"Depois de mil anos e mais de guerra declarada,
Os lobos fizeram a paz com as ovelhas.
Era, aparentemente, a felicidade dos dois partidos:
Pois, se os lobos comiam muita rês extraviada,
Os pastores, da pele deles, para si faziam muitos trajes.
Jamais havia liberdade, nem para as pastagens,
Nem, de outro lado, para as carnificinas:
Não podiam usufruir de seus bens senão tremendo.
A paz se concluiu, portanto; trocam-se os reféns:
Os lobos entregam seus lobinhos; e as ovelhas, seus carneirinhos.
Sendo a troca feita nas formas habituais,
E ajustada por comissários.
Ao fim de algum tempo, quando os senhores lobinhos
Se viram lobos perfeitos e ávidos de matança,
Valem-se do tempo em que, no redil,
Os senhores pastores não se achavam,
Estrangulam metade dos cordeiros mais gordos
Agarram-nos com os dentes e se retiram para os bosques.
Haviam eles avisado sua gente secretamente.
Os carneiros, que, sob a palavra deles, repousavam confiadamente,
Foram estrangulados dormindo.
Foi isto feito tão rapidamente, que eles mal sentiram;
Foram todos feitos em pedaços; nem um só escapou.
Podemos concluir disto
Que é preciso fazer aos maus guerra contínua.
A paz é bastante boa em si mesma;
Concordo; mas de que serve ela
Com inimigos sem palavra?”