Wednesday, 24 December 2014

“A Leoa” by Raimundo Correia (in Portuguese)



Não há quem a emoção não dobre e vença
lendo o episódio da leoa brava,
que, sedenta e famélica, bramava,
vagando pelas ruas de Florença.

Foge a população espavorida,
e na cidade deplorável e erma
topa a leoa só, quase sem vida,
uma infeliz mulher débil e enferma.

Em frente à fera no estupor do assombro
não já por si tremia ela, a mesquinha
porém porque, era mãe, e o peso tinha
sempre caro pras mães, de um filho ao ombro.

Cegava-a o pranto, enrouqueci-a o choro,
desvairava-a o pavor!... e entanto, o lindo
e tenro infante, pequenino e loiro
plácido estava nos seus braços rindo.

E o olhar desfeito em pérolas celestes
crava a mãe no animal, que para e hesita
àquele olhar de súplica infinita,
que é só próprio das mães em transes destes.

Mas a leoa, como se entendesse
o amor da mãe, incólume deixou-a...
É que esse amor até nas feras vê-se...
que era mãe talvez essa leoa!

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