Rocha e João seguiam
de perto ao grupo e como João era conhecido dos sacerdotes e do pessoal do
templo, teve acesso à casa de Caifás, mas Rocha ficou no pátio, muito
perturbado.
Os outros discípulos
esconderam-se na casa em que estavam hospedados.
Alguém da casa de
Caifás vendo a Rocha, levantou-se e disse: “Já não te vi com o Nazareno?”
Respondeu-lhe Rocha: “Não
eu, por certo!” e afastou-se dali para aquecer-se num fogo que outros acenderam,
pois a noite era fria.
Caifás e outros questionavam Jesus acerca de sua
doutrina e autoridade, mas Jesus lhes respondeu: “O que falei, falei em público
nas praças e sinagogas, diante também daqueles que enviastes para estudar-me.
Perguntai a estes o que ouviram de mim.”
Ouvindo isso, Malco, o
que tivera a orelha cortada, muito perturbado, esbofeteou Jesus dizendo: “Não
se fala assim ao Sumo Sacerdote!”
Ao que Jesus lhe disse: “Se disse algum erro,
diz-me qual foi, mas se falei certo, porque me bates?”
Malco recuou e saiu da
sala.
Rocha estava
aquecendo-se ao fogo quando outra pessoa levantou-se e disse: “Não estavas com
esse que prendemos esta noite?”
Respondeu-lhe Rocha: “Não,
eu não estava.”
Mas ainda outro
levantou-se e disse: “Sim, de fato estavas lá quando o prendemos!”
Rocha ainda negou uma
terceira vez e saiu dali chorando amargamente e então o galo cantou.
Quando o dia nasceu,
os sacerdotes levaram Jesus ao pretório mas não entraram porque, segundo o seu
costume, ficariam contaminados se o fizessem e não poderiam festejar a Páscoa.
Assim, mandaram chamar o prefeito, Pôncio Pilatos.
Pilatos perguntou-lhes
a razão daquilo e os sacerdotes disseram que Jesus devia ser morto porque era
inimigo de César, fazendo-se rei dos judeus.
Pilatos chamou Jesus e
voltou com ele para dentro do pretório.
Perguntou-lhe Pilatos:
“És tu o rei dos judeus?”
Respondeu-lhe Jesus: “És
tu quem o dizes ou outros to disseram a ti?”
Respondeu-lhe Pilatos:
“Que me importas tu? Teu povo veio aqui e te acusam e te querem morto.”
Disse-lhe Jesus: “Sou
rei, mas não desse mundo. Se o fosse, meus súditos lutariam em minha defesa.
Mas não sou desse mundo.”
Perguntou-lhe Pilatos: “Então és rei?”
Respondeu-lhe Jesus: “Eu sou e vim a este mundo
para dar testemunho da verdade. Quem ama a verdade, me ouve.
Disse-lhe Pilatos: “Que é ‘verdade’?”
Então Pilatos ia voltar para os judeus quando sua
mulher aproximou-se de si e lhe disse: “Não mates a este homem. Esta noite
sonhei com ele e, se o mandas à morte, com certeza um grande mal cairá sobre nós.”
Disse-lhe Pilatos: “Não te preocupes que não há
razão para mandar à morte esse coitado.”
Pilatos voltou aos
sacerdotes e lhes disse: “Não encontrei nada nesse homem que me leve a
condená-lo.”
Responderam-lhe os
judeus: “Ele foi julgado pela nossa lei e decidimos que deve morrer!”
Voltou-lhes Pilatos e
disse: “É vosso costume que se solte um preso do vosso povo por ocasião da
Páscoa. Quereis que vos solte o vosso rei?”
Responderam-lhe os
judeus: “Ele não é nosso rei! Solta-nos Barrabás, o salteador!”
Mas Pilatos não queria
ceder aos judeus e entregou Jesus aos seus soldados para que o flagelassem.
Os soldados então despiram a Jesus e o flagelaram
até que cansaram. Depois ergueram Jesus e o cobriram com um manto púrpura;
colocaram uma cana em suas mãos e tecendo uma coroa de espinhos, coroaram-no
rei.
Davam-lhe falsas reverências e tapas e cusparadas
até que Pilatos mandou chamar a Jesus e apresentando-o aos judeus, lhes disse: “Heis
o homem e heis o que ele significa para César!
Os judeus emudeceram
por alguns momentos mas a seguir gritaram: “Crucifica-o! Ele se fez inimigo de
César e se te fazes amigo dele, te fazes imigo de César! Crucifica-o!”
Pilatos, então, teve
medo e mandou que crucificassem a Jesus.
Deram a Jesus a sua
cruz para que a carregasse e o conduziram para um monte fora da cidade, chamado
Caveira e ali o crucificaram entre dois ladrões.
Junto da cruz estavam
Maria, a mãe de Jesus, Maria, a tia de Jesus, mulher de Cleófas, Maria Madalena e João.
Todos os outros homens haviam desaparecido, escondidos por medo dos judeus.
Como vingança contra
os judeus, Pilatos mandou fazer uma placa onde se lia em aramaico, latim e
grego: “Jesus Narareno, Rei dos Judeus”.
Vendo aquilo os
sacerdotes correram para Pilatos e pediram-lhe que mudasse o texto para “Jesus
Nazareno que se disse Rei dos Judeus”, mas Pilatos recusou-se a atendê-los,
Para cumprimento das
escrituras, os soldados presentes dividiram as vestes de Jesus em quatro
partes, uma para cada um, com exceção da túnica, que era uma peça inteira de
tecido. Sobre ela jogaram os dados.
Jesus, do alto da
cruz, vendo João com sua mãe, disse-lhes: “Filho, heis a tua mãe e mãe, heis aí
o teu filho”. Desde então João tomou a Maria como sua mãe.
Depois, para total cumprimento das profecias,
disse: “Tenho sede.”
Os soldados então
alcançaram-lhe uma esponja embebida em vinagre. Jesus bebeu o vinagre e disse: “Pai,
perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.”
E então, dando um
grande suspiro, disse: “Tudo está consumado” e, inclinando a cabeça, morreu.
Era a hora terceira da sexta-feira antes da
Páscoa, quando os sacerdotes, no templo, estavam fazendo os sacrifícios para a
Páscoa.
Quando Jesus morreu, o sangue dos cordeiros correu
e a cortina do Santo dos Santos rasgou-se de alto a baixo e vários que já
haviam morrido foram vistos em vários lugares como vivos.
Os judeus temeram que
os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e o sábado
seguinte era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem
as pernas para que fossem retirados logo da cruz. Vieram os soldados e
quebraram as pernas do dois ladrões, mas chegando a Jesus, como o vissem já morto, não lhe
quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e,
imediatamente, saiu sangue e água.
Vendo isso, o soldado
e o centurião que o acompanhava cairam de joelhos e disseram: “Este homem é o
Santo de Deus!”
Algum dos sacerdotes judeus, ocultamente
discípulos de Jesus, conseguiram de
Pilatos a autorização para retirarem Jesus da cruz e o enterrarem antes do
sábado.
Rapidamente, fizeram com o cadáver de Jesus o que os judeus
costumam fazer com seus mortos, isto é: perfumaram-no com ervas e o cobriram com um grande lençol que chamam sudário, da cabeça aos pés e o enterraram num túmulo novo num jardim ali
perto e foram todos para as suas casas comemorar a Páscoa, mas sem alegria no
coração.
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