamem, testemunhem, evangelizem! A Igreja precisa de vocês! Lembrem a todos que somente “Cristo crucificado revela o sentido autêntico da liberdade!” (São João Paulo II, Veritatis Splendor, 85).
                Com Cristo, libertem a liberdade hoje acorrentada pelos falsos direitos humanos, todos orientados para a autodestruição do homem.
                A vocês, queridos pais, quero dirigir uma mensagem bem particular. Ser pai e mãe de família no mundo de hoje é uma aventura cheia de sofrimentos, de obstáculos e preocupações. A Igreja lhes diz: obrigada! Sim, obrigada pela doação generosa de vocês mesmos!
                Tenham a coragem de educar os seus filhos na Luz de Cristo. Vocês terão que lutar, às vezes, contra os ventos dominantes, suportar a zombaria e o desprezo do mundo.

    “Nós proclamamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1 Cor 1, 23-23).

Não tenham medo! Não renunciem! A Igreja, pela voz dos Papas, especialmente todos desde a encíclica Humanae Vitae, confia a vocês uma missão profética: testemunhar perante todos a nossa alegria e confiança em Deus, que fez de nós guardiões inteligentes da ordem natural. Vocês anunciam aquilo que Jesus nos revelou com a Sua própria vida: a liberdade se realiza no amor, isto é, na doação de si mesmo.
                Queridos pais e mães de família, a Igreja ama vocês! Amem também vocês a Igreja! Ela é a sua Mãe. Não se misturem com quem dela zomba, porque eles só vêm as rugas do seu rosto envelhecido pelos séculos de sofrimentos e provas. Ainda hoje, ela é bela e brilha de santidade.
                Por fim, quero agora me dirigir a vocês, os mais jovens, que estão aqui em tão grande número!
                No entanto, eu peço que vocês escutem um “velho” que tem mais autoridade do que eu: o evangelista São João. Para além do exemplo da sua vida, São João deixou também uma mensagem escrita para os mais jovens. Na sua primeira carta, nós encontramos estas palavras emocionantes de um velho para os jovens das igrejas que ele tinha fundado; escutem a sua voz, cheia de vigor, de sabedoria e de calor:

    “Jovens, eu vos escrevi porque sois fortes e a palavra de Deus permanece em vós, e vencestes o maligno. Não ameis o mundo, nem as coisas do mundo” (1 Jo 2, 14-15).

O mundo que nós não devemos amar, comentava o padre Raniero Cantalamessa na sua homilia da Sexta-Feira Santa de 2018, é aquele ao qual não devemos nos conformar; não é, como sabemos, o mundo criado e amado por Deus, não são as pessoas do mundo a quem devemos sempre nos voltar, especialmente aos pobres e aos últimos dos pobres, para amá-los e servi-los humildemente… Não! O mundo que não devemos amar é outro: o mundo tal como ele se tornou sob o domínio de Satanás e do pecado. O mundo das ideologias que negam a natureza humana e destroem as famílias… As estruturas da ONU, que impõem uma nova ética global, têm um papel decisivo e se tornaram, hoje, um poder avassalador, que chega às massas através das possibilidades ilimitadas da tecnologia. Em muitos países ocidentais, hoje é crime rejeitar submeter-se a essas ideologias horríveis. É isto o que chamamos de adaptação ao espírito do tempo, o conformismo. Um grande e crente poeta britânico do século passado, Thomas Stearns Eliot, escreveu três versos que dizem muito mais do que livros inteiros:

    “Num mundo de fugitivos, quem vai na direção oposta será visto como desertor”.

Queridos jovens cristãos, se é permitido que um “velho”, como foi São João, se dirija diretamente a vocês, também eu os exorto e lhes digo: vocês venceram o maligno. Combatam qualquer lei contrária à natureza que hoje querem lhes impor, oponham-se a toda lei contrária à vida, contrária à família. Sejam aqueles que vão na direção oposta! Atrevam-se a ir contra a corrente! Para nós, cristãos, a direção oposta não é um lugar: é uma Pessoa, é Jesus Cristo, nosso Amigo e nosso Redentor. Uma tarefa é confiada muito particularmente a vocês: salvar o amor humano da trágica deriva em que ele caiu; o “amor” que não é mais a doação de si mesmo, mas a posse do outro, quase sempre violenta e tirânica. Na cruz, Deus Se revelou como “Ágape”, isto é, como Amor que Se entrega a Si mesmo até a morte. Amar verdadeiramente é morrer pelo outro, como aquele jovem policial francês, o coronel Arnaud Beltrame! [ndr: saiba mais sobre ele aqui]
                Queridos jovens, vocês experimentam, sem dúvida, na sua alma, a luta entre as trevas e a Luz. Vocês são, às vezes, seduzidos pelos prazeres fáceis do mundo. De todo o meu coração de padre, eu lhes digo: não fiquem divididos! Jesus lhes dará tudo! Seguindo-o para serem santos, vocês não perdem nada! Vocês ganham a única alegria que não decepciona jamais!
                Queridos jovens, se hoje Cristo os chama a segui-lo como sacerdotes, religiosos ou religiosas, não hesitem! Digam “fiat”, “faça-se”! Um “sim” entusiasta e sem condições. Deus quer precisar de vocês! Que graça, que alegria!
                O Ocidente foi evangelizado pelos santos e pelos mártires. Vocês, jovens de hoje, vocês serão os santos e os mártires que as nações esperam para uma nova evangelização! As suas pátrias tem sede de Cristo! Não as decepcionem! A Igreja confia em vocês! Eu rezo para que muitos de vocês respondam, hoje, nesta missa, ao chamamento de Deus a segui-lo, a deixar tudo por Ele, pela Sua Luz.
                Queridos jovens, não tenham medo! Deus é o único amigo que não faltará nunca. Quando Deus chama, Ele é radical. Isso quer dizer que Ele vai até o fim, até a raiz.
                Queridos amigos, nós não somos chamados a ser cristãos medíocres! Não, Deus nos chama inteiramente, até o fim, até a doação total, até o martírio do corpo ou do coração.
                Querido povo da França, foram os mosteiros que fizeram a civilização do seu país! Foram os homens e mulheres que aceitaram seguir Jesus radicalmente até o fim que construíram uma civilização bela e pacífica, como esta catedral.
                Povo da França, povos do Ocidente, vocês não encontrarão a paz e a alegria se não buscarem somente a Deus! Voltem à Fonte! Voltem aos mosteiros! Sim, vocês todos, atrevam-se a passar alguns dias num mosteiro! Neste mundo de tumulto, de feiúra e de tristeza, os mosteiros são oásis de beleza e de alegria. Vocês verão que é possível colocar Deus no centro de toda a nossa vida. Vocês experimentarão a alegria que não passa!
                Queridos peregrinos, renunciemos às trevas. Escolhamos a Luz!
                Peçamos à Santíssima Virgem Maria que nos ensine a dizer “fiat”, a dizer “sim” plenamente, como ela; que saibamos acolher a Luz do Espírito Santo como ela. Neste dia, em que graças às disposições do Santo Padre, o Papa Francisco, nós festejamos Maria, Mãe da Igreja, peçamos a essa Mãe Santíssima que tenhamos um coração ardente para anunciar aos homens a Boa Nova; um coração generoso, um coração grande, como o de Maria, com as dimensões da Igreja, com as dimensões do Coração de Jesus!
                Que assim seja.

Wednesday 28 February 2018

Preface for Robert Cardinal Sarah's "A Força do Silêncio" by Emeritus Pope Benedict XVI (translated into Portuguese)



Desde quando, nos anos de 1950, pela primeira vez eu li as cartas de Santo Inácio de Antioquia, ficou-me especialmente gravada uma passagem de sua Carta aos Efésios:

    “É melhor permanecer em silêncio e ser do que falar e não ser. É belo ensinar quando se faz o que se diz. Um só é o Mestre que disse e fez, e o que Ele fez, permanecendo em silêncio, é digno do Pai. Quem realmente possui a palavra de Jesus pode ouvir também o seu silêncio, de modo a ser perfeito, de modo a agir por sua palavra e ser conhecido por sua permanência no silêncio.”
    (15,1s)


O que significa "ouvir o silêncio" de Jesus e reconhecê-lo por seu silêncio? Sabemos, pelos Evangelhos, que Jesus costumava passar as noites a orar a sós, "sobre o monte", em diálogo com o Pai. Sabemos que o seu falar, que a sua palavra provém da permanência no silêncio e que só no silêncio poderia amadurecer. É revelador, portanto, o fato de que a sua palavra só possa ser compreendida de modo justo quando se adentra também em seu silêncio; só se aprende a escutá-la a partir dessa sua permanência no silêncio.
            É claro que, para interpretar as palavras de Jesus, é necessária uma competência histórica que nos ensine a compreender o tempo e a linguagem da época. Mas isso por si só não basta para colher verdadeiramente, em toda a sua profundidade, a mensagem do Senhor. Quem lê os comentários aos Evangelhos, cada vez mais volumosos, que são feitos atualmente fica desapontado no final. Aprende muitas coisas úteis sobre o passado e defronta-se com muitas hipóteses que, no final, em nada favorecem a compreensão do texto.
            No final, tem-se a sensação de que aquele excesso de palavras falta alguma coisa essencial: entrar no silêncio de Jesus, silêncio do qual nasce a sua palavra. Se não conseguirmos entrar nesse silêncio, sempre ouviremos a palavra de modo superficial e assim não a compreenderemos verdadeiramente. Todos esses pensamentos atravessaram-me de novo a alma ao ler o novo livro do cardeal Robert Sarah, que nos ensina o silêncio: permanecer em silêncio com Jesus, o verdadeiro silêncio interior.
            Ao nos propor justamente isso, ele também nos ajuda a compreender de um modo novo a palavra do Senhor. Naturalmente, ele fala pouco ou nada de si, mas mesmo assim nos permite entrever algo da sua vida interior. Quando Nicolas Diat lhe pergunta: "Ao longo da sua vida, o senhor se deu conta algumas vezes de que as palavras foram se tornando demasiadamente inoportunas, pesadas e ruidosas?". Ele responde: "Em minhas orações e em minha vida interior, sempre senti a necessidade de um silêncio mais profundo e completo [...].
            Os dias de solidão, de silêncio e de jejum absoluto foram um grande alento, uma graça incrível, uma lenta purificação e um encontro pessoal com Deus [...]. Os dias de solidão, de silêncio e jejum, alimentado apenas pela Palavra de Deus, permitem ao homem estabelecer sua vida sobre o essencial" (Pensamento 134). Nessas linhas revela-se a fonte de vida do cardeal, fonte que confere à sua palavra uma profundidade interior. Essa é a base que lhe permite reconhecer os perigos que continuamente ameaçam a vida espiritual, especialmente a de padres e bispos, ameaçando assim a própria Igreja, na qual, com não pouca frequência, em lugar da Palavra introduz-se uma verbosidade em que se dissolve a grandeza da Palavra.
            Gostaria de citar uma frase que pode servir de começo para o exame de consciência de qualquer bispo: "Pode suceder que um sacerdote bom e piedoso, uma vez elevado à dignidade episcopal, descambe rapidamente na mediocridade e no desejo de ser bem-sucedido nos negócios mundanos. Sobrecarregado pelo peso de seus encargos, agitado pela vontade de agradar, preocupado com seu poder, autoridade e as necessidades materiais de seu ofício, gradualmente ele se esgota" (Pensamento 15). O cardeal Sarah é um mestre espiritual que fala a partir da sua profunda permanência silenciosa junto ao Senhor, fala a partir da sua profunda unidade com Ele, e, assim, tem realmente algo a dizer a cada um de nós.
             Devemos ser gratos ao papa Francisco por ter posto tal mestre espiritual à frente da Congregação que é responsável pela celebração da liturgia na Igreja. Na liturgia, como na interpretação da Sagrada Escritura, também é necessária uma competência específica. No entanto, também na liturgia pode acontecer que o conhecimento especializado acabe por ignorar o essencial, caso não se fundamente numa profunda unidade interior com a Igreja orante, que aprende sempre de novo, com o próprio Senhor, o que é a adoração. Com o cardeal Sarah, um mestre de silêncio e de oração interior, a liturgia está em boas mãos.

Bento XVI, Papa Emérito Cidade do Vaticano, Semana da Páscoa de 2017.