Sunday, 4 May 2014

"Como Nuvens que Passam" (Cantos VIII, IX e X) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto VIII

    Na noite em que embarquei para New York, chovia copiosamente e ouvi meu nome vir do fundo da noite, aflito.
    Abaixei mais a cabeça e me não virei.
    A chuva me golpeava com força e eu tremia.
    Tremia e chorava.
    Entrei num taxi e impedi Luciano de me alcançar.


Canto XIX

     Havia ainda alguma luz no mundo, um vermelho terroso sumindo no horizonte.
     As galinhas já se empoleiravam nos ramos do limoeiro que ficava mais ou menos no centro do pátio lajeado.
     Depois do jantar eu saira para o beber um pouco de crepúsculo. Quase dois anos em Rimini.
     Fui até o portão que dava para a estrada.
     Somente o percebi quando ele pisou um ramo, lá para o lado das sombras. Senti medo mas não corri.
     Nun italiano atrapalhado ele perguntou "essa é a casa da família Guglielmini?"
     Para além da surpresa correram para mim a raiva, a tristeza e uma vontade louca de beijar, mas escondi-me como pude, mudei a voz e respondi: sim.
     - Procuro um homem, um estrangeiro.
     - Hum. Acho que não mora mais aqui.
     Silêncio. Ele soluçou?
     - Sabe para onde ele foi?
     - Disse que ia para Roma, mas isso já tem um ou dois meses.
     Então eu decidi matá-lo.


Canto X
   
     Mas ele foi mais rápido:
     - Se tu o vires de novo, diga-lhe, por favor, que o Luciano o ama. Diga-lhe que ele foi cruel comigo e eu o odeio, mas que eu o amo e... Diga-lhe que não sou mais casado e espero por ele...
     - Morre tua mulher e corres pra um homem?
     - Minha mulher não morreu, apenas não me quiz mais. E o culpado disso foi ele.
     Mas eu ainda queria matá-lo; dei-lhe boa noite e voltei para dentro de casa.

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