Saturday 1 November 2014

"O Sorriso do Tio Pavel Pleffel" (Chapters XV and XVI) by José Thiesen (in Portuguese)



CAPÍTULO XV

            Paramos em frente a uma enorme casa, algo sombria. Eram quatro andares de casa e uma torre com terraço.
            Meu tio disse:
            - Porta, o primo de Borge está em casa?
            E a porta respondeu: Só um minuto, sr. Pleffel que vou ver.
            A porta se foi para dentro da casa e depois de algum tempo, voltou: Seu primo o aguarda na biblioteca, sr. Pleffel.
            - Obrigado, querida.
            Ela então abriu-se para nós e entramos.


CAPÍTULO XVI

             Tio Pavel caminhou com segurança pela casa enorme, subindo escadas e percorrendo corredores intermináveis até chegar diante de uma grande porta dupla de mandeira negra, toda esculpida com mil figuras bonitas.
            Abriu-a e entramos em enorme salão, obviamente uma biblioteca. As vastas paredes eram cobertas por livros e livros emplhavam-se no chão e sobre meses.
            Numa grande mesa, próxima a larga janela, uma coruja velha debruçava-se sobre grandes volumes.
            Levantou os olhos para nós e, reconhecendo o tio, piscou seus grandes olhos amarelos e exclamou, toda feliz:
            - Pavel Pleffel!
            - Primo de Borge!
            A coruja voou até ele e o abraçou.
            - Como estás, primo? disse ela.
            - Muitíssimo bem! Vejo que tens livros novos!
            - Oh, sim! Tanto para ler, para aprender! E quem é esse menino?
            - Meu amigo Sérgio.
            - Bem vindo à minha humilde casinha, Sérgio!
            - Nossa! O sr. Deve saber um monte de coisas, se leu tudo isso!
            - Ler é a mais rápida e indolor forma de aprender, sim, e de fato sei alguma coisinha. Houve um tempo em que meus conselhos auxiliaram bastante Athenas.
            - Quem?
            - Uma deusa de tempos idos.
            - O sr. Conheceu uma deusa?
            - Conheci de tudo um pouco em minha longa vida! O mago Merlin, por exemplo! Era o único capaz de vencer-me no jogo de xadrez!
            - O mago Merlin?
            - E o rei Artur e sua turma!
            - Nossa! O sr. deve ter tido uma vida maravilhosa!
            - “Tido”? retrucou a coruja. Mas ainda a tenho! Olhe estes livros! E tenho minha família e meus amigos!
            - Desculpe, eu quiz dizer...
            A coruja voou até mim e abraçou-me: eu sei o que quizeste dizer.
- Mas é bom teres em mente que a vida é um rio a correr, disse o tio. O rio corre e nunca perde o que passou, mas ajunta com o que está vindo e o que depois virá.
- E assim aprendemos, continuou a coruja. Mas talvez este pensamento seja grande demais para ti, agora, menino Sérgio.
- Mas é bom lembrar que nada é para sempre e tudo é para sempre.
- Não forçe demais o menino, Pavel! Ele ainda tem muito que aprender.
Curioso como, naquele tempo, eu realmente não endendia do que falavam, mas hoje, vendo meus filhos, tenho a mesma tendência a falar com eles como o tio e a coruja falaram.
Percebo que nas palavras deles havia embutido um amor profundo por mim, mesmo eu sendo incapaz de entende-lo, na altura.
Deixamos a casa de de Borge já noite e minha mãe estava muito preocupada pelo horário em que chegara em casa. Ela nunca conheceu o tio Pavel, que foi sempre uma experiência minha.
Ela havia contatado meus amigos naquela noite em que tardei e eles lhe disseram que eu estava sempre com um homem estranhíssimo, coberto por um sobretudo marrom, apesar do calor, sempre carregando um guarda-chuva negro, apesar de nunca ter chovido naqueles dias. Um homem que nunca sorria, mas que, quando tentava faze-lo, fazia flores florirem nas nuvens.
            Quando cheguei em casa, ela quiz saber quem esse homem era e ficou muito difícil para mim explicá-lo. Como explicar alguém que nos leva ao céu? Que tem uma coruja imortal por primo? Mesmo hoje, eu não sei explicar o tio.
            Mas na preocupação de minha mãe naquela noite, eu comprendi que também ela me amava e como eu estava errado em meus sentimentos.

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