Canto XIX
Havia ainda alguma luz no mundo, um vermelho terroso sumindo no horizonte.
As galinhas já se empoleiravam nos ramos do limoeiro que ficava mais ou menos no centro do pátio lajeado.
Depois do jantar eu saira para o beber um pouco de crepúsculo. Quase dois anos em Rimini.
Fui até o portão que dava para a estrada.
Somente o percebi quando ele pisou um ramo, lá para o lado das sombras. Senti medo mas não corri.
Nun italiano atrapalhado ele perguntou "essa é a casa da família Guglielmini?"
Escondi-me como pude, mudei a voz e respondi: sim.
- Procuro um homem, um estrangeiro.
- Hum. Acho que não mora mais aqui.
Silêncio. Ele soluçou?
- Sabe para onde ele foi?
- Disse que ia para Roma, mas isso já tem um ou dois meses.
Então eu decidi matá-lo.
Canto X
Mas ele foi mais rápido:
- Se tu o vires de novo, diga-lhe, por favor, que o Luciano o ama. Diga-lhe que ele foi cruel comigo e eu o odeio, mas que eu o amo e... Diga-lhe que espero por ele...
- Porque um homem amaria outro dessa maneira?
- Ele dizia que só quando se está bem numa relação é que podemos rompe-la. Não estávamos bem.
- Ele via futuro para vocês?
- Não lhe posso oferecer perfeição, mas deixei minha vida para encontrá-lo. É possível amar mais?
Mas eu ainda queria matá-lo; dei-lhe boa noite e voltei para dentro de casa.
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