Quem vai
passando, sinta
Nojo embora, ali
pára. Ao princípio era um só;
Depois dez,
vinte, trinta
Mulheres e
homens... tudo a contemplar o Job.
Qual fixa
boquiaberto;
Qual à distância
vê; qual se aproxima altivo,
Para olhar mais
de perto
Esse pântano
humano, esse monturo vivo.
Grossa turba o
rodeia...
E o que mais
horroriza é vê-lo a mendigar,
E ninguém ter a
idéia
De um só vintém
às mãos roídas lhe atirar!
Não! Nem ver que
a indigência
Em pasto o muda
já de vermes; e lhe impera,
Na imunda
florescência
Do corpo, a
podridão em plena primavera;
Nem ver sobre
ele, em bando,
Os moscardos
cruéis de ríspidos ferrões,
Incômodos,
cantando
A música feral
das decomposições;
Nem ver que,
entre os destroços
De seus membros,
a Morte, em blasfêmias e pragas,
Descarnando-lhe
os ossos,
Os dentes mostra
a rir, pelas bocas das chagas;
Nem ver que só o
escasso
Roto andrajo,
onde a lepra horrível que lhe prui
Mal se encobre, e
o pedaço
De telha, com que
a raspa, o mísero possui;
Nem do vento às
rajadas
Ver-lhe os farrapos
vis da roupa flutuante,
Voando—desfraldadas
Bandeiras da
miséria imensa e triunfante!
Nem ver... Job
agoniza!
Embora; isso não
é o que horroriza mais.
—O que mais
horroriza
São a falsa
piedade, os fementidos ais;
São os consolos
fúteis
Da turba que o
rodeia, e as palavras fingidas,
Mais baixas, mais
inúteis
Do que a língua
dos cães, lambendo-lhe as feridas;
Da turba que se,
odienta,
Com a pata brutal
do seu orgulho vão
Não nos magoa,
inventa,
Para nos magoar,
a sua compaixão!
Se há, entre a
luz e a treva,
Um termo médio, e
em tudo há um ponto mediano,
É triste que não
deva
Haver isso também
no coração humano!
Porque n'alma não
há de
Um meio termo
haver dessa gente também,
Entre a inveja e
a piedade?
Pois tem piedade
só, quando inveja não tem!
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