Friday, 7 March 2025

Friday's Sung Word: "Meu Balão Subiu... Subiu..." by Amado Régis and Marcílio Vieira (in Portuguese).

Depositei meus sonhos,
minhas esperanças
nos papéis de um balão
E soltei-o p'rá vê-lo levar
meu pedido a São João

Meu balão subiu, subiu
para o azul da imensidão
E no espaço perdido ficou meu pedido
minha doce ilusão (bis)

Meu balão subiu, subiu,
com o pedido e não voltou
Eu penso que São João leu
e não me respondeu...
meu balão se queimou (bis)

 

You can listen "Meu Balão Subiu... Subiu..." sung by Carmen Miranda  here

Thursday, 6 March 2025

Thursday's Serial: “A Moreninha” by Dr. Joaquim Manoel de Macedo (in Portuguese) - XI

Cap. XVIII - Achou quem o tosquiasse

Escutando aquelas inesperadas palavras que o chamavam para a mesma posição em que ele tinha colocado as quatro moças, Augusto voltou-se de repente e viu no fundo da gruta a interessante Moreninha, que enchia o copo de prata.

— Minha senhora!... balbuciou o estudante confuso.

D. Carolina respondeu-lhe primeiro com o seu costumado sorriso e depois assim:

— Não se dirá que um homem zombou impunemente de quatro senhoras; uma outra toma o cuidado de vingá-las. Sr. estudante, eu também sou adepta ao culto desta fada e vou invocá-la em meu auxílio.

A menina travessa bebeu em seguida a estas palavras o seu copo d’água e depois, imitando o estilo de Augusto que se achava junto dela, disse:

— Quereis que vos fale do passado, do presente, ou do futuro?

— De todas essas épocas... ao menos para ouvir por mais tempo os vaticínios e palavras de tão amável Sibila.

— Pois então principiemos pelo passado. Oh! Que belas revelações me faz a fada! Sim, eu estou lendo no livro da vossa vida estou vendo tudo, estou dentro do vosso espírito e de vosso coração!

— Oh! Sim, eu juro que isso é verdade, atalhou o estudante. A menina fingiu não entender a alusão e continuou:

— Senhor, vós amastes muito cedo… creio… sim, foi na idade de treze anos.

Augusto recuou um passo; ela prosseguiu:

— Amastes, sim, a uma menina de sete anos, com quem brincastes à borda do mar.

— E quem era ela? Como se chamava? perguntou Augusto com fogo, talvez pensando que d. Carolina estava com efeito adivinhando e podia dizer-lhe o que ele mesmo ignorava.

Posso eu sabê-lo? respondeu a Moreninha; a fada só me diz o que se passou em vosso coração, e vós, por certo, que também não sabeis quem era essa menina e só a conheceis pelo nome de — minha mulher.

— Prossiga, minha senhora!

Poderia eu contar-vos uma longa história de velho moribundo, esmeralda, camafeu, mas basta de vossa mulher; permiti que vos diga que mostrava ser uma criança doidinha, que cedo começava a fazer loucuras.

— Que cruel juízo!

— Oh! Não vos agasteis; eu a respeito também, em atenção a vós, porém vamos acabar com o vosso passado. Houve um tempo em que quisestes figurar entre os amigos como galanteador de damas, e por justo e bem merecido castigo fostes desgraçado: todas elas zombaram de vós!

E a menina interrompeu-se, para rir-se da cara que fazia Augusto.

— Ora, por esta não esperava eu, disse o estudante.

A primeira jovem que requestastes foi uma moreninha de dezesseis anos, que jurou-vos gratidão e ternura, e casou-se oito dias depois com um velho de sessenta anos! Não foi assim?

E a menina de novo desatou a rir.

— Minha senhora, de que se ri tanto?

Ora! E que a fada está me dizendo que ainda em cima os vossos amigos, quando souberam de tal, deram-vos uma roda de cacholetas!

— Então a sra. d. Ana lhe contou tudo isso?

— Juro-vos, senhor, que minha avó não me fala em semelhantes objetos. Consenti que eu continue. A segunda foi uma jovem coradinha, a quem em uma noite ouvistes dizer num baile que éreis um pobre menino com quem ela se divertia nas horas vagas, não foi assim?

— Prossiga, minha senhora.

— A terceira foi uma moça pálida, que zombou solenemente, tanto de um primo que tinha, como de vós. Eis alguns de vossos principais galanteios. Exasperado com o infeliz resultado deles e vivamente tocado das letras e da música de certo lundu que se vos cantou, tomastes outro partido e desde então vós pretendeis fazer-vos passar por borboleta de amor.

— Borboleta?!... Sim... Sim… lembro-me agora que a senhora passeava pelo jardim. Já sei de quem foram certas carreirinhas e portanto compreendo que sabeis de tudo à custa...

— A custa da fada, senhor, e escuso estender-me mais, porque vós estais bem certo de que eu devo saber ainda muito.

Sim, mas diga sempre.

— Não, antes quero falar-vos do vosso presente.

— Pelo amor de seus belos olhos, minha senhora, vamos antes ao que eu não sei, vamos ao meu futuro.

— Sois sobejamente sôfrego! Não vedes como isso vai contra a boa ordem da narração?

— Mas a desordem é hoje moda! O belo está no desconcerto; o sublime no que se não entende; o feio é só o que podemos compreender: isto é, romântico; queira ser romântica, vamos ao meu futuro.

— Pois bem, vamos ao vosso futuro. Principiarei, como pretendia fazer, se falasse do presente de vossa vida, dizendo-vos que vós não sois tão inconstante como afetais.

— Misericórdia!

— Mas que estais a ponto de o ser; digo-vos que perdereis uma certa aposta que fizestes com três estudantes.

— Como é isso? Então a senhora sabe...

— A fada que me revelou isso leu o termo na carteira de quem o guardou.

— A fada? Sim, a feiticeira o leu... Compreendo.

— Vós não sois inconstante, porque tendes até hoje cultivado com religioso empenho o amor de vossa mulher; mas vós o ides ser, porque não longe está o dia em que a esquecereis por outra.

— A culpa será dos olhos dessa outra; porém quem sabe?... Desejo que não; contudo, eu já vos vejo em princípio e temo que ides ao fim; sereis perjuro, tereis de escrever um romance e perdoai-me se vos desejo este mal: eu quisera que ao pé de meu irmão, que vos apresentará o termo da aposta, aparecesse a vossos olhos a mulher traída. Do vosso futuro eis quanto me disse a fada.

— E disse bastante para me confundir.

— Quereis que vos fale agora do vosso presente?

— Oh, se quero! No presente está a minha glória.

— Ontem, no baile, dissestes palavras de ternura pelo menos a seis senhoras.

— Esta agora é melhor! E quem o pôde notar?

— Provavelmente a fada vos observava.

— Então a fada, a feiticeira fazia isso?

— Depois do baile puseram-vos duas cartas no bolso.

— Que mãos delicadas?... Não mo sabe dizer a fada, porém vós viestes para esta gruta acudindo a um convite, e fingistes adivinhar segredos de corações.

— Não era verdade: a fada nada vos revelou, e o que dissestes que sabíeis antes e a fada me disse como.

— Explique-me, pois, minha senhora.

— Quando involuntariamente fui causa de vos entornarem café nas calças, vós fostes mudar de roupa e entrastes para o gabinete das senhoras; lá ouvistes tudo o que afetastes adivinhar há pouco.

— E quem me viu entrar?

— A fada sem dúvida. O cravo de d. Quinquina fostes vós que o recebestes no jardim; na noite dos jogos de prendas, fostes vós ainda quem, com uma luz na mão, procurou e achou a trança de cabelos de d. Clementina, embaixo da quarta roseira da rua que vai para o caramanchão.

— Mas quem observou o que eu fiz às escondidas e com tanto cuidado?

— A fada, que, segundo penso, vos tem sempre seguido com os olhos.

— A fada?!... A feiticeira me segue sempre com os olhos?!... Oh! Como sou feliz!... A feiticeira é a senhora!

— Senhor! Sois pouco modesto; que me importariam vossos passos e vossas ações?...

— Perdão! Perdão!... Eu sou um tresloucado... um incivil... um doido... não sei o que faço, nem o que digo, mas continue...

— Basta! Vós duvidastes da fada e por isso eu termino aqui. Não! Não minha senhora! E preciso dizer-me mais alguma coisa ainda!... Por força a fada lhe deveria ter revelado! Ela, que adivinha tudo o que está dentro do meu coração, diga o que ainda se passa nele.

Nada mais me disse.

— Beba outro copo d’água...

— Não julgo necessário. Pois então...

— Cumpre retirar-me.

— Não é por certo! Perdoe-me, minha senhora, mas eu devo descobrir todos os meus segredos a quem conhece tão boa parte deles.

— Eu me contento com o pouco que sei.

— Ouça uma só palavra...

— Não sou curiosa.

— Pois a senhora...

— Sei que sou senhora, mas sou exceção de regra; não quero saber.

— Embora, eu lhe direi ainda contra a vontade...

— E para isso toma-me a saída?...

— E só para lhe dizer que eu amo...

— Já sei, à sua mulher

— Não é isso: a uma bela moça...

— Ela o deve ser agora.

Muito espirituosa...

— Já ela o era em criança.

— E que se chama...

— Ah! espreitam-nos da entrada da gruta!

Augusto correu a examinar quem era a indiscreta testemunha; não aparecia pessoa alguma; compreendeu então que fora ainda um meio de que se lembrara d. Carolina para não deixá-lo concluir sua declaração e, disposto a lançar-se aos pés da menina, voltou-se já com o nome da bela nos lábios, e...

D. Carolina tinha desaparecido da gruta.

 

 

Cap. XIX - Entremos nos corações

O que é bom dura pouco. As festas estão acabadas, as nossas belas conhecidas bordam, os nossos alegres estudantes estão de livro na mão. Mas, pelo que toca a estes, qual é digam-me, qual o estudante que, depois de uma patuscada de tom, não fica por oito dias incapaz de compreender a mais insignificante lição? Isto sucede assim; essa pobre gente vê, por toda a parte e misturando-se com todos os pensamentos, no livro em que estuda, nas estampas que observa, na dissertação que escreve, o baile, as moças e os prazeres que apreciou.

O nosso Augusto, por exemplo, está agora bronco para as lições e impertinente com tudo. Rafael é quem paga o pato: se o inocente moleque lhe apronta o chá muito cedo, apanha meia dúzia de bolos, porque quer ir vadiar pelas ruas; se no dia seguinte se demora só dez minutos, leva dois pescoções, para andar mais ligeiro. Não há, enfim, coisa alguma que possa contentar o sr. Augusto; está aborrecido da medicina, tem feito duas gazetas na aula; de ministerial, que era, passou-se para a oposição; não quer mais ser assinante de periódicos, não há para seus olhos lugar nenhum bonito no mundo; aborrece a corte, detesta a roça e só gosta das ilhas.

Deveremos fazer-lhe uma visita; ele está em seu gabinete e um pouco menos carrancudo, porque Leopoldo, o seu amigo do coração, o acompanha e tem a paciência de estar ouvindo pela duodécima vez a narração do que com ele se passou na ilha de...

Segundo parece, Augusto acaba de relatar o que ocorreu na gruta, entre ele e a bela Moreninha, porque Leopoldo lhe perguntou:

— E por onde fugiria ela?...

— Por uma difícil saída que eu não tinha observado, respondeu Augusto, e que exatamente se praticava no fundo da gruta.

— Que diabinho de menina!

— Quanto mais se tu notasses a graça e malícia com que ela, quando entrei na sala, me perguntou sossegadamente: "Esteve dormindo na gruta, sr. Augusto?…"

— Então ela gostou da tua semideclaração?!

— Não... não... se ela tivesse gostado, não me fugiria.

— Ora, é boa! Não devia fazer outra coisa.

Se ela gostasse de mim!... Mas, por que não me deu um só sinal de ternura?... Também eu, às vezes tão adiantado, fui desta um tolo, um basbaque! Tremi diante de uma criança que não tem quinze anos e não soube dizer duas palavras.

— Estás doido, Augusto, e doido varrido; acredita que d. Carolina foi mais sensível aos teus cumprimentos que aos de nenhum outro; e se não, dize por que se não deixou ela dormir, como as outras senhoras, e foi à hora de tua partida passear pela praia e ver-te embarcar?... Por que ficou ali passeando até desaparecer o teu batelão?

— Isto não significa nada.

— Ora, ature-se um namorado!... Mas venha cá sr. Augusto, então como é isto?... Estás realmente apaixonado?!

— Quem te disse semelhante asneira?...

— Há três dias que não falas senão na irmã de Filipe e...

— Ora viva! Quero divertir-me… digo-te que a acho feia; não é lá essas coisas; parece ter mau gênio. Realmente notei-lhe muitos defeitos... sim... mas, às vezes... Olha, Leopoldo, quando ela fala ou mesmo quando está calada, ainda melhor; quando ela dança, ou mesmo quando está sentada... ah! ela, rindo-se… e até mesmo séria... quando ela canta ou toca ou brinca ou corre, com os cabelos à negligé, ou divididos em belas tranças; quando... Para que dizer mais? Sempre, Leopoldo, sempre ela é bela, formosa, encantadora, angélica!

Então, que história é essa? Acabas divinizando a mesma pessoa que, principiando, chamaste feia?...

— Pois eu disse que ela era feia? É verdade que eu... no princípio... Mas depois... Ora, estou com dores de cabeça; este maldito Velpeau!... Que lição temos amanhã?

— Tratar-se-á das representações de...

— Temos maçada! Quem te perguntou por isso agora? Falemos de d. Carolina, do baile, do...

— Eis aí outra! Não acabaste de perguntar-me qual era a lição de amanhã?

— Eu? Pode ser... Esta minha cabeça!...

— Não é a tua cabeça, Augusto, é o teu coração.

Houve então um momento de silêncio. Augusto abriu um livro e fechou-o logo; depois tomou rapé, passeou pelo quarto duas ou três vezes e, finalmente, veio de novo sentar junto de Leopoldo.

— É verdade, disse; não é a minha cabeça: a causa está no coração. Leopoldo, tenho tido pejo de te confessar, porém luto posso mais esconder estes sentimentos que eu penso que são segredos e que todo o mundo mos lê nos olhos! Leopoldo, aquela menina que aborreci no primeiro instante, que julguei insuportável e logo depois espirituosa, que daí a algumas horas comecei a achar bonita, no curto trato de um dia, ou melhor ainda, em alguns minutos de unia cena de amor e piedade, em que a vi de joelhos banhando os pés de sua ama, plantou no meu coração um domínio forte, um sentimento filho da admiração, talvez, mas, sentimento que é novo para mim, que não sei como o chame, porque o amor é um nome muito frio para que o pudesse exprimir!... Eu já não me conheço... não sei onde irá isto parar... Eu amo! Ardo! Morro!

— Modera-te, Augusto; acalma-te; não é graça; olha que estás vermelho como um pimentão.

— Oh! Tudo naquela ilha fatal se assanhou para enfeitiçar-me, tudo, até a própria mentira.

— E tu acreditaste muito nessa senhora!…

— Escuta, Leopoldo: uma vez que com a avó de Filipe conversava na gruta, eu, fatigado e sequioso, bebi um copo d’água da fonte do rochedo; então, a nossa boa hóspeda contou-me uma fabulosa e singular tradição daquela fonte. A água dizia-se milagrosa e quem a bebesse não sairia da ilha sem atuar algum de seus habitantes. Eis aqui, pois, uma mentira, mais uma mentira que excitou a minha imaginação; uma mentira que me perseguiu lá dois dias e que me persegue ainda hoje; uma mentira, enfim, que se transformou em verdade, porque eu bebi daquela água e não pude deixar a ilha sem amar, e muito, um de seus habitantes...

— Deveras que isso não deixa de ser interessante. Mas que efeito esperas tu que provenha de toda essa moxinifada?

— Que efeito?... O... amor...

— Amor?... Amor não é efeito, nem causa, nem princípio. nem fim, e é tudo isso ao mesmo tempo; e uma coisa que... sim... finalmente, para encurtar razões, amor é o diabo... Dize-me, pois, sinceramente falando, qual o resultado que pensas tirar de tudo isso que me contaste.

— Que resultado?... O... amor...

— E ele a dar-me com o maldito amor! Augusto, falemos sério, essa tua exaltação estava muito em ordem num moço que quisesse desposar d. Carolina; porém tu nem cuidas em casamento nem, se em tal pensasses, te lembrarias, roceiro como és, de escolher para mulher uma menina que foi criada, educada e pode-se dizer que mora na corte.

— Esta agora não é má!... Deveras que ainda me não passou pela mente a idéia do casamento, nem chegará a tal ponto minha loucura; mas suponhamos o contrário disto; que mal tu achas em que um roceiro se case com uma moça da cidade?

— Que mal?... Ora, escuta: devendo ir morar na roça, a moça tem, necessariamente, de mudar de costumes e de vida; compreende, pois, quanto atormentará o coração do pobre marido a vista dos dissabores e contrariedades que sofrerá na solidão e monotonia campestre urna senhora amamentada no seio dos prazeres e.festins da corte! ... Quanto devem entristecer os suspiros e saudades de que será testemunha, quando a amada companheira recordar-se de sua família, de suas amigas, do teatro, do passeio, dessa cadeia de delícias, enfim, que, apesar dela, a ligará ainda a seu passado.

— Oh! não, não, Leopoldo, se o marido for amado. Quando se ama deveras e se está com o objeto do amor, não se recorda, não se deseja, não se quer mais nada!...

— Tu falas em amor, Augusto?... Ainda bem que somos ambos estudantes da roça e posso dizer-te agora o que entendo, sem medo de ofender suscetibilidade de cortesão algum. Pois ainda não observaste que o verdadeiro amor não se dá muito com os ares da cidade?... Que por natureza e hábito, as nossas roceiras são mais constantes que as cidadoas?... Olha, aqui encontramos nas moças mais espírito, mais jovialidade, graça e prendas, porém, nelas não acharemos nem mais beleza, nem tanta constância. Estudemos as duas vidas. A moça da corte escreve e vive comovida sempre por sensações novas e brilhantes por objetos que se multiplicam e se renovam a todo momento, por prazeres e distrações que se precipitam; ainda contra a vontade, tudo a obriga a ser volúvel: se chega à janela um instante só, que variedade de sensações! Seus olhos têm de saltar da carruagem para o cavaleiro, da senhora que passa para o menino que brinca, do séqüito do casamento para o acompanhamento de enterro! Sua alma tem que sentir ao mesmo tempo o grito de dor e a risada de prazer, os lamentos, os brados de alegria e o ruído do povo; depois, tem o baile com sua atmosfera de lisonjas e mentiras, onde ela se acostuma a fingir o que não sente, a ouvir frases de amor a todas as horas, a mudar de galanteador em cada contradança; depois, tem o teatro, onde cem ócuLos fitos em seu rosto parecem estar dizendo — és bela! — E assim enchendo-a de orgulho e muitas vezes de vaidade; finalmente, ela se faz por força e por costume tão inconstante como a sociedade em que vive, tão mudável como a moda dos vestidos. Quereis agora ver o que se passa com uma moça da roça?...

Ali está ela na solidão de seus campos, talvez menos alegre, porém, certamente, mais livre; sua alma é todos os dias tocada dos mesmos objetos: ao romper d’alva, é sempre e só a aurora que bruxoleia no horizonte; durante o dia, são sempre os mesmos prados, os mesmos bosques e árvores; de tarde, sempre o mesmo gado que se vem recolhendo ao curral; à noite, sempre a mesma lua que prateia seus raios à Lisa superfície do lago! Assim, ela se acostuma a ver e amar um único objeto; seu espírito, quando concebe uma idéia, não a deixa mais, abraça-a, anima-a, vive eterno com ela; sua alma quando chega a amar, é para nunca mais esquecer, é para viver e morrer por aquele que ama. Isto é sim, Augusto; considera que é lá em nossos campos que mais brilham esses sentimentos, que são a mesma vida e que não podem acabar senão com ela!...

— Como estás exagerado, Leopoldo! Juraria que desejas casar com alguma moça da roça!

— Oh!... Se esse desejo me dominar, certamente que o satisfarei com uma das muitas cachopinhas da minha terra.

Eu logo vi que em teus raciocínios e observações andava o gênio da prevenção; escuso-me, porém, de responder-te, pois que falaste em geral e desse modo concedes...

— Que há muitas exceções, sem dúvida.

Bom! Quando não, tu me forçarias a tomar a palavra para defender a linda Moreninha, que tanto cativa.

Então, Augusto, teremos porventura um romance? Que romance?

— Perderás a aposta e ao completar-se o mês...

— Daqui até lá… se eu pudesse esquecê-la! ... Mas aquela menina não é como as outras; é uma tentação... um diabinho...

— Quando, pois, começas a escrever?

— Estás tolo… respondeu Augusto, tomando por um momento seu antigo bom humor; eu ainda pretendo nestes quinze dias mudar de amor três vezes.

Basta porém de estudantes. Já temos ouvido bastante o nosso Augusto e demorar-se mais tempo em seu gabinete fora querer escutar ainda as mesmas coisas; porque o tal mocinho, que quer campar de beija-flor, parece que caiu no visco dos olhos e graças da jovem beleza da ilha de... e está sinceramente enamorado dela. Ora, todos sabem que os amantes têm um prazer indizível em matraquear os ouvidos dos que os atendem com uma história muito comprida e mil vezes repetida que, reduzindo-se à expressão mais simples, ficaria em zero ou, quando muito, nos seguintes termos: "eu olhei e ela olhou"; eu lhe disse "pode ser, não pode ser". Deixemos, portanto, o senhor Augusto entregue a seus cuidados de moço, e tanto mais que já conhecemos o estado em que se acha. Vamos agora entrar no coraçãozinho de um ente bem amável, que não tem, como aquele, uma pessoa a quem confie suas penas, e por isso sofre talvez mais. Faremos urna visita à nossa linda Moreninha.

Também suas modificações têm aparecido no caráter de d. Carolina, depois dos festejos de Sant’Ana. Antes deles, era essa interessante jovenzinha o prazer da ilha de... irreconciliável inimiga da tristeza, ela ignorava o que era estar melancólica dez minutos e praticava o despotismo de não consentir que alguém o estivesse; junto dela, por força ou por vontade, tudo tinha de respirar alegria; sabia tirar partido de todas as circunstâncias para fazer rir, e, boa, afável e carinhosa para com todos, amoldava os corações à sua vontade; o ídolo, o delírio de quantos a praticavam, era ela a vida daquele lugar e empunhava com suas graças o cetro do prazer. Hoje suas maneiras são outras e, enquanto suas músicas se empoeiram, seu piano passa dias inteiros fechado, suas bonecas não mudam de vestido, ela vagueia solitária pela praia, perdendo seus belos olhares na vastidão do mar, ou, sentada no banco de relva da gruta, descansa a cabeça em sua mão e pensa... Em quê?... Quais serão os solitários pensamentos de uma menina de menos de quinze anos?... E às vezes suspira... um suspiro?... Eis o que já é um pouco explicativo.

Assim como o grito tem o eco, a flor o aroma e a dor o gemido, tem o amor o suspiro; ah! o amor é um demonínho que não pede para entrar no coração da gente e, hóspede quase sempre importuno, por pior trato que se lhe dê, não desconfia, não se despede, vai-se colocando e deixando ficar, sem vergonha nenhuma, faz-se dono da casa alheia, toma conta de todas as ações, leva o seu domínio muito cedo aos olhos, e às vezes dá tais saltos no coração, que chega a ir encarapitar-se no juízo; então, adeus minhas encomendas!...

Pois muito bem, parece que a tal tentação anda fazendo peloticas no peito da nossa cara menina; também não há moléstia de mais fácil diagnóstico. Uma mocinha que não tem cuidados, com quem a mamãe não é impertinente, que não sabe dizer onde lhe dói, que não quer que se chame médico, que suspira sem ter flatos, que não vê o que olha, que acha todo o guisado mal temperado, é porque já ama; portanto, d. Carolina ama, mas a quem?!...

Ah! Sr. Augusto! Sr. Augusto, a culpa é toda sua, sem dúvida. Esta bela menina, acostumada desde as faixas a exercer um poder absoluto sobre todos os que a cercam, não pôde ouvir o estudante vangloriar-se de não ter encontrado ainda a mulher que o cativasse deveras, sem sentir o mais vivo desejo de reduzi-lo a obediente escravo de seus caprichos; ela pôs em ação todo o poder de suas graças, ideou mesmo um plano de ataque, estudou a natureza e os fracos do inimigo, observou e bateu-se; o combate foi fatal a ambos, talvez, e no fim dele a orgulhosa guerreira apalpou o seu coração e sentiu que nele havia penetrado um dardo; consultou a sua consciência e ouviu que ela respondia; se venceste, também estás vencida!

Com efeito, d. Carolina ama o feliz estudante, e unia mistura de saudades e de temor da inconstância do seu amado é provavelmente a causa da sua tristeza; ajunta-se a isto a novidade e os cuidados de um amor nascente e primeiro, o incômodo de um sentimento novo, inexplicável, que lhe enchia o inocente coração e ver-se-á que ela tem suas razões para andar melancólica.

E portanto toda a família está assaltada do mesmo mal: há na ilha uma epidemia de mau humor que tem chegado a todos, desde a sra. d. Ana até a última escrava. Além de quanto se acaba de expor, acresce que Filipe se deixou ficar na cidade a semana inteira. sem querer dispensar uma só tarde para vir visitar sua querida avó e a bonita maninha.

Eis porém, o que se chama acusação injusta. Diz o ditado que falai no mau, aprontai o pau! Filipe estava esperando pelo dia de sábado para aproveitar o domingo todo no seio de sua família; ei-lo aí que recebe a bênção de sua avó e beija a fronte de sua irmã.

— Pensei, disse aquela, que não querias mais ver-nos!

— E quase que deixei a viagem para amanhã, minha boa avó.

— O ingrato ainda o diz... ouves, Carolina?... Então por quê... Para vir na companhia de Augusto, que deve passar o dia conosco.

Estas palavras tiveram poder elétrico; d. Carolina, para ocultar a perturbação que a agitava, correu a esconder-se em seu quarto.

Lá, bem às escondidas, ela derramou uma lágrima: doce lágrima… era de prazer.

Wednesday, 5 March 2025

Ato de Consagração Pessoal ao Sacratíssimo Coração de Jesus de de Santa Margarida Maria Alacoque (translated into Portuguese)

 

Eu, (N.N.), vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, a minha vida, as minhas ações, minhas penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte do meu ser, senão para vos honrar, amar e glorificar. É esta a minha vontade irrevogável: ser todo vosso e tudo fazer por vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto vos possa desagradar!

Tomo-vos, pois, ó Sagrado Coração, por único Bem do meu amor, Protetor da minha vida, Segurança da minha salvação, Remédio da minha fragilidade e da minha inconstância, Reparador de todas as imperfeições da minha vida e meu Amparo seguro na hora da morte.

Sê, ó Coração de Bondade, a minha Justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim a Sua justa Cólera.

Ó Coração de Amor, deposito em Vós toda a minha confiança, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa Bondade. Extingui em mim tudo o que possa vos desagradar ou que se oponha à vossa Vontade.

Seja o vosso puro Amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu vos esquecer nem me separar de Vós. Suplico-vos que o meu nome seja escrito no vosso Coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como vosso servo. Amém.

Tuesday, 4 March 2025

Tuesday's Serial: “The Messiah of the Cylinder” by Victor Rousseau (in Englsih) - IV

 

CHAPTER V - LONDON’S WELCOME

Inside the rotunda a burly man in blue, with the white shield on his breast, was standing on guard in front of a second swinging door, above which was painted something in the same strange characters. A few words to him from my captors apparently secured us precedence, for he stared at me curiously, opened the door, and bawled to some person inside. I was pushed into a large courtroom. It contained no seats, however, for spectators or witnesses. The only occupants were the magistrate and his clerk, and a group of policemen who lounged at one end of the room, joking among themselves. The clerk, a little, obsequious man in blue, was seated at a desk immediately opposite that of his chief, a pompous, surly fellow in white, wearing about his shoulders a lusterless black cape, which seemed to be a truncation of the old legal gown. Placing me on a platform near the clerk’s desk, the two policemen who were in charge of me stepped forward and began an explanation in low tones which was not meant to meet my ears, and did not.

The magistrate started nervously, and, putting his hand beneath his desk, pulled up a truncheon similar to those that I had seen in the cellar. He handled this nervously during our interview.

“Well, what have you to say, you filthy defective?” he shouted at me, when the police had ended.

I heard a suppressed chuckle behind me, and then became aware that all the police had gathered about me, convulsed with amusement at my rags.

“Stand back, you swine!” bellowed the magistrate. “Give me the Escaped Defectives Book,” he added, to his clerk.

The clerk handed up to him a small publication which I could see contained numerous miniature photographs in color. He began studying it, looking up at me from time to time. Occasionally, at his nod, one of the policemen would seize my face and push it into profile. At last the magistrate thrust the book away petulantly.

“This isn’t one of them,” he announced to the policemen. “Who are you?” he continued, glaring at me. “You’re not on the defectives’ list. Where do you come from? Tell the truth or I’ll commit you to the leathers. Why are you in masquerade? Where’s your brass? Your print? Your number? Your district?”

The clerk wagged his middle finger at me and, drawing a printed form from a pile, pushed it toward me. I took it, but I could make nothing of it, for it was in the same unknown characters.

“I can only read the old-fashioned alphabet,” I said.

The room echoed with the universal laughter. The magistrate almost jumped out of his chair.

“What!” he yelled. “You’re lying! You know you are. You have an accent. You’re from another province. What’s your game?”

The clerk, ignoring his superior’s outburst, pulled back the form, and, taking in his hand a sort of fountain pen, began to fill it in with a black fluid that dried the instant it touched the paper.

“Number, district, province, city, print, and brass?” he inquired. He paused and looked up at me. “Brach or dolicoph? Whorl, loop, or median? Facial, cephalic, and color indexes? Your Sanson test? Your Binet rating?”

But, since I made no attempt to answer these utterly baffling questions, the clerk ceased to ply me with them and looked up at the magistrate for instructions. The magistrate, who had been leaning forward, watching me attentively, now smiled as if he had suddenly grasped the situation.

“I’ll tell you what you are,” he said, shaking his finger at me. “You’re a Spanish spy, masquerading as a defective in order to get into the workshops and corrupt the defectives there.”

“Now I should call him a Slav,” said the clerk complacently. “He’s a brach, you see, Boss. And that makes his offense a capital one,” he added complacently.

“Put him up for the Council, then,” growled the magistrate. “Standardize him,” he added to the policemen, “and commit him to the Strangers’ House pending the Council’s ascription.”

My captors hurried me away. In the street a large crowd, which had assembled to see me emerge, greeted me with noisy hooting. And, looking again into these hard faces, I began to realize that some portentous change had come over mankind since my long sleep, whose nature I did not understand; but, whatever it was, it had not made men better.

However, the moving platform quickly carried us away, and the mob dwindled, so that when we reached our destination only a nucleus remained. This, however, followed me persistently, gathering to itself other idlers, who ran beside me, peering up into my face, and fingering my tattered clothes, and pulling at the tails of my coat in half-infantile and half-simian curiosity.

The building which we entered contained a single large room on the ground floor, with desks ranged around the walls. Behind each desk a clerk in blue was seated, either contemplating the scene before him or listening disdainfully to applications. I was taken to a desk near the door. One of the policemen now left me, and the other, who had contrived, without my knowledge, to possess himself of the gold watch that had been in my pocket for the last century, placed it upon the desk before the clerk, who came back slowly and resentfully from a fit of abstraction.

“Committed stranger?” he inquired.

“Yap,” said the policeman. “He had this.”

The clerk stared at the watch, raised it, and let it fall on its face. The glass splintered, and he jumped in his seat as if a pistol had been discharged.

“What is it?” he screamed.

“It looks like an antique chronometer,” said the policeman, examining it curiously. “See the twelve hours on the dial.”

“Well, they aren’t listed,” the clerk grumbled.

“You lie, you thief,” retorted the policeman.

With some reluctance, but without resentment, the clerk opened a large book in a paper cover, closely printed in fine hieroglyphics interspersed with figures. He turned from place to place until he found what he was trying not to find.

“Museum chronometers, first century B.C. Listed at two hektones,” he mumbled, and began unlocking a drawer.

“B. C.!” I exclaimed. “What do you mean?”

He paused in the act of pulling the drawer out and glared at me.

“I said ‘museum chronometer of the first century before civilization,’ you fool!” he snarled. “That’s what it is, and that’s what it’s listed at. Here!”

Extracting some metal counters from the drawer, which he closed with a bang, he thrust them toward me.

“What am I to do with these?” I asked.

The policeman winked at him, and I caught the word “Spain.” The clerk’s amazement changed to malignant mirth.

“The value of your chronometer,” he screamed in my ear, as if I were deaf.

“But I don’t intend to sell it,” I retorted.

A shriek of laughter at my side apprised me that the crowd had gathered about me. The space about the desk was packed with the same sneering, mirthless faces, and fifty hands were raised in mimicry or gesticulation.

“What a barbarian!” murmured a young woman with a typewriter badge on her shoulder.

The clerk looked at her and winked maliciously. Then he addressed me again.

“If you don’t understand now, you will before the Council ends ascribing you,” he said. “However, I’ll explain. Your museum chronometer, not being an object of necessity, is the property of this Province. This is a civilized country, and you can’t have hoard-property here, whatever you can do in Spain. Strangers’ effects are bought by the Province at their listed value, and your chronometer is listed at two hundred labor units, or ones—in other words, if you have ever heard of the metric system, two hektones.”

“Ah, give him the Rest Cure!” said the girl with the typewriter badge, swinging about and stalking away contemptuously.

I picked up the metal counters and began examining them. They were crudely made, and without milled edges. Two of them appeared to be of aluminum; on one side was an ant in relief, and under it the inscription,

 

LABOR COMMON

 

on the other side, in bold letters, were the words,

 

HALF HEKTONE

FIFTY ONES

 

There were two smaller pieces, of a yellowish-gray, each stamped,

 

TWENTY-FIVE ONES

 

It did not take me more than a moment’s calculation to see that if the hektone was a hundred units of currency, or labor hours, I had only a hektone and a half instead of two. I told the clerk of the deficiency.

“Don’t lie! Sign that!” he shouted, pushing an inkpad and printed form toward me.

“I shall not sign, and I shall bring this theft to the attention of—Doctor Sanson,” I said, suddenly recollecting the name.

It was a chance shot, but its effect was extraordinary. The mob, which had begun to jostle me, suddenly scurried away in the greatest confusion. The clerk turned white; he picked up the money with trembling fingers.

“Why, that is so!” he exclaimed. “It was a mistake, Boss. I didn’t mean it. I’m sorry. I—I thought you were a blue,” he muttered, looking up at me beseechingly. And he returned me a whole half-hektone too much.

I tossed this back to him and returned no answer. I was looking about for a pen with which to sign the receipt when the policeman took hold of my thumb in a comically obsequious manner and pressed the inkpad against it. So I made my mark upon the paper.

In the corridor outside he turned toward me humbly.

“Are you a trapper, Boss?” he asked.

“A what?”

“A switch. A wipe. I mean a council watcher.”

“A spy, you mean?” I asked. “Certainly not.”

He shook his head in perplexity, and seemed uncertain whether to believe me or not. “He thought you were,” he said. “That was an old list he used. You should have had more. Of course I couldn’t get in bad with him by telling you, but you’d have had nothing if I hadn’t stood up for you. Isn’t that worth something, Boss?”

I offered him one of the smaller pieces, rather in fear of giving offense, but he pocketed it at once, and then, with a new aggressiveness toward the gathering crowd, took me upstairs to the Strangers’ Bureau. Here I was stripped and examined by two physicians, and photographed in three positions; my finger prints were taken, and the three indexes. Then a dapper little clerk in blue passed a tape measure in several ways about my head and beckoned to me mysteriously to come to his desk.

“It’s too bad,” he exclaimed.

“What is too bad?” I inquired.

“The difference is five centimeters, and—well, I’m afraid you’re a brach. I’d like to help you out, but—well, if I can—”

The meaning of the word suddenly revealed itself to me. “You mean my head is brachycephalic?” I asked.

“There is, unfortunately, no doubt,” he answered, and, coming closer under the pretense of measuring me again, began to whisper. “You know, the measure is flexible,” he said, glancing furtively about him. “The revising clerk passes all my measurements without referring back to the doctors. There’s an understanding between us. Now I could get you into the dolicoph class—”

“The longheads?”

“Yes,” he murmured, looking at me with an expression of mutual understanding.

“But what advantage would that be to me?” I inquired.

“They say,” he whispered, “that the Council is going to penalize the brachs several points. It is Doctor Sanson’s new theory, you know, that the brachs are more defective than the dolicophs. Now I’d risk making you a dolicoph for—would it be worth a hektone to you?”

I flushed with indignation. “Do you suppose I am going to bribe you—?” I began loudly.

The clerk leaped back. “This subject is a brach!” he yelled, and gave the figures to a clerk at the next desk, who made a note on a form and looked at me with intense disgust.

So I was set down as broad-headed. Then I was made to sit before a Binet board, containing wooden blocks of various shapes, which had to be set in corresponding holes within a period timed on a stop-watch. Word associations followed, a childish game at which I had played during the course of my medical training; we had regarded this as one of those transitory fads born in Germany and conveyed to us through the American medium, which came and went and left no by-products except a little wasted enthusiasm on the part of our younger men. I accomplished both tasks easily, and I thought the physicians seemed disappointed.

Finally I received a suit of bluish-gray color, the strangers’ uniform, I was informed, and a pair of high, soft shoes. A metal badge, stamped with letters and figures, was hung about my neck by a cord, and I was turned over to the charge of a blue-clad, grizzled man of shortish stature, with a kindly look in the eyes that strongly affected me. For I realized by now that all these persons about me, all whom I had seen, with whom I had conversed, had lacked something more than good-will; they gave me the impression of being animated machines, reservoirs of intense energy, and yet not ... what? I could not determine them.

There was a patient humility about his bearing, and yet, I fancied, a sort of stubborn power, a consciousness of some secret strength that radiated from him.

He came up to me after conversing with the doctors, blue-clad men with white capes about their shoulders, all of whom had eyed me curiously during their speech with him.

“I am the District Strangers’ Guard,” he said to me. “You are a foreigner, I understand, and waiting to be ascribed by the Council. It is not necessary to make any explanation to me. I am the guard, and nothing more, and it is my task to provide you with food and lodging in the Strangers’ House until you are sent for, S6 1845.”

“I beg your pardon?” I asked, before I realized that he was addressing me by the number on the brass badge that hung from my neck.

“My pardon?” he answered, looking at me with a puzzled expression. “That is an antique word, is it not?”

“I mean, I did not know the significance of these numbers,” I replied.

“Your brass,” he said, still more bewildered. “That is, of course, your temporary number until the Council assigns you to your proper place in the community. It means, as you must be aware, Stranger of the Sixth District. My unofficial name is David. What is yours, friend?”

He almost jumped when I told him, and glanced nervously about him. We had just passed through the doorway, and he drew me to one side, looking at me in a most peculiar manner.

“You must know only one name is legal in this Province,” he whispered. “Surely you will not hazard everything by such bravado. I mean—”

He checked himself and searched my eyes, as if he could not understand whether my ignorance was assumed or real.

“Arnold,” he said suddenly, as if he had reached a swift and hazardous decision, “you are to be my private guest. If you are assuming ignorance for safety, you shall learn that there is nothing to fear from me. And when you trust me, you shall give me the news of Paul and all our friends. If you are actually a Spaniard—no, tell me nothing—it is essential that you should learn what all our inmates know, before you go to the Council. Doctor Sanson is not tolerant of strangers unless they learn to conform.... I shall help you in every way that is possible. The Bureau Head has asked me to watch you carefully. It is a special order from headquarters. There is some rumor about you ... but it will be all right in my own apartment.”

I felt too heartbroken more than to thank him briefly. The sense of my isolation in this new world swept over me with poignant power. David must have guessed something of my feeling, for he said nothing more. We halted for a moment at the entrance to the building, and he pulled a watch from his pocket. I saw that the dial, which was not faced with glass, and had the hands inset, was divided into ten main sections, each comprising ten smaller ones.

“Ten hours and seventy-four,” he said. “We dine at one-fifty. Seventy-six minutes to get home.”