Houve um momento de silêncio e os
nadas voltaram para o obscuro dos cantos onde se escondiam. O gato se pôs a
ronronar, roçando-se em minha perna.
- Vamos embora, ordenou o sr. Pleffel,
já indo para a porta.
O tio lhe seguiu os passos, dizendo:
- Mas Pavel, quase conseguiste... Talvez se...
- Sim, eu “quase” consegui sorrir, ecoou o Pavel.
A porta abriu-se para sairmos mas o tio Clóvis pegou-me pelo braço e com um
sorriso bondoso me disse:
- Não te assustes e cuide de meu sobrinho.
Beijou-me a testa e corri para junto de Pavel que já se andiantara
bastante.
Deixamos a casa e o sr. Pavel estava muito sério, o tempo todo. Eu estava
profundamente intimidado com tudo o que vira na casa do tio Clóvis, os nadas,
eu pisando o universo e, mais que tudo, o misterioso sorriso que não nascera.
Qual o significado de tudo aquilo?
Não falamos um com o outro, pelo caminho, imerso que estávamos em nossos
pensamentos.
Finalmente chegamos em frente da pensão onde ele morava. Ele parou por um
momento, agachou-se à minha frente e disse:
- Trazes-me sorte, menino. Como jamais imaginei que um dia teria. Estás
confrontado com algo que é muito maior do que tu, mas não te assutes, pois
ainda tens muito que aprender e tudo virá ao seu tempo.
Beijou-me a testa e continuou:
- Volte para casa, antes que tua mãe se preocupe contigo.
Obedeci-lhe, pensando em como poderia eu, pirralho de nove anos, cuidar de
um homem tal como Pavel Pleffel.
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