Isso foi no tempo do rei velho: dois ladrões chegaram a uma vila e ouviram falar duma velha que vivia sozinha num ermo e que, murmuravam todos, era dona de grandes haveres.
Como poderiam resistir os meliantes a roubar uma velha que pouca ou nenhuma defesa poderia oferecer?
Tarde da noite, entraram na casa por um janelo e puseram-se a vasculhar cada gaveta, cada armário, cada canto, mas sem achar traço de tesoiro algum. Foi uma busca longa e meticulosa que acabou por eles perceberem que começaram a busca com cuidado e, menos achando, mais foram tomados por ansiedade, ficando descuidados e a fazer muito barulho. Como faltasse apenas o quarto da velha, perceberam que ela não estava em casa. Mas onde estaria uma velha, tão tarde da noite?
Entraram no quarto, que encontraram vazio e recomeçaram sua busca.
Um deles encontrou, em baixo dum escano, estranha taça cheia dum denso líquido ocra. Isso os fez imaginar que a velha era uma bruxa, que aquele viscoso líquido era algum unguento mágico.
Cheios de curiosidade sobre que efeito teria o líquido na taça, despiram-se e uma vez nus, esfregaram o conteúdo da taça em seus corpos. Tão logo cobriram o corpo todo, uma força invisível os ergueu no ar e, muito aos trambolhões, levou-os para fora da casa e, fora, alçou-os aos ares até os deixar no cimo do campanário da igreja da aldeia de onde vieram.
No dia seguinte, os aldeães sairam para trabalhar e viram os dois homens nus mal equilibrados lá no alto.
Riam os da aldeia enquanto gritavam em desespero os dois vilões: tirem-nos daqui!
Enquanto uns procuravam uma escada, outros lhes perguntavam: mas como parastes aí?
Mas os dois pelados nada responderam, com medo de confessar que tentaram roubar alguém do casal. Nem eles acusaram a bruxa, nem a bruxa acusou a eles.
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