CAPÍTULO XV
Paramos em frente a uma enorme casa, algo
sombria. Eram quatro andares de casa e uma torre com terraço.
Meu tio disse:
- Porta, o primo de Borge
está em casa?
E a porta respondeu: Só um
minuto, sr. Pleffel que vou ver.
A porta se foi para dentro
da casa e depois de algum tempo, voltou: Seu primo o aguarda na biblioteca, sr.
Pleffel.
- Obrigado, querida.
Ela então abriu-se para nós
e entramos.
CAPÍTULO XVI
Tio Pavel caminhou com
segurança pela casa enorme, subindo escadas e percorrendo corredores
intermináveis até chegar diante de uma grande porta dupla de mandeira negra,
toda esculpida com mil figuras bonitas.
Abriu-a e entramos em
enorme salão, obviamente uma biblioteca. As vastas paredes eram cobertas por
livros e livros emplhavam-se no chão e sobre meses.
Numa grande mesa, próxima
a larga janela, uma coruja velha debruçava-se sobre grandes volumes.
Levantou os olhos para nós
e, reconhecendo o tio, piscou seus grandes olhos amarelos e exclamou, toda
feliz:
- Pavel Pleffel!
- Primo de Borge!
A coruja voou até ele e o
abraçou.
- Como estás, primo? disse
ela.
- Muitíssimo bem! Vejo que
tens livros novos!
- Oh, sim! Tanto para ler,
para aprender! E quem é esse menino?
- Meu amigo Sérgio.
- Bem vindo à minha
humilde casinha, Sérgio!
- Nossa! O sr. Deve saber
um monte de coisas, se leu tudo isso!
- Ler é a mais rápida e indolor
forma de aprender, sim, e de fato sei alguma coisinha. Houve um tempo em que
meus conselhos auxiliaram bastante Athenas.
- Quem?
- Uma deusa de tempos
idos.
- O sr. Conheceu uma
deusa?
- Conheci de tudo um pouco
em minha longa vida! O mago Merlin, por exemplo! Era o único capaz de vencer-me
no jogo de xadrez!
- O mago Merlin?
- E o rei Artur e sua
turma!
- Nossa! O sr. deve ter tido
uma vida maravilhosa!
- “Tido”? retrucou a
coruja. Mas ainda a tenho! Olhe estes livros! E tenho minha família e meus
amigos!
- Desculpe, eu quiz
dizer...
A coruja voou até mim e
abraçou-me: eu sei o que quizeste dizer.
- Mas é bom teres em mente que a vida é um rio a
correr, disse o tio. O rio corre e nunca perde o que passou, mas ajunta com o
que está vindo e o que depois virá.
- E assim aprendemos, continuou a coruja. Mas
talvez este pensamento seja grande demais para ti, agora, menino Sérgio.
- Mas é bom lembrar que nada é para sempre e tudo é
para sempre.
- Não forçe demais o menino, Pavel! Ele ainda tem
muito que aprender.
Curioso como, naquele tempo, eu realmente não
endendia do que falavam, mas hoje, vendo meus filhos, tenho a mesma tendência a
falar com eles como o tio e a coruja falaram.
Percebo que nas palavras deles havia embutido um
amor profundo por mim, mesmo eu sendo incapaz de entende-lo, na altura.
Deixamos a casa de de Borge já noite e minha mãe
estava muito preocupada pelo horário em que chegara em casa. Ela nunca conheceu
o tio Pavel, que foi sempre uma experiência minha.
Ela havia contatado meus amigos naquela noite em
que tardei e eles lhe disseram que eu estava sempre com um homem estranhíssimo,
coberto por um sobretudo marrom, apesar do calor, sempre carregando um
guarda-chuva negro, apesar de nunca ter chovido naqueles dias. Um homem que
nunca sorria, mas que, quando tentava faze-lo, fazia flores florirem nas
nuvens.
Quando cheguei em casa,
ela quiz saber quem esse homem era e ficou muito difícil para mim explicá-lo. Como
explicar alguém que nos leva ao céu? Que tem uma coruja imortal por primo? Mesmo
hoje, eu não sei explicar o tio.
Mas na preocupação de
minha mãe naquela noite, eu comprendi que também ela me amava e como eu estava
errado em meus sentimentos.
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