Thursday 8 May 2014

"Como Nuvens que Passam" (Canto XI) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto XI

   Passara o temporal, mas ainda soprava um vento forte quando houve um apagão; por isso Mamma Rosa acendeu uma vela em meu quarto.
   Estava a despir a camisa quando ouvi um leve sussurrar na janela. Sorri a me lembrar dO Corvo e fui ver quem era.
   - Sou eu! Abra!
   Reconheci a voz de Berto. Abri a janela e ele entrou por ela com um pulo.
   - Se me pegam aqui, me matam!
   Voltei a vestir a camisa.
   Passou a mão por seus cabelos e e disse: Quem  sou eu? Um bruto cheirando a terra e estrume de cavalo, o sr. sabe. Trabalho nessas terras desde que nasci e esse é o mundo que conheço. Não sou instruido nem pra explicar qualquer coisa. Olhe pra mim! sou desajeitado e digo blasfêmias e o sr. é tão educado e...
    Eu me sentei na cama e o puxei pra junto de mim. Berto não tirava os olhos de seus sapatos sujos.
    - Só queria dizer que... desde que o vi eu... não sei o que houve comigo, com meu coração que estremeceu e caiu no chão e... eu podia, talvez devesse ficar quieto, mas...
    - As flores que amanhecem na minha janela...
    - ...são minhas, sim, com meus suspiros.
    Ele estava rubro. Levantou-se e disse:
    - Eu tinha que dizer-lhe, desculpe. Agora preciso ir...
    E tornou para a janela, mas antes que a alcançasse, puxei-o para mim e um vento entrando pela ventana apagou o lume.

Wednesday 7 May 2014

"O Misantropo" by Raimundo Correia (in Portuguese)



A boca, às vezes, o louvor escapa
E o pranto aos olhos; mas louvor e pranto
Mentem: tapa o louvor a inveja, enquanto
O pranto a vesga hipocrisia tapa.

Do louvor, com que espanto, sob a capa
Vejo tanta dobrez, ludíbrio tanto!
E o pranto em olhos vejo, com que espanto,
Que escarnecem dos mais, rindo à socapa!

Porque, desde que esse ódio atroz me veio,
Só traições vejo em cada olhar venusto?
Perfídias só em cada humano seio?

Acaso as almas poderei sem custo
Ver, perspícuo e melhor, só quando odeio?
E é preciso odiar para ser justo?!

Tuesday 6 May 2014

"Inscrição na Areia" by Cecília Meireles (in English)



O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?
O meu amor não tem
importância nenhuma.

Sunday 4 May 2014

"Como Nuvens que Passam" (Cantos VIII, IX e X) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto VIII

    Na noite em que embarquei para New York, chovia copiosamente e ouvi meu nome vir do fundo da noite, aflito.
    Abaixei mais a cabeça e me não virei.
    A chuva me golpeava com força e eu tremia.
    Tremia e chorava.
    Entrei num taxi e impedi Luciano de me alcançar.


Canto XIX

     Havia ainda alguma luz no mundo, um vermelho terroso sumindo no horizonte.
     As galinhas já se empoleiravam nos ramos do limoeiro que ficava mais ou menos no centro do pátio lajeado.
     Depois do jantar eu saira para o beber um pouco de crepúsculo. Quase dois anos em Rimini.
     Fui até o portão que dava para a estrada.
     Somente o percebi quando ele pisou um ramo, lá para o lado das sombras. Senti medo mas não corri.
     Nun italiano atrapalhado ele perguntou "essa é a casa da família Guglielmini?"
     Para além da surpresa correram para mim a raiva, a tristeza e uma vontade louca de beijar, mas escondi-me como pude, mudei a voz e respondi: sim.
     - Procuro um homem, um estrangeiro.
     - Hum. Acho que não mora mais aqui.
     Silêncio. Ele soluçou?
     - Sabe para onde ele foi?
     - Disse que ia para Roma, mas isso já tem um ou dois meses.
     Então eu decidi matá-lo.


Canto X
   
     Mas ele foi mais rápido:
     - Se tu o vires de novo, diga-lhe, por favor, que o Luciano o ama. Diga-lhe que ele foi cruel comigo e eu o odeio, mas que eu o amo e... Diga-lhe que não sou mais casado e espero por ele...
     - Morre tua mulher e corres pra um homem?
     - Minha mulher não morreu, apenas não me quiz mais. E o culpado disso foi ele.
     Mas eu ainda queria matá-lo; dei-lhe boa noite e voltei para dentro de casa.

"The Harp of Alfred" by Robert E. Howard (in English)



I heard the harp of Alfred
As I went o'er the downs,
When thorn-trees stood at even
Like monks in dusky gowns;
I heard the music Guthrum heard
Beside the wasted towns:

When Alfred, like a peasant,
Came harping down the hill,
And the drunken danes made merry
With the man they sought to kill,
And the Saxon king laughed in their beards
And bent them to his will.

I heard the harp of Alfred
As the twilight waned to night;
I heard ghost armies tramping
As the dim stars flamed white;
And Guthrum walked at my left hand,
And Alfred at my right.

Thursday 1 May 2014

"At Verona" by Oscar Wilde (in English)



How steep the stairs within Kings' houses are
For exile-wearied feet as mine to tread,
And O how salt and bitter is the bread
Which falls from this Hound's table,--better far
That I had died in the red ways of war,
Or that the gate of Florence bare my head,
Than to live thus, by all things comraded
Which seek the essence of my soul to mar.

'Curse God and die: what better hope than this?
He hath forgotten thee in all the bliss
Of his gold city, and eternal day'--
Nay peace: behind my prison's blinded bars
I do possess what none can take away,
My love, and all the glory of the stars.