Eu esqueci da pelada com os amiguinhos, esqueci de
tudo. Na escola, em casa, na rua, ficava só pensando no que eu vira, naquele homem
deslizando no ar, falando com peixes que não existiam, que desaparecia nas águas
dum laguinho raso!
Nada disso podia ter existido, acontecido, mas eu
não podia duvidar de ter visto!
Passei uns dois dias nesse pasmo de que não podia
sair, quando descobri que ele estava morando na minha rua! Três números abaixo
do meu, na pensão de Dona Firmina!
Foi assim:
eu
ia caminhando pela calçada, absorto em meus pensamentos, olhando para a calçada
e a ponta de meus pés indo e vindo à minha frente, quando literalmente esbarrei
com ele.
Um homem alto, vestindo sobretudo marrom, chapéu
de feltro, rosto quadrado, severo, que olhava pra mim. Ele usava o guarda-chuva
como se fosse uma bengala, mas sem precisar de apoio, na verdade.
Não o reconheci de pronto, mas quando ele disse:
- Já não era sem tempo!
...percebi
que era ele!
- Porque me olha assim? disse ele, severo, mas com
uma nota de carinho na voz.
- É que eu... o senhor... Eu o vi descendo do céu!
- Sim, sim, as coisas que uma pessoa vê! Agora,
pare com essa cara de pasmo por um momento e me escute: estou indo visitar um
tio meu e gostaria que viesses comigo. Queres vir?
- Eu não sei...
- Não tens tanto tempo assim para perder a pensar.
- Sim, eu quero... disse eu, tremendo de medo.
Ele me deu a mão, grande e forte e disse: Não
tenhas medo, que estou contigo.
E deixei-me guiar por ele.
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