Thursday, 16 January 2014

"Como Sombras de Nuvens que Passam" (Cantos VI and VII) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto VI

     - Que vais fazer?

     - Vou para Itália, Eduardo.

     - Quando? Onde na Itália?

     - Um lugarejo perto de Rimini. Já está tudo acertado, casa, trabalho...

     - E ele?

     - Quem é "ele"? Foda-se "ele"!

     - Um lugarejo perto de Rimini?

     - Isso.

     - Estás fugindo. O que houve? Vocês brigaram?

     - Estamos bem e não estou fugindo, mas acabei com o romnace.

      - Eu não acredito! O que houve com o mundo? Só porque mudei-me pra New York, aquele fascista ganha as eleições no Brasil, vocês vão "dar um tempo" e te vais pra "um lugarejo perto de Rimini"? Então fica comigo aqui, no centro do mundo!

      - Luciano precisa resolver alguns problemas seus, eu quero trocar de ares, desanuviar a cabeça, só isso. E estamos bem agora, depois de ele ter dito uma crise de dúvidas e eu me ter afastado pra ele arranjar-se. Através duma agência consegui emprego pra colher azeitonas e ficarei na casa duma tal Rosa.

     Houve uma pausa e depois ele continuou: Acredite, não estou fugindo; nem estou sofrendo. Estava apaixonado e isso passou. Ou se não passou, passará. Mas não vou ficar à mercê de uma pessoa que me quer mas quer conforto familiar mais que a mim. Agora estou indo pra Itália; um mundo novo a desbravar; não sei o que há por lá, mas estou livre para descobrir.


Canto VII

     Eu e Eduardo fomos tomando na vida rumos distintos, em todos os sentidos. Enquanto ele renovava-se tendo romance novo a cada semana, bêbado com a vida novaiorquina, eu era muito, muito mais restrito e os poucos que tive, foram - ao menos de minha parte - sempre intensos, como se fossem minha última opção na vida.

     Poucos conseguiam dar-me o troco devido.

     Giorgio foi um deles.



 

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