Tuesday, 19 August 2014

"O Sorriso do Tio Pavel Pleffel" (Chapter V) by José Thiesen (in Portuguese)



            - Podemos saber o que o sr. está fazendo aí dentro, meu tio?
            - Eu tentava pegar minha nova invenção, mas ela escapuliu e eu fiquei aqui, preso! Vamos, Pavel! Ajude-me a sair desse tubo!
            O sr. Pavel deu um suspiro e esgueu-se no ar. Ofereceu o cabo do guarda-chuva ao seu tio, que o segurou bem firme e então Pavel subiu ainda mais, até ter o homemzinho gozado totalmente fora do grande tubo de vidro e depois foi descendo, suavemente, até seu tio estar bem firme no chão – que não existia, aparentemente.
            - Obrigado, sobrinho! E esse menininho, quem é? Teu novo amigo, Pavel?
            - Sim, tio Clóvis.
            - E qual o teu nome, garoto?
            - Sérgio Duarte. O senhor é mesmo cientista?
            - Mas claro que sim!
            - O senhor inventa coisas?
            - Muitas!
            - O que o senhor inventa?
            - Nadas.
            - O senhor inventa nada?
           - Não, meu putinho: nadas. Eu invento “nadas”. Os mais perfeitos e maravilhosos que já vistes! Nadas em todas as cores e padrões, nadas para todas as ocasiões.
            - Mas o que é um “nada”?
            - Técnicamente, um “nada” é algo que não existe. Entretanto, como tudo o que existe existe para algo, por alguma razão, eu chamo o que invento de “nadas” porque eles são inúteis, não servem para nada.
            - Mas para que inventar algo que não serve pra nada?
            - Porque as melhores coisas da vida são inúteis!
            - Eu acho isso... um pouco complicado de entender...
            - Mas tens tempo para aprender, disse o sr. Pavel. Basta não esquecer a idéia e ir vivendo.
            - Queres ver os meus nadas, disse o tio Clóvis inclinando-se para mim. Mas sem esperar resposta, ergueu os braços e disse: - Crianças, venham até aqui! Temos visitas!
            E então pipocaram de todos os lados, as coisas mais esquisitas que jamais vi! Os “nadas” do tio Clóvis cercaram-nos aos pulos, cantando e apertando-nos as mãos.
            Notei que eles tratavam o Pavel com muita deferência.
            - Pavel! exclamou o tio Clóvis – teu sorriso!
            Percebi que todos pararam, subitamente, observando o Pavel com extrema atenção, como se a coisa mais extraordinária do mundo estivesse acontecendo.
            Carlos, o gato, estava ao meu lado e quebrou o silêncio, repetindo como um eco: teu sorriso!
            De fato, olhei para o Pavel e vi que ele observava a si próprio a esboçar um sorriso nos lábios!
- Olhem minhas mãos! disse o gato e vi que elas tornavam-se humanas e mesmo a sua face apresentava traços de humanidade.
Por alguma razão, o sorriso que se esboçava nos lábios de Pavel, sumiu e sua face retomou a seriedade severa de costume.
           

           

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