Este pequeno livro, cheio de vigor e ciência, tem atraído a atenção dos estudiosos sobretudo a partir do século XVI, e suas afirmações têm sido levadas em conta nos momentos de confusão doutrinal, desde as polêmicas entre protestantes e católicos do século XVII até a crise modernista, porque nele se encontra um excelente testemunho cristão e resposta ante os riscos do ceticismo e do relativismo teológico. Com efeito, os temas chave do tratado são: fidelidade à Tradição e progresso dogmático.
O Comonitório é um dos livros que mais história tem deixado sobre si. Hoje passam de 150 edições e traduções em diversas línguas. A palavra Comonitório (Commonitorium), bastante frequente com o título de obras naquela época, significa notas ou apontamentos postos por escrito para ajudar à memória, sem pretensões de compor um tratado exaustivo.
Nesta obra, São Vicente de Lerins se propôs facilitar, com exemplos da Tradição e da história da Igreja, os critérios para conservar intacta a verdade católica. Não recorre a um método complicado. As regras que oferece para distinguir a verdade do erro podem ser conhecidas e aplicadas por todos os cristãos de todos os tempos, pois se resumem em uma excelente fidelidade à Tradição viva da Igreja. O Comonitório constitui uma joia da literatura patrística. Seu ensinamento fundamental é que os cristãos devem crer quod semper, quod ubique, quod ad ómnibus: somente e tudo quanto foi crido sempre, por todos e em todas as partes. Vários Papas e Concílios confirmaram com sua autoridade a validade perene desta regra de fé. Segue sendo plenamente atual este pequeno livro escrito em uma ilha da França, há mais de quinze séculos.
São Vincente de Lerins - Sabemos pouco sobre a vida de São Vicente de Lerins. Foi um Padre da Igreja do século V. Se possuem escassos dados sobre sua vida; apenas os de uma breve notícia que lhe dedica o marselhês Genádio (De viris illustribus, 64; PL58,1097-98) e os que se desprendem de sua obra mais importante: o Comonitório.
Era de origem francesa, ainda que se ignore seu local de nascimento e onde passou sua vida, somente que, se fez religioso uma vez “afugentados os ventos da vaidade e da soberba, aplacando a Deus com o sacrifício da humildade cristã”. Teve um passado tempestuoso, como parece deduzir-se de certa alusão que faz em um de seus livros? Não é seguro, possivelmente a ênfase que põe em suas palavras deve-se porem conta a severidade com que os santos costumam julgar-se a si mesmos. O que sim é induvidável é que foi um homem muito douto nas Escrituras e nos dogmas e com profundos conhecimentos das letras clássicas.
Sacerdote no mosteiro da ilha de Lerins (chamada hoje de São Honorato), como o pseudônimo de Peregrino compôs um tratado contra os hereges. Genádio narra também que é autor de outra obra de tema análogo, cujo manuscrito foi roubado, e que elaborou um breve resumo, que foi conservado. Morreu no reinado de Teodósio e Valentiniano, pouco antes de 450. O Comonitório foi escrito três anos depois do Concílio de Éfeso, ou seja, em 434. Somente duas obras lhe são atribuídas com certeza: O Commonitorium primum, cujo título mais antigo é De Peregrino em favor da antiguidade e universalidade da fé católica contra as profanas novidades de todos os hereges, e o Commonitorium secundum, recapitulação do livro que foi roubado. Lhe é atribuído também uma outra intitulada Objectiones lerinianae, cujo conteúdo conserva Próspero de Aquitana (Pro Augustino responsiones al capitula objectionum vicentianarum: PL 51,177-186), e um florilégio de frases de Santo Agostinho concernentes ao mistério da Santíssima Trindade e da Encarnação, que conserva o Cód. 151 de Ripoll sob o seguinte título: Excerpta sanctae memoriae Vicentiilirinensis insulae presbyteri ex universo beatae recordations Augustini in unumcollecta.
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