Tuesday, 4 March 2014

"Como Sombras de Nuvens que Passam" (The end) by José Thiesen (in Portuguese)


Canto XII

Uma carta de Eduardo dizendo-me que ele e Luciano estavam se amando.

Um ano depois de nossa declaração de amor, eu e Berto compramos um pedacito de terra em Treviso. Continha uma bela casa que ficaria melhor depois de alguns reparos; então Berto foi reparar o telhado, caiu e quebou o pescoço.

Ao contrário de mim, não sentiu dor.

Desabafei minha mágoa com Eduardo por carta e agarrei-me àquela terra com fúria! Três meses depois Luciano bateu à minha porta. Abraçou-me com aquela terra, obstinado, mas eu não o aceitei muito facilmente. Foi preciso muito tempo para que meus sentimentos adormecidos por ele, acordassem.

Quando nos amamos, foi como chuva em terra árida.

Uma carta de Eduardo avisou-nos de sua chegada para uma longa estadia.

Alguns meses depois de sua chegada, começaram os tremores em minhas mãos, muito levemente.

Hoje, enquanto escrevo, minhas mãos tremem ainda mais. Devia ser reumatismo, mas foi um engano do médico e o resultado de um longo tratamento errado foi que a infecção tomou conta de meu corpo.

Luciano me não deixa só; vejo algumas rugas surgirem ao redor de seus lindos olhos.

Sei que estou morrendo, mas não tenho medo. Estou quase satisfeito, pois corri, arrisquei, avancei, recuei, voltei à carga e morro amado por aquele que sempre foi meu grande amor.

...estou mesmo muito cansado.

Sem ciúmes, Berto entra em nosso quarto.

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