Thursday 21 March 2024

Thursday's Serial: "Os Exercícios Espirituais" by Saint Ignatius of Loyola (translated into Portuguese) - II

 

SEGUNDA PARTE

Exercícios Espirituais

21 Exercícios espirituais para se vencer a si mesmo e ordenar a sua vida sem se determinar por afeição alguma que seja desordenada

22 Pressuposto: Para que tanto o que dá os Exercícios Espirituais, como o que os recebe, mais se ajudem e aproveitem, se há de pressupor que todo o bom cristão deve estar mais pronto a salvar a proposição do próximo que a condená-la; se a não pode salvar, inquira como a entende, e, se a entende mal, corrija-o com amor; e se não basta, busque todos os meios convenientes, para que, entendendo-a bem, se salve.

 

PRIMEIRA SEMANA

PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DE TODOS OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

23 Princípio e Fundamento: O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que o homem tanto há de usar delas quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve deixar-se delas, quanto disso o impedem.

Pelo que, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e conseqüentemente em tudo o mais; mas somente desejemos e escolhamos o que mais nos conduz para o fim para que somos criados.

PRIMEIROS RUDIMENTOS DE CONFRONTO COM O PRINCÍPIO E FUNDAMENTO

Exame Particular e Quotidiano. Compreende três tempos e examinar-se duas vezes

24 Primeiro tempo. Pela manhã, logo ao levantar, deve propor guardar-se, com diligência, daquele pecado particular ou defeito que se quer corrigir e emendar.

25 Segundo tempo. Depois da refeição do meio-dia, pedir a Deus nosso Senhor o que se quer, a saber, graça para se recordar de quantas vezes caiu naquele pecado particular ou defeito e para se emendar no futuro. Em seguida, faça o primeiro exame, pedindo conta à sua alma daquele ponto particular proposto de que se quer corrigir e emendar, percorrendo hora por hora ou tempo por tempo, começando desde a hora em que se levantou até à hora e momento do presente exame; e faça, na primeira linha do g = tantos pontos quantas forem as vezes que tenha incorrido naquele pecado particular ou defeito; e depois, proponha, de novo, emendar-se até ao segundo exame que fará.

26 Terceiro tempo. Depois da refeição da noite, fará o segundo exame, também de hora em hora, começando desde o primeiro exame até ao segundo, e fará, na segunda linha do mesmo g= tantos pontos quantas as vezes que tenha incorrido naquele pecado particular ou defeito.

Seguem-se quatro adições para mais depressa tirar aquele pecado ou defeito particular.

27 Primeira adição. Cada vez que a pessoa cair naquele pecado ou defeito particular, ponha a mão no peito, doendo-se de ter caído; o que se pode fazer mesmo diante de muitas pessoas, sem que notem o que faz.

28 Segunda adição. Como a primeira linha do g= significa o primeiro exame e a segunda linha o segundo, veja, à noite, se há emenda, da primeira linha para a segunda, a saber: do primeiro exame para o segundo.

29 Terceira adição. Conferir o segundo dia com o primeiro, a saber: os dois exames do dia presente com os outros dois exames do dia passado, e verificar se, de um dia para o outro, se emendou.

30 Quarta adição. Conferir uma semana com a outra, e verificar se emendou, na semana presente, em comparação com a semana passada.

31 Nota. Note-se que o primeiro g= grande que se segue significa o domingo; o segundo menor, a segunda-feira; o terceiro, a terça-feira; e assim sucessivamente.

Exame geral de consciência para se purificar e para melhor se confessar

32 Elementos de discernimento: Pressuponho haver em mim três pensamentos, a saber: um que é propriamente meu, que sai da minha pura liberdade e querer; e outros dois que vêm de fora: um que vem do bom espírito e o outro do mau.

 

PENSAMENTOS

Há duas maneiras de merecer no mau pensamento que vem de fora.

33 Primeira. Por exemplo, um pensamento de cometer um pecado mortal. Resisto-lhe prontamente, e fica vencido.

34 Segunda. Quando me vem aquele mesmo mau pensamento e eu lhe resisto, e torna-me a vir, uma e outra vez, e eu resistimos sempre, até que o pensamento se vai vencido. Esta segunda maneira é de mais merecimento que a primeira.

                

35 – Peca-se venialmente, quando vem o mesmo pensamento de pecar mortalmente, e a pessoa lhe dá atenção, demorando-se um pouco nele, ou recebendo algum prazer sensual, ou havendo alguma negligência em rejeitar o tal pensamento.

Há duas maneiras de pecar mortalmente:

36 Primeira. Quando se dá consentimento ao mau pensamento, para o pôr logo em prática conforme consentiu, ou para o executar se pudesse.

37 Segunda. Quando se põe em ato aquele pecado; e é maior por três razões: a primeira, pelo maior espaço de tempo; a segunda, pela maior intensidade; a terceira, pelo maior dano das duas pessoas.

PALAVRAS

38 Não jurar, nem pelo Criador nem pela criatura, a não ser com verdade, necessidade e reverência. Necessidade entende, não quando se afirma com juramento qualquer verdade, mas quando é de alguma importância para o proveito da alma ou do corpo ou de bens temporais. Reverência entende, quando ao pronunciar o nome do seu Criador e Senhor, com consideração, se lhe tributa a honra e reverência devidas.

39 É de advertir que, ainda que no juramento em vão, pecamos mais jurando pelo Criador que pela criatura, é mais difícil jurar devidamente, com verdade, necessidade e reverência, pela criatura que pelo Criador, pelas razões seguintes:

Primeira. Quando queremos jurar por alguma criatura, o fato de querer nomear a criatura não nos faz estar tão atentos nem advertidos para dizer a verdade ou para afirmá-la com necessidade, como ao querermos nomear o Senhor e Criador de todas as coisas.

Segunda. Ao jurar pela criatura, não é tão fácil prestar reverência e acatamento ao Criador, como quando se jura pelo mesmo Criador e Senhor e se profere o seu nome; porque o fato de querer nomear a Deus nosso Senhor, traz consigo mais acatamento e reverência que o querer nomear uma coisa criada. Portanto, concede-se mais aos perfeitos que aos imperfeitos jurar pela criatura; porque os perfeitos, pela assídua contemplação e iluminação do entendimento, consideram, meditam e contemplam mais estar Deus nosso Senhor em cada criatura, segundo a sua própria essência, presença e potência; e, assim, ao jurarem pela criatura, estão mais aptos e dispostos para prestar acatamento e reverência a seu Criador e Senhor do que os imperfeitos.

Terceira. Na freqüência do jurar pela criatura, se há de temer mais a idolatria nos imperfeitos que nos perfeitos.

40 Não dizer palavra ociosa. Por palavra ociosa entendo a que não me aproveita a mim nem a outrem, nem se ordena a tal intenção. De sorte que falar de tudo o que é proveitoso ou com intenção de aproveitar à alma própria ou alheia, ao corpo ou a bens temporais, nunca é ocioso; nem o falar alguém de coisas que estão fora do seu estado, como se um religioso falasse de guerras e comércio. Mas, em tudo o que se disse, há mérito quando as palavras se ordenam a bom fim, e pecado quando se dirigem a mau fim ou se fala inutilmente.

41 Não dizer palavras para difamar ou murmurar, porque se descubro um pecado mortal que não seja público, peco mortalmente; e, se um pecado venial, venialmente; e, se um defeito, mostro o meu próprio defeito. Mas sendo reta a intenção, de duas maneiras se pode falar do pecado ou falta de outrem.

Primeira. Quando o pecado é público, como, por exemplo, de uma meretriz pública, de uma sentença dada em juízo, ou de um erro público que infecciona as almas com quem conversa.

Segunda. Quando o pecado oculto se descobre a alguma pessoa para que ajude a levantar a que está em pecado; tendo, contudo, algumas conjecturas ou razões prováveis de que a poderá ajudar.

OBRAS

42 Tomando por objeto de exame os dez mandamentos e os preceitos da Igreja e as disposições dos Superiores, tudo o que se põe em prática contra alguma destas três partes, conforme a sua maior ou menor importância, será maior ou menor pecado. Entendo por disposições dos Superiores, por exemplo, bulas de cruzadas e outras indulgências, como as que se concedem em ordem a obter a paz, confessando-se e tomando o Santíssimo Sacramento; porque não pouco se peca então, ao ser causa de outros agirem, ou ao agir nós contra tão piedosas exortações e disposições de nossos superiores.

MODO DE FAZER O EXAME GERAL DE CONSCIÊNCIA

43 Consta de cinco pontos:

Primeiro. Dar graças a Deus nosso Senhor pelos benefícios recebidos.

Segundo. pedir graça para conhecer os pecados, e libertar-se deles.

Terceiro. pedir conta à alma, desde a hora em que se levantou até ao exame presente, hora por hora ou período por período, primeiro, dos pensamentos, depois das palavras, e depois das obras, pela mesma ordem que se disse no exame particular?

Quarto. pedir perdão, a Deus nosso Senhor, das faltas.

Quinto. propor emenda, com sua graça. Pai Nosso.

Confissão geral com Comunhão

44  Na confissão geral, para quem voluntariamente a quiser fazer, entre outros muitos proveitos, se acharão três, fazendo-a aqui.

Primeiro. Embora quem se confessa cada ano não esteja obrigado a fazer confissão geral, fazendo-a, terá maior proveito e mérito, pela maior dor atual de todos os pecados e faltas deliberadas de toda a sua vida.

Segundo. Como nos exercícios espirituais se conhecem mais interiormente os pecados e a malícia deles que no tempo em que se não dava assim às coisas interiores; alcançando agora mais conhecimento e dor deles, terá maior proveito e mérito do que antes teria.

Terceiro. É que, conseqüentemente, estando mais bem confessado e disposto, se acha mais apto e mais preparado para receber o Santíssimo Sacramento; cuja recepção ajuda não somente a não cair em pecado, mas ainda a conservar-se em aumento de graça.

Esta confissão geral se fará melhor imediatamente depois dos exercícios da primeira semana.

 

PRIMEIRO EXERCÍCIO: CONSIDERAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO DO PECADO

45 O primeiro exercício é meditação com as três potências sobre o primeiro, segundo e terceiro pecado. Compreende, depois de uma oração preparatória e dois preâmbulos, três pontos principais e um colóquio.

46 Oração preparatória. Pedir graça a Deus nosso Senhor para que todas as minhas intenções, ações e operações sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade.

47 Primeiro preâmbulo. Composição, vendo o lugar. Aqui é de notar que, na contemplação ou meditação visível, assim como contemplar a Cristo nosso Senhor, o qual é visível, a composição será ver, com a vista da imaginação, o lugar material onde se acha aquilo que quero contemplar. Digo o lugar material, assim como um templo ou monte onde se acha Jesus Cristo ou Nossa Senhora, conforme o que quero contemplar. Na invisível, como é aqui a dos pecados, a composição será ver, com a vista imaginativa e considerar estar a minha alma encarcerada neste corpo corruptível e todo o composto neste vale, como desterrado, entre brutos animais. Digo todo o composto de alma e corpo.

48 Segundo preâmbulo. Pedir a Deus nosso Senhor o que quero e desejo. O pedido deve ser conforme a matéria proposta, a saber, se a contemplação é de ressurreição, pedir gozo com Cristo gozoso; se for de Paixão, pedir pena, lágrimas e tormento com Cristo atormentado? Aqui será pedir vergonha e confusão de mim mesmo, vendo quantos foram condenados por um só pecado mortal, e quantas vezes eu mereceria ser condenado para sempre por tantos pecados meus.

49 Nota. Antes de todas as contemplações ou meditações, deve-se fazer sempre a oração preparatória, sem se mudar, e os dois preâmbulos já ditos, mudando-os, algumas vezes, segundo a matéria proposta.

50 Primeiro ponto. Exercitar a memória sobre o primeiro pecado, que foi o dos anjos, e logo, sobre o mesmo, o entendimento discorrendo, depois, a vontade, querendo recordar e entender tudo isto para mais me envergonhar e confundir; trazendo em comparação de um pecado dos anjos, tantos pecados meus; e como eles, por um pecado, foram para o inferno, sendo tantas as vezes que eu o mereci por tantos mais. Digo trazer à memória o pecado dos anjos: como sendo eles criados em graça, não querendo servir-se da sua liberdade para prestar reverência e obediência a seu Criador e Senhor, caindo em soberba, passaram da graça à perversidade e foram lançados do céu ao inferno; e assim, depois, discorrer mais em particular com o entendimento e, depois, mover mais os afetos com a vontade.

51 Segundo ponto. Fazer outro tanto, a saber, exercitar as três potências sobre o pecado de Adão e Eva; trazendo à memória como, pelo tal pecado, fizeram tanto tempo penitência, e quanta corrupção veio ao gênero humano, indo tanta gente para o inferno. Digo trazer à memória o segundo pecado, o de nossos primeiros pais: como, depois que Adão foi criado no campo Damasceno e posto no paraíso terreal, e que Eva foi criada da sua costela, sendo-lhes proibido que comessem da árvore da ciência, eles comeram e por isso pecaram; e como, depois, vestidos de túnicas de peles e expulsos do paraíso, viveram, sem a justiça original que tinham perdido, toda a sua vida em muitos trabalhos e muita penitência; e, depois, discorrer com o entendimento mais em particular, usando também da vontade como está dito.

52 Terceiro ponto. Do mesmo modo, fazer outro tanto sobre o terceiro pecado, o pecado particular de cada um que por um pecado mortal tenha ido para o inferno, e o de muitos outros, sem conta, que para lá foram por menos pecados do que eu. Digo fazer outro tanto sobre o terceiro pecado particular, trazendo à memória a gravidade e malícia do pecado contra o seu Criador e Senhor, discorrer com o entendimento como, em pecar e agir contra a bondade infinita, tal pessoa foi justamente condenada para sempre; e acabar com a vontade, como está dito.

53 Colóquio. Imaginando a Cristo nosso Senhor diante de mim e pregado na cruz, fazer um colóquio: como de Criador veio a fazer-se homem, e de vida eterna a morte temporal, e assim a morrer por meus pecados. E, assim em colóquio, interrogar-me a mim mesmo: o que tenho feito por Cristo, o que faço por Cristo, o que devo fazer por Cristo; e vendo-o a Ele em tal estado e assim pendente na cruz, discorrer pelo que se me oferecer.

54 O colóquio faz-se, propriamente, falando, assim como um amigo fala a outro, ou um servo a seu senhor: ora pedindo alguma graça, ora confessando-se culpado por algum mal feito, ora comunicando as suas coisas e querendo conselho nelas. E dizer um Pai Nosso.

 

SEGUNDO EXERCÍCIO: MEDITAÇÃO DOS PECADOS

55 Este exercício compreende, depois da oração preparatória e dos dois preâmbulos, cinco pontos e um colóquio.

A Oração preparatória. A mesma [46; 49].

O Primeiro preâmbulo. A mesma composição [47].

O Segundo preâmbulo. Pedir o que quero: será aqui pedir acrescida e intensa dor e lágrimas por meus pecados.

56 Primeiro ponto. É o processo dos pecados, a saber, trazer à memória todos os pecados da vida, considerando ano por ano, ou período por período; para o que aproveitam três coisas: – a primeira, considerar o lugar e a casa onde habitei; a segunda, a convivência que tive com outros; a terceira, o ofício em que vivi.

57 Segundo ponto. Ponderar os pecados, considerando a fealdade e a malícia que cada pecado mortal cometido tem em si, mesmo que não fosse proibido.

58 Terceiro ponto. Considerar quem sou eu, diminuindo-me por exemplos: Primeiro: quanto sou eu em comparação com todos os homens; Segundo, que coisa são os homens, em comparação com todos os anjos e santos do paraíso; Terceiro, considerar que coisa é tudo o criado, em comparação com Deus: pois eu só, que posso ser? Quarto, considerar toda a minha corrupção e fealdade corporal; Quinto: considerar-me como uma chaga e um abscesso, donde saíram tantos pecados, tantas maldades e peçonha tão repugnante.

59 Quarto ponto. Considerar quem é Deus, contra quem pequei, segundo os seus atributos, comparando-os aos seus contrários em mim: a sua sapiência à minha ignorância, a sua onipotência à minha fraqueza, a sua justiça à minha iniqüidade, a sua bondade à minha malícia.

60 Quinto ponto. Exclamação admirativa, com acrescido afeto, discorrendo por todas as criaturas, como me têm deixado com vida e conservado nela; os anjos, que sendo a espada da justiça divina, como me têm suportado, guardado e rogado por mim; os santos, como têm estado a interceder e rogar por mim;

e os céus, sol, lua, estrelas e elementos, frutos, aves, peixes e animais; e a terra, como não se abriu para me tragar, criando novos infernos para sempre penar neles.

61 Colóquio. Acabar com um colóquio sobre a misericórdia, buscando razões e dando graças a Deus nosso Senhor porque me deu vida até agora, propondo emenda, com a sua graça, para o futuro. Pai Nosso.

 

TERCEIRO EXERCÍCIO: REPETIÇÃO DO PRIMEIRO E SEGUNDO

62 Depois da oração preparatória e dois preâmbulos será repetir o primeiro e segundo exercício, notando e fazendo pausa nos pontos em que tenha sentido maior consolação ou desolação ou maior sentimento espiritual. Depois do que, farei três colóquios, da maneira que se segue:

63 Primeiro colóquio. A Nossa Senhora, para que me alcance graça de seu Filho e Senhor para três coisas:

   - a primeira, para que eu sinta interno conhecimento dos meus pecados e aborrecimento deles;

   - a segunda, para que sinta a desordem das minhas operações, para que, aborrecendo-a, me emende e me ordene;

   - a terceira, pedir conhecimento do mundo, para que, aborrecendo-o, aparte de mim as coisas mundanas e vãs. Depois disto, uma ave-maria.

 

Segundo colóquio. Outro tanto ao Filho, para que mo alcance do Pai. Depois disto, Alma de Cristo.

Terceiro colóquio. Outro tanto ao Pai, para que o mesmo Senhor eterno mo conceda. Depois disto, um Pai Nosso.

 

QUARTO EXERCÍCIO - RESUMINDO O TERCEIRO EXERCÍCIO

64.Diz-se "resumindo", para que o entendimento, sem divagar, discorra assiduamente pela reminiscência das coisas contempladas nos exercícios passados; e fazendo os mesmos três colóquios.

 

QUINTO EXERCÍCIO - É A MEDITAÇÃO DO INFERNO

65 Oração preparatória. Seja a costumada [46].

Primeiro preâmbulo. A composição, é aqui ver, com a vista da imaginação, o comprimento, largura e profundidade do inferno.

Segundo preâmbulo. Pedir o quero: será aqui pedir interno sentimento da pena que padecem os condenados, para que, se do amor do Senhor eterno me esquecer, por minhas faltas, ao menos o temor das penas me ajude a não cair em pecado.

66 Primeiro ponto. Ver, com a vista da imaginação, os grandes fogos e, as almas, como que em corpos incandescentes.

67 Segundo ponto. Ouvir, com os ouvidos, prantos, alaridos, gritos, blasfêmias contra Cristo nosso Senhor e contra todos os seus Santos.

68 Terceiro ponto. Cheirar, com o olfato, fumo, enxofre, sentina e coisas em putrefação.

69 Quarto ponto. Gostar, com o gosto, coisas amargas, assim como lágrimas, tristeza e o verme da consciência.

70 Quinto ponto. Tocar, com o tato, a saber: como os fogos tocam e abrasam as almas.

71 Colóquio. A Cristo nosso Senhor, trazer à memória as almas que estão no inferno; umas porque não acreditaram na sua vinda; outras, acreditando, não agiram segundo os seus mandamentos.

 Fazer três grupos:

   - o primeiro antes da vinda de Cristo;

   - o segundo, durante a sua vida;

   - o terceiro, depois da sua vida neste mundo.

Depois disto, dar-lhe graças, porque não me deixou cair em nenhum destes grupos, pondo fim a minha vida. E, assim, como até agora tem tido sempre de mim tanta piedade e misericórdia.

Acabar com um Pai Nosso.

72 Nota. Escalonamento da oração diária. O primeiro exercício se fará, à meia-noite; o segundo, logo ao levantar-se, pela manhã; o terceiro antes ou depois da missa, em suma, que seja antes do almoço; o quarto, à hora de Vésperas; o quinto uma hora antes do jantar. Esta distribuição de horas, pouco mais ou menos, sempre a entende em todas as quatro semanas, conforme a idade, disposição e temperamento ajudem a pessoa que se exercita para fazer os cinco exercícios ou menos.

Adições para melhor fazer os exercícios e para melhor achar o que deseja

73 Primeira. Depois de deitado, antes de adormecer, pensar, por espaço de uma ave-maria, a que hora tenho de me levantar e para quê, resumindo o exercício que tenho de fazer.

74 Segunda. Quando despertar, não dando lugar a outros pensamentos, advertir logo no que vou contemplar no primeiro exercício da meia noite, excitando-me a confusão de tantos pecados meus, propondo exemplos: como se um cavaleiro se achasse diante de seu rei e de toda a sua corte, envergonhado e confundido de muito ter ofendido aquele de quem antes recebeu muitos dons e muitas mercês. E assim mesmo, no segundo exercício, reconhecer-me um grande pecador e que vou, algemado, isto é, preso com cadeias, comparecer diante do sumo e eterno Juiz, lembrando para exemplo, como os encarcerados e algemados, e já merecedores de morte, comparecem ante seu juiz temporal. E, com estes pensamentos, vestir-me; ou com outros, conforme a matéria proposta.

75 Terceira. A um passo ou dois do lugar onde tenho de meditar ou contemplar, pôr-me de pé, por espaço de um pai-nosso, levantado o espírito ao alto, considerando como Deus nosso Senhor me olha, etc; e fazer uma reverência ou uma genuflexão.

76 Quarta. Entrar na contemplação, ora de joelhos, ora prostrado em terra, ora deitado de rosto para cima, ora sentado, ora de pé, andando sempre a buscar o que quero. Advertiremos em duas coisas:

– A primeira é que se acho o que quero, de joelhos, não passarei adiante, e se prostrado, do mesmo modo, etc.

– A segunda, que no ponto em que achar o que quero, aí repousarei, sem ter ânsia de passar adiante, até que me satisfaça [254].

77 Quinta. Depois de acabado o exercício, por espaço de um quarto de hora, ou sentado ou passeando, observarei como me correram as coisas na contemplação ou meditação. E, se mal, examinarei a causa donde procede, e uma vez descoberta, arrepender-me-ei, para me emendar daí em diante. E, se bem, darei graças a Deus nosso Senhor e farei, outra vez, da mesma maneira.

78 Sexta. Não querer pensar em coisas de prazer ou alegria, como de glória, ressurreição, etc; porque, para sentir pena, dor e lágrimas pelos nossos pecados, o impede qualquer consideração de gozo e alegria; mas Ter antes em mente o querer sentir dor e pena, trazendo mais na memória a morte e o juízo.

79 Sétima. Privar-me de toda a claridade, para o mesmo fim, fechando janelas e portas, o tempo que estiver no quarto, a não ser para rezar, ler e comer.

80 Oitava. Não rir nem dizer coisa que provoque o riso.

81 Nona. Refrear a vista, exceto ao receber ou despedir a pessoa com quem falar.

82 Décima. Sobre a penitência, a qual se divide em interna e externa.

A interna é doer-se de seus pecados, com firme propósito de não cometer esses nem quaisquer outros.

A externa, ou fruto da primeira é castigo dos pecados cometidos. E, pratica-se, principalmente, de três maneiras:

83 A primeira: Sobre o comer, a saber: quando tiramos o supérfluo, não é penitência, mas temperança; penitência é quando tiramos do conveniente. E, quanto mais e

mais, maior e melhor, contando que não se arruíne a pessoa, nem se siga enfermidade notável.

84 A segunda: Sobre o modo de dormir. E também não é penitência tirar o supérfluo de coisas delicadas ou moles. Mas é penitência quando no modo de dormir se tira do conveniente; e quanto mais e mais, melhor, contanto que não se arruíne a pessoa, nem se siga enfermidade notável, nem muito menos se tire do sono conveniente, a não ser que, por ventura, tenha hábito vicioso de dormir demasiado, para chegar à justa medida.

85 A terceira: Castigar a carne, a saber, dando-lhe dor sensível, a qual se dá, trazendo cilícios ou cordas ou barras de ferro sobre a carne, flagelando-se ou ferindo-se e outras formas de aspereza.

86 Nota. O que parece mais prático e mais seguro na penitência é que a dor seja sensível na carne, mas que não penetre nos ossos; de maneira que cause dor e não enfermidade. Pelo que, parece que é mais conveniente flagelar-se com cordas delgadas que dão dor por fora, e não de outra maneira que cause enfermidade notável por dentro.

87 Primeira nota. As penitências exteriores se fazem principalmente para três efeitos:

   - primeiro. para satisfação dos pecados passados;

   - segundo. para vencer-se a si mesmo, a saber, para que a sensualidade obedeça à razão e todas as partes inferiores estejam mais sujeitas às superiores;

   - terceiro. para buscar e achar alguma graça ou dom que a pessoa quer e deseja, como, por exemplo, se deseja ter interna contrição de seus pecados, ou chorar muito sobre eles ou sobre as penas e dores que Cristo nosso Senhor passava na sua Paixão, ou para solução de alguma dúvida em que a pessoa se acha.

88 Segunda nota. A primeira e segunda adição se hão de fazer para os exercícios da meia noite e da manhã, e não para os que se fará noutros tempos; e a quarta adição nunca se fará na igreja, diante de outras pessoas, mas em particular, como por exemplo, em casa, etc.

89 Terceira nota. Quando a pessoa que se exercita ainda não acha o que deseja, como lágrimas, consolações, etc., muitas vezes é proveitoso fazer mudança no comer, no dormir, e noutros modos de fazer penitência; de maneira que nos mudemos, fazendo, dois ou três dias, penitência, e outros dois ou três, não; porque a alguns convém fazer mais penitência e a outros menos; e também porque, muitas vezes, deixamos de fazer penitência, por amor dos sentidos e por juízo errôneo de que a pessoa não a poderá tolerar sem notável enfermidade; e, outras vezes, pelo contrário, fazemos demasiada, pensando que o corpo a possa suportar; e, como Deus nosso Senhor conhece infinitamente melhor a nossa natureza, muitas vezes, nas tais mudanças, dá a sentir a cada um o que lhe convém.

90 Quarta nota. O exame particular se faça para tirar defeitos e negligências nos exercícios e adições; e o mesmo se diga na segunda, terceira e quarta semana.

Wednesday 20 March 2024

Good Reading: "Quando é Instável a Base…" by Plinio Corrêa de Oliveira (in Portuguese)

 Publicado originalmente em Catolicismo Nº149, em maio de 1963

 

Jamais se usou tanto como em nossos dias, a palavra “social”. E também jamais tanto se abusou dela.

É este um fenômeno típico das épocas de crise: usar e abusar das palavras que exprimem grandes e augustos conceitos, de maneira a coonestar e até a prestigiar com elas os mitos, as fobias, as aspirações torvas e febricitantes das coletividades convulsionadas pela demagogia.

Deu-se isto, por exemplo, nos séculos XVIII e XIX com o nobre vocábulo “liberdade”. Nosso Senhor é por excelência o Libertador. Foi Ele quem quebrou os grilhões do pecado e da morte, e deu ao homem recursos superabundantes para se libertar da tirania do demônio e das paixões desordenadas. “Veritas liberabit vos” ( Jo. 8, 32 ), disse Ele.

E a Verdade, fonte da genuína liberdade, Ele a definiu claramente: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” ( Jo. 14, 6 ). Isso não obstante, o liberalismo que hipnotizava os espíritos daquela época, trombeteando aos quatro ventos a palavra “liberdade”, deturpou-lhe o sentido. Ela passou a não designar mais a soberana liberdade da Verdade e do Bem, triunfantes sobre o Erro e o Mal, mas o “direito” para o Erro e o Mal de fazer tudo quanto se permite à Verdade e ao Bem, e de agredir, perseguir, vilipendiar, caluniar à vontade os que são verazes e bons.

Daí um verdadeiro caudal de erros e até de crimes, provocado pelo liberalismo: “Liberdade, quantos crimes são cometidos em teu nome”, exclamou a liberal Madame Roland.

Leão XIII, na Encíclica “Libertas”, publicada no ano de 1888, distinguiu com exímia clareza a verdadeira liberdade cristã, da falsa liberdade revolucionária. O ensinamento pontifício serviu para esclarecer e orientar inúmeras pessoas. Não obstante, não logrou evitar que, grosso modo, as multidões ainda tenham em nossos dias um conceito de liberdade que, ou é exclusivamente revolucionário, ou é uma mescla deplorável de elementos revolucionários e de alguns vislumbres do conceito cristão, num sincretismo com o qual só a Revolução tem a ganhar. Tal é a força do erro e do mal, nas épocas de crise.

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Sim, tal é a sua força… E por isto hoje em dia a palavra “social” é tão torcida, sofismada e deturpada quanto era outrora a palavra “liberdade”. Disto é prova dolorosa toda a tempestade suscitada em torno do termo “socialização”, para demonstrar que a Encíclica “Mater et Magistra”, fundamentalmente anti-socialista, seria uma ponte lançada sobre o abismo que separa a doutrina católica da doutrina socialista.

Tanto se fala no Brasil de hoje em “social” e mais especialmente em justiça social! Nobres expressões, canonizadas até pelo seu freqüente emprego nos documentos pontifícios! Queira Deus, entretanto, que em breve não se diga delas, como da liberdade: “quantos crimes são cometidos em seu nome!”.

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Social… sociedade. Haverá algo de mais santa e augustamente social do que velar pela família? Pois a demagogia explora a palavra “social”, tanto mais os vários significados legítimos desta se vão obliterando. Ela vai perdendo muito de seu conteúdo bom, e se vai metamorfoseando lamentavelmente. Característico é o que se passa, nesse particular, no que diz respeito à família face a este novo espírito “social”. A noção de que ela é a base da sociedade vai passando para o segundo plano, e… a família vai ruindo aos pedaços. E isso em meio à indiferença completa dos nossos demagogos “sociais”.

São estas as considerações que nos sugere a leitura freqüente, na imprensa francesa, de anúncios de castelos para vender. Em nossos clichês, por exemplo, reproduzimos anúncios publicados [na internet] por corretores que oferecem lindos castelos para qualquer comprador.

E ainda é menos mal quando edifícios como estes passam das mãos das famílias que fizeram sua história para as de outras que lhes conservam pelo menos um caráter residencial distinto. Pois não é raro que essas ilustres mansões percam inteiramente seu cunho originário, transformando-se em fábricas, ou outra coisa qualquer.

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Sentimos de longe o rugido do espírito igualitário ao ler esta afirmação: que tem de ruim isto? Então as famílias nobres, que tantas vezes decaem por culpa própria, devem estar vacinadas contra as condições hodiernas que obrigam a estar mudando constantemente de lar, não só nos campos como nos grandes centros?

O mal está precisamente nisto: a instabilidade das famílias contemporâneas, em suas moradias, é o reflexo da instabilidade das condições de vida da família como instituição. E toda instituição que vive em condições instáveis caminha para a ruína. Tal instabilidade é mais visível quando se trata de moradias prestigiosas de famílias ilustres. Se ela afetasse só as famílias de grande importância, já constituiria de per si um perigo para todo o corpo social. O fato de que essa instabilidade não ocorre apenas em algumas famílias, mas em todas, não prova que nisto não haja mal: prova precisamente que o mal é imenso!

E de que instituição se trata: da que é a base da sociedade!…

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Haverá algo de mais “social” do que velar pela família?

Tanto se fala de reformas de base. Quem, entre os “arditi”, desse reformismo, fala seriamente de reformar a base, isto é, a família? Que espírito “social” é este, que não tem olhos para ver a crise da família, e a insuficiência de todas as medidas destinadas a salvar uma sociedade em que a base está minada?

Mas, dirá talvez alguém, a reforma urbana não visa exatamente dar uma casa a cada família que não a tem?

A família e a propriedade são instituições conexas. São como os dois olhos na face humana. Golpeada uma, está golpeada a outra. Consolidar a família declarando que o Estado tem o direito de confiscar a propriedade, é o mesmo que furar um dos olhos de um estrábico para remediar o fato de que seus dois olhos não convergem para o mesmo foco.

E depois… família? É a cada família que se pretende dar uma casa? Família só é a que se funda no casamento. A nossa legislação do inquilinato tanto favorece a família autêntica quanto a que se funda no concubinato. Qual o ingênuo que imagina faria a reforma urbana coisa diversa?

*   *   *

 

Aqui fica a prova da grave deformação do senso social que apresenta a social-demagogia reinante.

A palavra “social” só lhe atrai a simpatia quando serve para fomentar a luta de classe. É verdade que, quando a base é instável, rui o edifício. Mas que importa isto à demagogia? Ou, antes, não é precisamente isto que ela visa?

Tuesday 19 March 2024

Tuesday's Serial: “Lavengro” by George Borrow (in English) - VI

 

Chapter 11

templemore—devil's mountain—no companion—force of circumstance—way of the world—ruined castle—grim & desolate—donjon—my own house

 

When Christmas was over, and the new year commenced, we broke up our quarters, and marched away to Templemore. This was a large military station, situated in a wild and thinly inhabited country. Extensive bogs were in the neighbourhood, connected with the huge bog of Allen, the Palus Mæotis of Ireland. Here and there was seen a ruined castle looming through the mists of winter; whilst, at the distance of seven miles, rose a singular mountain, exhibiting in its brow a chasm, or vacuum, just, for all the world, as if a piece had been bitten out; a feat which, according to the tradition of the country, had actually been performed by his Satanic majesty, who, after flying for some leagues with the morsel in his mouth, becoming weary, dropped it in the vicinity of Cashel, where it may now be seen in the shape of a bold bluff hill, crowned with the ruins of a stately edifice, probably built by some ancient Irish king.

We had been here only a few days, when my brother, who, as I have before observed, had become one of his Majesty's officers, was sent on detachment to a village at about ten miles' distance. He was not sixteen, and, though three years older than myself, scarcely my equal in stature, for I had become tall and large-limbed for my age; but there was a spirit in him which would not have disgraced a general; and, nothing daunted at the considerable responsibility which he was about to incur, he marched sturdily out of the barrack-yard at the head of his party, consisting of twenty light-infantry men, and a tall grenadier sergeant, selected expressly by my father, for the soldier-like qualities which he possessed, to accompany his son on this his first expedition. So out of the barrack-yard, with something of an air, marched my dear brother, his single drum and fife playing the inspiring old melody,

 

            Marlbrouk is gone to the wars,

            He'll never return no more!

 

I soon missed my brother, for I was now alone, with no being, at all assimilating in age, with whom I could exchange a word. Of late years, from being almost constantly at school, I had cast aside, in a great degree, my unsocial habits and natural reserve, but in the desolate region in which we now were there was no school; and I felt doubly the loss of my brother, whom, moreover, I tenderly loved for his own sake. Books I had none, at least such 'as I cared about'; and with respect to the old volume, the wonders of which had first beguiled me into common reading, I had so frequently pored over its pages, that I had almost got its contents by heart. I was therefore in danger of falling into the same predicament as Murtagh, becoming 'frighted' from having nothing to do! Nay, I had not even his resources; I cared not for cards, even if I possessed them and could find people disposed to play with them. However, I made the most of circumstances, and roamed about the desolate fields and bogs in the neighbourhood, sometimes entering the cabins of the peasantry, with a 'God's blessing upon you, good people!' where I would take my seat on the 'stranger's stone' at the corner of the hearth, and, looking them full in the face, would listen to the carles and carlines talking Irish.

Ah, that Irish! How frequently do circumstances, at first sight the most trivial and unimportant, exercise a mighty and permanent influence on our habits and pursuits!—how frequently is a stream turned aside from its natural course by some little rock or knoll, causing it to make an abrupt turn! On a wild road in Ireland I had heard Irish spoken for the first time; and I was seized with a desire to learn Irish, the acquisition of which, in my case, became the stepping-stone to other languages. I had previously learnt Latin, or rather Lilly; but neither Latin nor Lilly made me a philologist. I had frequently heard French and other languages, but had felt little desire to become acquainted with them; and what, it may be asked, was there connected with the Irish calculated to recommend it to my attention?

First of all, and principally, I believe, the strangeness and singularity of its tones; then there was something mysterious and uncommon associated with its use. It was not a school language, to acquire which was considered an imperative duty; no, no; nor was it a drawing-room language, drawled out, occasionally, in shreds and patches, by the ladies of generals and other great dignitaries, to the ineffable dismay of poor officers' wives. Nothing of the kind; but a speech spoken in out-of-the-way desolate places, and in cut-throat kens, where thirty ruffians, at the sight of the king's minions, would spring up with brandished sticks and an 'ubbubboo like the blowing up of a powder-magazine.' Such were the points connected with the Irish, which first awakened in my mind the desire of acquiring it; and by acquiring it I became, as I have already said, enamoured of languages. Having learnt one by choice I speedily, as the reader will perceive, learnt others, some of which were widely different from Irish.

Ah, that Irish! I am much indebted to it in more ways than one. But I am afraid I have followed the way of the world, which is very much wont to neglect original friends and benefactors. I frequently find myself, at present, turning up my nose at Irish when I hear it in the street; yet I have still a kind of regard for it, the fine old language:

 

            A labhair Padruic n'insefail nan riogh.

 

One of the most peculiar features of this part of Ireland is the ruined castles, which are so thick and numerous that the face of the country appears studded with them, it being difficult to choose any situation from which one, at least, may not be descried. They are of various ages and styles of architecture, some of great antiquity, like the stately remains which crown the Crag of Cashel; others built by the early English conquerors; others, and probably the greater part, erections of the times of Elizabeth and Cromwell. The whole speaking monuments of the troubled and insecure state of the country, from the most remote periods to a comparatively modern time.

From the windows of the room where I slept I had a view of one of these old places—an indistinct one, it is true, the distance being too great to permit me to distinguish more than the general outline. I had an anxious desire to explore it. It stood to the south-east; in which direction, however, a black bog intervened, which had more than once baffled all my attempts to cross it. One morning, however, when the sun shone brightly upon the old building, it appeared so near, that I felt ashamed at not being able to accomplish a feat seemingly so easy; I determined, therefore, upon another trial. I reached the bog, and was about to venture upon its black surface, and to pick my way amongst its innumerable holes, yawning horribly, and half filled with water black as soot, when it suddenly occurred to me that there was a road to the south, by following which I might find a more convenient route to the object of my wishes. The event justified my expectations, for, after following the road for some three miles, seemingly in the direction of the Devil's Mountain, I suddenly beheld the castle on my left.

I diverged from the road, and, crossing two or three fields, came to a small grassy plain, in the midst of which stood the castle. About a gun-shot to the south was a small village, which had, probably, in ancient days, sprung up beneath its protection. A kind of awe came over me as I approached the old building. The sun no longer shone upon it, and it looked so grim, so desolate and solitary; and here was I, in that wild country, alone with that grim building before me. The village was within sight, it is true; but it might be a village of the dead for what I knew; no sound issued from it, no smoke was rising from its roofs, neither man nor beast was visible, no life, no motion—it looked as desolate as the castle itself. Yet I was bent on the adventure, and moved on towards the castle across the green plain, occasionally casting a startled glance around me; and now I was close to it.

It was surrounded by a quadrangular wall, about ten feet in height, with a square tower at each corner. At first I could discover no entrance; walking round, however, to the northern side, I found a wide and lofty gateway with a tower above it, similar to those at the angles of the wall; on this side the ground sloped gently down towards the bog, which was here skirted by an abundant growth of copse-wood and a few evergreen oaks. I passed through the gateway, and found myself within a square enclosure of about two acres. On one side rose a round and lofty keep, or donjon, with a conical roof, part of which had fallen down, strewing the square with its ruins. Close to the keep, on the other side, stood the remains of an oblong house, built something in the modern style, with various window-holes; nothing remained but the bare walls and a few projecting stumps of beams, which seemed to have been half burnt. The interior of the walls was blackened, as if by fire; fire also appeared at one time to have raged out of the window-holes, for the outside about them was black, portentously so. 'I wonder what has been going on here?' I exclaimed.

There were echoes among the walls as I walked about the court. I entered the keep by a low and frowning doorway: the lower floor consisted of a large dungeon-like room, with a vaulted roof; on the left hand was a winding staircase in the thickness of the wall; it looked anything but inviting; yet I stole softly up, my heart beating. On the top of the first flight of stairs was an arched doorway, to the left was a dark passage, to the right, stairs leading still higher. I stepped under the arch and found myself in an apartment somewhat similar to the one below, but higher. There was an object at the farther end.

An old woman, at least eighty, was seated on a stone, cowering over a few sticks burning feebly on what had once been a right noble and cheerful hearth; her side-glance was towards the doorway as I entered, for she had heard my footsteps. I stood suddenly still, and her haggard glance rested on my face.

'Is this your house, mother?' I at length demanded, in the language which I thought she would best understand.

'Yes, my house, my own house; the house of the broken-hearted.'

'Any other person's house?' I demanded.

'My own house, the beggar's house—the accursed house of Cromwell!'

 

 

Chapter 12

a visit—figure of a man—the dog of peace—the raw wound—the guardroom—boy soldier—person in authority—never solitary—clergyman and family—still-hunting—fairy man—near sunset—bagg—left-handed hitter—at swanton morley

 

One morning I set out, designing to pay a visit to my brother at the place where he was detached; the distance was rather considerable, yet I hoped to be back by evening fall, for I was now a shrewd walker, thanks to constant practice. I set out early, and, directing my course towards the north, I had in less than two hours accomplished considerably more than half of the journey. The weather had at first been propitious: a slight frost had rendered the ground firm to the tread, and the skies were clear; but now a change came over the scene, the skies darkened, and a heavy snowstorm came on; the road then lay straight through a bog, and was bounded by a deep trench on both sides; I was making the best of my way, keeping as nearly as I could in the middle of the road, lest, blinded by the snow which was frequently borne into my eyes by the wind, I might fall into the dyke, when all at once I heard a shout to windward, and turning my eyes I saw the figure of a man, and what appeared to be an animal of some kind, coming across the bog with great speed, in the direction of myself; the nature of the ground seemed to offer but little impediment to these beings, both clearing the holes and abysses which lay in their way with surprising agility; the animal was, however, some slight way in advance, and, bounding over the dyke, appeared on the road just before me. It was a dog, of what species I cannot tell, never having seen the like before or since; the head was large and round; the ears so tiny as scarcely to be discernible; the eyes of a fiery red: in size it was rather small than large; and the coat, which was remarkably smooth, as white as the falling flakes. It placed itself directly in my path, and showing its teeth, and bristling its coat, appeared determined to prevent my progress. I had an ashen stick in my hand, with which I threatened it; this, however, only served to increase its fury; it rushed upon me, and I had the utmost difficulty to preserve myself from its fangs.

'What are you doing with the dog, the fairy dog?' said a man, who at this time likewise cleared the dyke at a bound.

He was a very tall man, rather well dressed as it should seem; his garments, however, were, like my own, so covered with snow that I could scarcely discern their quality.

'What are ye doing with the dog of peace?'

'I wish he would show himself one,' said I; 'I said nothing to him, but he placed himself in my road, and would not let me pass.'

'Of course he would not be letting you till he knew where ye were going.'

'He's not much of a fairy,' said I, 'or he would know that without asking; tell him that I am going to see my brother.'

'And who is your brother, little Sas?'

'What my father is, a royal soldier.'

'Oh, ye are going then to the detachment at ——; by my shoul, I have a good mind to be spoiling your journey.'

'You are doing that already,' said I, 'keeping me here talking about dogs and fairies; you had better go home and get some salve to cure that place over your eye; it's catching cold you'll be, in so much snow.'

On one side of the man's forehead there was a raw and staring wound, as if from a recent and terrible blow.

'Faith, then I'll be going, but it's taking you wid me I will be.'

'And where will you take me?'

'Why, then, to Ryan's Castle, little Sas.'

'You do not speak the language very correctly,' said I; 'it is not Sas you should call me—'tis Sassannach,' and forthwith I accompanied the word with a speech full of flowers of Irish rhetoric.

The man looked upon me for a moment, fixedly, then, bending his head towards his breast, he appeared to be undergoing a kind of convulsion, which was accompanied by a sound something resembling laughter; presently he looked at me, and there was a broad grin on his features.

'By my shoul, it's a thing of peace I'm thinking ye.'

But now with a whisking sound came running down the road a hare; it was nearly upon us before it perceived us; suddenly stopping short, however, it sprang into the bog on the right-hand side; after it amain bounded the dog of peace, followed by the man, but not until he had nodded to me a farewell salutation. In a few moments I lost sight of him amidst the snow-flakes.

The weather was again clear and fine before I reached the place of detachment. It was a little wooden barrack, surrounded by a wall of the same material; a sentinel stood at the gate, I passed by him, and, entering the building, found myself in a rude kind of guardroom; several soldiers were lying asleep on a wooden couch at one end, others lounged on benches by the side of a turf fire. The tall sergeant stood before the fire, holding a cooking utensil in his left hand; on seeing me, he made the military salutation.

'Is my brother here?' said I, rather timidly, dreading to hear that he was out, perhaps for the day.

'The ensign is in his room, sir,' said Bagg, 'I am now preparing his meal, which will presently be ready; you will find the ensign above stairs,' and he pointed to a broken ladder which led to some place above.

And there I found him—the boy soldier—in a kind of upper loft, so low that I could touch with my hands the sooty rafters; the door was of rough boards, through the joints of which you could see the gleam of the soldiers' fire, and occasionally discern their figures as they moved about; in one corner was a camp bedstead, by the side of which hung the child's sword, gorget, and sash; a deal table stood in the proximity of the rusty grate, where smoked and smouldered a pile of black turf from the bog,—a deal table without a piece of baize to cover it, yet fraught with things not devoid of interest: a Bible, given by a mother; the Odyssey, the Greek Odyssey; a flute, with broad silver keys; crayons, moreover, and water-colours; and a sketch of a wild prospect near, which, though but half finished, afforded ample proof of the excellence and skill of the boyish hand now occupied upon it.

Ah! he was a sweet being, that boy soldier, a plant of early promise, bidding fair to become in after time all that is great, good, and admirable. I have read of a remarkable Welshman, of whom it was said, when the grave closed over him, that he could frame a harp, and play it; build a ship, and sail it; compose an ode, and set it to music. A brave fellow that son of Wales—but I had once a brother who could do more and better than this, but the grave has closed over him, as over the gallant Welshman of yore; there are now but two that remember him—the one who bore him, and the being who was nurtured at the same breast. He was taken, and I was left!—Truly, the ways of Providence are inscrutable.

'You seem to be very comfortable, John,' said I, looking around the room and at the various objects which I have described above: 'you have a good roof over your head, and have all your things about you.'

'Yes, I am very comfortable, George, in many respects; I am, moreover, independent, and feel myself a man for the first time in my life—independent, did I say?—that's not the word, I am something much higher than that; here am I, not sixteen yet, a person in authority, like the centurion in the book there, with twenty Englishmen under me, worth a whole legion of his men, and that fine fellow Bagg to wait upon me, and take my orders. Oh! these last six weeks have passed like hours of heaven.'

'But your time must frequently hang heavy on your hands; this is a strange wild place, and you must be very solitary?'

'I am never solitary; I have, as you see, all my things about me, and there is plenty of company below stairs. Not that I mix with the soldiers; if I did, good-bye to my authority; but when I am alone I can hear all their discourse through the planks, and I often laugh to myself at the funny things they say.'

'And have you any acquaintance here?'

'The very best; much better than the Colonel and the rest, at their grand Templemore; I had never so many in my whole life before. One has just left me, a gentleman who lives at a distance across the bog; he comes to talk with me about Greek, and the Odyssey, for he is a very learned man, and understands the old Irish, and various other strange languages. He has had a dispute with Bagg. On hearing his name, he called him to him, and, after looking at him for some time with great curiosity, said that he was sure he was a Dane. Bagg, however, took the compliment in dudgeon, and said that he was no more a Dane than himself, but a true-born Englishman, and a sergeant of six years' standing.'

'And what other acquaintance have you?'

'All kinds; the whole neighbourhood can't make enough of me. Amongst others there's the clergyman of the parish and his family; such a venerable old man, such fine sons and daughters! I am treated by them like a son and a brother—I might be always with them if I pleased; there's one drawback, however, in going to see them; there's a horrible creature in the house, a kind of tutor, whom they keep more from charity than anything else; he is a Papist and, they say, a priest; you should see him scowl sometimes at my red coat, for he hates the king, and not unfrequently, when the king's health is drunk, curses him between his teeth. I once got up to strike him; but the youngest of the sisters, who is the handsomest, caught my arm and pointed to her forehead.'

'And what does your duty consist of? Have you nothing else to do than pay visits and receive them?'

'We do what is required of us, we guard this edifice, perform our evolutions, and help the excise; I am frequently called up in the dead of night to go to some wild place or other in quest of an illicit still; this last part of our duty is poor mean work, I don't like it, nor more does Bagg; though without it we should not see much active service, for the neighbourhood is quiet; save the poor creatures with their stills, not a soul is stirring. 'Tis true there's Jerry Grant.'

'And who is Jerry Grant?'

'Did you never hear of him? that's strange, the whole country is talking about him; he is a kind of outlaw, rebel, or robber, all three I daresay; there's a hundred pounds offered for his head.'

'And where does he live?'

'His proper home, they say, is in the Queen's County, where he has a band, but he is a strange fellow, fond of wandering about by himself amidst the bogs and mountains, and living in the old castles; occasionally he quarters himself in the peasants' houses, who let him do just what he pleases; he is free of his money, and often does them good turns, and can be good-humoured enough, so they don't dislike him. Then he is what they call a fairy man, a person in league with fairies and spirits, and able to work much harm by supernatural means, on which account they hold him in great awe; he is, moreover, a mighty strong and tall fellow. Bagg has seen him.'

'Has he?'

'Yes! and felt him; he too is a strange one. A few days ago he was told that Grant had been seen hovering about an old castle some two miles off in the bog; so one afternoon what does he do but, without saying a word to me—for which, by the bye, I ought to put him under arrest, though what I should do without Bagg I have no idea whatever—what does he do but walk off to the castle, intending, as I suppose, to pay a visit to Jerry. He had some difficulty in getting there on account of the turf-holes in the bog, which he was not accustomed to; however, thither at last he got and went in. It was a strange lonesome place, he says, and he did not much like the look of it; however, in he went, and searched about from the bottom to the top and down again, but could find no one; he shouted and hallooed, but nobody answered, save the rooks and choughs, which started up in great numbers. "I have lost my trouble," said Bagg, and left the castle. It was now late in the afternoon, near sunset, when about half-way over the bog he met a man—'

'And that man was—'

'Jerry Grant! there's no doubt of it. Bagg says it was the most sudden thing in the world. He was moving along, making the best of his way, thinking of nothing at all save a public-house at Swanton Morley, which he intends to take when he gets home, and the regiment is disbanded—though I hope that will not be for some time yet: he had just leaped a turf-hole, and was moving on, when, at the distance of about six yards before him, he saw a fellow coming straight towards him. Bagg says that he stopped short, as suddenly as if he had heard the word halt, when marching at double quick time. It was quite a surprise, he says, and he can't imagine how the fellow was so close upon him before he was aware. He was an immense tall fellow—Bagg thinks at least two inches taller than himself—very well dressed in a blue coat and buff breeches, for all the world like a squire when going out hunting. Bagg, however, saw at once that he had a roguish air, and he was on his guard in a moment. "Good-evening to ye, sodger," says the fellow, stepping close up to Bagg, and staring him in the face. "Good-evening to you, sir! I hope you are well," says Bagg. "You are looking after some one?" says the fellow. "Just so, sir," says Bagg, and forthwith seized him by the collar; the man laughed, Bagg says it was such a strange awkward laugh. "Do you know whom you have got hold of, sodger?" said he. "I believe I do, sir," said Bagg, "and in that belief will hold you fast in the name of King George and the quarter sessions"; the next moment he was sprawling with his heels in the air. Bagg says there was nothing remarkable in that; he was only flung by a kind of wrestling trick, which he could easily have baffled had he been aware of it. "You will not do that again, sir," said he, as he got up and put himself on his guard. The fellow laughed again more strangely and awkwardly than before; then, bending his body and moving his head from one side to the other as a cat does before she springs, and crying out, "Here's for ye, sodger!" he made a dart at Bagg, rushing in with his head foremost. "That will do, sir," says Bagg, and, drawing himself back, he put in a left-handed blow with all the force of his body and arm, just over the fellow's right eye—Bagg is a left-handed hitter, you must know—and it was a blow of that kind which won him his famous battle at Edinburgh with the big Highland sergeant. Bagg says that he was quite satisfied with the blow, more especially when he saw the fellow reel, fling out his arms, and fall to the ground. "And now, sir," said he, "I'll make bold to hand you over to the quarter sessions, and, if there is a hundred pounds for taking you, who has more right to it than myself?" So he went forward, but ere he could lay hold of his man the other was again on his legs, and was prepared to renew the combat. They grappled each other—Bagg says he had not much fear of the result, as he now felt himself the best man, the other seeming half-stunned with the blow—but just then there came on a blast, a horrible roaring wind bearing night upon its wings, snow, and sleet, and hail. Bagg says he had the fellow by the throat quite fast, as he thought, but suddenly he became bewildered, and knew not where he was; and the man seemed to melt away from his grasp, and the wind howled more and more, and the night poured down darker and darker; the snow and the sleet thicker and more blinding. "Lord have mercy upon us!" said Bagg.'

Myself. A strange adventure that; it is well that Bagg got home alive.

John. He says that the fight was a fair fight, and that the fling he got was a fair fling, the result of a common enough wrestling trick. But with respect to the storm, which rose up just in time to save the fellow, he is of opinion that it was not fair, but something Irish and supernatural.

Myself. I daresay he's right. I have read of witchcraft in the Bible.

John. He wishes much to have one more encounter with the fellow; he says that on fair ground, and in fine weather, he has no doubt that he could master him, and hand him over to the quarter sessions. He says that a hundred pounds would be no bad thing to be disbanded upon; for he wishes to take an inn at Swanton Morley, keep a cock-pit, and live respectably.

Myself. He is quite right; and now kiss me, my darling brother, for I must go back through the bog to Templemore.