Tuesday, 21 October 2014

"O Sorriso do Tio Pavel Pleffel" (Chapter XIV) by José Thiesen (in Portuguese)



            No dia seguinte fomos ao parque, eu e o tio.
            Já acordava desejando estar com ele e me esquecia por completo dos meus amigos.
            No parque, havia um grupo de rapazes treinando skate e parei para olhá-los. O tio também parou e eu disse: Gostava de experimentar isso.
            - Skate?
            - Sim! Deve ser legal, correr e sentir o vento a bater no rosto!
            - Tiveste isso ontem, quando voltávamos da festa no céu.
            - Verdade. Talvez por isso eu queira experimentar o skate.
            Quase mudando de assunto, quase falando a si mesmo, o tio disse: Também eu nunca andei de skate!
            - Então há o que senhor nunca tenha feito?
            - Por certo!
            Então ele avançou para os rapazes e disse: Bom dia. Posso experimentar andar num desses skates?
            Os rapazes olharam para o tio, vestido de sobre-tudo marrom, com seu chapéu de feltro, rosto quadrado, severo e após um segundo de espanto, cairam na gargalhada.
            Um deles, masis atrevido, disse: Que é isso, tio? Vai jogar damas com os velhinhos ali adiante, vai!
            E deram mais risada, mas meu tio continuava imperturbável e disse, com um certo tom de ameaça na voz: Tens medo de que eu seja melhor que tu?
            - Eu? Tenho medo de nada não, seu! Só acho que tem gente que não sabe quando deixar de ser ridículo!
            - Então eu posso andar no seu skate?
             O guri olhou sério pro tio e disse: Pode, mas se o sr. cair e se quebrar todo, eu não ajunto!
            A seguir, pôs o skate no chão e o tio nele subiu.
            Subiu e ficou ali, parado.A gurizada começava a rir, novamente.
            O tio inclinou a cabeça para o skate e disse: Então? Vais ficar aí parado, sem me mostrar o que sabes fazer?
            Tio Pavel não se moveu, mas o skate deu uma tremida e começou a correr pelo pavimento, ergueu-se no ar , alcançou uma parede e começou a correr por ela. Descreveu piruetas loucas e o tio, imperturbável sem sair um milímetro de sua posição.
            Finalmente, como um cãozinho cansado o skate voltou para junto de nós.
            O guris fugiram com gritos de espanto e eu me ria a valer!
            O tio desceu do skate e agradeceu ao próprio pelo passeio.
            Nos afastamos dali e ele disse: Minha bicicleta faz coisas mais interessantes.
            - Nem quero imaginar, respondi. Mas, por outro lado, não é o senhor que faz o skate andar?
            - Eu sempre prefiro deixar que os outros se manifestem.
            - Um skate é um “outro”?
            - O essencial é invisível aos olhos, disse ele, mas como semre acontecia, fiquei sem entender a mensagem e o fato é que, mais crescido, ganhei meu skate e ele nunca andou por si mesmo, por mais que o convidasse a fazê-lo.
            - Venha comigo, comandou o tio.

- Para onde?
            - Visitar um parente meu! e tomou de minha mão, levando-me para uma rua sem nome.
           
           

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