Thursday 18 April 2024

Thursday's Serial: "Os Exercícios Espirituais" by Saint Ignatius of Loyola (translated into Portuguese) - V

 QUARTA SEMANA

A. CONTEMPLAÇÃO DA RESSURREIÇÃO APARIÇÃO POR APARIÇÃO

218 Primeira Contemplação, como Cristo nosso Senhor apareceu à Nossa Senhora [299].

Oração preparatória. A habitual [46].

219 Primeiro preâmbulo. História, que é aqui como, depois que Cristo expirou na cruz, e o corpo ficou separado da alma e com ele sempre unida a divindade, a alma bemaventurada desceu aos infernos, também unida com a divindade; de onde tirou as almas justas, e veio ao sepulcro, e, ressuscitado, apareceu a Sua bendita Mãe, em corpo e alma.

220 Segundo preâmbulo. Composição, vendo o lugar, que será aqui, ver a disposição do santo sepulcro e o lugar ou casa de nossa Senhora, observando as suas diversas partes, em particular; assim como o quarto, oratório, etc.

221 Terceiro preâmbulo. Pedir o que quero; e será aqui pedir graça para me alegrar e gozar intensamente de tanta glória e gozo de Cristo nosso Senhor.

222 O primeiro, segundo e terceiro pontos sejam os habituais, os mesmos que tivemos na Ceia de Cristo nosso Senhor [194].

223 Quarto ponto. Considerar como a divindade, que parecia esconder-se na Paixão, aparece e se mostra agora, tão miraculosamente, na santíssima Ressurreição, pelos verdadeiros e santíssimos efeitos dela.

224 Quinto ponto. Reparar no ofício de consolar que Cristo nosso Senhor traz e comparálo com o modo como os amigos se costumam consolar uns aos outros [54].

225 Colóquio. Segundo a matéria proposta, e um Pai nosso.

 

INDICAÇÕES TÉCNICAS

226 Primeira nota. Nas contemplações seguintes proceda-se em todos os mistérios da Ressurreição até à Ascensão inclusive [299-312], da maneira que abaixo se segue [226, 34]; no restante, siga-se e tenha-se, em toda a semana da Ressurreição, a mesma forma e maneira de proceder que se observou em toda a semana da Paixão. De sorte que, por esta primeira contemplação da Ressurreição, se regule quanto aos preâmbulos, conforme a matéria proposta; e quanto aos cinco pontos, sejam os mesmos; e as adições, que estão abaixo, sejam as mesmas [229].

E assim, em tudo o que resta [227], pode regular-se pela maneira de fazer da semana da Paixão, por exemplo, nas repetições, aplicações dos cinco sentidos, encurtar ou alargar os mistérios, etc. [204,2; 205; 208-209].

227 Segunda nota. Geralmente, nesta quarta semana, é mais conveniente que nas outras três passadas, fazer quatro exercícios e não cinco. O primeiro, logo ao levantar, pela manhã; o segundo, à hora da Missa, ou antes, do almoço, em lugar da primeira repetição; o terceiro, à hora de Vésperas, em lugar da segunda repetição; o quarto antes do jantar, aplicando os cinco sentidos sobre os três exercícios do mesmo dia, notando e fazendo pausa nas partes mais importantes e onde haja sentido maiores moções e gostos espirituais.

228 Terceira nota. Ainda que em todas as contemplações se deram pontos em número determinado, por exemplo, três ou cinco, etc., a pessoa que contempla pode tomar mais ou menos pontos, como melhor achar. Para o que muito aproveita que, antes de entrar na contemplação, preveja e determine, em número certo, os pontos que há de tomar.

229 Quarta nota. Nesta quarta semana, em todas as dez adições, se mudarão a segunda, a sexta, a sétima e a décima.

A segunda será, logo ao despertar, pôr diante de mim a contemplação que tenho de fazer, querendo-me sensibilizar e alegrar por tanto gozo e alegria de Cristo nosso Senhor [221].

A sexta, trazer à memória e pensar em coisas que causem prazer, alegria e gozo espiritual, como, por exemplo, a glória.

A sétima, usar de claridade e de temperaturas agradáveis, como, no verão, de frescura, e no inverno, de sol ou de calor, na medida em que a alma pensa ou conjectura que isso a pode ajudar, para se alegrar em seu Criador e Redentor.

A décima, em vez da penitência, observe a temperança e a justa medida em tudo, a não ser em preceitos de jejuns ou abstinências que a Igreja mande; porque estes sempre se hão de cumprir, se não houver justo impedimento.

 

B. CONTEMPLAÇÃO GLOBAL EM CHAVE DE AMOR

230 Contemplação para alcançar amor.

Nota: primeiro convém atender a duas coisas. A primeira é que o amor se deve pôr mais nas obras que nas palavras.

231 A segunda é que o amor consiste na comunicação recíproca, a saber, em dar e comunicar a pessoa que ama à pessoa amada o que tem ou do que tem ou pode; e, viceversa, a pessoa que é amada à pessoa que ama; de maneira que, se um tem ciência, a dê ao que a não tem, e do mesmo modo quanto a honras ou riquezas; e assim em tudo reciprocamente, um ao outro.

Oração preparatória. A habitual [46].

232 Primeiro preâmbulo. Composição, que é aqui ver como estou diante de Deus nosso Senhor, dos anjos, e dos santos a intercederem por mim.

233 Segundo preâmbulo. Pedir o que quero; será aqui pedir conhecimento interno de tanto bem recebido, para que eu, reconhecendo-o inteiramente, possa, em tudo, amar e servir a sua divina majestade.

234 Primeiro ponto. Trazer à memória os benefícios recebidos de criação, redenção e os dons particulares, ponderando, com muito afeto, quanto tem feito Deus nosso Senhor por mim e quanto me tem dado do que tem e, conseqüentemente, o mesmo Senhor deseja darse-me, em quanto pode, segundo seu desígnio divino. E, depois disto, refletir em mim mesmo, considerando, com muita razão e justiça, o que eu devo, de minha parte, oferecer e dar a sua divina majestade, a saber, todas as minhas coisas e a mim mesmo com elas, como quem oferece, com muito afeto: Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me o vosso amor e graça que me bastam.

235 Segundo ponto. Considerar como Deus habita nas criaturas: nos elementos dando-lhes o ser, nas plantas o vegetar, nos animais o sentir, nos homens o entender; e, assim, em mim dando-me ser, vida, sentidos e fazendo-me entender. E também como faz de mim seu templo, sendo eu criado à semelhança e imagem de sua divina majestade. Refletir igualmente em mim mesmo, pelo modo que está dito no primeiro ponto, ou por outro que julgar melhor. Da mesma maneira se fará sobre cada ponto que segue.

236 Terceiro ponto. Considerar como Deus trabalha e opera por mim em todas as coisas criadas sobre a face da terra, isto é, procede à semelhança de quem trabalhasse. Por exemplo, nos céus, nos elementos, nas plantas, nos frutos, nos animais, etc., dando-lhes ser, conservação, vegetação e sensação, etc. Depois, refletir em mim mesmo.

237 Quarto ponto. Atender como todos os bens e dons descem do alto, por exemplo, como o meu limitado poder vem do sumo e infinito poder do alto, e bem assim, a justiça, a bondade, a piedade, a misericórdia, etc., tal como do sol descem os raios, da fonte as águas, etc. Depois, acabar, refletindo em mim mesmo, como está dito. Terminar com um colóquio e um Pai nosso.

 

C. ACHEGAS PARA A REFORMA DE VIDA

TRÊS MODOS DE ORAR

PRIMEIRO MODO DE ORAR

238 A primeira maneira de orar é sobre os dez mandamentos e os sete pecados mortais, as três potências da alma, e os cinco sentidos corporais. Esta maneira de orar consiste mais em dar forma, modo e exercícios com que a alma se prepare e tire proveito deles e para que a oração seja aceite do que dar uma forma ou maneira de fazer oração.

239 Primeiro. Faça-se o equivalente à segunda adição da segunda semana [131; 130,2; 75], a saber, antes de entrar na oração, repouse, um pouco, o espírito, assentando-se ou passeando, como melhor lhe parecer, considerando aonde vou e a quê. E esta mesma adição se fará ao princípio de todos os modos de orar [250, 258].

240 Uma oração preparatória. como por exemplo, pedir graça a Deus nosso Senhor, para que possa conhecer no que faltei aos dez mandamentos; e, também pedir graça e ajuda para doravante me emendar, pedindo perfeita inteligência deles, para melhor os guardar e para maior glória e louvor de sua divina Majestade.

241 Para o primeiro modo de orar, convém considerar e pensar, no primeiro mandamento, como o tenho guardado e em que tenho faltado; tendo como norma demorar nesta consideração o tempo de quem reza três pai nossos e três ave-marias. E se, neste tempo, acho faltas minhas, pedir vênia e perdão delas, e dizer um Pai Nosso. E, desta mesma maneira se faça em cada um de todos os dez Mandamentos.

242 Primeira nota. É de notar que, quando uma pessoa vier a pensar num mandamento no qual acha que não tem hábito nenhum de pecar, não é necessário que se detenha tanto tempo. Mas, conforme a pessoa acha que tropeça mais ou menos num mandamento, assim deve deter-se mais ou menos na consideração e exame dele. E o mesmo se observe nos pecados mortais.

243Segunda nota. Depois de terminar a reflexão, como já se disse, sobre todos os Mandamentos, acusando-se neles e pedindo graça e ajuda para se emendar no futuro, há de acabar-se com um colóquio a Deus nosso Senhor, conforme a matéria proposta [257].

244 Segundo. Sobre os pecados capitais. Sobre os sete pecados mortais [238], depois da adição [239], faça-se a oração preparatória, pela maneira já indicada [240], mudando só a matéria que aqui é de pecados que se hão de evitar, e antes era de mandamentos que se hão de guardar. Guarde-se igualmente a ordem e a regra já indicadas e o colóquio [241-243].

245 Nota. Para melhor conhecer as faltas cometidas nos pecados mortais, considerem-se os seus contrários. E, assim, para melhor evitá-los, proponha e procure a pessoa, com santos exercícios, adquirir e ter as sete virtudes a elas contrárias.

246 Terceiro. Sobre as potências da alma. Modo. Nas três potências da alma, observe-se a mesma ordem e regra que nos mandamentos, fazendo a adição, a oração preparatória e o colóquio [239-243].

247 Quarto. Sobre os cinco sentidos corporais. Modo. Nos cinco sentidos corporais ter-seá sempre a mesma ordem, mudando-se a matéria.

248 Nota. Quem quer imitar, no uso de seus sentidos, a Cristo nosso Senhor, encomende-se na oração preparatória a sua divina majestade e, depois de ter considerado em cada sentido, diga uma ave-maria ou um pai-nosso; e quem quiser imitar, no uso dos sentidos, a nossa Senhora, na oração preparatória encomende-se a ela, para que lhe alcance graça de seu Filho e Senhor para isso e, depois de ter considerado em cada sentido, diga uma Ave Maria.

 

SEGUNDO MODO DE ORAR

249 é contemplar a significação de cada palavra da oração.

250 A mesma adição que se fez no primeiro modo [239], se fará neste segundo.

251 A oração preparatória [240], far-se-á conforme a pessoa a quem se dirige a oração.

252 O segundo modo de orar é que a pessoa, estando de joelhos ou sentada, conforme ache melhor disposição e encontre mais devoção, tendo os olhos fechados ou fixos num lugar, sem andar vagueando com eles, diga: Pai. E esteja na consideração desta palavra, tanto tempo quanto ache significações, comparações, gostos e consolação em considerações pertinentes a essa palavra. E faça da mesma maneira em cada palavra do Pai nosso ou de qualquer outra oração que desta maneira quiser orar.

253 A primeira regra. Estará, da maneira já dita, uma hora em todo o Pai Nosso. Acabado este, dirá uma Ave-maria, um Credo, uma Alma de Cristo e uma Salve Rainha, vocal ou mentalmente, segundo a maneira habitual.

254 A segunda regra. Se a pessoa que contempla o Pai Nosso achar, numa palavra ou em duas, boa matéria para pensar e gosto e consolação, não se preocupe com passar adiante, ainda que se acabe a hora naquilo que acha [76,3]. Terminada esta, dirá o resto do Pai Nosso da maneira habitual.

255 A terceira regra. Se numa palavra ou duas do Pai Nosso se detiver durante uma hora inteira, noutro dia, quando quiser voltar à oração, diga a palavra ou palavras já oradas, conforme costuma, e, comece a contemplar na palavra que se lhe segue imediatamente, como se disse na segunda regra [254].

256 Primeira nota. É de advertir que acabado o Pai Nosso, num ou em muitos dias, se há de fazer o mesmo com a ave-maria e, depois, com as outras orações, de forma que, por um certo tempo, sempre se exercite numa delas.

257 Segunda nota. Acabada a oração, dirigindo-se, em poucas palavras, à pessoa a quem orou, lhe peça as virtudes ou graças de que julga ter mais necessidade.

 

TERCEIRO MODO DE ORAR

258 Será por compasso de respiração. A adição será a mesma que no primeiro e segundo modo de orar [239, 250]. A oração preparatória será como no segundo modo de orar [251, 240]. O terceiro modo de orar é que, a cada alento ou respiração, se há de orar mentalmente, dizendo uma palavra do Pai Nosso ou de outra oração que se reze, de maneira que se diga uma só palavra entre uma respiração e outra; e, durante o tempo duma respiração à outra, se atenda principalmente à significação dessa palavra, ou à pessoa a quem reza, ou à baixeza de si mesmo, ou à diferença entre tanta alteza e tanta baixeza própria; com a mesma forma e regra procederá nas outras palavras do Pai Nosso; e as outras orações, a saber, ave-maria, Alma de Cristo, Credo e salve-rainha, as rezará como costuma.

259 Primeira regra. No dia seguinte, ou noutra hora que deseje orar, diga a Ave Maria por compasso, e as outras orações, como costuma; e assim sucessivamente proceda nas outras orações.

260 Segunda regra. Quem quiser deter-se mais na oração por compasso, pode dizer todas as orações sobreditas ou parte delas, seguindo a mesma maneira da respiração por compasso, como está explicado [258].

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