Oceano terrível, mar imenso
De vagas procelosas que se
enrolam
Floridas rebentando em
branca espuma
Num pólo e noutro pólo,
Enfim... enfim te vejo;
enfim meus olhos
Na indômita cerviz trêmulos
cravo,
E esse rugido teu sanhudo e
forte
Enfim medroso escuto!
Donde houveste, ó pélago
revolto,
Esse rugido teu? Em vão dos
ventos
Corre o insano pegão
lascando os troncos,
E do profundo abismo
Chamando à superfície
infindas vagas,
Que avaro encerras no teu
seio undoso;
Ao insano rugir dos ventos
bravos
Sobressai teu rugido.
Em vão troveja horríssona
tormenta;
Essa voz do trovão, que os
céus abala,
Não cobre a tua voz. - Ah!
donde a houveste,
Majestoso oceano?
Ó mar, o teu rugido é um
eco incerto
Da criadora voz, de que
surgiste:
Seja, disse; e tu foste, e
contra as rochas
As vagas competiste.
E à noite, quando o céu é
puro e limpo,
Teu chão tinges de azul, -
tuas ondas correm
Por sobre estrelas mil;
turvam-se os olhos
Entre dois céus brilhantes.
Da voz de Jeová um eco
incerto
Julgo ser teu rugir; mas
só, perene,
Imagem do infinito,
retratando
As feituras de Deus.
Por isto, a sós contigo, a
mente livre
Se eleva, aos céus remonta
ardente, altiva,
E deste lodo terreal se
apura,
Bem como o bronze ao fogo.
Férvida a Musa, co’os teus
sons casada,
Glorifica o Senhor de sobre
os astros
Co’a fronte além dos céus,
além das nuvens,
E co’os pés sobre ti.
O que há mais forte do que
tu? Se eriças
A coma perigosa, a nau
possante,
Extremo de artifício, em
breve tempo
Se afunda e se aniquila.
És poderoso sem rival na
terra;
Mas lá te vais quebrar num
grão d’areia,
Tão forte contra os homens,
tão sem força
Contra coisa tão fraca!
Mas nesse instante que me
está marcado,
Em que hei de esta prisão
fugir p’ra sempre
Irei tão alto, ó mar, que
lá não chegue
Teu sonoro rugido.
Então mais forte do que tu,
minha alma,
Desconhecendo o temor, o
espaço, o tempo,
Quebrará num relance o
circ’lo estreito
Do finito e dos céus!
Então, entre miríades de
estrelas,
Cantando hinos d’amor nas
harpas d’anjos,
Mais forte soará que as
tuas vagas,
Mordendo a fulva areia;
Inda mais doce que o
singelo canto
De merencória virgem,
quando a noite
Ocupa a terra, - e do que a
mansa brisa,
Que entre flores suspira.
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