Saturday, 20 July 2024

"Munificentissimos Deus" by Pope Pius XII (translated into Portuguese)

 

Introdução

1. Deus munificentíssimo, que tudo pode, e cujos planos de providência são cheios de sabedoria e de amor, nos seus imperscrutáveis desígnios, entremeia na vida dos povos e dos indivíduos as dores com as alegrias, para que por diversos caminhos e de várias maneiras tudo coopere para o bem dos que o amam (cf. Rm 8,28).

2. O nosso pontificado, assim como os tempos atuais, tem sido assediado por inúmeros cuidados, preocupações e angústias, devido às grandes calamidades e por muitos que andam afastados da verdade e da virtude. Mas é para nós de grande conforto ver como, à medida que a fé católica se manifesta publicamente cada vez mais ativa, aumenta também cada dia o amor e a devoção para com a Mãe de Deus, e quase por toda parte isso é estímulo e auspício de uma vida melhor e mais santa. E assim sucede que, por um lado, a santíssima Virgem desempenha amorosamente a sua missão de mãe para com os que foram remidos pelo sangue de Cristo, e por outro, as inteligências e os corações dos filhos são estimulados a uma mais profunda e diligente contemplação dos seus privilégios.

3. De fato, Deus, que desde toda a eternidade olhou para a virgem Maria com particular e pleníssima complacência, quando chegou a plenitude dos tempos (Gl 4,4) atuou o plano da sua providência de forma que refulgissem com perfeitíssima harmonia os privilégios e prerrogativas que lhe concedera com sua liberalidade. A Igreja sempre reconheceu esta grande liberalidade e a perfeita harmonia de graças, e durante o decurso dos séculos sempre procurou estudá-la melhor. Nestes nossos tempos refulgiu com luz mais clara o privilégio da assunção corpórea da Mãe de Deus.

4. Esse privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso predecessor de imortal memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.

5. Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos.

6. Quando se definiu solenemente que a virgem Maria, Mãe de Deus, foi imune desde a sua concepção de toda a mancha, logo os corações dos fiéis conceberam uma mais viva esperança de que em breve o supremo magistério da Igreja definiria também o dogma da assunção corpórea da virgem Maria ao céu.

 

Petições para a definição dogmática

7. De fato, sucedeu que não só os simples fiéis, mas até aqueles que, em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e mesmo não poucos Padres do concílio Vaticano pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição.

8. Com o decurso do tempo essas petições e votos não diminuíram, antes foram aumentando de dia para dia em número e insistência. Com esse fim fizeram-se cruzadas de orações; muitos e exímios teólogos intensificaram com ardor os seus estudos sobre este ponto, quer em privado, quer nas universidades eclesiásticas ou nas outras escolas de disciplinas sagradas; celebraram-se em muitas partes congressos marianos nacionais e internacionais. Todos esses estudos e investigações mostraram com maior realce que no depósito da fé cristã, confiado à Igreja, também se encontrava a assunção da virgem Maria ao céu. E de ordinário a conseqüência foi enviarem súplicas em que se pedia instantemente a definição solene desta verdade.

9. Acompanhavam os fiéis nessa piedosa insistência os seus sagrados pastores, os quais dirigiram a esta cadeira de S. Pedro semelhantes petições em número muito considerável. Quando fomos elevados ao sumo pontificado, já tinham sido apresentadas a esta Sé Apostólica muitos milhares dessas súplicas, vindas de todas as partes do mundo e de todas as classes de pessoas: dos nossos amados filhos cardeais do Sacro Colégio, dos nossos veneráveis irmãos arcebispos e bispos, das dioceses e das paróquias.

10. Por esse motivo, ao mesmo tempo que dirigíamos a Deus intensas súplicas, para que concedesse à nossa mente a luz do Espírito Santo para decidirmos tão importante causa, estabelecemos normas especiais em que determinamos que se procedesse com todo o cuidado a um estudo mais rigoroso da matéria, e se reunissem e examinassem todas as petições relativas à assunção da santíssima Virgem, enviadas à Sé Apostólica desde o tempo do nosso predecessor de feliz memória, Pio IX, até ao presente.[1]

 

Consulta ao episcopado

11. Mas como se tratava de assunto de tanta importância e transcendência, julgamos oportuno rogar direta e oficialmente a todos os nossos veneráveis irmãos no episcopado, que nos quisessem manifestar explicitamente a sua opinião. Para tal fim, no dia 1° de maio de 1946, dirigimos-lhes a carta encíclica "Deiparae Virginis Mariae" em que fazíamos esta pergunta: "Se vós, veneráveis irmãos, na vossa exímia sabedoria e prudência, julgais que a assunção corpórea da santíssima Virgem pode ser proposta e definida como dogma de fé, e se desejais que o seja, tanto vós como o vosso clero e fiéis".

 

Doutrina concorde do magistério da Igreja

12. E aqueles que "o Espírito Santo colocou como bispos para reger a Igreja de Deus" (At 20, 28) quase unanimemente deram resposta afirmativa a ambas as perguntas. Essa "singular concordância dos bispos e fiéis" [2] em julgar que a assunção corpórea ao céu da Mãe de Deus podia ser definida como dogma de fé, mostra-nos a doutrina concorde do magistério ordinário da Igreja, e a fé igualmente concorde do povo cristão ― que aquele magistério sustenta e dirige ― e por isso mesmo manifesta, de modo certo e imune de erro, que tal privilégio é verdade revelada por Deus e contida no depósito divino que Jesus Cristo confiou à sua esposa para o guardar fielmente e infalivelmente o declarar. [3] De fato, esse magistério da Igreja, não por estudo meramente humano, mas pela assistência do Espírito de verdade (cf. Jo 14,26), e portanto absolutamente sem nenhum erro, desempenha a missão que lhe foi confiada de conservar sempre puras e íntegras as verdades reveladas; e pelo mesmo motivo transmite-as sem contaminação e sem lhes ajuntar nem subtrair nada. "Pois ― como ensina o concílio Vaticano ― o Espírito Santo foi prometido aos sucessores de Pedro não para que, por sua revelação, expressem doutrinas novas, mas para que, com sua assistência, guardassem com cuidado e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos apóstolos, ou seja o depósito da fé". [4] Por essa razão, do consenso universal do magistério da Igreja, deduz-se um argumento certo e seguro para demonstrar a assunção corpórea da bem-aventurada virgem Maria. Esse mistério, pelo que respeita à glorificação celestial do corpo da augusta Mãe de Deus, não podia ser conhecido por nenhuma faculdade da inteligência humana só com as forças naturais. É, portanto, verdade revelada por Deus, e por essa razão todos os filhos da Igreja têm obrigação de a crer firme e fielmente. Pois, como afirma o mesmo concílio Vaticano, "temos obrigação de crer com fé divina e católica, todas as coisas que se contêm na palavra de Deus escrita ou transmitida oralmente, e que a Igreja, com solene definição ou com o seu magistério ordinário e universal, nos propõe para crer, como reveladas por Deus".[5]

 

Testemunhos da crença na assunção

13. Desde tempos remotíssimos, pelo decurso dos séculos, aparecem-nos testemunhos, indícios e vestígios desta fé comum da Igreja; fé que se manifesta cada vez mais claramente.

14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigênito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, excetuada somente a natureza humana de Cristo.

15. Patenteiam inequivocamente esta mesma fé os inumeráveis templos consagrados a Deus em honra da assunção de nossa Senhora, e as imagens neles expostas à veneração dos fiéis, que mostram aos olhos de todos este singular triunfo da santíssima Virgem. Muitas cidades, dioceses e regiões foram consagradas ao especial patrocínio e proteção da assunção da Mãe de Deus. Do mesmo modo, com aprovação da Igreja, fundaram-se Institutos religiosos com o nome deste privilégio. Nem se deve passar em silêncio que no rosário de nossa Senhora, cuja reza tanto recomenda esta Sé Apostólica, há um mistério proposto à nossa meditação, que, como todos sabem, é consagrado à assunção da santíssima Virgem ao céu.

 

Testemunho da liturgia

16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, "sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã".[6]

17. Nos livros litúrgicos em que aparece a festa da Dormição ou da Assunção de santa Maria, encontram-se expressões que de uma ou outra maneira concordam em referir que, quando a virgem Mãe de Deus passou deste exílio para o céu, por uma especial providência divina, sucedeu ao seu corpo algo de consentâneo com a dignidade de Mãe do Verbo encarnado e com os outros privilégios que lhe foram concedidos. É o que se afirma, para apresentarmos um exemplo elucidativo, no Sacramentário enviado pelo nosso predecessor de imortal memória Adriano I, ao imperador Carlos Magno. Nele se diz: "É digna de veneração, Senhor, a festividade deste dia, em que a santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal; mas não poderia ficar presa com as algemas da morte aquela que gerou no seu seio o Verbo de Deus encarnado, vosso Filho, nosso Senhor".[7]

18. Aquilo que aqui se refere com a sobriedade de palavras costumeiras na Liturgia romana, exprime-se mais difusamente nos outros livros das antigas liturgias orientais e ocidentais. O Sacramentário Galicano, por exemplo, chama a esse privilégio de Maria, "inexplicável mistério, tanto mais digno de ser proclamado, quanto é único entre os homens, pela assunção da virgem". E na liturgia bizantina a assunção corporal da virgem Maria é relacionada diversas vezes não só com a dignidade de Mãe de Deus, mas também com os outros privilégios, especialmente com a sua maternidade virginal, decretada por um singular desígnio da Providência divina: "Deus, Rei do universo, concedeu-vos privilégios que superam a natureza; assim como no parto vos conservou a virgindade, assim no sepulcro vos preservou o corpo da corrupção e o conglorificou pela divina translação".[8]

 

A festa da Assunção

19. A Sé Apostólica, herdeira do múnus confiado ao Príncipe dos apóstolos de confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22,32), com sua autoridade foi tornando cada vez mais solene esta celebração. Esse fato estimulou eficazmente os fiéis a irem-se apercebendo mais e mais da importância deste mistério. E assim, a festa da Assunção, que ao princípio tinha o mesmo grau de solenidade que as restantes festas marianas, foi elevada ao rito das festas mais solenes do ciclo litúrgico. O nosso predecessor S. Sérgio I, ao prescrever as ladainhas, ou a chamada procissão estacional, nas festas de nossa Senhora, enumera simultaneamente a Natividade, a Anunciação, a Purificação e a Dormição.[9] A festa já se celebrava com o nome de assunção da bem-aventurada Mãe de Deus, no tempo de S. Leão IV Esse papa procurou que se revestisse de maior esplendor, mandando ajuntar-lhe a vigília e a oitava. E o próprio pontífice quis participar nessas solenidades, acompanhado de imensa multidão. [10] Na vigília já de há muito se guardava o jejum, como se prova com evidência do que afirma o nosso predecessor S. Nicolau I, ao tratar dos principais jejuns "que... desde os tempos antigos observava e ainda observa a santa Igreja romana".[11]

20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigênito, Jesus Cristo.

 

Testemunho dos santos Padres

21. S. João Damasceno, que entre todos se distingue como pregoeiro dessa tradição, ao comparar a assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloqüência: "Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus".[12]

22. Condizem com essas palavras de s. João Damasceno as de muitos outros que afirmam a mesma doutrina. E não são menos expressivas, nem menos exatas, as palavras que se encontram nos sermões proferidos pelos santos Padres mais antigos ou da mesma época, ordinariamente por ocasião dessa festividade. Assim, para citar outro exemplo, s. Germano de Constantinopla julgava que a incorrupção do corpo da virgem Maria Mãe de Deus, e a sua assunção ao céu são corolários não só da sua maternidade divina, mas até da santidade singular daquele corpo virginal: "Vós, como está escrito, aparecestes 'em beleza'; o vosso corpo virginal é totalmente santo, totalmente casto, totalmente domicílio de Deus de forma que até por este motivo foi isento de desfazer-se em pó; foi, sim, transformado, enquanto era humano, para viver a vida altíssima da incorruptibilidade; mas agora está vivo, gloriosíssimo, incólume e participante da vida perfeita".[13] Outro escritor antiquíssimo assevera por sua vez: "A gloriosíssima Mãe de Cristo, Deus e Salvador nosso, dador da vida e da imortalidade, foi glorificada e revestida do corpo na eterna incorruptibilidade, por aquele mesmo que a ressuscitou do sepulcro e a chamou a si duma forma que só ele sabe".[14]

23. À medida que a festa litúrgica se foi espalhando, e celebrando mais devotamente, maior foi o número de bispos e oradores sagrados que julgaram de seu dever explicar com toda a clareza o mistério que se venerava nesta solenidade e mostrar como ela estava intimamente relacionada com as outras verdades reveladas.

 

Testemunho dos teólogos

24. Entre os teólogos escolásticos, não faltaram alguns, que, pretendendo penetrar mais profundamente nas verdades reveladas, e mostrar o acordo entre a chamada razão teológica e a fé católica, notaram a estreita conexão existente entre este privilégio da assunção da santíssima Virgem e as demais verdades contidas na Sagrada Escritura.

25. Partindo desse pressuposto, apresentam diversas razões para corroborar esse privilégio mariano. A razão primária e fundamental diziam ser o amor filial de Cristo para o levar a querer a assunção de sua Mãe ao céu. E advertiam mais, que a força dos argumentos se baseava na incomparável dignidade da sua maternidade divina e em todas as graças que dela derivam: a santidade altíssima que excede a santidade de todos os homens e anjos, a íntima união de Maria com o seu Filho, e sobretudo o amor que o Filho consagrava a sua Mãe digníssima.

26. Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,[15] para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação" (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar a direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa dos Cantares "que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de incenso" para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino Esposo.

27. Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela mulher, revestida de sol, que o apóstolo s. João contemplou na ilha de Patmos (Ap 12, l s.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres" (Lc 1,28), pois viram no mistério da assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva.

 

Na teologia escolástica

28. Por esse motivo, nos primórdios da teologia escolástica, o piedosíssimo varão Amadeu, bispo de Lausana, afirmava que a carne da virgem Maria permaneceu incorrupta ― nem se pode crer que o seu corpo padecesse a corrupção -, porque se uniu de novo à alma, e juntamente com ela penetrou na corte celestial. "Pois ela era cheia de graça e bendita entre as mulheres (Lc 1,28). Só ela mereceu conceber o Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, e sendo virgem deu-o à luz, amamentou-o, trouxe-o no regaço, e prestou-lhe todos os cuidados maternos".[16]

29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico s. Antônio de Pádua. Na festa da Assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: "glorificarei o lugar dos meus pés" (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. "Daqui, vê-se claramente", diz, "que o corpo da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor". Pelo que, escreve o Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação". E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também "ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial".[17]

 

No período áureo

30. Quando, na Idade Média, a teologia escolástica atingiu o maior esplendor, s. Alberto Magno, para demonstrar essa verdade, apresenta vários argumentos fundados na Sagrada Escritura, na tradição, na liturgia e em razões teológicas, e conclui: "Por estas e outras muitas razões e autoridades, é evidente que a bem-aventurada Mãe de Deus foi assunta ao céu em corpo e alma sobre os coros dos anjos. E cremos que isto é absolutamente verdadeiro".[18] E num sermão pregado em dia da Anunciação de nossa Senhora, ao explicar aquelas palavras do anjo: "Ave, cheia de graça...", o doutor universal compara a santíssima Virgem com Eva, e afirma clara e terminantemente que Maria foi livre das quatro maldições que caíram sobre Eva.[19]

31. O Doutor Angélico, seguindo as pisadas do mestre, ainda que nunca trate expressamente do assunto, no entanto sempre que se oferece a ocasião fala dele, e com a Igreja católica afirma que o corpo de Maria juntamente com a alma foi levado ao céu.[20]

32. É da mesma opinião, entre outros muitos, o Doutor Seráfico, o qual tem como certo que, assim como Deus preservou Maria santíssima da violação do pudor e da integridade virginal ao conceber e dar à luz o seu Filho, assim não permitiu que o seu corpo se desfizesse em podridão e cinzas.[21] Aplica a santíssima Virgem, em sentido acomodatício, aquelas palavras da Sagrada Escritura: "Quem é esta que sobe do deserto, cheia de gozo, e apoiada no seu amado?" (Ct 8,5), e raciocina desta forma: "Daqui pode concluir-se que ela está ali corporalmente (na glória celeste)... Porque... a sua felicidade não seria plena se ali não estivesse em pessoa; ora a pessoa não é só a alma, mas o composto; logo é claro que está ali segundo o composto, isto é, em corpo e alma; de outro modo não gozaria de felicidade plena".[22]

 

Na escolástica posterior

33. Na escolástica posterior, ou seja no século XV, são Bernardino de Sena, resumindo e ponderando cuidadosamente tudo quanto os teólogos medievais tinham escrito a esse propósito, não julgou suficiente referir as principais considerações que os antigos doutores tinham proposto, mas acrescentou outras novas. Por exemplo, a semelhança entre a divina Mãe e o divino Filho, no que respeita à perfeição e dignidade de alma e corpo ― semelhança que nem sequer nos permite pensar que a Rainha celestial possa estar separada do Rei dos céus ― exige absolutamente que Maria "só deva estar onde está Cristo".[23] Portanto, é muito conveniente e conforme à razão que tanto o corpo como a alma do homem e da mulher tenham alcançado já a glória no céu; e, finalmente, o fato de nunca a Igreja ter procurado as relíquias da santíssima Virgem, nem as ter exposto à veneração dos fiéis, constitui um argumento que é "como que uma experiência sensível" da assunção.[24]

 

Nos tempos modernos

34. Em tempos mais recentes, as razões dos santos Padres e doutores, acima aduzidas, foram usadas comumente. Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos s. Roberto Belarmino exclamava: "Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes".[25]

35. De igual forma s. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?"[26] E s. Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne".[27]

36. Quando já tinha aparecido em toda a sua luz o mistério que se celebra nesta festa, não faltaram doutores que, em vez de tratar das razões teológicas pelas quais se demonstrasse a absoluta conveniência de crença na assunção corpórea da Virgem santíssima, voltaram o pensamento para a fé da Igreja, mística esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), que o Apóstolo chama "coluna e sustentáculo da verdade" ( 1Tm 3,15). E apoiados nesta fé comum pensaram que seria temerária, para não dizer herética, a opinião contrária. S. Pedro Canísio, como outros muitos, depois de declarar que o termo assunção se referia à glorificação não só da alma mas também do corpo, e que a Igreja há muitos séculos venerava e celebrava solenemente este mistério mariano, observa: "Esta opinião é admitida há vários séculos e tão impressa na alma dos fiéis, é tão recomendada pela Igreja, que quem negasse a assunção ao céu do corpo de Maria santíssima nem sequer seria ouvido com paciência, mas seria vaiado como pertinaz, ou mesmo temerário, e imbuído mais de espírito herético do que católico".[28]

37. Pela mesma época, o Doutor Exímio estabelecia esta regra para a mariologia: "Os mistérios da graça que Deus operou na virgem Maria não se devem medir pelas leis ordinárias, senão pela onipotência divina, suposta a conveniência do fato e a não contradição ou repugnância com as Escrituras".[29] E apoiado na fé de toda a Igreja, podia concluir que o mistério da assunção devia crer-se com a mesma firmeza que o da imaculada conceição, e já então julgava que ambas as verdades podiam ser definidas.

 

Fundamento escriturístico

38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apóiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez.

39. E convém sobretudo ter em vista que, já a partir do século II, os santos Padres apresentam a virgem Maria como nova Eva, sujeita sim, mas intimamente unida ao novo Adão na luta contra o inimigo infernal. E essa luta, como já se indicava no Protoevangelho, acabaria com a vitória completa sobre o pecado e sobre a morte, que sempre se encontram unidas nos escritos do apóstolo das gentes (cf. Rm 5; 6; l Cor 15,21-26; 54-57). Assim como a ressurreição gloriosa de Cristo constituiu parte essencial e último troféu desta vitória, assim também a vitória de Maria santíssima, comum com a do seu Filho, devia terminar pela glorificação do seu corpo virginal. Pois, como diz ainda o apóstolo, "quando... este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: a morte foi absorvida na vitória" (1Cor 15,14).

40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade "com um único decreto" [30] de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas conseqüências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).

 

Oportunidade da definição

41. Considerando que a Igreja universal ― que é assistida pelo Espírito de verdade, que a dirige infalivelmente para o conhecimento das verdades reveladas ― no decurso dos séculos manifestou de tantas formas a sua fé; considerando que os bispos de todo o mundo quase unanimemente pedem que seja definida como dogma de fé divina e católica a verdade da assunção corpórea da santíssima Virgem ao céu; considerando que esta verdade se funda na Sagrada Escritura, está profundamente gravada na alma dos fiéis, e desde tempos antiquíssimos é comprovada pelo culto litúrgico, e concorda, inteiramente, com as outras verdades reveladas, e tem sido esplendidamente explicada e declarada pelos estudos, sabedoria e prudência dos teólogos ― julgamos chegado o momento estabelecido pela providência de Deus, para proclamarmos solenemente este privilégio insigne da virgem Maria.

42. Nós, que colocamos o nosso pontificado sob o especial patrocínio da santíssima Virgem, à qual recorremos em tantas circunstâncias tristes, nós, que consagramos publicamente todo o gênero humano ao seu imaculado Coração, e que experimentamos muitas vezes o seu poderoso patrocínio, confiamos firmemente que esta solene proclamação e definição será de grande proveito para a humanidade inteira, porque reverte em glória da Santíssima Trindade, a qual a virgem Mãe de Deus está ligada com laços muito especiais. É de esperar também que todos os fiéis cresçam em amor para com a Mãe celeste, e que os corações de todos os que se gloriam do nome de cristãos se movam a desejar a união com o corpo místico de Jesus Cristo, e que aumentem no amor para com aquela que tem amor de Mãe para com os membros do mesmo augusto corpo. E também é lícito esperar que, ao meditarem nos exemplos gloriosos de Maria, mais e mais se persuadam todos do valor da vida humana, se for consagrada ao cumprimento integral da vontade do Pai celeste e a procurar o bem do próximo. Enquanto o materialismo e a corrupção de costumes que dele se origina ameaçam subverter a luz da virtude, e destruir vidas humanas, suscitando guerras, é de esperar ainda que este luminoso e incomparável exemplo, posto diante dos olhos de todos, mostre com plena luz qual o fim a que se destinam a nossa alma e o nosso corpo. E, finalmente, esperamos que a fé na assunção corpórea de Maria ao céu torne mais firme e operativa a fé na nossa própria ressurreição.

43. E é para nós motivo de imenso regozijo que este fato, por providência de Deus, se realize neste Ano santo que está a decorrer, e que assim possamos, enquanto se celebra este jubileu maior, adornar com esta pedra preciosa a fronte da Virgem santíssima, e deixar um monumento, mais perene que o bronze, da nossa ardente devoção para com a Mãe de Deus.

 

Definição solene do dogma

44. "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".

45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

46. Para que chegue ao conhecimento de toda a Igreja esta nossa definição da assunção corpórea da virgem Maria ao céu, queremos que se conservem esta carta para perpétua memória; mandamos também que, aos seus transuntos ou cópias, mesmo impressas, desde que sejam subscritas pela mão de algum notário público, e munidas com o selo de alguma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, se lhes dê o mesmo crédito que à presente, se fosse apresentada e mostrada.

47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.

 

Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1 ° de novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.

 

Eu PIO, Bispo da Igreja Católica assim definindo, subscrevi.

 

Notas

[1] Petitiones de Assumptione corporea B. Virginis Mariae in caelum definienda ad S. Sedem delatae, 2 vol. Typis Polyglottis Vaticanis, 1942.

[2] Bula Ineffabilis Deus, Acta Pii IX, parte I, vol. 1, p. 615.

[3] Cf. Conc. Vat. I, Const. dogm. Dei Filius de fide catholica, cap. 4.

[4] Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor aeternus de Ecclesia Christi, cap. 4.

[5] Conc Vat. I, Const. dogm. Dei Filius de fede catholica. cap. 3.

[6] Carta Encíclica Mediator Dei, AAS 39( 1947), p. 541.

[7] Sacramentário gregoriano.

[8] Menaei totius anni..

[9] Liber Pontificalis.

[10] Ibid.

[11] Responsa Nicolai Papae 1 ad Consulta Bulgarorum, 13 nov. 866.

[12] S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 14; cf. também ibid. n. 3).

[13] S. Germ. Const., In Sanctae Dei Genitricis Dormitionem, sermo 1.

[14] Encomium in Dormitionem Sanctissimae Dominae nostrae Deiparae semperque Virginis Mariae [atribuído a S. Modesto de Jerusalém] n. 14.

[15] Cf. S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 2, 11; Encomium in Dormitionem... [atribuído a S. Modesto de Jerusalém].

[16] Amadeu de Lausana, De Beatae Virginis obitu, Assumptione in Caelum, exaltatione ad Filii dexteram.

[17] S. Antônio de Pádua, Sermones dominicales et in solemnitatibus. In Assumptione S. Mariae Virginis Sermo.

[18] S. Alberto Magno, Mariale sive quaestiones super Evang. "Missus est", q. 132.

[19] Idem, Sermones de Sanctis, sermo XV: In Annuntiatione B. Mariae; cf. também Mariale, q.132.

[20] Cf. Summa Theol. III, q. 27, a. 1. c.; ibid. q. 83, a. 5 ad 8; Expositio salutationis angelicae; In symb. Apostolorum expositio, art. 5; in IV Sent. D. 12, q. l, art. 3, sol. 3; D. 43, q. l, art. 3, sol. I e 2.

[21] Cf. S. Boaventura, De Nativitate B. Mariae Virginis, sermo 5.

[22] S. Boaventura, De Assumptione B. Mariae Virginis, sermo 1.

[23] S. Bernardino de Sena, In Assumptione B. M. Virginis, sermo 2.

[24] Idem, l.c.

[25] S. Roberto Belarmino, Conciones habitae Lovanii, concio 40: De Assumptione B. Mariae Virginis.

[26] Oeuvres de S. François de Sales, Sermon autographe pour la fête de l'Assomption.

[27] S. Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, parte II, disc. 1.

[28] S. Pedro Canísio, De Maria Virgine.

[29] E Suárez, In tertiam partem D. Thomae, q. 27, art. 2, disp. 3, sect. 5, n. 31.

[30] Bula Ineffabilis Deus, l.c, p. 599.

 

Friday, 19 July 2024

Friday's Sung Word: "Diz que Tem" by Vicente Paiva, A. Guimarães, and Hanibal Cruz (in Portuguese)

Ela diz que tem
Diz que tem, diz que tem
Diz que tem, diz que tem
Diz que tem, diz que tem
Tem cheiro de mato
Tem doce de coco
Tem sangue nas veias
Tem balangandãns

Ela diz que tem
Diz que tem, diz que tem
Diz que tem, diz que tem
Diz que tem, diz que tem
Tem pele morena
Tem corpo febril
E dentro do peito
O amor ao Brasil

Cantei em São Paulo
Cantei no Pará
Tomei chimarrão
E comi vatapá
Eu sou brasileira
Meu it revela
E a minha bandeira
É verde-amarela

Eu digo que tenho
Que tenho muamba
Que tenho no corpo
Um cheiro de samba
Só falta pra mim
Um moreno faceiro
Que seja do samba
E bem brasileiro

 

You can listen "Diz que Tem" sung by  Carmen Miranda here.

Thursday, 18 July 2024

Thursday Serial: “The Human Chord” by Algernon Blackwood (in English) - II

 

CHAPTER II

I

For some minutes they sat in front of the fire and sipped their coffee in silence. The secretary felt that the sliding platform on which he was traveling into this extraordinary adventure had been going a little too fast for him. Events had crowded past before he had time to look squarely at them. He had lost his bearings rather, routed by Miriam's beauty and by the amazing way she talked to him. Had she lived always inside his thoughts she could not have chosen words better calculated to convince him that they were utterly in sympathy one with the other. Mr. Skale, moreover, approved heartily. The one thing Spinrobin saw clearly through it all was that himself and Miriam--their voices, rather--were necessary for the success of the clergyman's mysterious experiments. Only, while Miriam, little witch, knew all about it, he, candidate on trial, knew as yet--nothing.

And now, as they sat opposite one another in the privacy of the library, Spinrobin, full of confidence and for once proud of his name and personality, looked forward to being taken more into the heart of the affair. Things advanced, however, more slowly than he desired. Mr. Skale's scheme was too big to be hurried.

The clergyman did not smoke, but his companion, with the other's ready permission, puffed gently at a small cigarette. Short, rapid puffs he took, as though the smoke was afraid to enter beyond the front teeth, and with one finger he incessantly knocked off the ashes into his saucer, even when none were there to fall. On the table behind them gurgled the shaded lamp, lighting their faces from the eyes downwards.

"Now," said Mr. Skale, evidently not aware that he thundered, "we can talk quietly and undisturbed." He caught his beard in a capacious hand, in such a way that the square outline of his chin showed through the hair. His voice boomed musically, filling the room. Spinrobin listened acutely, afraid even to cross his legs. A genuine pronouncement, he felt, was coming.

"A good many years ago, Mr. Spinrobin," he said simply, "when I was a curate of a country parish in Norfolk, I made a discovery--of a revolutionary description--a discovery in the world of real things, that is, of spiritual things."

He gazed fixedly over the clutched beard at his companion, apparently searching for brief, intelligible phrases. "But a discovery, the development of which I was obliged to put on one side until I inherited with this property the means and leisure which enabled me to continue my terrific--I say purposely terrific--researches. For some years now I have been quietly at work here absorbed in my immense pursuit." And again he stopped. "I have reached a point, Mr. Spinrobin--"

"Yes," interjected the secretary, as though the mention of his name touched a button and produced a sound. "A point--?"

"Where I need the assistance of some one with a definite quality of voice--a man who emits a certain note--a certain tenor note." He released his beard, so that it flew out with a spring, at the same moment thrusting his head forward to drive home the announcement effectively.

Spinrobin crossed his legs with a fluttering motion, hastily. "As you advertised," he suggested.

The clergyman bowed.

"My efforts to find the right man," continued the enthusiast, leaning back in his chair, "have now lasted a year. I have had a dozen men down here, each on a month's trial. None of them suited. None had the requisite quality of voice. With a single exception, none of them could stand the loneliness, the seclusion; and without exception, all of them were too worldly to make sacrifices. It was the salary they wanted. The majority, moreover, confused imagination with fancy, and courage with mere audacity. And, most serious of all, not one of them passed the test of--Miriam. She harmonized with none of them. They were discords one and all. You, Mr. Spinrobin, are the first to win acceptance. The instant she heard your name she cried for you. And she knows. She sings the soprano. She took you into the chord."

"I hope indeed--" stammered the flustered and puzzled secretary, and then stopped, blushing absurdly. "You claim for me far more than I should dare to claim for myself," he added. The reference to Miriam delighted him, and utterly destroyed his judgment. He longed to thank the girl for having approved him. "I'm glad my voice--er--suits your--chord." In his heart of hearts he understood something of what Mr. Skale was driving at, yet was half-ashamed to admit it even to himself. In this twentieth century it all seemed so romantic, mystical, and absurd. He felt it was all half-true. If only he could have run back into that great "mental prairie" of his boyhood days it might all have been quite true.

"Precisely," continued Mr. Skale, bringing him back to reality, "precisely. And now, before I tell you more, you will forgive my asking you one or two personal questions, I'm sure. We must build securely as we go, leaving nothing to chance. The grandeur and importance of my experiments demand it. Afterwards," and his expression changed to a sudden softness in a way that was characteristic of the man, "you must feel free to put similar questions to me, as personal and direct as you please. I wish to establish a perfect frankness between us at the start."

"Thank you, Mr. Skale. Of course--er--should anything occur to me to ask--" A momentary bewilderment, caused by the great visage so close to his own, prevented the completion of the sentence.

"As to your beliefs, for instance," the clergyman resumed abruptly, "your religious beliefs, I mean. I must be sure of you on that ground. What are you?"

"Nothing--I think," Spinrobin replied without hesitation, remembering how his soul had bounced its way among the various creeds since Cambridge, and arrived at its present state of Belief in Everything, yet without any definite label. "Nothing in particular. Nominally, though--a Christian."

"You believe in a God?"

"A Supreme Intelligence, most certainly," was the emphatic reply.

"And spirits?"

Spinrobin hesitated. He was a very honest soul.

"Other life, let me put it," the clergyman helped him; "other beings besides ourselves?"

"I have often felt--wondered, rather," he answered carefully, "whether there might not be other systems of evolution besides humanity. Such extraordinary Forces come blundering into one's life sometimes, and one can't help wondering where they come from. I have never formulated any definite beliefs, however--"

"Your world is not a blind chaos, I mean?" Mr. Skale put gravely to him, as though questioning a child.

"No, no, indeed. There's order and system--"

"In which you personally count for something of value?" asked the other quickly.

"I like to think so," was the apologetic reply. "There's something that includes me somewhere in a purpose of very great importance--only, of course, I've got to do my part, and--"

"Good," Mr. Skale interrupted him. "And now," he asked softly, after a moment's pause, leaning forward, "what about death? Are you afraid of death?"

Spinrobin started visibly. He began to wonder where this extraordinary catechism was going to lead. But he answered at once: he had thought out these things and knew where he stood.

"Only of its possible pain," he said, smiling into the bearded visage before him. "And an immense curiosity, of course--"

"It does not mean extinction for you--going out like the flame of a candle, for instance?"

"I have never been able to believe that, Mr. Skale. I continue somewhere and somehow--forever."

The cross-examination puzzled him more and more, and through it, for the first time, he began to feel dimly, ran a certain strain of something not quite right, not permissible in the biggest sense. It was not the questions themselves that produced this odd and rather disquieting impression, but the fact that Mr. Skale was preparing the ground with such extraordinary thoroughness. This conversation was the first swell, as it were, rolling mysteriously in upon him from the ocean in whose deeps the great Experiment lay buried. Forces, tidal in strength, oceanic in volume, shrouded it just now, but he already felt them. They reached him through the person of the clergyman. It was these forces playing through his personality that Spinrobin had been aware of the first moment they met on the station platform, and had "sensed" even more strongly during the walk home across the mountains.

Behind the play of these darker impressions, as yet only vague and ambiguous, there ran in and out among his thoughts the vein of something much sweeter. Miriam, with her large grey eyes and silvery voice, was continually peeping in upon his mind. He wondered where she was and what she was doing in the big, lonely house. He wished she could have been in the room to hear his answers and approve them. He felt incomplete without her. Already he thought of her as the melody to which he was the accompaniment, two things that ought not to be separated.

"My point is," Mr. Skale continued, "that, apart from ordinary human ties, and so forth, you have no intrinsic terror of death--of losing your present body?"

"No, no," was the reply, more faintly given than the rest. "I love my life, but--but--" he looked about him in some confusion for the right words, still thinking of Miriam--"but I look forward, Mr. Skale; I look forward." He dropped back into the depths of his armchair and puffed swiftly at the end of his extinguished cigarette, oblivious of the fact that no smoke came.

"The attitude of a brave man," said the clergyman with approval. Then, looking straight into the secretary's blue eyes, he added with increased gravity: "And therefore it would not be immoral of me to expose you to an experiment in which the penalty of a slip would be--death? Or you would not shrink from it yourself, provided the knowledge to be obtained seemed worth while?"

"That's right, sir--Mr. Skale, I mean; that's right," came the answer after an imperceptible pause.

The result of the talk seemed to satisfy the clergyman. "You must think my questions very peculiar," he said, the sternness of his face relaxing a little, "but it was necessary to understand your exact position before proceeding further. The gravity of my undertaking demands it. However, you must not let my words alarm you." He waited a moment, reflecting deeply. "You must regard them, if you will, as a kind of test," he resumed, searching his companion's face with eagle eyes, "the beginning of a series of tests in which your attitude to Miriam and hers to you, so far as that goes, was the first."

"Oh, that's all right, Mr. Skale," was his inadequate rejoinder; for the moment the name of the girl was introduced his thoughts instantly wandered out to find her. The way the clergyman pronounced it increased its power, too, for no name he uttered sounded ordinary. There seemed a curious mingling in the resonant cavity of his great mouth of the fundamental note and the overtones.

"Yes, you have the kind of courage that is necessary," Mr. Skale was saying, half to himself, "the modesty that forgets self, and the unworldly attitude that is essential. With your help I may encompass success; and I consider myself wonderfully fortunate to have found you, wonderfully fortunate...."

"I'm glad," murmured Spinrobin, thinking that so far he had not learned anything very definite about his duties, or what it was he had to do to earn so substantial a salary. Truth to tell, he did not bother much about that part of it. He was conscious only of three main desires: to pass the unknown tests, to learn the nature of Mr. Skale's discovery, with the experiment involved, and--to be with Miriam as much as possible. The whole affair was so unusual that he had already lost the common standards of judging. He let the sliding platform take him where it would, and he flattered himself that he was not fool enough to mistake originality for insanity. The clergyman, dreamer and enthusiast though he might be, was as sane as other men, saner than most.

"I hope to lead you little by little to what I have in view," Mr. Skale went on, "so that at the end of our trial month you will have learned enough to enable you to form a decision, yet not enough to--to use my knowledge should you choose to return to the world."

It was very frank, but the secretary did not feel offended. He accepted the explanation as perfectly reasonable. In his mind he knew full well what his choice would be. This was the supreme adventure he had been so long a-seeking. No ordinary obstacle could prevent his accepting it.

 

 

II

There came a pause of some length, in which Spinrobin found nothing particular to say. The lamp gurgled; the coals fell softly into the fender. Then suddenly Mr. Skale rose and stood with his back to the grate. He gazed down upon the small figure in the chair. He towered there, a kindly giant, enthusiasm burning in his eyes like lamps. His voice was very deep, his manner more solemn than before when he spoke.

"So far, so good," he said, "and now, with your permission, Mr. Spinrobin, I should like to go a step further. I should like to take--your note."

"My note?" exclaimed the other, thinking he had not heard correctly.

"Your sound, yes," repeated the clergyman.

"My sound!" piped the little man, vastly puzzled, his voice shrill with excitement. He dodged about in the depths of his big leather chair, as though movement might bring explanation.

Mr. Skale watched him calmly. "I want to get the vibrations of your voice, and then see what pattern they produce in the sand," he said.

"Oh, in the sand, yes; quite so," replied the secretary. He remembered how the vibrations of an elastic membrane can throw dry sand, loosely scattered upon its surface, into various floral and geometrical figures. Chladni's figures, he seemed to remember, they were called after their discoverer. But Mr. Skale's purpose in the main, of course, escaped him.

"You don't object?"

"On the contrary, I am greatly interested." He stood up on the mat beside his employer.

"I wish to make quite sure," the clergyman added gravely, "that your voice, your note, is what I think it is--accurately in harmony with mine and Miriam's and Mrs. Mawle's. The pattern it makes will help to prove this."

The secretary bowed in perplexed silence, while Mr. Skale crossed the room and took a violin from its case. The golden varnish of its ribs and back gleamed in the lamplight, and when the clergyman drew the bow across the strings to tune it, smooth, mellow sounds, soft and resonant as bells, filled the room. Evidently he knew how to handle the instrument. The notes died away in a murmur.

"A Guarnerius," he explained, "and a perfect pedigree specimen; it has the most sensitive structure imaginable, and carries vibrations almost like a human nerve. For instance, while I speak," he added, laying the violin upon his companion's hand, "you will feel the vibrations of my voice run through the wood into your palm."

"I do," said Spinrobin. It trembled like a living thing.

"Now," continued Mr. Skale, after a pause, "what I first want is to receive the vibrations of your own voice in the same way--into my very pulses. Kindly read aloud steadily while I hold it. Stop reading when I make a sign. I'll nod, so that the vibrations of my voice won't interfere." And he handed a notebook to him with quotations entered neatly in his own handwriting, selected evidently with a purpose, and all dealing with sound, music, as organized sound, and names. Spinrobin read aloud; the first quotation from Meredith he recognized, but the others, and the last one, discussing names, were new to him:--

"But listen in the thought; so may there come Conception of a newly-added chord, Commanding space beyond where ear has home.

"Everything that the sun shines upon sings or can be made to sing, and can be heard to sing. Gases, impalpable powders, and woolen stuffs, in common with other non-conductors of sound, give forth notes of different pitches when played upon by an intermittent beam of white light. Colored stuffs will sing in lights of different colors, but refuse to sing in others. The polarization of light being now accomplished, light and sound are known to be alike. Flames have a modulated voice and can be made to sing a definite melody. Wood, stone, metal, skins, fibers, membranes, every rapidly vibrating substance, all have in them the potentialities of musical sound.

"Radium receives its energy from, and responds to, radiations which traverse all space--as piano strings respond to sounds in unison with their notes. Space is all a-quiver with waves of radiant energy. We vibrate in sympathy with a few strings here and there--with the tiny X-rays, actinic rays, light waves, heat waves, and the huge electromagnetic waves of Hertz and Marconi; but there are great spaces, numberless radiations, to which we are stone deaf. Some day, a thousand years hence, we shall know the full sweep of this magnificent harmony.

"Everything in nature has its name, and he who has the power to call a thing by its proper name can make it subservient to his will; for its proper name is not the arbitrary name given to it by man, but the expression of the totality of its powers and attributes, because the powers and attributes of each Being are intimately connected with its means of expression, and between both exists the most exact proportion in regard to measure, time, and condition."

The meaning of the four quotations, as he read them, plunged down into him and touched inner chords very close to his own beliefs. Something of his own soul, therefore, passed into his voice as he read. He read, that is to say, with authority.

A nod from Mr. Skale stopped him just as he was beginning a fifth passage. Raising the vibrating instrument to his ear, the clergyman first listened a moment intently. Then he quickly had it under his chin, beard flowing over it like water, and the bow singing across the strings. The note he played--he drew it out with that whipping motion of the bow only possible to a loving expert--was soft and beautiful, long drawn out with a sweet singing quality. He took it on the G string with the second finger--in the "fourth position." It thrilled through him, Spinrobin declares, most curiously and delightfully. It made him happy to hear it. It was very similar to the singing vibrations he had experienced when Miriam gazed into his eyes and spoke his name.

"Thank you," said Mr. Skale, and laid the violin down again. "I've got the note. You're E flat."

"E flat!" gasped Spinrobin, not sure whether he was pleased or disappointed.

"That's your sound, yes. You're E flat--just as I thought, just as I hoped. You fit in exactly. It seems too good to be true!" His voice began to boom again, as it always did when he was moved. He was striding about, very alert, very masterful, pushing the furniture out of his way, his eyes more luminous than ever. "It's magnificent." He stopped abruptly and looked at the secretary with a gaze so enveloping that Spinrobin for an instant lost his bearings altogether. "It means, my dear Spinrobin," he said slowly, with a touch of solemnity that woke an involuntary shiver deep in his listener's being, "that you are destined to play a part, and an important part, in one of the grandest experiments ever dreamed of by the heart of man. For the first time since my researches began twenty years ago I now see the end in sight."

"Mr. Skale--that is something--indeed," was all the little man could find to say.

There was no reason he could point to why the words should have produced a sense of chill about his heart. It was only that he felt again the huge groundswell of this vast unknown experiment surging against him, lifting him from his feet--as a man might feel the Atlantic swells rise with him towards the stars before they engulfed him forever. It seemed getting a trifle out of hand, this adventure. Yet it was what he had always longed for, and his courage must hold firm. Besides, Miriam was involved in it with him. What could he ask better than to risk his insignificant personality in some gigantic, mad attempt to plumb the Unknown, with that slender, little pale-faced Beauty by his side? The wave of Mr. Skale's enthusiasm swept him away deliciously.

"And now," he cried, "we'll get your Pattern too. I no longer have any doubts, but none the less it will be a satisfaction to us both to see it. It must, I'm sure, harmonies with ours; it must!"

He opened a cupboard drawer and produced a thin sheet of glass, upon which he next poured some finely powdered sand out of a paper bag. It rattled, dry and faint, upon the smooth, hard surface. And while he did this, he talked rapidly, boomingly, with immense enthusiasm.

"All sounds," he said, half to himself, half to the astonished secretary, "create their own patterns. Sound builds; sound destroys; and invisible sound-vibrations affect concrete matter. For all sounds produce forms--the forms that correspond to them, as you shall now see. Within every form lies the silent sound that first called it into view--into visible shape--into being. Forms, shapes, bodies are the vibratory activities of sound made visible."

"My goodness!" exclaimed Spinrobin, who was listening like a man in a dream, but who caught the violence of the clergyman's idea none the less.

"Forms and bodies are--solidified Sound," cried the clergyman in italics.

"You say something extraordinary," exclaimed the commonplace Spinrobin in his shrill voice. "Marvelous!" Vaguely he seemed to remember that Schelling had called architecture "frozen music."

Mr. Skale turned and looked at him as a god might look at an insect--that he loved.

"Sound, Mr. Spinrobin," he said, with a sudden and effective lowering of his booming voice, "is the original divine impulsion behind nature--communicated to language. It is--creative!"

Then, leaving the secretary with this nut of condensed knowledge to crack as best he could, the clergyman went to the end of the room in three strides. He busied himself for a moment with something upon the wall; then he suddenly turned, his great face aglow, his huge form erect, fixing his burning eyes upon his distracted companion.

"In the Beginning," he boomed solemnly, in tones of profound conviction, "was--the Word." He paused a moment, and then continued, his voice filling the room to the very ceiling. "At the Word of God--at the thunder of the Voice of God, worlds leaped into being!" Again he paused. "Sound," he went on, the whole force of his great personality in the phrase, "was the primordial, creative energy. A sound can call a form into existence. Forms are the Sound-Figures of archetypal forces--the Word made Flesh." He stopped, and moved with great soft strides about the room.

Spinrobin caught the words full in the face. For a space he could not measure--considerably less than a second, probably--the consciousness of something unutterably immense, unutterably flaming, rushed tumultuously through his mind, with wings that bore his imagination to a place where light was--dazzling, white beyond words. He felt himself tossed up to Heaven on the waves of a great sea, as the body of strange belief behind the clergyman's words poured through him.... For somewhere, behind the incoherence of the passionate language, burned the blaze of a true thought at white heat--could he but grasp it through the stammering utterance.

Then, with equal swiftness, it passed. His present surroundings came back. He dropped with a dizzy rush from awful spaces ... and was aware that he was merely--standing on the black, woolly mat before the fire watching the movements of his new employer, that his pumps were bright and pointed, his head just level with a dark marble mantelpiece. Dazed, and a trifle breathless he felt; and at the back of his disordered mind stirred a schoolboy's memory that the Pythagoreans believed the universe to have been called out of chaos by Sound, Number, and Harmony--or something to that effect.... But these huge, fugitive thoughts that tore through him refused to be seized and dealt with. He staggered a little, mentally; then, with a prodigious effort, controlled himself--and watched.

 

 

III

Mr. Skale, he saw, had fastened the little sheet of glass by its four corners to silken strings hanging from the ceiling. The glass plate hung, motionless and horizontal, in the air with its freight of sand. For several minutes the clergyman played a series of beautiful modulations in double-stopping upon the violin. In these the dominating influence was E flat. Spinrobin was not musical enough to describe it more accurately than this. Only, with greater skill than he knows, he mentions how Skale drew out of that fiddle the peculiarly intimate and searching tones by which strings can reach the spiritual center of a man and make him respond to delicate vibrations of thoughts beyond his normal gamut....

Spinrobin, listening, understood that he was a greater man than he knew....

And the sand on the glass sheet, he next became aware, was shifting, moving, dancing. He heard the tiny hissing and rattling of the dry grains. It was uncommonly weird. This visible and practical result made the clergyman's astonishing words seem true and convincing. That moving sand brought sanity, yet a certain curious terror of the unknown into it all.

A minute later Mr. Skale stopped playing and beckoned to him.

"See," he said quietly, pointing to the arrangement the particles of sand had assumed under the influence of the vibrations. "There's your pattern--your sound made visible. That's your utterance--the Note you substantially represent and body forth in terms of matter."

The secretary stared. It was a charming but very simple pattern the lines of sand had assumed, not unlike the fronds of a delicate fern growing out of several small circles round the base.

"So that's my note--made visible!" he exclaimed under his breath. "It's delightful; it's quite exquisite."

"That's E flat," returned Mr. Skale in a whisper, so as not to disturb the pattern; "if I altered the note, the pattern would alter too. E natural, for instance, would be different. Only, luckily, you are E flat--just the note we want. And now," he continued, straightening himself up to his full height, "come over and see mine and Miriam's and Mrs. Mawle's, and you'll understand what I meant when I said that yours would harmonize." And in a glass case across the room they examined a number of square sheets of glass with sand upon them in various patterns, all rendered permanent by a thin coating of a glue-like transparent substance that held the particles in position.

"There you see mine and Miriam's and Mrs. Mawle's," he said, stooping to look. "They harmonize most beautifully, you observe, with your own."

It was, indeed, a singular and remarkable thing. The patterns, though all different, yet combined in some subtle fashion impossible of analysis to form a complete and well-proportioned Whole--a design--a picture. The patterns of the clergyman and the housekeeper provided the base and foreground, those of Miriam and the secretary the delicate superstructure. The girl's pattern, he noted with a subtle pleasure, was curiously similar to his own, but far more delicate and waving. Yet, whereas his was floral, hers was stellar in character; that of the housekeeper was spiral, and Mr. Skale's he could only describe as a miniature whirlwind of very exquisite design rising out of apparently three separate centers of motion.

"If I could paint over them the color each shade of sound represents," Mr. Skale resumed, "the tint of each timbre, or Klangfarbe, as the Germans call it, you would see better still how we are all grouped together there into a complete and harmonious whole."

Spinrobin looked from the patterns to his companion's great face bending there beside him. Then he looked back again at the patterns. He could think of nothing quite intelligible to say. He noticed more clearly every minute that these dainty shapes of sand, stellar, spiral, and floral, stood to one another in certain definite proportions, in a rising and calculated ratio of singular beauty.

"There, before you, lies a true and perfect chord made visible," the clergyman said in tones thrilling with satisfaction, "--three notes in harmony with the fundamental sound, myself, and with each other. My dear fellow, I congratulate you, I congratulate you."

"Thank you very much, indeed," murmured Spinrobin. "I don't quite understand it all yet, but it's--it's extraordinarily fascinating and wonderful."

Mr. Skale said nothing, and Spinrobin drifted back to his big armchair. A deep silence pervaded the room for the space of several minutes. In the heart of that silence lay the mass of direct and vital questions the secretary burned, yet was afraid, to ask. For such was the plain truth; he yearned to know, yet feared to hear. The Discovery and the Experiment of this singular man loomed already somewhat vast and terrible; the adjective that had suggested itself before returned to him--"not permissible." ... Of Mr. Skale himself he had no sort of fear, though a growing and uncommon respect, but of the purpose Mr. Skale had in view he caught himself thinking more and more, yet without obvious reason, with a distinct shrinking almost amounting to dismay. But for the fact that so sweet and gentle a creature as Miriam was traveling the same path with him, this increased sense of caution would have revealed itself plainly for what it was--Fear....

"I am deeply interested, Mr. Skale," he said at length, breaking first the silence, "and sympathetic too, I assure you; only--you will forgive me for saying it--I am, as yet, still rather in the dark as to where all this is to lead--" The clergyman's eyes, fixed straight upon his own, again made it difficult to finish the sentence as he wished.

"Necessarily so, because I can only lead you to my discovery step by step," replied the other steadily. "I wish you to be thoroughly prepared for anything that may happen, so that you can deal intelligently with results that might otherwise overwhelm you."

"Overwhelm--?" faltered his listener.

"Might, I said. Note carefully my use of words, for they are accurately chosen. Before I can tell you all I must submit you, for your own sake, to certain tests--chiefly to the test of Alteration of Form by Sound. It is somewhat--er--alarming, I believe, the first time. You must be thoroughly accustomed to these astonishing results before we dare to approach the final Experiment; so that you will not tremble. For there can be no rehearsal. The great Experiment can only be made once ... and I must be as sure as possible that you will feel no terror in the face of the Unknown."

 

 

IV

Spinrobin listened breathlessly. He hesitated a moment after the other stopped speaking, then slewed round on his slippery chair and faced him.

"I can understand," he began, "why you want imagination, but you spoke of courage too? I mean,--is there any immediate cause for alarm? Any personal danger, for instance, now?" For the clergyman's weighty sentences had made him realize in a new sense the loneliness of his situation here among these desolate hills. He would appreciate some assurance that his life was not to be trifled with before he lost the power to withdraw if he wished to do so.

"None whatever," replied Mr. Skale with decision, "there is no question at all of physical personal injury. You must trust me and have a little patience." His tone and manner were exceedingly grave, yet at the same time inspired confidence.

"I do," said Spinrobin honestly.

Another pause fell between them, longer than the rest; it was broken by the clergyman. He spoke emphatically, evidently weighing his words with the utmost care.

"This Chord," he said simply--yet, for all the simplicity, there ran to and fro behind his words the sense of unlawful and immense forces impending--"I need for a stupendous experiment with sound, an experiment which will lead in turn towards a yet greater and final one. There is no harm in your knowing that. To produce a certain transcendent result I want a complex sound--a chord, but a complete and perfect chord in which each note is sure of itself and absolutely accurate."

He waited a moment. There was utter silence about them in the room. Spinrobin held his breath.

"No instrument can help me; the notes must be human," he resumed in a lower voice, "and the utterers--pure. For the human voice can produce sounds 'possessing in some degree the characteristics not only of all musical instruments, but of all sounds of whatever description.' By means of this chord I hope to utter a certain sound, a certain name, of which you shall know more hereafter. But a name, as you surely know, need not be composed of one or two syllables only; a whole symphony may be a name, and a whole orchestra playing for days, or an entire nation chanting for years, may be required to pronounce the beginning merely of--of certain names. Yours, Robert Spinrobin, for instance, I can pronounce in a quarter of a second; but there may be names so vast, so mighty, that minutes, days, years even, may be necessary for their full utterance. There may be names, indeed, which can never be known, for they could never be uttered--in time. For the moment I am content simply to drop this thought into your consciousness; later you shall understand more. I only wish you to take in now that I need this perfect chord for the utterance in due course of a certain complex and stupendous name--the invocation, that is, of a certain complex and stupendous Force!"

"I think I understand," whispered the other, afraid to interrupt more.

"And the difficulty I have experienced in finding the three notes has been immense. I found Mrs. Mawle--alto; then Miriam I found at birth and trained her--soprano; and now I have found you, Mr. Spinrobin, and my chord, with myself as bass, is complete. Your note and Miriam's, soprano and tenor, are closer than the relations between the other notes, and a tenor has accordingly been most difficult to find. You can now understand the importance of your being sympathetic to each other."

Spinrobin's heart burned within him as he listened. He began to grasp some sweet mystical meaning in the sense of perfect companionship the mere presence of the girl inspired. They were the upper notes in the same chord together, linked in a singing and harmonious relation, the one necessary to the other. Moreover, in the presence of Mr. Skale and the housekeeper, bass and alto in the full chord, their completeness was still more emphasized, and they knew their fullest life. The adventure promised to be amazingly seductive. He would learn practically the strange truth that to know the highest life Self must be lost and merged in something bigger. And was this not precisely what he had so long been seeking--escape from his own insignificance?

"And--er--the Hebrew that you require of me, Mr. Skale?" he asked, returning to practical considerations.

"Our purposes require a certain knowledge of Hebrew," he answered without hesitation or demur, "because that ancient language and the magical resources of sound are profoundly linked. In the actual sounds of many of the Hebrew letters lies a singular power, unguessed by the majority, undivined especially, of course, by the mere scholar, but available for the pure in heart who may discover how to use their extraordinary values. They constitute, in my view at least, a remnant of the original Chaldaean mysteries, the lore of that magic which is older than religion. The secret of this knowledge lies in the psychic values of sound; for Hebrew, the Hebrew of the Bahir, remains in the hierarchy of languages a direct channel to the unknown and inscrutable forces; and the knowledge of mighty and supersensual things lies locked up in the correct utterance of many of its words, letters and phrases. Its correct utterance, mark well. For knowledge of the most amazing and terrible kind is there, waiting release by him who knows, and who greatly dares.

"And you shall later learn that sound is power. The Hebrew alphabet you must know intimately, and the intricate association of its letters with number, color, harmony and geometrical form, all of which are but symbols of the Realities at the very roots of life. The Hebrew alphabet, Mr. Spinrobin, is a 'discourse in methods of manifestation, of formation.' In its correct pronunciation lies a way to direct knowledge of divine powers, and to conditions beyond this physical existence."

The clergyman's voice grew lower and lower as he proceeded, and the conviction was unavoidable that he referred to things whereof he had practical knowledge. To Spinrobin it was like the lifting of a great veil. As a boy he had divined something of these values of sound and name, but with the years this knowledge had come to seem fantastic and unreal. It now returned upon him with the force of a terrific certainty. That immense old inner playground of his youth, without boundaries or horizon, rolled up before his mental vision, inviting further and detailed discovery.

"With the language, qua language," he continued, "you need not trouble, but the 'Names' of many things you must know accurately, and especially the names of the so-called 'Angels'; for these are in reality Forces of immense potency, vast spiritual Powers, Qualities, and the like, all evocable by correct utterance of their names. This language, as you will see, is alive and divine in the true sense; its letters are the vehicles of activities; its words, terrific formulae; and the true pronunciation of them remains today a direct channel to divine knowledge. In time you shall see; in time you shall know; in time you shall hear. Mr. Spinrobin," and he thrust his great head forwards and dropped his voice to a hushed whisper, "in time we shall all together make this Experiment in sound which shall redeem us and make us as Gods!"

"Thank you!" gasped the secretary, swept off his feet by this torrent of uncommon and mystical language, and passing a moist hand through his feathery hair. He was not entirely ignorant, of course, of the alleged use of sound in the various systems of so-called magic that have influenced the minds of imaginative men during the history of the world. He had heard, more or less vaguely, perhaps, but still with understanding, about "Words of Power"; but hitherto he had merely regarded such things as picturesque superstitions, or half-truths that lie midway between science and imagination. Here, however, was a man in the twentieth century, the days of radium, flying machines, wireless telegraphy, and other invitations towards materialism, who apparently had practical belief in the effective use of sound and in its psychic and divine possibilities, and who was devoting all of his not inconsiderable powers of heart and mind to their actual demonstration. It was astonishing. It was delightful. It was incredible! And, but for the currents of a strange and formidable fear that this conception of Skale's audacious Experiment set stirring in his soul, Spinrobin's enthusiasm would have been possibly as great as his own.

As it was he went up to the big clergyman and held out his hand, utterly carried away by the strangeness of it all, caught up in a vague splendor he did not quite understand, prepared to abandon himself utterly.

"I gather something of what you mean," he said earnestly, "if not all; and I hope most sincerely I may prove suitable for your purpose when the time comes. As a boy, you know, curiously enough, I always believed in the efficacy of names and the importance of naming true. I think," he added somewhat diffidently, looking up straight into the luminous eyes above him, "if you will allow me to say so, I would follow you anywhere, Mr. Skale--anywhere you cared to lead."

"'Upon him that overcometh,'" said the clergyman in that gentle voice he sometimes used, soft as the voice of woman, "'will I write my new name....'"

He gazed down very searchingly into the other's eyes for a minute or two, then shook the proffered hand without another word. And so they separated and went to bed, for it was long past midnight.