SAUDAÇÃO ÀS AUTORIDADES
CIVIS E MILITARES
Contemplando
por vários dias os esplendores desta cena que hoje se desenrola pela última vez
diante de vossos olhos como diante dos olhos deslumbrados de nossa piedade, e
pensando por certo nas emoções que sentiria o coração paternal do Sumo
Pontífice se aqui estivesse, é possível que por uma natural associação de
idéias vossa imaginação, vagueando, conduzida pelas saudades através dos salões
do Vaticano tivesse estabelecido uma analogia entre a imortal obra prima de
Rafael, na Stanza della Signatura, em que o grande pintor figurou a
"Disputa do Santíssimo Sacramento", e o quadro esplêndido, que, não
em pintura, nem em imaginação, mas em realidade e vida, agora se contempla
neste local.
O certo
é que a analogia é frisante e as diferenças de personagens passam quase
despercebidas ante a identidade do ato místico e sobrenatural que naquela
pintura e nesta hora de glória e de vida se celebra.
Figurou
Rafael uma larga esplanada de mármore tendo ao fundo um panorama risonho da
Itália, e ao centro sobre alguns degraus, um altar com a Sagrada Eucaristia. De
um e de outro lado, em afetuosa e animada porfia os maiores potentados da
Cristandade: papas, imperadores, reis, cardeais e doutores, contendem entre si,
louvando cada qual o Diviníssimo Sacramento segundo toda a medida de seu
fervor. Pairando sobre nuvens, as figuras mais excelsas da Igreja Gloriosa, no
Antigo e Novo Testamento, coros inumeráveis de anjos, o próprio Padre Eterno, e
o Espírito Paráclito figuram de forma a atribuir o lugar central ao Divino
Redentor. É a glorificação do Sacramento do amor por todos os filhos de Deus,
isto é, por todos aqueles que souberam ouvir o apelo austero e divinamente
suave das bem-aventuranças.
Que
importa que as figuras terrenas que aqui temos não sejam as mesmas que as da
Stanza della Signatura? É sempre a mesma Igreja de Deus, é o mesmo o Sacramento
que adoramos, e do mais alto dos Céus, são o Padre, o Filho e o Espírito Santo,
a Rainha do Céu, as incontáveis multidões angélicas, os mártires, as virgens,
os confessores e os doutores que nos contemplam. E como os atos de piedade
praticados pelos fiéis sob o bafejo do Espírito Santo valem infinitamente mais
do que a melhor das obras de arte produzidas pelo engenho humano, força é
reconhecer, que há algo de mais e infinitamente mais precioso do que o
inestimável quadro de Rafael que aqui temos.
Estes
grandes dias que estão prestes a se escoar foram luminosos instantes de Tabor
na história brasileira. E se no Tabor o tempo correu tão rápido que os
apóstolos entenderam de poder apreciar plenamente suas delícias ali fixando
morada, mandaria a lógica que também aqui aproveitássemos avidamente os
minutos, na tarefa santamente silenciosa, da adoração. Entretanto, ordena a
sagrada autoridade do Exmo. Revmo. Sr. Arcebispo Metropolitano que as nossas
atenções se desviem por alguns minutos da Custódia Sagrada e, cessados por
instantes os louvores eucarísticos, se faça uma saudação ao Chefe da Nação, e
demais representantes do poder temporal aqui presentes. E fez bem. Não são
apenas aqueles que dizem "Senhor, Senhor" que tem o reino de Deus,
mas ainda os que ouvem a vontade de Deus e a cumprem. E é tão velho quanto o
Catolicismo o preceito da obediência sobrenaturalmente respeitosa e filial, não
apenas àqueles que tem o poder e o encargo de reger os interesses temporais da
Cristandade.
Permita
pois, Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Legado Pontifício que as
homenagens e as saudações de toda esta multidão subam agora, até àqueles que,
encarnando a autoridade natural do Estado, aqui representam a venerável
soberania do poder temporal, e, com ela o próprio Brasil.
Exmo.
Sr. Dr. Fernando Costa, DD. Interventor Federal; Exmo. Sr. General Maurício
Cardoso, DD. Comandante da II Região Militar; Exmos. Srs. Presidente do
Departamento Administrativo e Secretários do Governo; Exmo. Sr. Prefeito
Municipal.
Não
seria preciso que ouvísseis estas palavras, para que notásseis que, no curso já
quatro vezes secular, da história do Brasil, jamais se reuniu assembléia mais
solene e ilustre que esta. No momento em que a vida nacional caminha para rumos
definitivos, quis a Divina Providência reunir em pleno coração de São Paulo, os
elementos representativos de tudo quanto fomos e somos, de todas as glórias de
nosso passado e de nossas melhores esperanças para o futuro como uma afirmação
brilhante dos altos e amorosos desígnios que tem sobre nós.
Aqui
está a Santa Igreja Católica. Em outros termos aqui está a própria alma do
Brasil. Aqui estão sob a augusta presidência do Legado Pontifício aquele
Episcopado e aquele clero que desde os nossos primeiros dias, ministrando os
Sacramentos, e ensinando a palavra de Deus, conservaram o Brasil
verdadeiramente brasileiro, conservando-o fundamentalmente católico. Há quanto
tempo, a conjuração de todos os meios de descristianização desde os mais
poderosos aos mais sutis, se estabeleceu nesta Terra de Santa Cruz, afim de
arrancá-la ao regaço da Igreja. Mas enquanto quase tudo que no sentido humano
da palavra pode chamar-se glória, poder, riquezas, se mobilizou no sentido de
assim cometer esse estranho e tenebroso crime de matar a fogo lento a alma de
um país inteiro – enquanto isto a Igreja estava vigilante, e, depois de perto
de 40 anos de um agnosticismo desdenhoso e de uma luta insana, de norte a sul
do país soprava uma verdadeira primavera, e o renascimento religioso provoca a
estruturação de um apostolado tão vigoroso e tão coeso, tão sedento de
ortodoxia de doutrina e pureza de vida que, hoje já o podemos afirmar, o
movimento de leigos católicos, coesos e disciplinados, militantes e valorosos,
já constitui por si uma vitória de imensas conseqüências e um penhor de que a
Providência nos está armando para triunfos ainda maiores.
Aspectos da realização do 4º Congresso Eucarístico
Nacional
Digamos
tudo em uma só palavra: a Ação Católica, na solidez de suas organizações
fundamentais e na sábia e justa policromia de suas associações auxiliares, é
hoje uma potência ideológica de primeiro valor, que conta, na realização de
suas finalidades, não só com o concurso apaixonado de quanto nela se
inscreveram, mas ainda da própria massa do povo brasileiro.
Vós o
sentistes, Senhores representantes do Poder Temporal, e vossa gratíssima
presença entre nós constitui a afirmação tangível de que cessou para o Brasil a
era do laicismo desdenhoso e artificial. Para explicardes vosso comparecimento
em caráter oficial nestas solenidades, não vos seria necessário alegar
convicções particulares nem pendores pessoais. Todo o mundo sentiria que direis
uma grande verdade, afirmando que é hoje tal a pujança do movimento católico no
Brasil, que governo algum o poderia ignorar, apegando-se às fórmulas decrépitas
de um laicismo formalista.
Pois
este magnífico reerguimento da alma nacional, no que ela tem de mais genuíno,
isto é na Fé, é obra desse Episcopado e desse Clero que, pobre embora de todos
os dons que devem fazer grandes as obras dos homens, soube vencer o
deslumbramento de todos os artifícios com que se costuma fascinar as multidões.
Como
não bastasse, para completar esse quadro tão evocativo das lutas passadas ou
recentes de nossa História aqui se encontra também, cercado de nosso respeitoso
carinho, o representante de uma família cujo nome não se pode pronunciar sem
fazer vibrar todas as páginas de nossa História: é Dom Pedro de Orleans e
Bragança, cuja presença lembra o heroísmo do brado do Ipiranga, a sabedoria do
governo de Dom Pedro II, os louros da guerra do Paraguai e a figura radiante de
piedade da Princesa que soube quebrar as algemas da raça negra.
Se
alongarmos mais nossos olhares, veremos os vultos claros e alguns tanto
indecisos, dos arranha-céus que a Paulicéia construiu. Moldura esplêndida deste
quadro, ela nos fala das possibilidades de nossa grandeza temporal e nos traz a
garantia de que por mais que o Brasil cresça no sentido espiritual, terá
riquezas suficientes para crescer proporcionalmente no sentido material.
E,
neste momento, os olhares de todos estes Prelados, as vistas de todas estas
multidões, a atenção dos milhares de espectadores que para além do vale, do
alto dos arranha-céus ou até onde as ondas do rádio puderem chegar em terras
brasileiras acompanham esta solenidade, se volta para vós. Para vós cuja
presença, como acabamos de ver, tanto significa e tanto realce dá a estas
glorificações de Cristo-Eucarístico. Para vós, cujo comparecimento constitui a
homenagem oficial do Brasil ao seu Divino Rei, que é Cristo, para vós que
recebeis a demonstração inequívoca da satisfação que vossa presença nos causa.
Os aplausos
que neste momento chegam até vós, são o de todo apoio que em todos os tempos a
Igreja sempre tributou aos detentores da autoridade temporal.
A
magnífica cena que tendes diante dos olhos, está longe de ser inédita nos
fastos da Cristandade. Ela não tira seu valor do fato de ser uma novidade
sensacional, mas, pelo contrário, da extraordinária continuidade com que se tem
repetido.
Às
margens do Jordão como do Nilo, à sombra das colunas clássicas de Atenas como
nos esplendores da grande metrópole de Cartago, no fastígio do poder da Idade
Média como nas lutas tormentosas contra o proto-totalitarismo josefista ou
pombalino, sempre que assembléias como esta se tem reunido, a Igreja repete ao
Poder Temporal com uma constância e uma uniformidade impressionante, a mesma
mensagem de paz e aliança, em que para si reserva tão somente o reino do
espiritual, ciosa de respeitar a plena soberania do Poder Temporal em todos os
outros terrenos, dele pedindo tão somente que ajuste suas atividades aos
preceitos evangélicos, ou seja aos princípios que constituem o fundamento da
civilização cristã católica.
Essa
mensagem é eco fiel do divino preceito: "Daí a César o que é de César e a
Deus o que é de Deus". Pelos aplausos dessa multidão, a vossos ouvidos
chega agora esse eco, poderosa afirmação de princípios que as vicissitudes dos
tempos, em todas as épocas não puderam aluir.
Poucas
vezes, no curso de História Brasileira, se tem erguido em torno de uma figura,
concerto tão generalizado, de louvores e admiração, do que em torno de S.
Excia., o Sr. Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas. Será supérfluo,
neste momento, acrescentarmos a tantos louros, mais um. A situação de
beligerância em que nos encontramos fez erguer-se em torno de S. Excia., todos
os brasileiros, de todos os quadrantes geográficos e ideológicos do país. Esse
apoio unânime ao governo de S. Excia., é hoje um imperativo patriótico, em cujo
cumprimento os católicos reclamam para si a primeira linha, no terreno do
devotamento e da disciplina.
Mas há
uma afirmação sobremaneira importante a fazer aqui. Mil e mil vezes tem sido
ditos a S. Excia. os motivos pessoais que em torno de sua figura tem congregado
tanta solidariedade. É preciso que o intérprete da opinião católica afirme que
a disciplina dos católicos ao Poder Temporal firma suas raízes mais no fundo, e
que, abstração feita das considerações de ordem pessoal, sua obediência aos
poderes públicos se baseia na convicção de que obedecem assim à vontade do
próprio Deus, conhecida pela luz da razão natural e pelos esplendores da
revelação cristã.
Católicos,
não somos nem podemos ser partidários da doutrina da soberania popular, e por
isto mesmo recusamo-nos a ver a augusta autoridade do Poder Temporal firmada
sobre a areia movediça entre todas, da popularidade. Ela se crava na rocha
firme das nossas consciências cristãs, e faz, de nossa submissão e de nossos
propósitos de ardente colaboração convosco, nas sendas da civilização cristã e
na realização da grandeza da Terra de Santa Cruz, um fundamento inabalável que
as tempestades da adversidade contra as quais ninguém está garantido – jamais
poderão destruir.
Isto
não impede, entretanto, que depois de termos prestado homenagem ao Chefe da
Nação, símbolo em tempo de guerra mais do que nunca, da unidade e grandeza
pátrias, de público agradeçamos também a V.Excia. Sr. Interventor Fernando
Costa, toda a cooperação que V.Excia. prestou para o êxito desse grande
congresso. Essa vossa conduta simpaticíssima, de que as homenagens ao Cristo
Eucarístico receberam tanto esplendor, foi seguida também por vosso ilustre
secretariado, que aqui associamos o preito de reconhecimento que nesse momento
prestamos a V.Excia. Na mesma homenagem de reconhecimento envolvemos a figura
respeitável do Sr. Comandante da 2a. Região Militar, General Maurício Cardoso,
no qual comprazemos em aplaudir neste momento todas as glórias do Exército
Nacional; o Exmo. Sr. Dr. Godofredo da Silva Telles, Presidente do Departamento
Administrativo do Estado, figura característica e brilhante do patriciado paulista;
o Exmo. Sr. Dr. Prestes Maia, Prefeito Municipal, e todos quanto, mostrando
compreender admiravelmente com isto o significado que para o povo católico do
Brasil tem este Congresso, tanto concorreram para seu esplendor e grandeza.
Senhores,
é hoje o dia 7 de setembro, a data é expressiva, e estou absolutamente certo de
que um imenso clamor se levantará neste glorioso dia, transpondo os limites do
Estado e do País para notificar ao mundo inteiro que como um só homem, o Brasil
se ergue ao lado do Exmo. Sr. Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas,
contra o imperialismo nazista pagão que trama sua ruína e parece ter chamado a
si, exatamente como seu sósia vermelho de Moscou, a diabólica empreitada de
destruir a Igreja em todo o mundo.
Contra
os inimigos da Pátria que estremecemos, e de Cristo que adoramos, os católicos
brasileiros saberão mostrar sempre uma invencível resistência. Loucos e
temerários! Mais fácil vos seria arrancar de nosso céu o Cruzeiro do Sul, do
que arrancar a soberania e a Fé a um povo fiel a Cristo, e que colocará sempre
seu mais alto título de ufania em uma adesão filialmente obediente e
entusiasticamente vigorosa à Cátedra de São Pedro.
* * *
Mas
esta saudação por demais longa não seria completa se não lhe acrescentássemos
uma última palavra. É próprio do feitio que Deus deu ao brasileiro, que a
suavidade de um ambiente de família impregne todos os atos de nossa vida e
perfume sem os deslustrar até mesmo os mais solenes. A despeito dos esplendores
desta noite, estamos pois em família, e o ambiente é propício para que se
desatem em confidências as esperanças que abrigamos em nós.
Produto
da cultura latina valorizada e como que transubstanciada pela influência
sobrenatural da Igreja, a alma brasileira resulta da transplantação, para novos
climas e novos quadros, destes valores eternos e definitivos que, precisamente
porque definitivos e eternos, podem ajustar-se a todas as circunstâncias
contingentes, sem perderem a identidade substancial consigo mesmo. A perfeita
formação da alma brasileira comporta, pois, duas tarefas essenciais, uma que
mantenha sempre intactos os fundamentos de nossa civilização cristã e ocidental
e outra que ajuste esses fundamentos às condições peculiares a este hemisfério.
Nossos
maiores executaram com evidente êxito e indomável valentia a primeira parte
dessa ingente tarefa. Depois de quatrocentos anos de luta, de trabalho, aqui
floresce este Brasil que é para a civilização ocidental um motivo de esperança,
e para a Santa Igreja de Deus uma causa de júbilo. Mas esse esforço de
conservação, que ainda é e continuará a ser sempre necessário, foi até aqui tão
observante que relegou para o segundo plano o problema da adaptação.
Esmagava-nos
a desproporção entre nossos recursos materiais que do seio da terra desafiavam
nossa capacidade de produção, e a insuficiência de nossos braços, de nosso
dinheiro e de nossas energias para os explorar. A terra brasileira
apresentava-se cheia de possibilidades fabulosamente vastas, de riquezas
inesgotávelmente fecundas, que se adivinhavam e se sentiam mesmo antes de
qualquer demonstração técnica e científica. E o mesmo se poderia dizer de nossa
história, toda tecida até aqui de acontecimentos políticos de alcance meramente
ocidental e transcorrida quase toda ela em um tempo em que não estava na
América o centro da gravidade do mundo. Bem estudada e despida das versões
oficiais de um liberalismo anacrônico, aí podemos ver claramente, na fidelidade
de Amador Bueno como no espírito de Cruzadas dos heróis da reconquista
pernambucana, na fibra de ferro deste grande martelo da pior das heresias, que
foi Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, como no coração maternal e suave da
princesa Isabel, as expressões rútilas de um grande povo que, ainda nos
primeiros passos de sua História, já dava mostras de ser um povo que Deus criou
para grandes feitos.
Esta
predestinação se afirma na própria configuração de nossos panoramas.
Talvez
não fosse ousado afirmar que Deus colocou os povos de sua eleição em panoramas
adequados à realização dos grandes destinos a que os chama. E não há quem,
viajando por nosso Brasil, não experimente a confusa impressão de que Deus
destinou para teatro de grandes feitos esse País cujas montanhas trágicas e
misteriosas penedias parecem convidar o homem às supremas afoitezas do heroísmo
cristão, cujas verdejantes planícies parecem querer inspirar o surto de novas
escolas artísticas e literárias, de novas formas e tipos de belezas, e na orla
de cujo litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos
da Terra.
Quando
nosso poeta cantava que "nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, e
que as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá", percebeu, talvez
confusamente, que a Providência depositou na natureza brasileira a promessa de
um porvir igual ao dos maiores povos da Terra.
E hoje,
que o Brasil emerge de sua adolescência para a maturidade, e titubeia nas mãos
da velha Europa o cetro da cultura cristã, que o totalitarismo quereria
destruir, aos olhos de todos se patenteia que os países católicos da América
são na realidade o grande celeiro da Igreja e da Civilização, o terreno fecundo
onde poderão reflorir com brilho maior do que nunca as plantas que a barbárie
devasta no velho mundo. A América inteira é uma constelação de povos irmãos.
Nessa constelação, inútil é dizer que as dimensões materiais do Brasil não são
uma figura de magnitude de seu papel providencial.
Tempo
houve em que a História do mundo se pôde intitular "Gesta Dei per
Francos". Dia virá em que se escreverá "Gesta Dei per
brasilienses" (As ações de Deus pelos brasileiros).
A
missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias
fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente
Católica, Apostólica Romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o
facho desta grande luz, que será verdadeiramente o "lumen Christi"
que a Igreja irradia. Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das
raças que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos
imigrantes que tão intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que
tudo as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza
um pretexto para jacobinismos tacanhos, para racismos estultos, para
imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para bem do
mundo inteiro.
"Sejam
entre Vós os que governam como os que obedecem", diz o Redentor. O Brasil
não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto
quanto pela generosidade. Realmente, se soubermos ser fiéis à Roma dos Papas,
poderá nossa cidade ser uma nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e
gáudio do mundo inteiro.
Aqui
mesmo encontrais disto, Senhores, um formoso símbolo. Pela primeira vez arderá
em uma cerimônia pública o incenso nacional. Pela primeira vez órgão
inteiramente nacional tem deliciado nossos ouvidos. Mas esse incenso queimará
nos altares de uma Religião que é Universal, e esse órgão fará ecoar as
melodias da Igreja na língua-mater de toda a cultura do mundo. Nada poderia
dizer melhor do verdadeiro sentido de nosso nacionalismo, ou, posta de lado
essa palavra tantas vezes mal empregada, de nosso patriotismo.
"Dai
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Explorai, Senhores do
Poder Temporal, as riquezas de nossa terra; estruturai segundo as máximas da
Igreja, que são a essência da civilização cristã, todas as nossas instituições
civis. Auxiliai quanto em Vós estiver, a Santa Igreja de Deus e que plasme a
alma nacional na vida da graça, para a glória do céu. Fazei do Brasil uma
pátria próspera, organizada e pujante, enquanto a Igreja fará do povo
brasileiro um dos maiores povos da História. Na harmonia desta mesma obra está
a predestinação de uma íntima cooperação entre dois poderes. Deus jamais é tão
bem servido, quanto se César se porta como seu filho. E, Senhores, em nome dos
católicos do Brasil, eu vo-lo afianço, César jamais é tão grande, como quanto é
filho de Deus.
Nessa
colaboração está o segredo de nosso progresso e nela vossa parte é
verdadeiramente magnífica.
Trabalhai,
senhores, trabalhai neste sentido. Tereis a cooperação entusiástica de todos os
nossos recursos, de todos os nossos corações, de todo o nosso fervor. E quando
algum dia Deus Vos chamar à vida eterna, tereis a suprema ventura de contemplar
um Brasil imensamente grande e profundamente cristão, sobre o qual o Cristo do
Corcovado, com seus braços abertos, poderá dizer aquilo que é o supremo título
de glória de um povo cristão. Executai o programa de Governo que consiste em
procurar antes o reino de Deus e sua justiça, que todas as coisas lhes serão
dadas por acréscimo.
Em um
Brasil imensamente rico, vereis florescer um povo imensamente rico, vereis
florescer um povo imensamente grande, porque dele se poderá dizer:
Bem-aventurado
este povo sóbrio e desapegado, no esplendor embora de sua riqueza, porque dele
é o reino dos céus.
Bem-aventurado
este povo generoso e acolhedor, que ama a paz mais do que as riquezas, porque
ele possui a terra.
Bem-aventurado
este povo de coração sensível ao amor e às dores do Homem-Deus, às dores e ao
amor de seu próximo, porque nisto mesmo encontrará sua consolação.
Bem-aventurado
este povo varonil e forte, intrépido e corajoso, faminto e sedento das virtudes
heróicas e totais, porque será saciado em seu apetite de santidade e grandeza
sobrenatural.
Bem-aventurado
este povo misericordioso, porque ele alcançará misericórdia.
Bem-aventurado
este povo casto e limpo de coração, bem aventurada a inviolável pureza de suas
famílias cristãs, porque verá a Deus.
Bem-aventurado
este povo pacífico, de idealismo limpo de jacobismos e racismos, porque será
chamado filho de Deus.
Bem-aventurado
este povo que leva seu amor à Igreja a ponto de lutar e sofrer por ele, porque
dele é o reino dos céus".
7 de Setembro, 1942.