Congregação Para a
Doutrina da Fé
CARTA PLACUIT DEO AOS BISPOS DA IGREJA
CATÓLICA SOBRE ALGUNS ASPECTOS DA SALVAÇÃO CRISTÃ
I. Introdução
1. «Aprouve a Deus na
sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da
sua vontade (cfr. Ef 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo
encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da
natureza divina (cfr. Ef 2,18; 2 Pe 1,4). [...] Porém, a verdade profunda tanto
a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifesta-se-nos,
por esta revelação, em Cristo, que é, simultâneamente, o mediador e a plenitude
de toda a revelação». [1] O ensinamento sobre a
salvação em Cristo exige sempre ser aprofundado novamente. A Igreja, tendo o
olhar fixo em Cristo Senhor, dirige-se com amor materno a todos os homens, para
anunciar-lhes o inteiro desígnio de Aliança do Pai que, mediante o Espírito
Santo, deseja «submeter tudo a Cristo» (Ef 1,10). A presente Carta pretende
destacar, na linha da grande tradição da fé e com especial referência ao
ensinamento de Papa Francisco, alguns aspectos da salvação cristã que possam
ser hoje difíceis de compreender por causa das recentes transformações
culturais.
II. O impacto das transformações culturais de hoje sobre o significado da
salvação cristã
2. O mundo
contemporâneo questiona, não sem dificuldade, a confissão de fé cristã, que
proclama Jesus o único Salvador de todo o homem e da humanidade inteira (cf. At
4,12; Rom 3,23-24; 1 Tm 2,4-5; Tit 2,11-15). [2] Por
um lado, o individualismo centrado no sujeito autônomo, tende a ver o homem
como um ser cuja realização depende somente das suas forças. [3] Nesta visão, a figura de Cristo corresponde mais a
um modelo que inspira acções generosas, mediante suas palavras e seus gestos,
do que Aquele que transforma a condição humana, incorporando-nos numa nova
existência reconciliada com o Pai e entre nós, mediante o Espírito (cf. 2 Cor
5,19; Ef 2,18). Por outro lado, difunde-se a visão de uma salvação meramente
interior, que talvez suscita uma forte convicção pessoal ou um sentimento
intenso de estar unido a Deus, mas sem assumir, curar e renovar as nossas
relações com os outros e com o mundo criado. Com esta perspectiva, torna-se
difícil compreender o significado da Encarnação do Verbo, através da qual Ele
se fez membro da família humana, assumindo a nossa carne e a nossa história,
por nós homens e para a nossa salvação.
3. O Santo Padre
Francisco, no seu magistério ordinário, referiu-se muitas vezes a duas
tendências que representam os dois desvios antes mencionados, e que se
assemelham em alguns aspectos a duas antigas heresias, isto é, o pelagianismo e
o gnosticismo. [4] Prolifera em nossos tempos um
neo-pelagianismo em que o homem, radicalmente autônomo, pretende salvar-se a si
mesmo sem reconhecer que ele depende, no mais profundo do seu ser, de Deus e
dos outros. A salvação é então confiada às forças do indivíduo ou a estruturas
meramente humanas, incapazes de acolher a novidade do Espírito de Deus. [5] Um certo neo-gnosticismo, por outro lado,
apresenta uma salvação meramente interior, fechada no subjetivismo. [6] Essa consiste no elevar-se «com o intelecto para
além da carne de Jesus rumo aos mistérios da divindade desconhecida». [7] Pretende-se, assim, libertar a pessoa do corpo e
do mundo material, nos quais não se descobrem mais os vestígios da mão
providente do Criador, mas se vê apenas uma realidade privada de significado,
estranha à identidade última da pessoa e manipulável segundo os interesses do
homem. [8] Por outro lado, é claro que a
comparação com as heresias pelagiana e gnóstica pretende somente evocar traços
gerais comuns, sem entrar, nem fazer juízos, sobre a natureza destes erros
antigos. De fato, a diferença entre o contexto histórico secularizado de hoje e
o contexto dos primeiros séculos cristãos, nos quais estas heresias nasceram, é
grande. [9] Todavia, enquanto o gnosticismo e o
pelagianismo representam perigos perenes de equívocos da fé bíblica, é possível
encontrar uma certa familiaridade com os movimentos de hoje apenas referidos
acima.
4. Seja o
individualismo neo-pelagiano que o desprezo neo-gnóstico do corpo,
descaracterizam a confissão de fé em Cristo, único Salvador universal. Como
poderia Cristo mediar a Aliança da família humana inteira, se o homem fosse um
indivíduo isolado, que si autorrealiza somente com as suas forças, como propõe
o neo-pelagianismo? E como poderia chegar até nós a salvação mediante a
Encarnação de Jesus, a sua vida, morte e ressurreição no seu verdadeiro corpo,
se aquilo que conta fosse somente libertar a interioridade do homem dos limites
do corpo e da matéria, segundo a visão neo-gnóstica? Diante destas tendências,
esta Carta pretende reafirmar que, a salvação consiste na nossa união com
Cristo, que, com a sua Encarnação, vida, morte e ressurreição, gerou uma nova
ordem de relações com o Pai e entre os homens, e nos introduziu nesta ordem
graças ao dom do seu Espírito, para que possamos unir-nos ao Pai como filhos no
Filho, e formar um só corpo no «primogênito de muitos irmãos» (Rom 8,29).
III. O desejo humano de salvação
5. O homem percebe,
direta ou indiretamente, de ser um enigma: eu existo, mas quem sou eu? Tenho em
mim o princípio da minha existência? Toda pessoa, a seu modo, procura a
felicidade e tenta alcançá-la recorrendo aos meios disponíveis. No entanto,
esse desejo universal não é necessariamente expresso ou declarado; ao
contrário, esse é mais secreto e oculto do que parece, e está pronto a
revelar-se diante de situações específicas. Com frequência, tal desejo coincide
com a esperança da saúde física, às vezes assume a forma de ansiedade por um
maior bem-estar econômico, mais difusamente expressa-se através da necessidade
de uma paz interior e de uma convivência pacífica com o próximo. Por outro
lado, enquanto o desejo de salvação se apresenta como um compromisso na direção
de um bem maior, esse conserva também uma característica de resistência e de
superação da dor. Ao lado da luta pela conquista do bem se coloca a luta de
defesa do mal: da ignorância e do erro, da fragilidade e da fraqueza, da doença
e da morte.
6. Com relação a
estas aspirações, a fé em Cristo ensina-nos, rejeitando qualquer pretensão de
auto-realização, que as mesmas somente podem realizar-se plenamente se Deus
mesmo as torna possíveis, atraindo-nos a Ele. A salvação plena da pessoa não
consiste nas coisas que o homem poderia obter por si mesmo, como o ter ou o
bem-estar material, a ciência ou a técnica, o poder ou a influência sobre os
outros, a boa fama ou a auto-realização. [10] Nada
da ordem do criado pode satisfazer completamente ao homem, porque Deus nos
destinou à comunhão com Ele, e o nosso coração permanecerá inquieto até que não
repouse Nele. [11] «A vocação última de todos os
homens é realmente uma só, a divina». [12] A
revelação, desta forma, não se limita a anunciar a salvação como resposta à
expectativa contemporânea. «Se a redenção, ao contrário, devesse ser julgada ou
medida pela necessidade existencial dos seres humanos, como poderíamos evitar a
suspeita de termos simplesmente criado um Deus-Redentor à imagem de nossas
próprias necessidades?». [13]
7. Além disso, é
necessário afirmar que, segundo a fé bíblica, a origem do mal não se encontra
no mundo material e corpóreo, experimentado como um limite e como uma prisão da
qual deveríamos ser salvos. Pelo contrário, a fé proclama que o mundo inteiro é
bom, enquanto criado por Deus (cf. Gen 1,31; Sab 1,13-14; 1Tim 4,4), e que o
mal que mais prejudica o homem é aquele que provém do seu coração (cf. Mt
15,18-19; Gen 3,1-19). Pecando, o homem abandonou a fonte do amor, e se perde
em falsas formas de amor, que o fecham cada vez mais em si mesmo. É esta
separação de Deus – isto é, Daquele que é fonte de comunhão e de vida – que
leva à perda de harmonia entre os homens e dos homens com o mundo, introduzindo
a desintegração e a morte (cf. Rom 5,12). Consequentemente, a salvação que a fé
nos anuncia não diz unicamente respeito à nossa interioridade, mas ao nosso ser
integral. De facto, é a pessoa inteira, em corpo e alma, criada pelo amor de
Deus à sua imagem e semelhança, que é chamada a viver em comunhão com Ele.
IV. Cristo, Salvador e Salvação
8. Em nenhum momento
do caminho do homem, Deus deixou de oferecer a sua salvação aos filhos de Adão
(cf. Gen 3,15), estabelecendo uma Aliança com todos os homens em Noé (cf. Gen
9,9) e, mais adiante, com Abraão e a sua descendência (cf. Gn 15,18). Assim, a
salvação divina assume a ordem da criação compartilhada por todos os homens e
percorre os seus caminhos concretos na história. Escolhendo para Si um povo, a
quem ofereceu os meios para lutar contra o pecado e para se aproximar Dele,
Deus preparou a vinda de «um poderoso Salvador, na casa de David, seu servidor»
(Lc 1,69). Na plenitude dos tempos, o Pai enviou ao mundo seu Filho, o qual
anunciou o reino de Deus, curando todo tipo de doenças (cf. Mt 4,23). As curas
realizadas por Jesus, através das quais se tornava presente a providência de
Deus, eram um sinal que se referia à sua pessoa, Àquele que se revelou plenamente
como Senhor da vida e da morte no acontecimento pascal. Segundo o Evangelho, a
salvação para todos os povos começa com o acolhimento de Jesus: «Hoje veio a
salvação a esta casa» (Lc 19,9). A Boa Nova da salvação tem um nome e um rosto:
Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. «No início do ser cristão, não há uma
decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma
Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo». [14]
9. Ao longo da sua
tradição secular, a fé cristã tornou presente, através de muitas figuras, a
obra salvífica do Filho encarnado. Fê-lo sem nunca separar o aspecto
regenerador da salvação, no qual Cristo nos resgata do pecado, do aspecto da
elevação, pelo qual Ele nos faz filhos de Deus, participantes da sua natureza
divina (cf. 2 Pe 1,4). Considerando a perspectiva salvífica no seu significado
descendente, isto é, a partir de Deus que vem para resgatar os homens, Jesus é
iluminador e revelador, redentor e libertador; Aquele que diviniza o homem e o
justifica. Assumindo a perspectiva ascendente, isto é, a partir dos homens que
se dirigem a Deus, Ele é Aquele que, como Sumo Sacerdote da Nova Aliança,
oferece ao Pai o culto perfeito em nome dos homens: se sacrifica, repara os
nossos pecados e permanece sempre vivo para interceder a nosso favor. Desta
forma, verifica-se na vida de Jesus uma sinergia maravilhosa do agir divino com
o agir humano, que mostra a falta de fundamento de uma perspectiva
individualista. Assim, por um lado, o sentido descendente testemunha a primazia
absoluta da acção gratuita de Deus; a humildade em receber os dons de Deus,
antes mesmo do nosso agir, é essencial para poder responder ao seu amor
salvífico. Por outro lado, o sentido ascendente recorda-nos que, através do
agir plenamente humano de seu Filho, o Pai quis regenerar o nosso agir, para
que, assemelhados a Cristo, possamos realizar «as boas obras que Deus de
antemão preparou para nelas caminharmos» (Ef 2,10).
10. Para além disso,
é claro que a salvação que Jesus trouxe na sua própria pessoa não se realiza
somente de modo interior. Assim, para poder comunicar a cada pessoa a comunhão
salvífica com Deus, o Filho se fez carne (cf. Jo 1,14). É exatamente assumindo
a carne (cf. Rom 8,3; Heb 2,14; 1 Jo 4,2), e nascendo de uma mulher (cf. Gal
4,4), que «o Filho de Deus se fez filho do homem» [15] e,
também, nosso irmão (cf. Heb 2,14). Assim, entrando a fazer parte da família
humana, «uniu-se de certo modo a cada homem» [16] e
estabeleceu uma nova ordem nas relações com Deus, seu Pai, e com todos os
homens, na qual podemos ser incorporados para participar na sua própria vida.
Consequentemente, assumir a carne humana, longe de limitar a acção salvífica de
Cristo, permite-Lhe mediar de maneira concreta a salvação de Deus com todos os
filhos de Adão.
11. Concluindo, e
para responder, quer seja ao reducionismo individualista da tendência
pelagiana, quer seja ao reducionismo neo-gnóstico que promete uma libertação
interior, é necessário recordar o modo como Jesus é Salvador. Ele não se limitou
a mostrar-nos o caminho para encontrar Deus, isto é, um caminho que poderemos
percorrer por nós mesmos, obedecendo às suas palavras e imitando o seu exemplo.
Cristo, todavia, para abri-nos a porta da libertação, tornou-se Ele mesmo o
caminho: «Eu sou o caminho» (Jo 14,6). [17] Além
disso, esse caminho não é um percurso meramente interior, à margem das nossas
relações com os outros e com o mundo criado. Pelo contrário, Jesus ofereceu-nos
um «caminho novo e vivo que Ele abriu para nós através [...] da sua carne» (Heb
10,20). Enfim, Cristo é Salvador porque Ele assumiu a nossa humanidade integral
e viveu em plenitude a vida humana, em comunhão com o Pai e com os irmãos. A
salvação consiste em incorporar-se nesta vida de Cristo, recebendo o seu
Espírito (cf. 1 Jo 4,13). Assim, Ele tornou-se «em certo modo, o princípio de
toda graça segundo a humanidade». [18] Ele é, ao
mesmo tempo, o Salvador e a Salvação.
V. A Salvação na Igreja, corpo de Cristo
12. O lugar onde
recebemos a salvação trazida por Jesus é a Igreja, comunidade daqueles que,
tendo sido incorporados à nova ordem de relações inaugurada por Cristo, podem
receber a plenitude do Espírito de Cristo (cf. Rom 8,9). Compreender esta
mediação salvífica da Igreja é uma ajuda essencial para superar qualquer
tendência reducionista. De fato, a salvação que Deus nos oferece não é
alcançada apenas pelas forças individuais, como gostaria o neo-pelagianismo,
mas através das relações nascidas do Filho de Deus encarnado e que formam a
comunhão da Igreja. Além disso, uma vez que a graça que Cristo nos oferece não
é, como afirma a visão neo-gnóstica, uma salvação meramente interior, mas que
nos introduz nas relações concretas que Ele mesmo viveu, a Igreja é uma
comunidade visível: nela tocamos a carne de Jesus, de maneira singular nos
irmãos mais pobres e sofredores. Enfim, a mediação salvífica da Igreja,
«sacramento universal de salvação», [19] assegura-nos
que a salvação não consiste na auto-realização do indivíduo isolado, e, muito
menos, na sua fusão interior com o divino, mas na incorporação em uma comunhão
de pessoas, que participa na comunhão da Trindade.
13. Tanto a visão
individualista como a visão meramente interior da salvação contradizem a
economia sacramental, através da qual Deus quis salvar a pessoa humana. A
participação, na Igreja, à nova ordem de relações inauguradas por Jesus
realiza-se por meio dos sacramentos, entre eles, o Baptismo que é a porta, [20] e a Eucaristia que é fonte e culmine. [21] Assim, se vê, a inconsistência das pretensões de
auto-salvação, que contam apenas com as forças humanas. Pelo contrário, a fé
confessa que somos salvos por meio do Baptismo, que imprime o caráter indelével
de pertencer a Cristo e à Igreja, do qual deriva a transformação do nosso modo
concreto de viver as relações com Deus, com os homens e com a criação (cf. Mt
28,19). Assim, purificados do pecado original e de todo pecado, somos chamados
a uma nova vida em conformidade com Cristo (cf. Rom 6,4). Com a graça dos sete
sacramentos, os crentes continuamente crescem e se regeneram, sobretudo, quando
o caminho se torna mais difícil e as quedas não faltam. Quando eles pecam,
abandonam o amor por Cristo, podendo ser reintroduzidos, por meio do sacramento
da Penitência, à ordem das relações inaugurada por Jesus, para caminhar como
Ele caminhou (cf. 1 Jo 2,6). Desta forma, olhamos com esperança para o juízo
final, no qual cada pessoa será julgada pelo amor (cf. Rm 13,8-10),
especialmente pelos mais fracos (cf. Mt 25,31-46).
14. A economia
salvífica sacramental opõe-se ainda às tendências que propõem uma salvação
meramente interior. De facto, o gnosticismo está associado a um olhar negativo
sobre a ordem da criação, inclusive, como uma limitação da liberdade absoluta
do espírito humano. Consequentemente, a salvação é vista como libertação do
corpo e das relações concretas que a pessoa vive. Pelo contrário, como somos
salvos «por meio da oferta do corpo de Jesus Cristo» (Heb 10,10; cf. Col 1,22),
a verdadeira salvação, longe de ser libertação do corpo, compreende também a
sua santificação (cf. Rom 12,1). O corpo humano foi modelado por Deus, que nele
inscreveu uma linguagem que convida a pessoa humana a reconhecer os dons do
Criador e a viver em comunhão com os irmãos. [22] O
Salvador restabeleceu e renovou, com a sua Encarnação e o seu mistério pascal,
esta linguagem originária, e comunicou-a na economia corporal dos sacramentos.
Graças aos sacramentos, os cristãos podem viver fielmente à carne de Cristo e,
consequentemente, em fidelidade à ordem concreta das relações que Ele nos deu.
Esta ordem de relações requer, de maneira especial, o cuidado pela humanidade
sofredora de todos os homens, através das obras de misericórdia corporais e
espirituais. [23]
VI. Conclusão: comunicar a fé, esperando o Salvador
15. A consciência da
vida plena, na qual Jesus Salvador nos introduz, impulsiona os cristãos à
missão de proclamar a todos os homens a alegria e a luz do Evangelho. [24] Neste esforço, eles estarão também prontos para
estabelecer um diálogo sincero e construtivo com os crentes de outras
religiões, na confiança que Deus pode conduzir à salvação em Cristo «todos os
homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente». [25] Ao dedicar-se com todas as suas forças à evangelização,
a Igreja continua a invocar a vinda definitiva do Salvador, porque «na
esperança fomos salvos» (Rom 8,24). A salvação do homem será plena somente
quando, depois de ter vencido o último inimigo, a morte (cf 1 Cor 15,26),
participaremos plenamente da glória de Cristo ressuscitado, que leva à
plenitude a nossa relação com Deus, com os irmãos e com toda a criação. A
salvação integral, da alma e do corpo, é o destino final ao qual Deus chama
todos os homens. Fundamentados na fé, sustentados pela esperança, operantes na
caridade, seguindo o exemplo de Maria, a Mãe do Salvador e a primeira dos que
foram salvos, estamos certos de que nossa cidadania "está nos céus, de
onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transfigurará
o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso, com aquela energia
que o torna capaz de a si mesmo sujeitar todas as coisas"(Fil 3,20-21).
O Sumo Pontífice Francisco, no dia 16 de fevereiro
de 2018, aprovou esta Carta, decidida na Sessão Plenária desta Congregação no
dia 24 de janeiro de 2018, e ordenou a publicação.
Dado em Roma, na Sede da Congregação para a
Doutrina da Fé, no dia 22 de fevereiro de 2018, Festa da Cátedra de São Pedro.
+ Luis F. Ladaria, S.I.
Arcebispo titular de Thibica
Prefeito
+ Giacomo Morandi
Arcebispo titular de Cerveteri
Secretário
[1] Conc. Ecum. Vat.
II, Const. dogm. Dei Verbum, n. 2.
[2] Cf. Congregação para a
Doutrina da Fé, Decl. Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), nn. 5-8: AAS 92
(2000), 745-749.
[3] Cf. Francisco, Exort.
apost. Evangelii gaudium(24 de novembro de 2013), n. 67: AAS105 (2013), 1048.
[4] Cf. Id., Carta enc.
Lumen fidei (29 de junho de 2013), n. 47: AAS 105 (2013), 586-587; Exort.
apost. Evangelii gaudium, nn. 93-94: AAS (2013), 1059; Discurso aos representantes
do V Congresso nacional da Igreja italiana, Florença (10 de novembro de 2015):
AAS 107 (2015), 1287.
[5] Cf. Id., Discurso aos
representantes do V Congresso nacional da Igreja italiana, Florença (10 de
novembro de 2015): AAS 107 (2015), 1288.
[6] Cf. Id., Exort. apost.
Evangelii gaudium, n. 94: AAS105 (2013), 1059: «o fascínio do gnosticismo, uma
fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência
ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e
iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da
sua própria razão ou dos seus sentimentos»; Pontíficio Conselho para a Cultura
–– Pontifício Conselho para o diálogo Inter-religioso, Jesus Cristo, portador
da água viva. Uma reflexão cristã sobre a “New Age” (janeiro de 2003), Cidade
do Vaticano 2003.
[7] Francisco, Carta enc.
Lumen fidei , n. 47: AAS 105 (2013), 586-587.
[8] Cf. Id., Discurso aos
participantes da peregrinação da diocese de Brescia (22 de junho de 2013): AAS 95
(2013), 627: «neste mundo onde nega-se o homem, onde se prefere andar na
estrada do gnosticismo, [...] do “sem carne” – um Deus que não se fez carne
[...]».
[9] De acordo com a heresia
Pelagiana, desenvolvida durante o século V ao redor de Pelágio, o homem, para
cumprir os mandamentos de Deus e ser salvo, precisa da graça apenas como um
auxílio externo à sua liberdade (como luz, exemplo, força), mas não como uma
sanação e regeneração radical da liberdade, sem mérito prévio, para que ele
possa realizar o bem e alcançar a vida eterna.
Mais complexo é o movimento gnóstico, surgido nos
séculos I e II, que manifestou-se de formas muito diferentes. Em geral, os
gnósticos acreditavam que a salvação é obtida através de um conhecimento
esotérico ou "gnose". Esta gnose revela ao gnóstico sua essência
verdadeira, isto é, uma centelha do Espírito divino que habita em sua
interioridade, que deve ser libertada do corpo, estranho à sua verdadeira
humanidade. Somente assim o gnóstico retorna ao seu ser originário em Deus, de
quem ele afastou-se pela queda original.
[10] Cf. Tomás, Summa
theologiae, I-II, q. 2.
[11] Cf. Agostinho,
Confissões, I, 1: Corpus Christianorum, 27,1.
[12] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, n. 22.
[13] Comissão Teológica
Internacional, Algumas questões sobre a teologia da redenção, 1995, n. 2.
[14] Bento XVI, Carta enc.
Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), n. 1: AAS 98 (2006), 217; cf.
Francisco, Exort. apost. Evangelii gaudium, n. 3: AAS 105 (2013), 1020.
[15] Irineu, Adversus haereses, III, 19,1: Sources Chrétiennes, 211,
374.
[16] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, n. 22.
[17] Cf. Agostinho,
Tractatus in Ioannem, 13, 4: Corpus Christianorum, 36, 132: «Eu sou o caminho,
a verdade e a vida (Jo 14, 6). Se você busca a verdade, siga o caminho; porque
o caminho é o mesmo que a verdade. A meta que se busca e o caminho que se deve
percorrer, são a mesma coisa. Não se pode alcançar a meta seguindo um outro
caminho; por outro caminho não se pode alcançar a Cristo: a Cristo se pode
alcançar somente através de Cristo. Em que sentido se chega a Cristo através de
Cristo? Se chega a Cristo Deus através de Cristo homem; por meio do Verbo feito
carne se chega ao Verbo que era no princípio Deus junto a Deus.
[18] Tomás, Quaestio de
veritate, q. 29, a. 5, co.
[19] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 48.
[20] Cf. Tomás, Summa theologiae, III, q. 63, a. 6.
[21] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 11;
Const. Sacrosanctum Concilium, n.
10.
[22] Cf. Francisco, Carta
enc. Laudato si’ (24 de maio de 2015), n. 155: AAS 107 (2015), 909-910.
[23] Cf. Id., Carta apost.
Misericordia et misera (20 de novembro de 2016), n. 20: AAS 108 (2016),
1325-1326.
[24] Cf. João Paulo II,
Carta enc. Redemptoris missio (7 de dezembro de 1990), n.40: AAS 83 (1991),
287-288; Francisco, Exort. apost. Evangelii gaudium, nn. 9-13: AAS105
(2013), 1022-1025.
[25] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, n. 22.
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