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Thursday, 27 February 2025

Thursday's Serial: “A Moreninha” by Dr. Joaquim Manoel de Macedo (in Portuguese) - X

 

CAP. XVI - O SARAU

‘Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champanha na mão, os mais intrincados negócios; todos murmuram e não há quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço goza todos os regalos da sua época; as moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu elemento; aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às vezes, um bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida do écarté mesmo na ocasião em que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido; daí a pouco vão outras pelo braço de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que vieram para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado dândi que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns e regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.

E o mais é que nós estamos num sarau: inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha de... senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidade: alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto.

Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam por ver qual delas vence em graças, encantos e donaires, certo que sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa.

Hábil menina é ela! Nunca seu amor-próprio produziu com tanto estudo seu toucador e, contudo, dir-se-ia que o gênio da simplicidade a penteara e vestira. Enquanto as outras moças haviam esgotado a paciência de seus cabeleireiros, posto em tributo toda a habilidade das modistas da rua do Ouvidor e coberto seus colos com as mais ricas e preciosas jóias, d. Carolina dividiu seus cabelos em duas tranças, que deixou cair pela costa; não quis adornar o pescoço com seu adereço de brilhantes nem com seu lindo colar de esmeraldas; vestiu um finíssimo, mas simples vestido de garça, que até pecava contra a moda reinante, por não ser sobejamente comprido. Vindo assim aparecer na sala, arrebatou todas as vistas e atenções.

Porém, se um atento observador a estudasse, descobriria que ela adrede se mostrava assim, para ostentar as longas e ondeadas madeixas negras, em belo contraste com a alvura de seu vestido branco, e para mostrar, todo nu, o elevado colo de alabastro, que tanto a aformoseava, e que seu pecado contra a moda reinante não era senão um meio sutil de que se aproveitara para deixar ver o pezinho mais bem feito e mais pequeno que se pode imaginar.

Sobre ela estão conversando agora mesmo Fabrício e Leopoldo; terminaram sem dúvida a sua prática; não importa. Vamos ouvi -los.

— Está na verdade encantadora!... repetiu pela quarta vez aquele.

— Danças com ela? perguntou Leopoldo.

— Não, já estava engajada para doze quadrilhas.

— Oh! Lá vai ter com ela o nosso Augusto. Vamos apreciá-lo.

Os dois estudantes aproximaram-se de Augusto, que acabava de rogar à linda Moreninha a mercê da terceira quadrilha.

— Leva de tábua, disse Fabrício ao ouvido de Leopoldo; é a mesma que eu lhe havia pedido.

Mas a jovenzinha pensou um momento antes de responder ao pretendente; olhou para Fabrício e com particular mover de lábios pareceu mostrar-se descontente; depois riu-se e respondeu a Augusto:

— Com muito prazer.

— Mas minha senhora, disse Fabrício, vermelho de despeito e aturdido com um beliscão que lhe dera Leopoldo; há cinco minutos que já estava engajada até á duodécima.

— E verdade, tornou d. Carolina; e agora só acabo de ratificar uma promessa; o sr. Augusto poderá dizer se ontem pediu-me ou não a terceira contradança.

— Juro... balbuciou Augusto.

— Basta! acudiu Fabrício interrompendo-o; é inútil qualquer juramento de homem, depois das palavras de uma senhora.

Fabrício e Leopoldo retiraram-se; d. Carolina, que tinha iludido o primeiro, vendo brilhar o prazer na face de Augusto, e temendo que daquela ocorrência tirasse este alguma explicação lisonjeira demais, quis aplicar um corretivo e, erguendo-se, tomou o braço de Augusto. Aproveitando o passeio, disse:

— Agradeço-lhe a condescendência com que ia tomar parte na minha mentira... foi necessário que eu praticasse assim; quero antes dançar com qualquer, do que com aquele seu amigo.

— Ofendeu-a, minha senhora?

— Certo que não, mas diz-me coisas que não quero saber.

— Meu Deus! É um crime que também eu tenho estado bem perto de cometer!

— Pois bem, foi esta a única razão.

— Mas eu temo perder a minha contradança... alguns momentos mais e serei réu como Fabrício.

— A culpa será de seus lábios.

— Antes dos seus olhos, minha senhora.

— Cuidado, sr. Augusto! Lembre-se da contradança!

— Pois será preciso dizer que a detesto?...

— Basta não dizer que me ama.

— Ë não dizer o que sinto; eu não sei mentir. Ainda há pouco ia jurar falso...

— Nas palavras de um anjo ou de uma...

— Acabe.

— Tentaçãozinha.

— Perdeu a terceira contradança.

— Misericórdia! Eu não falei em amor!...

Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. E preciso antecipar que nos não vamos dar ao trabalho de descrever este; é um sarau como todos os outros, basta dizer o seguinte:

Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram o presente, ninguém cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-se dele. Os homens jogaram, falaram em política e requestaram as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e criticaram desapiedadamente umas às outras. As filhas deram carreirinhas ao som da música, as mães, já idosas, receberam cumprimentos por amor daquelas e as avós, por não terem que fazer nem que ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e a comer doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais; só basta dar conta das seguintes particularidades:

D. Carolina sempre dançou a terceira contradança com Augusto, mas, para isso, foi preciso que a sra. d. Ana empenhasse todo o seu valimento; a tirana princesinha da festa esteve realmente desapiedada. e não quis passear com o estudante.

.A interessante d. Violante fez o diabo a quatro: tomou doze sorvetes, comeu pão-de-ló como nenhuma, tocou em todos os doces, obrigou alguns moços a tomá-la por par, e até dançou uma valsa corrupio.

Augusto apaixonou-se por seis senhoras com quem dançou; o rapaz é incorrigível. E assim tudo mais.

Agora são quatro horas da manhã; o sarau está terminado, os convidados vão retirando-se e nós, entrando no toilette, vamos ouvir quatro belas conhecidas nossas, que conversam com ardor e fogo.

— É possível?!… exclamou d. Quinquina, dirigindo-se à sua mana; pois é verdade que esse sr. Augusto lhe fez uma declaração de amor?...

— Como quer que lhe diga, maninha!... Asseverou que meus olhos pretos davam à sua alma mais luz do que aos seus olhos todos os candelabros da sala nesta noite, e mesmo do que o sol nos dias mais brilhantes… palavras dele.

— Que insolente!… tornou d. Quinquina, ele mesmo, que me jurou ser a mais bela a seus olhos e a mais cara ao seu coração, porque meus cabelos eram fios de ouro e a cor das minhas faces o rubor de um belo amanhecer!... Palavras dele.

— Que atrevido!… bradou d. Clementina; o próprio que afirmou ser-lhe impossível viver sem alentar-se com a esperança de possuir-me, porque eu sabia ferir corações com minhas vistas e curar profundas mágoas com meus sorrisos!... Palavras dele.

— Oh! Que moço abominável, disse, por sua vez, d. Gabriela; e ousou dizer-me que me amava com tão subida paixão que, se fora por mim amado e pudesse desejar e pedir algum extremo, não me pediria como a outras, para beijar-me a face, porque das virgens do céu somente se beijam os pés, e de joelho! Palavras dele.

— Mas isto é um insulto feito a todas nós!

— Como se estará ele rindo!

— Qual! Se ele está apaixonado... Apaixonado?... E por quem?...

— Por nós quatro... talvez por outras mais: ele pensa assim.

— Que maldito brasileiro com alma de mouro!...

— E havemos de ficar assim?...

— Não, acudiu d. Joaninha: vamos ter com ele, desmascaremo-lo.

— Isto é nada para quem não tem vergonha!...

— Pois troquemos os papéis: finjamos que estávamos tratadas para desafiar-lhe os requebros, e... ridicularizemo-lo como for possível.

— Sim... obriguemo-lo a dizer qual de nós é a mais bonita; cada uma lhe pedirá um anel de seus cabelos... uma prenda... uma lembrança... ponhamo-lo doido.

— Muito bem pensado! Vamos!

— Deus nos livre!... A vista de tanta gente!...

— Então, quando e aonde?

— Uma idéia... seja a zombaria completa: escreva-se uma carta anônima, convidando-o para estar ao romper do dia na gruta.

— Bravo! Então escreva...

— Eu, não, escreva você...

— Deus me defenda! ... escreva d. Gabriela, que tem boa letra...

— Então, nenhuma escreve? Pois tiremos por sorte.

A idéia foi recebida com aprovação e a sorte destinou para secretária d. Clementina, que tirando de seu álbum um lápis uma tira de papel, escreveu sem hesitar:

"Senhor: — Uma jovem que vos ama e que de vós escutou palavras de ternura tem um segredo a confiar-vos: ao ralar da aurora a encontrareis no banco de relva da gruta; sede circunspecto e vereis a quem, por meia hora ainda, quer ser apenas — Uma incógnita".

— Bem, disse d. Quinquina, eu me encarrego de fazer-lhe receber a carta. Saiamos.

As quatro moças iam sair, quando um suspiro as suspendeu; mais alguém estava no toilette. D. Joaninha, medrosa de que uma testemunha tivesse presenciado a cena que se acabava de passar, voltou-se para o fundo do gabinete e o susto logo se dissipou.

— Vejam como ela dorme! ... disse.

Com efeito, recostada em uma cadeira de braços, d. Carolina estava profundamente adormecida.

A Moreninha se mostrava, na verdade, encantadora no mole descuido de seu dormir, e à mercê de um doce resfolegar, os desejos se agitavam entre seus seios; seu pezinho bem à mostra, suas tranças dobradas no colo, seus lábios entreabertos e como por costume amoldados àquele sorrir cheio de malícia e de encanto que já lhe conhecemos e, finalmente, suas pálpebras cerradas e coroadas por bastos e negros supercílios, a tornavam mais feiticeira que nunca.

D. Clementina não pôde resistir a tantas graças: correu para ela… dois rostos angélicos se aproximaram... quatro lábios cor-de-rosa se tocaram e este toque fez acordar d. Carolina.

Um beijo tinha despertado um anjo, se é que o anjo realmente dormia.

 

 

Cap. XVII - Foram buscar lã e saíram tosquiadas

Se houve alguém que quisesse servir a d. Quinquina, ou se foi ela mesma quem pôs a carta anônima no bolso da jaqueta de Augusto, é coisa que pouco interesse dá; o certo é que o estudante, indo tirar o lenço para assoar-se, achou o interessante escritinho; então correu logo para um lugar solitário, e só depois de devorar o convite sem assinatura, foi que lembrou-se que ainda não se havia assoado e que o pingo estava cai não cai na ponta do nariz; enfim, ainda com o lenço acudiu a tempo, e depois entendeu que, para melhor decidir o que lhe cumpria fazer naquela conjuntura, deveria avivar o cérebro, sorvendo uma boa pitada de rapé; portanto, lançou a mão ao segundo bolso de sua jaqueta, e eis que lhe sai com a caixa do bom Princesa um outro escritinho como o primeiro.

— Bravo! exclamou o nosso estudante; temíveis mãozinhas seriam estas, se se dessem ao exercício, não de encher, mas de vazar as algibeiras da gente.

E sem mais dizer, abriu e leu o escrito.

"Senhor: — Uma moça, que nem é bonita nem namorada, mas que quer interessar-se por vós, entende dever prevenir-vos que no banco de relva da gruta não achareis ao amanhecer uma incógnita, porém quatro conhecidas, que pretendem zombar de vós, porque esta mesma noite jurastes amar a cada uma delas cm particular. Não procureis adivinhar quem vos escreve, porque apesar de vossa amiga será por agora — Uma incógnita".

— Muito bonito! Muito bonito!... disse Augusto, beijando o bilhete; estou exatamente representando um papel de romance! Mas quem sabe se ainda acharei mais cartas?...

E nisso pensando, foi correndo um por um todos os bolsos de seus vestidos, sem esquecer o do relógio; e até passou os dedos pela sua basta cabeleira, presumindo que talvez introduzissem algum no enorme canudo de cabelos que lhe escondia as orelhas.

Porém nada mais havia; também duas cartas tão curiosas já eram de sobra em uma só noite.

O estudante pensou no conteúdo de ambas, e ainda reflexionava se lhe cumpria fugir ou aceitar um certame com quatro moças, que ele adivinhava quais eram, quando a primeira rosa da aurora se desabriu no horizonte. Augusto correu para a gruta encantada.

Chegando ao pé, foi de mansinho se aproximando, sentiu rumor e ouviu que alguém dizia em tom baixo:

— Oh! Se ele vier!

— Ei-lo aqui, minhas belas senhoras, exclamou o estudante, que entendeu não lhes dever nunca dar tempo a tomarem a ofensiva; eis-me aqui!...

As moças, que estavam todas sentadinhas no banco de relva, como quatro pombas rolas enfileiradas no mesmo galho, ergueram-se sobressaltadas ao ver entrar inopinadamente o estudante; era isso mesmo o que ele queria, pois continuou:

— As senhoras vêem que acudi de pronto ao honroso convite e que me entusiasmo vendo quatro auroras em lugar de uma só. Belo amanhecer é este, sem dúvida… mas, exposto ao fogo abrasador de oito olhos brilhantes… eu me sinto arder... juro que tenho sede... Eis ali uma fonte... Mas, meu Deus, é a fonte encantada que descobre os segredos de quem está conosco!... Bem! Bem! Melhor… uma gota desta linfa de fadas!...

— O que é que ele está dizendo, mana? exclamou d. Quinquina, apontando para Augusto, que tinha entre os lábios o copo de prata.

— É preciso decidir-nos a começar, disse d. Gabriela.

— Principie você, disse d. Joaninha.

— Eu não! comece você.

— Eu não, que sou a mais moça.

Então o estudante, que tinha acabado de esgotar o seu copo d’água, voltou-se para elas, e dando a seu rosto uma expressão animada e às suas palavras estudado acento:

— Começo eu, minhas senhoras, disse, e começo por dizer-vos que aquela fonte é realmente encantada; sim, eu tenho, à mercê de sua água, adivinhado belos segredos: escutai vós Perdoai e consenti que vos trate assim, enquanto vos falar inspirado por um poder sobrenatural. Vós viestes aqui para maltratar-me e zombar de mim, por haver amado a todas vós numa só noite; que ingratidão!... Eu vos poderia perguntar como o poeta: Assim se paga a um coração amante?! Mas, desgraçadamente, a fada que preside àquela fonte, quer mais alguma coisa ainda, e me dá uma cruel missão! Ordena-me que eu diga a cada uma de vós, em particular, algum segredo do fundo de vossos corações, para melhor provar os seus encantamentos. Pois bem, é preciso obedecer; qual de vós quer ser a primeira?...

Eu não ouso falar alto, porque pelo jardim talvez estejam passeando alguns profanos. Qual de vós quer ser a primeira?...

Nenhuma se moveu.

— Será preciso que eu escolha? continuou o tagarela. Escolherei... lluminai-me, boa fada! Quem será?... Será… a sra. d. Gabriela?

— Eu?! respondeu a menina, recuando.

— A senhora mesma, disse Augusto, trazendo-a pela mão para junto da fonte; vinde, senhora, para bem perto do lugar encantado; agora silêncio... ouvi.

— Ele está mangando conosco, murmurou d. Clementina.

Augusto já estava falando em voz baixa a d. Gabriela.

— Vós, senhora, ainda não amastes a pessoa alguma; para vós amor não existe: é um sonho apenas, e só olhais como real a galanteria; vós queríeis zombar de mim, porque vos protestei os mesmos sentimentos que havia protestado a mais três companheiras vossas, e todavia, estais incursa em igual delito, pois só por cartas vos correspondeis com cinco mancebos.

— Senhor!...

— Oh! Não vos impacienteis; quereis provas?... Há quatro dias, uma vendedeira de empadas, que se encarrega de vossas cartas, enganou-se na entrega de duas; trocou-as e deu, se bem se lembra a fada, a de lacre azul ao sr. Juca e a de lacre verde ao sr. Joãozinho.

— Ora… ora, senhor! Quem lhe contou essas invenções?

— A fada! E fez mais ainda. Vós não achareis em vosso álbum o escrito desesperado do sr. Joãozinho, que vos foi entregue no momento de vossa partida para esta ilha; sou eu que o tenho, a fada mo deu há pouco com sua mão invisível.

— Impossível! balbuciou d. Gabriela, recorrendo ao seu álbum.

Ela não podia encontrar o escrito.

— Sr. Augusto, disse então, toda vergonha e acanhamento, eu lhe rogo que me dê esse papel.

— Pois não quereis ouvir mais nada!...

— Basta o que tenho ouvido e que não posso bem compreender; mas dê-me o que lhe pedi.

— Daqui a pouco, senhora, na hora de minha partida para a corte, porém com uma condição.

— Pode dizê-la.

— Sois sobremaneira delicada, senhora; este excesso vos deve ser nocivo; quereis fazer-me o obséquio de ir descansar e dar-me a honra de aceitar a minha mão até à porta da gruta?...

— Com muito prazer.

Então os dois se dirigiram para fora; passando junto das três companheiras, d. Gabriela pôde apenas dizer-lhes:

— Até logo.

Chegando à porta, Augusto falou já em outro tom:

— Minha senhora, espero que me faça a justiça de crer que fico extremamente penalizado por não poder dilatar por mais tempo a glória de acompanhá-la; mas sabe o que ainda tenho de fazer.

— Obrigada, respondeu d. Gabriela, não poupe as outras.

Não é possível bem descrever a admiração das três.

Augusto chegou-se a d. Quinquina, e tomando-lhe a mão disse:

— Minha senhora, é chegada a vossa vez.

D. Quinquina deixou-se levar para junto da fonte; as moças tinham perdido toda a força; o que diante delas se passava pedia uma explicação que não estava ao seu alcance dar. Augusto começou:

— Senhora, eu poderia dizer-vos, pelo que me conta a boa fada, que vós sois como as outras de vossa idade, tão volúveis como eu; mas para tal saber não precisava eu beber da água encantada; podia também gastar meia hora em falar do vosso galanteio com um tenente da Guarda Nacional, por nome Gusmão...

— Senhor!...

— Por nome Gusmão, que leva o seu despotismo amoroso a ponto de exigir que não valseis, que não tomeis sorvetes, que não deis dominus tetum quando ao pé de vós espirrar algum moço e que não vos riais quando ele estiver sério,

— Quem lhe disse isto, senhor?...

— A fada, senhora; e ainda me disse mais: por exemplo, contou-me que no baile desta noite, passeando com um velho militar, vós recebestes da mão dele um lindo cravo e a seus olhos o escondestes, com gesto apaixonado, no palpitante seio; mas daí a um quarto de hora essa mesma flor, tão ternamente aceita, deveria ir parar ao bolso de um belo jovem, chamado Lúcio, se acaso não fosse roubada pela fada que preside esta fonte.

— Eu não entendo nada do que o senhor está dizendo… isso não é comigo.

— Eu me explico: o sr. Lúcio viu ser dado e recebido o presente, e fingindo-se zeloso, vos pediu esse cravo, muito notável porque, além da flor aberta, havia sete flores em botão. Ora, dizei, não é verdade? Pois o sr. Lúcio queria esse cravo, mas vós não lho podíeis dar, porque o velho militar não tirava os olhos de vós; ora, conversando com o sr. Lúcio, acordastes ambos que ele iria esperar um instante no jardim e que um pequeno escravo, por nome Tobias, lhe levaria a flor; e como o tal Tobias ainda não conhecia o sr. Lúcio, este lhe daria por senha as seguintes palavras — sete botões — não foi assim?

D. Quinquina guardou silêncio, porque tudo era verdade; ela estava cor de nácar. Augusto prosseguiu:

— Isto se passou estando vós na grande varanda, sentados em um banco e com as costas voltadas para uma janela da sala do jogo; ora, a fada esteve recostada a essa janela, ouviu quanto dissestes e como lhe é dado tomar todas as figuras, tomou a do moço, foi ao jardim, e quando viu o Tobias, disse — sete botões; e o cravo foi logo da fada e é agora meu; ei-lo aqui!...

— Isto é uma invenção; eu não conheço essa flor.

— Bem então consentireis que eu a traga esta manhã no meu peito?... Se não confessais, eu a mostrarei... O senhor coronel ainda se não retirou e...

— Perdoe-me, balbuciou, enfim, d. Quinquina, deixando cair uma lágrima na mão de Augusto. Dê-me esse maldito cravo.

— Eu vo-lo darei na hora de minha partida, senhora; porém, ouvi mais.

— Basta.

— Pois bem, basta; mas eu vejo que vossa face está umedecida; seria uma lágrima se o relento da noite não molhasse também a rosa. Quereis descansar sem dúvida; poderei gozar o prazer de conduzir-vos até à porta da gruta?...

— Sim, senhor.

Duas guerreiras tinham sido batidas; só a curiosidade retinha as outras; Augusto se chegou para elas e falou a d. Clementina:

— Agora vós, senhora.

Ela deixou-se levar pela mão até junto da fonte, e o estudante começou:

— Quereis fatos de anteontem ou da noite passada, senhora?

Eu não entendo o que o senhor quer dizer.

— Pergunto, senhora, se vos dá gosto que eu vos repita o que convosco se passou, quando tomáveis um sorvete ao lado de um jovem de cabelos negros... o que convosco conversou o meu colega Filipe, quando tomáveis chá?

— Eu não preciso saber mais nada disso.

— Então dir-vos-ei o que mais vos interessa; sossegarei mesmo os vossos cuidados e os de sr. Filipe, a respeito da perda de certo objeto...

— Sr. Augusto!

— Senhora, foi a fada desta misteriosa fonte quem vos roubou um precioso embrulho que continha uma trança de vossos cabelos e que deveria ser achado embaixo da quarta roseira da rua que vai ter

— Sr. Augusto!

— Senhora, foi a fada desta misteriosa fonte quem vos roubou um precioso embrulho que continha uma trança de vossos cabelos e que deveria ser achado embaixo da quarta roseira da rua que vai ter ao caramanchão; e essa trança pára hoje em minhas mãos, ei-la aqui...

— Oh! Dê-ma.

— Não preferis antes que eu a entregue ao feliz para quem a destináveis?

— Não, eu lhe peço que ma dê.

— Eu estou pronto a obedecer-vos, senhora, mas só na hora de minha partida. Vós quatro queríeis zombar de mim, e não concebo até onde iria a vossa vingança; preciso de reféns que assegurem a paz entre nós, estes são os meus; quereis saber mais alguma coisa?

— Eu já sei que o senhor sabe demais!

— Então...

Quer, como às duas primeiras, oferecer-me a mão e obrigar-me a desamparar o campo? Venceu, senhor, e sou eu que lhe peço que me acompanheis até à porta da gruta.

— Eu estou pronto, senhora, para servir-vos em tudo.

Só restava d. Joaninha: era a vez dela.

— Eu vos deixei para o fim, disse Augusto, porque a vós é que eu mais admiro, porque vós sois exatamente a única dentre elas que tem amado melhor e que mais infeliz tem sido; eu vos explicarei isto. Sois, todavia, um pouco excessiva em exigências.

— Que quer dizer, sr. Augusto?

— Que quereis muito, quando ordenais a um estudante que vos escreva quatro vezes por semana, pelo menos; que passe defronte de vossa casa quatro vezes por dia; que vá a miúdo ao teatro e aos bailes que freqüentais, e até que não fume charutos de Havana, nem de Manilha, por ser falta de patriotismo.

Quem lhe disse isso, senhor?

— A fada, senhora, que sabe que amais a um moço, a quem dais a honra de chamar querido primo.

— E uma vil traição!

— Exatamente diz o mesmo a nossa boa fada, e ainda mais, senhora, quer que eu vos aconselhe a que desprezeis esse jovem infiel, que não sabe pagar o vosso amor: eu poderia dar-vos provas...

— Não as tenho eu bastantes, exclamou d. Joaninha com sentimento, quando lhe ouço repetir o que deveria ser sabido dele e de mim somente?

Augusto ia falar; ela o interrompeu.

— Senhor, eu agradeço o benefício que recebi; o senhor quis zombar de mim, como das outras, mas não o fez; ao contrário, atalhou em princípio uma grande enfermidade, que, talvez, fosse daqui a pouco tempo incurável! Eu galanteio também às vezes, porém sei amar ao extremo. Adeus, senhor! Eu posso apenas agradecer-Lhe, dizendo que tenho tanta confiança na sua discrição e no seu caráter, que nem mesmo lhe recomendo o cuidado do meu segredo.

D. Joaninha ia deixar a gruta, e Augusto lhe ofereceu o braço.

— Agradecida, disse ela; permita que eu entre sé em casa. Augusto ficou sé. Esteve alguns momentos lembrando-se da cena que acabava de ter lugar; finalmente disse, soltando uma risada:

— Vieram buscar lã e saíram tosquiadas!

E já estava para pôr o pé fora da gruta, quando uma voz branda e sonora o suspendeu, dizendo:

— Agora, sr. Augusto, é chegada a sua vez...

Tuesday, 25 February 2025

Tuesday's Serial: “The Messiah of the Cylinder” by Victor Rousseau (in Englsih) - III

 

CHAPTER III - IN THE CELLAR

I have heard patients, emerging from the chloroform swoon, describe how, before awakening, they had seemed to view themselves lying unconscious upon their beds, detailing the posture of their motionless bodies and inert limbs. In this way, now, I seemed to see myself.

I am sure that was no dream of the vague borderland between death and life. I saw the pallid face, so shrunken that the skin clung to the edged bones, and the dry hair, the pinched lips and waxen hands. I saw myself as if from some non-spatial point, and with singular indifference, except that one fragment of knowledge, detached from my serene omniscience, troubled me. I had to return within that physical envelope; and behind me lay dim memories, quite untranslatable, but ineffably rapturous, which made that projected incarnation an event of dread.

Vague images of earthly things began to float upward out of the dark, as it were, symbols of physical life whose meaning remained obscure. I pictured a spring-board, on which a swimmer stood poised, waiting to dive into the sea and set the plank behind him quivering, and a large roll of some material, like a carpet, blocking a cellar door.

Gradually, through an alternation of dreams and blankness, I began to be aware of the parched and withered body that cloaked me. The point of consciousness had shrunk within its earthly envelope. Soon it diffused itself throughout my members. Now I could translate my symbols into ideas. That coiled-up substance that blocked the door was my tongue, fallen back into the throat. And the spring-board on which the swimmer stood—that was my heart, waiting to beat. And unless and until the swimmer—I—made that plunge into life’s ocean, it could not. Slowly the need of physical resurrection urged me onward.

A thousand darts were stabbing in my flesh, like purgatorial fire. No motor nerve had yet awakened, but the capillaries, opening, pricked me like red-hot needles. Faint memories of the past flashed through my mind, and, though I recalled no intervening period, I was sensible that those events had happened infinitely long before.

Suddenly I plunged. I felt as if a sword had pierced my body. I felt the waters of that living ocean close over my face, and gasped. I breathed. Simultaneously, with a loud click, the cap of the cylinder flew off, air rushed in, a stabbing light broke through my closed eyelids; I fainted.

It was, of course, the gradual unscrewing of the cylinder cap as the mechanism ran down, and the consequent admission of minute quantities of oxygen, that had begun to restore me. I must have passed several days in semi-consciousness before the cylinder opened. When the last thread of the screw was traversed, the inrush of air caused the respiration to begin.

I was breathing when I became conscious once more, and my heart was straining in my breast. I got my eyes open. There followed hours of light-tortured delirium, during which I struggled to regain the motor powers. With infinite endeavor I placed one hand upon the other and passed it up the wrist and forearm. The muscles were all gone. The ulna and radius were perfectly distinguishable, and I could encircle either with my fingers, after I had managed to flex them. I noticed that my joints creaked like rusty hinges.

I tried to bend my elbows, and this next grim battle lasted an incalculable time. Gradually I became aware of some obstacle on each side of me. Then, for the first time since my awakening, I knew that I was inside the cylinder. But I did not know that it had fallen upon its side until it slid forward, and my puny struggles dislodged me and flung me free into a pool of water. I drew in a deep breath, feeling my lungs crackle like old parchment, and plunged my face and shoulders beneath the surface. My skin sucked up the moisture like a sponge, and I contrived to get a few drops past my swollen tongue. I had just sense enough and time to turn my face upward before I became unconscious again.

I must have slept long, for, on my next awakening, the light was brighter and still more torturing. Memory began to stir. I recalled my conversation with Sir Spofforth, our journey into the annex, Lazaroff’s invitation to me to enter the cylinder. He must have shut me in for a moment by way of a practical joke, and gone away with Esther, persuading himself and her that I could free myself and would follow. I tried to call him. But only a croaking gasp came from my lips. I tried again and again, gradually regaining the power of vocal utterance. But there came no answer, and each time that I called, the echoing, hoarse susurrus brought me nearer to the realization of some terror at hand which I did not dare to face.

I looked about me. Beside me lay the cylinder, almost buried in mud. I was still within the secret vault, but a part of the brick partition had fallen inward in such a way as to screen the few visible inches of the steel case that had housed me, so that nobody would have suspected its presence in the mud of the little chamber. I remembered that there had been two more; I looked about me, but there was no sign of them.

Now I began to realize that there had been a considerable change in my surroundings since I became unconscious. The light which had distressed me came through a hole in the roof of the adjoining cellar, filtering thence through the aperture in the broken wall, and was of the dimmest. In place of the concrete floor there was a swamp of mud, with pools of water here and there, and the dirt was heaped up in the corners and against the walls. Moss and splotched fungi grew among the tumbled bricks, and everywhere were spore stains and microscopic plant growth.

I was bewildered by these signs of dilapidation everywhere. The guinea-pigs and monkeys were gone; the cellar was empty, save for some low, rough planks of wood fitted on trestles and set about the floor. On the wall at the far end hung something that gradually took form as I strained my aching eyes to a focus.

It was a crucifix. The cellar had become a subterranean chapel. The cross was hewn coarsely of pine, and the figure that hung upon it grotesquely carven; yet there was the pathos of wistful, ignorant effort in the workmanship that bespoke the sincerity of the artist.

I made my difficult way toward the stairs

I made my difficult way upon hands and knees through the gap in the wall, across the mud floor of the cellar, toward the stairs, resting several times from weariness before I reached my destination. But when I arrived at the far end, where the stairs should have been, I received a shock that totally unnerved me. The stairs were gone. In place of them was a debris of rubble and broken stones, as firmly set as if workmen had built it into the wall. The mass must have been there for years, because, out of the thin soil that had drifted in, a little oak tree sprang, twisting its spindling stem to rear its crown toward the patch of daylight.

At last I understood. I had come to realize the fact that my sleep had been a prolonged one; it might have lasted weeks—even months, I had thought, as with cataleptics; but an entire century! that idea had been too incredibly grotesque for consideration. That Sir Spofforth, with whom, it seemed, I had dined almost yesterday, had gone, ages ago, to his long home; Lazaroff; Esther, whom I loved; that generations had come into birth and died ... it seemed too cruel a jest. I wept. I raved and called for Esther. Surely a hundred years had never passed, turning her brown hair to gray, lining her gentle face, bringing at last the gift of death to her, while I lay underground, encased in steel and air!

I cried aloud in terror. I hammered helplessly upon the walls. Again I called Esther, Lazaroff, George. There was no answer of any kind.

Presently a ray of light quivered through the hole, falling upon the heap of debris that blocked the stairway. The yellow beam moved onward, and now it bathed the thin branches of the little twisted tree that, by the aid of those few minutes of sunlight daily, had ventured into life. It had grown cunningly sidewise, so as to expose the maximum of wood to the light. I watched the ray till it went out; I wanted to show the plant to Lazaroff, to ask him whether the mechanics of heliotropism could suffice to answer the problem of the tree’s brainless consciousness; and my chagrin that this whim could not be fulfilled assumed an absurd significance. It was, in fact, the realization of this loss of responsiveness to the reality of the situation that constantly urged me to find some way of escape when I might have relapsed otherwise into an acquiescence which would have brought insanity and death.

The stairs being gone, I turned my consideration to the cellar roof. To reach this it would be necessary to drag one of the planks beneath the hole and scramble up, clinging to the sides with my fingers and bracing my feet against the wall. This feat was not a difficult one for a normal man, but for me clearly impossible. I must wait until I became stronger.

It is a strange thing, but I had not associated the need of waiting with the idea of food until I found the box of biscuit. I stumbled upon the box by the accident of scratching my wrist against the edge as I crawled along the wall. I saw the corner projecting from a mound of earth, and, scraping some of the dirt away, I lifted the pine-wood lid.

Inside the box I found a quantity of biscuit which seemed to have been baked recently. It was crisp, and too hard for me to break. I dipped a piece in the stagnant water, and, as I swallowed the first morsels, became aware of my ravenous hunger.

I can hardly estimate the duration of the imprisonment that followed. It was of days and nights which succeeded each the other in monotonous succession, during which, like a hibernating beast, I crouched and groped within the cellar, dozing and shivering, and gnawing incessantly at my food. Only those few minutes of sunshine daily saved my reason, I am convinced now. My evening clothes, which at first had appeared to have suffered no injury during my century of sleep, had begun to disintegrate, and hung upon me in tattered fragments. It was a period of despair, with very little alternating hope. Sometimes I prayed wildly beneath the crucifix, sometimes, in an access of madness, I cried for Esther and Lazaroff again. And for whole hours I convinced myself that this was a dream.

But my strength returned with amazing swiftness. As in the case of a typhoid convalescent, every particle of food seemed to build up my body. I must have put on pounds each day. The barrel framework of my ribs filled out, the muscles showed their old outlines beneath the skin, the fluid rushed into the joints and restored their suppleness. And daily I practiced exercises. I managed to drag one of the benches beneath the hole at last, and, standing on this, tried often to draw myself up; but on each occasion my struggles only brought down a shower of earth and stones, and I resigned myself to a period of further waiting, watching for dawn like a troglodyte, and for the sun like a fire-worshiper.

In the end my escape developed in a manner the least imaginable. It began with my discovery of a second box in another of the mounds. I opened it hastily, in the greedy anticipation of finding something more palatable than biscuit.

Instead of this I found a number of strange batons of wood. They resembled policemen’s truncheons, but each had a tiny rounded plate of glass near the head, and there evidently was some sort of mechanism near the handle, for there was a push-button, fitted with a heavy guard of brass, so strong that I could not raise it with my fingers. It was indeed providential that I was unable to do so.

I carried the strange implement beneath the hole in the roof and laid it on the bench, intending to examine it more carefully as soon as the sun appeared. Meanwhile, this being the time for my daily exercise, I mounted the bench and tried to pull myself up. I failed; yet I detected a considerable improvement in my muscular power, and, becoming exhausted, I prepared to descend. Inadvertently, but without anticipating any serious result, I placed my foot against the truncheon in such a way as to elevate the guard.

I heard it click as it rose into position, and, in setting down my foot again, depressed the push-button.

The truncheon tipped to the ground, pointing upward. I saw a ray of blinding light, of intense whiteness tipped with mauve, shoot from the head, and, with a crash, a shower of stones fell on me, bearing me to the ground and enveloping me in a cloud of dust.

I must have lain half stunned for some minutes. I was aroused by feeling the sunlight on my eyelids. I started to my feet. The hole in the roof was nearly twice the former size, and a heap of fallen stones and pieces of brick afforded me a perfect stepway. I was scratched by the falling debris, but happily the explosion, as I deemed it, seemed to have been in an upward direction.

In a moment I was scrambling up the stones. I slipped and clutched and struggled; I got my head and shoulders in the air and pulled my body after me; I trod upon leaves; I looked about me.

I was standing in the midst of what appeared to be an ancient forest of oak and beech trees, whose bare boughs, covered with snow, shook under a gray sky above a carpet of withered, snow-spread leaves, and under these were endless heaps of disintegrating bricks. In vain I looked about me for the Institute. There was no sign of it, nor of Sir Spofforth’s house. Nowhere was anything to be seen but the same forest growth, the dead leaves scurrying before the chill wind, and the vast brick piles. I had emerged from the cellar into a trackless wilderness.

And now at last my final doubt, which had bred hope, was gone. I ran through the forest, on and on, shouting like a madman and beating my breast, stumbling over the brick heaps that lay everywhere, plunging through thorny undergrowth, heedless of any course. I must have been running for ten minutes when my strength failed me, and I collapsed beside an ancient road, overgrown with shrubs and saplings, yet discernible in its course between the tall trees that bordered it. Before me, far away through the vista line, I saw a white bank against the gray horizon.

I flung myself upon my face and prayed, with all my will, to die.

 

 

CHAPTER IV - THE ROAD TO LONDON

A shadow swept over me, and, looking up, I saw an airplane gliding noiselessly above; it stopped, hung poised and motionless, and then dropped slowly and almost vertically into the road, coming to ground within a dozen yards of where I lay.

There stepped out a man in a uniform of pale blue, having insewn upon the breast a piece of white linen, cut to the shape of a swan. He came toward me with hesitancy, and stood over me, staring at me and at my clothes with an expression indicative of the greatest bewilderment.

“Where’s your brass, friend?” he inquired after a few moments, speaking in a high-pitched, monotonous, and rather nasal tone. He rubbed his smooth-shaven face in thought. “Where’s your brass?” he repeated.

I perceived that he wore about his neck a twisted cord whose ends were tied through the loop of a brass plate, stamped with letters and figures.

“For God’s sake tell me what year this is!” I cried.

At the profane expletive, which had been drawn from me by my anguish, he recoiled in dismay; he seemed less shocked than frightened; he glanced about him quickly, and then cast a very searching look at me. But next he began to smile in a half-humorous, kindly way.

“You’re one of the escaped defectives, aren’t you?” he inquired. “You have nothing to fear from me, friend. We airplane scouts have no love for the Guard. You can go on your way. But where are you lying up? Are your friends near?”

“Will you tell me what year this is?” I demanded frantically.

“Yap, certainly,” he answered. “This is Thirty-seven, Cold Solstice less five.” He shook his head and began staring at me again.

I laughed hysterically. “I don’t know what that jargon means,” I answered, “but I went to sleep in the vault of the Biological Institute in the year 1915.”

Perplexity had succeeded alarm. The airscout shook his head again. He was one of those deliberate, slow-moving men whose resolutions, tardily made, harden to inflexibility; I recognized the type and found the individual pleasing. He was a good-looking young fellow of about eight and twenty, with straight, dark hair and a very frank countenance. He looked like a sailor, and the rolling, open collar, which fell back, sailor fashion, revealed a muscular throat, tanned, like his face, to the color of the bricks around us.

“I don’t know what to make of you,” he said thoughtfully. “I don’t want to trap you, but you were better off in the art factories. I don’t know what to do with you.”

I sprang to my feet, and for an instant I ceased to realize my predicament. “Will you take me to my friends in London?” I asked. In my mind was the memory of a university acquaintance who lived in St. John’s Wood. But then the swift remembrance came back to me, and I hung my head and groaned.

“Back to London!” exclaimed the airscout. “But you’ll be put to the leather vats. Doctor Sanson is furious, and the police are searching for you everywhere. You’re crazed! What’s the sense of running away from painting pictures and going back to sweat ten years over the hides?”

“Take me to London!” I implored. “I have nowhere to go. Perhaps—I don’t know—”

I was hoping wildly that somebody whom I had known might still survive. But by this time I was beginning to pull myself together. I resolved to wait for his decision.

“Now, friend,” he said, as if he had made up his mind, “your top got stuffed making those factory pictures, as was very natural. Now, I think you had better go back to London, and I’ll take you there, since your friends have shaken you. But of course it must be the police station. I can’t risk my own liberty. Once more, are you sure you want to go? If not, I haven’t seen you.”

“I’ll go,” I answered indifferently.

“Yap? Step in, then!”

I took my seat beside him. It will seem incredible, but I had never ridden in an airplane before. In my other days only a few had seen these craft. It was hardly more than six years since the Wrights had flown when my long sleep began. In spite of my oppression of mind, or perhaps because the days of horror that I had spent in the cellar produced the unavoidable reaction, I began to feel the exhilaration of the flight as we ascended to a height of perhaps a thousand feet and drove northward. The sensation was that of sitting still and seeing the trees flit by beneath me, and would have been pleasing but for the intense cold, which pierced through my rags and numbed me. I perceived that the airplane was under perfect control, and could be stayed without falling. After a while I realized that there was no motor.

My companion saw me looking at the machine. “Improved solar type,” he said, patting her caressingly. “Better than a bird, isn’t she?” He turned toward me. “You’ve been sleeping in the wood these three days?” he asked. “And find the factories best? I don’t score you for that. Where’s the rest of you? Five, weren’t there? Why didn’t you keep together? Where’s that bishop of yours?”

But, seeing that he could elicit no comprehensible answer to his repeated questions—in truth, I did not know how to reply—he relapsed into an equal silence. And now the white bank that I had seen on the horizon began to assume crenellations, which in turn became buildings of immense height and symmetrical aspect. And I forgot my situation in admiration and amazement at the panorama that began to unfold beneath us.

The county of Surrey appeared to be an extensive forest, ending about a waste of dismantled brick, the suburbs of old London, which extended on each side as far as I could see. Then the modern town began: an outer ring of what I took to be enormous factories and storage warehouses; an inner ring, no doubt, of residences; and then the nucleus, the most splendid city that the imagination could have devised.

London seemed to be smaller than the metropolis of a century ago. I could see from the height of Hampstead, in the north, to the region of Dulwich, and from Woolwich to Acton, all clearly defined, like a great map unrolled beneath me, though I could recognize none of the old landmarks, save the unchanging Thames. The interior city was laid out in squares, huge buildings, sometimes enclosing interior courts, occupying the blocks formed by the parallel and intersecting streets. As we drove inward from the outskirts, the buildings became higher, but always uniformly so, the city thus presenting the aspect of a succession of gigantic steps, until the summit, the square mile comprising the heart, was reached.

This consisted of an array of enormous edifices, with fronts perfectly plain, and evidently constructed of brick-faced steel-work, but all glistening a dazzling white, which, even at that height, made my eyes water, and rising uniformly some forty-five or fifty stories. The flat roofs were occupied by gardens or what I took to be gymnasia, sheltered beneath tarpaulins. I saw innumerable airplanes at rest, suspended high above the streets, while others flitted here and there above the roofs, and a whole fleet lay, as if moored, some distance away, apparently over the center of the city, above a singular building, which awakened associations in my mind, though I was unable to name it.

It had a round dome, being, in fact, the only domed building that I could see. This covered only the central portion of the enormous architectural mass, and appeared to float in the air above an aerial garden, laid out with walks that radiated from a flat building, which filled the space between the floating dome and the roof beneath it. I surmised that this must be the new House of Parliament. The entire mass was surrounded by a double wall, with a roofed space of perhaps ninety feet from rear to front, castellated. Mounted on this were what appeared to be a number of large, conical-shaped implements, of great size. Long, graceful bridges on arches connected this wall with the domed building; and wall and building glistened from top to base so brilliantly that the glow seared my eyes like sunlight.

As we were now flying at a low altitude, I turned my attention to the streets, which appeared like canyons far beneath. Along these swarmed a multitude of travelers, dressed in two colors only, white and blue, the latter vastly predominating. I could see no vehicles, and I imagined, what proved to be correct, that the streets themselves were moving. Most of those journeying seemed content to lean back against the railings, the lowest bars of which projected, forming a continuous seat, and rest. Nearly all the streets were traveling in the same direction, those that reversed this movement being small and comparatively empty. From the presence of what seemed to be iron stanchions, set along the edges of these moving ways, I surmised that they were roofed with crystal.

Along the front of the buildings ran single tracks, connecting at regular intervals with the streets beneath by means of elevators, which shot up and down continuously, bearing their freight. These tracks were placed above each other at ten-story intervals, so that there were three or four rows of these aerial streets, ranging from the ground to the upper portions of the buildings, all filled with travelers. The buildings, each comprising an entire block, the elevated streets, with their graceful bridges flung forth across the chasms, the absence of any of the old poverty and dirt, and that huge gathering of human beings, going about their business in so systematic a fashion, fascinated me, and even aroused my enthusiasm.

Signs evidently indicated to persons approaching in airships the purpose of each building and landing-stage, but these were in characters entirely unintelligible to me.

My companion stayed the vessel in the air and tapped me on the arm. I started, to see him regarding me with the same expression of humorous perplexity.

“I must put you off here, friend,” he said. “I think I have done the best I could for you. You would have died in the forest, while here—well, there’s a chance for you. And it’s better to go to the leather vats for a few years than to die and go nowhere. I’ll know you if we meet again. What’s your name?”

“Arnold Pennell,” I answered, clasping the hand that he held out to me.

He almost jumped. “Don’t tell that to the Council, unless you want the Rest Cure,” he said.

“Don’t tell them my name?”

“Not both names, friend. You know what I mean. If you don’t know—” He shrugged his shoulders. “Mine’s Jones,” he said. “My father’s was Williams. My grandfather’s was Jones again. They say it’s one of our oldest names—common in the days before civilization. Now down we go.”

 

The airplane swooped down and came to rest upon the roof immediately beneath us. On this I saw a number of men, apparently practicing gymnastic exercises; and hardly were we at a standstill when two of them came running up to us. They were clad in blue uniforms resembling that of the airscout, but instead of a swan each wore a shield-shaped piece of linen upon his back and breast.

“What’s this?” they demanded in a breath, pointing at me and bursting into bellowing laughter.

“One of your defectives,” answered Jones. “I found him in the forest while patrolling.”

They rushed at me and dragged me from the airplane, swiftly patting me about the body, as if in search of weapons. Satisfied that I was unarmed, they turned to the airscout.

“You’ll share the reward!” they cried, again simultaneously.

“Keep it!” replied the airscout tartly, and rose into the air, waving me a cordial good-bye.

They rushed me across the roof through a crowd of other men, similarly clad, down an elevator, and into the street. They dragged me upon one of the moving platforms and conveyed me a short distance, descending at the entrance to one of the innumerable shining buildings, over which was inscribed something in the same undecipherable letters.

But, quickly as we had gone, the report of my arrest seemed to have preceded us, for our way was blocked by a vast and constantly increasing crowd, that came running up with lively and shameless curiosity, and, attracted by my rags, I suppose, pressed closely about us and uttered hoots of laughter. I heard the word “defective” bandied from mouth to mouth.

I looked at these people attentively. There were both men and women present, all wearing clothing of the same pale blue color, which seemed to be prescribed, although the cut of each garment was to some extent individual. In effect, the men wore sack suits of a coarsely woven woolen material, with short, loose trousers fastened with laces about the ankles, and square-cut coats having wide lapels extending to a broad, turned-back collar that fell over the shoulders like a sailor’s, revealing a neckpiece of blue linen. The women’s short skirts reached to the tops of their high boots, and the fashion seemed to run to large buttons and loose sleeves. They wore no hats. Upon the breast, near the shoulder, each person wore a small linen badge, indicative of his occupation.

I glanced from one to another, and met hard, mirthless eyes, and mouths twisted in sneering mockery

What disconcerted me was the shrewd, mocking smile upon each face. I glanced from one to another, seeking to find something of the same friendly interest that animated me, and met hard, mirthless eyes, and mouths twisted in sneering mockery.

Another thing that startled and almost terrified me was the absence of a certain conventionality of restraint that had ruled everybody in that other world of mine. For instance, among those gibing at me was a gray-bearded man who danced before me like a small urchin. Another made an expressive pantomime of death. A girl stuck out her tongue at me. I remembered the plaint, that never since the glorious age of Greece had the code of public morality coincided with that privately held. This we all knew; the statesman in parliament was not on bowing terms with the same statesman in the smoking-room. Some said it was Christianity, others respectability that bound us in this organic hypocrisy; but now the two codes seemed to have coalesced. A grandfather grimaced at me; a gray-haired woman put out her foot to trip me; if there had been stones I think they would have flung them at me. But suddenly a youngish lad in white appeared, and the crowd, hastening to make a path for him, shrank back with servile demeanor. Taking advantage of this, my captors, linking their arms in mine, made a rush forward, scattering the mob right and left, and bore me through a swinging door into a small rotunda, in which a number of other policemen were seated with their blue-clad prisoners.