Saturday, 13 December 2025

Saturday's Good Reading: “Afonso Arino” by Olavo Bilac (in Portuguese)

 

Há poucos meses, em Belo Horizonte, falando a homens de letras de Minas, procurei evocar, em poucas linhas, numa reminiscência, a figura de Afonso Arinos, homem e artista:

Conheci-o, a princípio, em Ouro Preto, na austera Vila Rica; ali vivi com ele, no silêncio e na poeira dos arquivos; e ali comecei a admirar o profundo brasileirismo orgânico, que forrava o seu espírito. Conheci-o depois, e melhor na Europa, no tumulto de Paris, e em longas viagens, romarias a catedrais e a castelos, passeios por cidades e campos. Na Europa, Afonso Arinos era ainda mais brasileiro do que no Brasil. Alto, robusto, elegante, de uma estatura e um ar de gigante amável, em que se aluavam a energia e a graça, conservando no olhar e na alma o nosso céu e o nosso sol, ele era como uma das árvores das nossas matas, exilada nas frias terras do velho continente. Nos boulevards, nos salões, nos teatros, e ainda nas geladas galerias de Rambouillet e de Versalhes, onde erravam os espectros de Francisco I e Luís XIV, — Afonso Arinos mantinha, sob a polidez das suas maneiras de fidalgo, o andar firme, um pouco pesado, e o jeito reservado, um pouco tímido, e o falar comedido, um pouco hesitante, de um sertanejo forte, andeiro e cavaleiro, caçador e escoteiro, simples e ousado... Ainda hoje o vejo, e me vejo, claramente, num dia de fevereiro de 1909, quando visitamos juntos a Catedral de Chartres. Era duro o inverno. Quando chegamos à velhíssima cidade episcopal, caía neve. De pé, insensíveis às lufadas cortantes dos flocos brancos, quedamos na praça, admirando a maravilhosa fábrica do templo, a sua caprichosa ossatura de contrafortes e botaréus, diante da fachada, a um tempo leve e severa, com a graciosa majestade da primeira fase da arquitetura ogival: as três portas baixas sobrecarregadas de estátuas, a grande rosaça fulgurando em cores múltiplas, e as duas torres, uma lisa, a outra rendada, esguias e longas, preces de pedra num surto para o céu... Dentro, na misteriosa cripta, na ressoante nave, nas capelas cheias de sombra, passamos duas horas, esmagados pela grandeza da catedral anciã de sete séculos, em que vivem, numa vida muda, mais de dez mil pinturas e esculturas, entes de sonho e terror, santos, apóstolos, bispos, anjos, demônios, animais e monstros fabulosos, grifos, dragões e quimeras. Ao cabo da longa conversação, em que nos haviam preocupado tantos aspectos da história e da arte do Cristianismo, houve um momento, em que, por não sei que vaga associação de ideias, Afonso entrou a dizer-me episódios de uma das suas recentes caçadas no Distrito Diamantino, nas cercanias do Serro. Estávamos no centro do cruzeiro, entre o coro e as naves colaterais. Do ponto em que estávamos, o nosso olhar abrangia um trecho fantástico da sombria floresta de pedra: as colunas, em duas filas, rodeavam-nos, como esbeltos estipes de palmeiras, misturando em cima, na abobada, as suas palmas em leques, entre lianas, entre folhas e flores, lódão e vinha, hera e nenúfar. E milagre da palavra... A voz de Afonso animava-se, exaltava-se e sacudia a catedral. Dizia os atalhos, as escarpas, os voltados, a mata, e os relinchos dos cavalos, e os estampidos dos tiros, e a alegria dos caçadores, e as cantigas dos camaradas, — e o sol mineiro... E a floresta gótica transformava-se em floresta natural: a pedra negra verdecia, a abóbada frondejava e sussurrava, a treva alagava-se de luz ofuscante, e um verão brasileiro incendiava o inverno europeu. Já não estávamos em Chartres: estávamos no Brasil...

Fica bem esta evocação no limiar do volume, em que se enfeixam as conferências de Afonso Arinos sobre histórias e lendas do Brasil. Estas conferências, e a lição, que ele professou, em Belo Horizonte, em 1915, sobre “A Unidade da Pátria”, são digno remate de uma obra literária, que foi perfeita pela consciência e pela beleza com que foi concebida e executada.

Quando, enfeitiçado pela palavra ardente do meu companheiro, vi o teto da catedral de Chartres mudar-se em cúpula de brenha tropical, era porque ele, nas suas peregrinações pelo velho mundo, levava consigo, num ambiente próprio, como a sua verdadeira atmosfera moral, a paisagem da terra que amava. E ninguém mais do que ele sentiu e definiu o influxo da visão natal: a alma da paisagem, para onde quer que andemos longe, nos segue de perto e acompanha, e chama-se a saudade; ela nos soa aos ouvidos em misteriosas melodias, onde flutuam, com o refrão de velhas canções, ladridos de vento no coqueiral, gorjeios de pássaros familiares; ela se debruça, à calada da noite, sobre os nossos leitos, para murmurar-nos as suas confidências em forma de recordações do passado, e acender no nosso ânimo as esperanças do porvir...

E com estas lembranças e esperanças o espírito da pátria dava ao espírito do pensador sobressaltos e, às vezes, desesperações. Na “Unidade da Pátria”, que foi de fato o primeiro grito de alarme e o primeiro gesto fecundo da campanha de regeneração em que estamos empenhados, Afonso Arinos resumiu, com precisão cruel, os males que nos adoecem e envergonham: a dispersão dos bons esforços; o desamparo do povo do interior, dócil e resignado, roído de epidemias e de impostos; a falta do ensino; a desorganização administrativa; a incompetência econômica; a insuficiência, e muitas vezes os criminosos desvios da justiça; a ignorância petulante e egoísta dos que governam este imenso território, em que ainda não existe nação.

Mas o amor e a força do artista achavam remédio para o desânimo e salvação para a descrença: a sua alma ancorava-se na alma popular, e banhava-se na verdadeira fonte da energia dos povos, — as tradições, as lendas, a boa poesia, em que se espelham as virtudes da gente simples, seiva, sangue, fluido nervoso, que conservam a sua pureza e o seu vigor, enquanto a doença assola o organismo social, e bastam para sarar, no momento dado, todas as devastações.

Este livro é o efeito desta crença. Afonso Arinos nunca descreu da grandeza moral do Brasil. Conhecendo o seu povo, ele sabia que ele é o verdadeiro operário da sua nação. O valor e a bondade do povo hão de anular a fraqueza e a maldade dos que o exploram; e um dia os fracos e os maus desaparecerão, e os fortes e os bons, saídos da massa anônima, já livre e Instruída, serão os definitivos governadores.

Edouard Schurè, no prefácio da sua “Histoire du Lied”, escreveu estas linhas admiráveis: “O povo, muito tempo desprezado, sonha e canta, e tem a sua poesia e o seu ideal; opera-se nele um grande e surdo trabalho. Muitas vezes, este trabalho instintivo passa-se para a literatura, e os verdadeiros autores da obra ficam desconhecidos. Os homens da imprensa e das classes cultas não percebem isto; mas a imaginação popular continua a agitar se, subterrânea, múltipla, criadora, incessante, como a vegetação do coral, que lentamente se levanta do fundo do mar em ramificações infinitas, acabando por abrolhar em ilhas encantadoras que deslumbram os navegadores.”

Palavras que sempre devem ser meditadas por nós, homens de pensamento e de palavra. Os poetas, quando jovens pensam, no inocente orgulho da sua mocidade, e no natural engano do seu talento, que são eles que dão ao povo ideias e sentimentos; e ignoram que são apenas instrumentos de uma força estranha, que os inspira e exalta, emanações insensíveis da sua terra, eflúvios invisíveis da sua gente. O tempo e a reflexão, que dão modéstia, esfriam esse entusiasmo. Depois de certa idade, sabemos que os melhores poemas são os que nascem sem artifício, independentes do uso das métricas e dos léxicos, — os que saem do seio da natureza, frescos e límpidos, como a água salta das rochas. São os poemas melhores, e os mais duradouros. Os nossos livros, concebidos e dados à luz na ansiedade e na tortura, viverão menos do que esses contos singelos, essas lendas infantis, essas trovas ingênuas, que o povo ideou e criou, sem esforço, em sorrisos, entre o amanho da terra e a contemplação do céu.

Afonso Arinos conheceu bem, de perto, esse claro e eterno manancial da nossa poesia. Viajadorda nossa terra, familiar do sertão e dos sertanejos, ele teve o dom de tratar os homens de alma simples, sabendo falar-lhes e sabendo ouvi-los, e enternecendo-se com o seu sonho rústico.

Este enternecimento perfumou a sua vida, e adoçou a sua morte.

 

Olavo Bilac, 1917.

Friday, 12 December 2025

Friday's Sung Word: "Boca de Siri" by Wilson Batista e Germano Augusto (in Portuguese)

Eu saí de sarongue
Mas que calor, mas que calor, mas que calor
Cantei no Bonde de São Januário, Alá
Alá-la-ô, alá-la-ô-ô-ô
Até dancei de índio,
auê,auê,auê,auê,auê,auê
Quem encontrar o meu moreno por aí
Faça-me o obséquio, boca de siri

Quase que morri de insolação
Jogaram pó de mico
Mas não fiquei jururu
Continuei me exibindo
Me desmilinguindo no passo do canguru
O trem atrasou quando eu fui pra Meriti
Faz boca de siri

You can listen "Boca de Siri" sung by Odete Amaral with Boêmios da Cidade band here.

Thursday, 11 December 2025

Thursday's Serial: “Journal Spirituel” by Sœur Marie de Saint-Pierre (in French) - VI.

9

LA MISSION DE SŒUR SAINT-PIERRE

    LETTRE DU 3 NOVEMBRE 1843

C’est la Communauté…

« Vendredi 3 novembre — premier vendredi du mois —, j’eût le bonheur de faire la sainte Communion pour l’accomplissement des desseins du Sacré-Cœur de Jésus, selon le voeu que notre Révérende Mère a fait pour un an: que chaque vendredi, deux religieuses communieraient à cette intention.

Aussitôt que l’on exposa le Saint-Sacrement, Notre-Seigneur recueillit les puissances de mon âme dans son divin Cœur et me fit entendre qu’Il désirait que la dévotion de la réparation soit imprimée, répandue et que ce soit la Communauté qui lui rende ce service, puisqu’elle désirait l’accomplissement des desseins de son Cœur et priait pour cela ; qu’il était juste qu’elle eût l’honneur de donner naissance à cette dévotion. Alors, il se passa en moi quelque chose de bien extraordinaire. Mon âme était dans le Cœur de Jésus comme dans une fournaise embrasée; il me semblait qu’elle eût pour quelques instants quitté son misérable corps afin de se réunir à Dieu; elle se trouvait délicieusement perdue, anéantie en lui; elle sentait vivement qu’il était son principe et sa bienheureuse fin. Je ne pouvais plus agir; je disais seulement intérieurement :

— Mon Dieu, que vos opérations sont admirables! Vous n’êtes point un Dieu si caché!

J’aurais ajouté volontiers :

— Seigneur, qu’il fait bon ici! dressons-y trois tentes pour y tenir captives les trois puissances de mon âme.

Voilà ce que j’ai éprouvé pendant la messe; ayant eu le bonheur de recevoir la sainte Communion, j’ai pris la liberté de dire :

— Maintenant, mon Seigneur, que me voilà plus proche de vous, si vous vouliez bien me répéter ce que vous m’avez dit au commencement du sainte sacrifice ?

Mais j’ai senti qu’il ne le voulait pas en ce moment; alors je me suis unie à ce qu’il opérait en moi par cet anéantissement dont j’ai parlé. Il a semblé me déclarer, après quelques instants, qu’il avait gardé le silence pour m’avertir qu’il n’était pas en mon pouvoir d’entendre cette parole intérieure quand je voulais. Après cette petite leçon, il a continué :

— Ma fille, vous m’avez plus offensé, vous avez plus blessé mon cœur que toutes vos sœurs ensemble, en mettant obstacle à mes desseins sur votre âme ; maintenant tâchez de les surpasser toutes en amour et en zèle pour les intérêts de ma gloire. Ce n’est pas pour vous troubler que je vous découvre vos péchés; ayez confiance, je les oublierai tous. Voici deux raisons pour lesquelles je veux me servir de vous : d’abord, parce que vous êtes la plus misérable ; ensuite, parce que vous vous êtes offerte à moi pour accomplir mes desseins ; cette offrande a gagné mon Cœur. Soyez humble et simple ; faites connaître vos misères, cela même servira à ma gloire.

Il me fit entendre aussi qu’il voulait me sanctifier, et que la réparation des blasphèmes serait imprimée et répandue. Jusqu’alors il m’avait dit de demander à mes Supérieurs l’impression de ces prières; mais dans ce moment, il voulut bien me donner l’assurance que j’aurais la consolation de voir son désir accompli.

Voilà à peu près ce qui s’est passé: cette communication a produit en moi un profond sentiment d’anéantissement et de mépris pour moi-même.» [1]

 

PEU APRÈS, LA MISSION DU CARMEL…

« Le divin Maître m’a dit de vous demander si vous voulez bien lui arracher la glaive des mains: car les épouses ont tout pouvoir sur le cœur de l’Époux. Il veut que vous fassiez faire à la communauté une neuvaine de réparations pour les blasphèmes. S’il choisit cet asile pour exhaler ses soupirs, c’est afin de recevoir de vous des consolations. Il me semblait lire dans son Cœur qu’il avait grand désir de cette œuvre, afin d’accorder miséricorde.

Notre-Seigneur désire que ce soit la communauté qui couvre les frais de cette impression, pour la combler ensuite de plus grandes bénédictions et le lui rendre au centuple. Je ne peux porter davantage ce lourd fardeau. Je le dépose avec confiance entre vos bras, ma Révérende Mère, et je vous prie bien humblement d’examiner cette affaire devant Dieu; car je crois qu’il veut que vous lui rendiez ce service. Pour moi, voilà ma commission faite et mon âme déchargée.» [2]

 

CONSEILS À SŒUR SAINT-PIERRE…

« Notre Révérende Mère ayant aperçu en moi un trop grand empressement et de trop vifs désirs pour propager la réparation dur au saint Nom de Dieu, et m’ayant fait voir comme j’étais orgueilleuse de demander qu’on imprimât et qu’on répandit les prières propres à cette œuvre, tandis qu’il y avait tant de belles prières composées par les saints Pères, me défendit de m’en occuper davantage et elle eut la bonté de m’imposer une pénitence pour l’expiation de mes péchés. Pendant cette très charitable correction et une seconde que je dus encore recevoir au chapitre, je ne sais, grâce à Dieu qui a eu pitié de sa petite commissionnaire, ce qu’était devenue ma méchante nature, qui est si orgueilleuse, car tous les compliments du monde ne sauraient me procurer la joie intérieure que j’éprouvais. J’ai tâché d’entrer dans les sentiments que la charité de notre bonne Mère me proposait. Je me suis humiliée devant Notre-Seigneur; je lui ai fait le sacrifice de ne plus solliciter l’établissement de cette dévotion et de ne plus m’en occuper, afin d’être bien obéissante.

Notre-Seigneur m’attirait toujours à compatir aux douleurs de son Cœur: car si ce divin Maître était capable d’éprouver des amertumes, il serait triste jusqu’à la mort en voyant que les hommes, loin de s’unir à lui pour suppléer à leur impuissance, et ainsi aimer et glorifier son Père céleste, blasphèment continuellement son saint Nom et s’unissent à Lucifer et aux réprouvés. Combien, au contraire, Notre-Seigneur serait satisfait si quelques enfants fidèles et reconnaissants se joignaient à lui dans le Sacrement de l’autel et aux saints Anges, pour aimer et bénir le Nom de ce Père qu’il aime si tendrement ! C’est dans ces sentiments que je faisais au saint Nom de Dieu mes petites dévotions particulières, m’unissant toujours au Cœur de Jésus, aux anges et aux saints, trouvant en cette compagnie un riche supplément à mon indignité. Je les dépose ensuite dans le Sacré-Cœur par les mains de Marie et de Joseph, priant notre adorable Sauveur de les multiplier par millions, avec la même puissance qui lui fit multiplier les pains dans le désert.

 

UNE COURONNE ET UN CHAPELET…

Dans le même but, Notre-Seigneur m’a inspiré une couronne ou chapelet composée de prières de réparation. Un jour, pendant la sainte messe, ce divin Maître m’a recueillie dans son Cœur, et il m’a semblé le voir me présenter ce chapelet qui me paraissait être d’or fin et enrichi de pierres précieuses. Mais, me trouvant bien indigne de posséder un si grand trésor et craignant d’être assaillie par les voleurs, c’est-à-dire par le démon et ses suppôts, j’ai prié la très sainte Vierge de vouloir bien me garder ce beau chapelet dans son aimable Cœur, et j’ai prié le Sauveur de lui appliquer des indulgences. Je crois que cette couronne est très agréable à Notre-Seigneur et très peu du goût de Satan. Je n’ajoute pas foi aux songes, mais depuis que je m’applique à la dévotion du saint Nom de Dieu et que je prie pour la conversion des blasphémateurs, voilà deux fois que je vois en rêve les démons sous la figure d’animaux furieux prêts à me dévorer: je ne me sauve de leurs dents que par l’invocation de Notre-Seigneur et de la très sainte Vierge. Peut-être quelque proie leur est-elle échappée par cette neuvaine de réparation qu’on a faite en la communauté. Un jour, à l’oraison, le bon Maître m’avertit de la rage de Satan au sujet de cette dévotion, et en même temps il me fit entendre ces paroles:

— Je vous donne mon Nom, pour être votre lumière dans vos ténèbres et votre force dans vos combats. Satan fera tous ses efforts pour étouffer cette œuvre dès sa naissance ; mais le très saint Nom de Dieu triomphera, et les saints Anges gagneront la victoire.

[Pour l’avenir de l’Œuvre] « je fis une petite lettre que je remis entre les mains de la sainte Vierge; [3] depuis ce temps, mon âme est demeurée calme, et j’ai tâché d’être bien obéissance à notre Révérende Mère. »

 

Couronne à la gloire du saint Nom de Dieu pour la réparation des blasphèmes

             A la place du Credo, on dira :

          Nous vous adorons, ô Jésus, et nous vous bénissons, parce que vous avez rachetez le monde par votre sainte Croix.

             Sur les trois petits grains de la Croix, on dira :

          Que le très saint Nom de Dieu soit glorifié par la très sainte âme du Verbe incarné.

          Que le très saint Nom de Dieu soit glorifié par le Sacré-Cœur du Verbe incarné.

          Que le très adorable Nom de Dieu soit glorifié par toutes les plaies du Verbe incarné.

             Sur les cinq gros grains, on dira :

          Nous vous invoquons, ô Nom sacré du Dieu vivant, par la bouche de Jésus au très Saint-Sacrement, et nous vous offrons, ô mon Dieu, par les mains bénies de la divine Marie, toutes les saintes hosties qui sont sur nos autels, en sacrifice d’amende honorable et de réparation pour tous les blasphèmes qui outragent votre saint Nom.

             Sur chaque petit grain, on dira :

          1 Je vous salue, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          2 Je vous révère, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          3 Je vous adore, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          4 Je vous glorifie, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          5 Je vous loue, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          6 Je vous admire, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          7 Je vous célèbre, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          8 Je vous exalte, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          9 Je vous aime, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

          10 Je vous bénis, ô Nom sacré du Dieu vivant, par le Cœur de Jésus au très Saint-Sacrement.

PRIÈRE: Nous vous invoquons, ô Nom sacré du Dieu vivant, par la bouche de Jésus au très Saint-Sacrement, et nous vous offrons, ô mon Dieu, par les mains bénies de la divine Marie, toutes les saintes hosties qui sont sur les autels, en sacrifice d’amende honorable et de réparation pour tous les blasphèmes qui outragent votre saint Nom. »

 

Demande d’acte d’entier abandon

[Notre-Seigneur], «Il souhaitait, et me demandait cette donation de moi-même. Il me la demanda pour la première fois quelques jours après mon entrée en religion. Ses desseins alors m’étaient inconnus, mais ils commencèrent à se manifester à mon âme par la communication qui m’a été faite sur l’œuvre de la réparation du blasphème, et je me sens pressée intérieurement de faire à Dieu la sacrifice de toute ma personne et de tous les mérites que je puis acquérir en la sainte maison où j’ai le bonheur d’habiter.»

 

[1] Document B; lettre IV, page 19, du 3 novembre 1843. Cité par l’abbé Janvier, pages 141-142. “Vie de la Sœur Saint-Pierre”. Carmel de Tours: 1884. Et par Louis van den Bossche: “Le Message de Sœur Marie de Saint-Pierre”. Carmel de Tours: 1954.

[2] Document B, page 16.

[3] Entre les mains de la statue de Notre-Dame de Prompt-Secours, qui était à l’intérieur du cloître, et qui était très vénérée par les religieuses du monastère. Voir historique de cette statue: “Vie de la Sœur Saint-Pierre”, par l’abbé Janvier, page 146 et suivantes.

 

 

10

L’ASSOCIATION...

    LETTRE DU 24 NOVEMBRE 1843

 

L’Univers couvert de crimes

«Le 24 novembre, fête de notre père saint Jean de la Croix, Notre-Seigneur s’est communiqué à mon âme, malgré mon extrême indignité, et Il m’a fait connaître plus clairement quels étaient ses desseins au sujet de l’œuvre de la Réparation des blasphèmes du saint Nom de Dieu. Je vais donc dire à peu près ce qui s’est passé dans mon âme.

Pendant toute la messe, j’ai été occupée par Notre-Seigneur à voir comme l’univers est coupable. J’ai entendu la sainte messe et fait la sainte communion en réparation des outrages faits à Dieu: ce qui est ma pratique habituelle depuis que Notre-Seigneur m’applique à réparer les blasphèmes du saint Nom de Dieu, son Père. J’éprouve une grande consolation de penser que par la sainte communion, Notre-Seigneur vient en mon âme faire Lui-même cette réparation, qui ne peut être dignement faite que par son divin Cœur; aussi, quand je Le reçois, je commence par me donner à Lui, m’anéantissant dans son Cœur, ensuite, je Le laisse faire dans mon âme l’office de médiateur entre Dieu et les hommes. Mais, à cette communion du jour de la fête de notre père saint Jean de la Croix, aussitôt que Notre-Seigneur fut entré dans mon âme, il s’empara de mes puissances et me fit entendre ces paroles:

Jusqu’à présent, je ne vous ai montré que peu à peu les desseins de mon Cœur ; mais aujourd’hui je veux vous les montrer tout entiers. L’univers est couvert de crimes ! L’infraction des trois premiers commandements de Dieu a irrité mon Père. Le saint Nom de Dieu blasphémé et le saint Jour du Dimanche profané mettent le comble à la mesure d’iniquités. Ces péchés sont montés jusqu’au trône de Dieu et provoquent sa colère, qui se répandra si on n’apaise sa justice. Dans aucun temps ces crimes n’ont monté si haut. Je désire, mais d’un vif désir, qu’il se forme une Association bien approuvée et bien organisée pour honorer le Nom de mon Père. Votre supérieure a raison de ne vouloir rien faire qui ne soit solide en cette dévotion, car autrement, mon dessein ne serait pas rempli.

 

L’EXAMEN DES SUPÉRIEURS

Voilà à peu près la commission dont voulais me chargé Notre-Seigneur auprès de mes supérieurs; mais j’éprouvais de la répugnance à l’accepter, n’ayant jamais entendu dire qu’il y eût dans l’Église d’association pour cette fin dont me parlait Notre-Seigneur. Alors j’ai dit:

— Ah ! mon Dieu, si j’étais bien sûre que ce fût Vous qui me parliez, je n’aurais pas de peine à dire ces choses à mes supérieurs.

Il me répondit :

— Ce n’est pas à vous de faire cet examen, mais à eux. Je me suis déjà assez communiqué à votre âme pour me faire connaître; ne vous ai-je pas donné tout ce que je vous ai promis, lorsque je me suis fait entendre à votre âme de la même manière que je le fais maintenant ? Prenez bien garde: car si, manquant de simplicité, vous mettiez obstacle à mon dessein, vous seriez responsable du salut de ces âmes ; si, au contraire, vous êtes fidèle, elles embelliront votre couronne.

Notre-Seigneur me faisait ainsi entendre qu’Il voulait, par cette œuvre de réparation, faire miséricorde à des pécheurs. Il me semble qu’en finissant, Il me dit à peu près ces paroles :

— Eh ! à qui m’adresserai-je, si ce n’est à une carmélite, qui par état doit sans cesse glorifier mon Nom ?

Voilà, ma Révérende Mère, quoique imparfaitement, ce que je crois que Notre-Seigneur me fit entendre, car mon âme était toute perdue en Dieu et saisie d’une grande frayeur. Notre-Seigneur me mettait en même temps dans l’esprit ce qui fut dit à Abraham: que s’il trouvait dis justes dans les villes coupables, elles seraient épargnées; et il me semblait qu’en faveur des âmes qui se seraient appliquées à la réparation des blasphèmes et des mépris faits contre la majesté de Dieu, Il aurait apaisé sa justice et fait grâce aux coupables. Voilà l’essence et le fond de tout ce que Notre-Seigneur me fit entendre au sujet de l’Œuvre. Je déclare bien humblement et bien véritablement, ma Révérende Mère, qu’avec la grâce de Dieu, je vous ai parlé dans la plus grande simplicité de mon âme. Voilà que je vous ai fait toutes les commissions de Notre-Seigneur, comme sa petite domestique; je laisse toutes ces choses à votre bon jugement et à la sagesse de Monsieur le Supérieur. Pour moi, voilà ma petite mission remplie près de vous; le Saint-Esprit, qui éclaire les Supérieurs, vous fera connaître si c’est Lui que m’a dicté ce que j’ai écrit. Je n’ai aucune attache à ces choses. Je n’y ajoute foi qu’autant que mes Supérieurs l’approuveront. Maintenant, je vais me tenir tranquille, glorifiant le saint Nom de Dieu en union avec le Saint Enfant-Jésus». [1]

 

[1] Lettre du 24 novembre 1843.

Wednesday, 10 December 2025

Lettrer of Pope Pius II to the Rector of the University of Cologne, in defence of the Council of Basil (translated into English)

 

To a christian man who will be a true Christian indeed, nothing ought to be more desired, than that the sincerity and pureness of faith, given to us of Christ by our forefathers, be kept of all men immaculate: and, if at any time any thing be wrought or attempted against the true doctrine of the gospel, the people ought with one consent to provide lawful remedy, and every man to bring with him some water to quench the general fire; neither must we fear how we be hated or envied, so we bring the truth. We must resist every man to his face, whether he be Paul or Peter, if he walk not directly to the truth of the gospel: which thing I am glad, and so are we all, to hear what your university hath done in this council of Basil. For a certain treatise of yours is brought hither unto us, wherein you reprehend the rudeness, or rather the rashness of such, as do deny the bishop of Rome, and the consistory of his judgment, to be subject unto the general council; The tribunal seat standeth not in one bishop.and that the supreme tribunal seat of judgment standeth in the church, and in no one bishop. Such men as deny this, you so confound with lively reasons and truth of the Scriptures, that they are neither able to slide away like slippery eels, neither to cavil or bring any objection against you.

But, as our common proverb sayeth, "Honours change manners," so it happened with this Sylvius, who, after he came once to be pope, was much altered from what he was before. For whereas before, he preferred general councils before the pope, now, being pope, he did decree that no man should appeal from the high bishop of Rome, to any general council.

And likewise for priests' marriages; whereas before he thought it best for them to have their wives, likewise he altered his mind otherwise: insomuch that in his book treating of Germany, and there speaking of the noble city of Augsburg, by occasion he inveigheth against a certain epistle of Huldericke, a bishop of the said city, written against the constitution of the single life of priests. Whereby it appeareth how the mind of this Sylvius, then pope Pius, was altered from what it was before.