(Recitada no Teatro de São Paulo)
Era no Dous de Julho. A
pugna imensa
Travara-se nos cerros da
Bahia...
O anjo da morte pálido
cosia
Uma vasta mortalha em
Pirajá.
"Neste lençol tão
largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto
do infinito ...
O mundo perguntava erguendo
um grito:
"Qual dos gigantes
morto rolará?! ...
Debruçados do céu. . . a
noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto
fado...
Era tocha — o fuzil
avermelhado!
Era o Circo de Roma — o
vasto chão!
Por palmas — o troar da
artilharia!
Por feras — os canhões
negros rugiam!
Por atletas — dous povos se
batiam!
Enorme anfiteatro — era a
amplidão!
Não! Não eram dous povos os
que abalavam
Naquele instante o solo
ensangüentado...
Era o porvir — em frente do
passado,
A liberdade — em frente à
escravidão.
Era a luta das águias — e
do abutre,
A revolta do pulso — contra
os ferros,
O pugilato da razão — com
os erros,
O duelo da treva — e do
clarão! ...
No entanto a luta recrescia
indômita
As bandeiras - corno águias
eriçadas —
"Se abismavam com as
asas desdobradas
Na selva escura da fumaça
atroz...
Tonto de espanto, cego de
metralha
O arcanjo do triunfo
vacilava...
E a glória desgrenhada
acalentava
O cadáver sangrento dos
heróis!
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......................................................
Mas quando a branca estrela
matutina
Surgiu do espaço e as
brisas forasteiras
No verde leque das gentis
palmeiras
Foram cantar os hinos do
arrebol,
Lá do campo deserto da
batalha
Uma voz se elevou clara e
divina.
Eras tu — liberdade
peregrina!
Esposa do porvir — noiva do
Sol!...
Eras tu que, com os dedos
ensopados
No sangue dos avós mortos
na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia
terra,
Sagravas livre a nova
geração!
Tu que erguias, subida na
pirâmide
Formada pelos mortos do
Cabrito,
Um pedaço de gládio — no
infinito...
Um trapo de bandeira —
n'amplidão!...
(S. Paulo, junho de
1868)
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