Sunday, 16 November 2014

"O Sorriso do Tio Pavel Pleffel" (final) by José Thiesen (in Portuguese)



XVII

            Lembro-me perfeitamente: foi numa tarde fria mas ensolarada de inverno e, se hoje consigo recordar-me dele, naquela tarde, simplesmente não o vi: um carro vermelho, de luxo, que me atingiu quando atravessava a rua a correr para encontrar-me com tio Pavel e falar-lhe de meu amor por minha mãe.
            Acordei três dias depois, num quarto de hospital.
            Tio Pavel foi a primeira pessoa que vi. Claro, ele estava acima de qualquer “não pode”, mesmo um dito por um médico.
            Ele pôz sua mãe em minha testa e perguntou: estás bem?
            - Sinto sede...
            Ele deu-me um copo de água e disse: agora sei que viverás.
            Mas eu estava ainda muito mal e voltei a dormir.

XVIII

            Acordei outras vezes e fui melhorando, melhorando.
            Todos os dias tinha visita de amigos, familiares, vizinhos e teve um dia em que um rapaz ruivo que não conhecia, veio visitar-me.
            - Menino Sérgio, disse ele?
            - Sim.
            - Não te lembras de mim? Sou Carlos, o gato que encontraste em casa de tio Clóvis.
            - Mas não és mais gato?
            - Não mais! Voltei a ser gente! disse ele num sorriso largo e bonito. Mas a minha é uma história muito longa e não cá vim para contá-la, mas sim, falar-te de Pavel Pleffel!
            Ergui-me e sentei na cama, todo ouvidos, porque, sim, desde aquele meu primeiro despertar no hospital, jamais voltara a ver tio Pavel!
            - Teu, nosso tio Pavel não está mais por aqui. Teve que ir-se sem dizer adeus. Compreendes? Finalmente aconteceu: Pavel Pleffel sorriu! Ficou tão feliz com tua recuperação que sorriu e por causa disso, nada mais será como antes! Com o sorriso de Pavel Pleffel, tudo muda e as coisas precisam voltar ao normal, como eu mesmo!
            - Mas onde ele está?
            - Está na terra do Dragão Branco, o que é muito longe de aqui.
            - Voltarei a vê-lo?
            - Tudo é possível de acontecer!


EPÍLOGO
           
            Mas nunca mais revi o tio Pavel. Talvez ele esteja voltando, não sei.
            Seja como for, jamais o esqueci e, todos os dias, de alguma forma, sei que ele está comigo. De alguma forma, eu lhe trouxe sorte; de alguma forma, ele me trouxe sorte.
            Nós dois aprendemos a sorrir e a manter nossos sorrisos. Eu, pelo menos, sim, reconciliado com minha mãe.
            Um dia nos voltaremos a encontrar. Quando tudo estiver em seu lugar, voltaremos a nos encontrar e eu o verei com seu sorriso, o sorriso mais lindo, como somente ele pode ter.
            Até lá, vejo meus filhos crescerem e procuro ensinar-lhes tudo o que sei; eles, que ainda tem tanto a aprender!


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