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Wednesday 30 October 2024

Wednesday's Good Reading: “The Inland Sea” by Frank Belknap Long, Jr. (in English)

I know a sea within a western land

Where winds of silence blow, and all forlorn

The black waves wash, from lonely morn to morn,

Upon a gale-blown stretch of whitened sand.

No petrels sweep above that somber strand,

No living thing of any creature born,

Save on the hilltops where a sullen band

Of gaunt wolves crouch beneath the lunar horn.

 

In icy shallows polar lilies grow,

Which sunder to reveal Jurassic clay:

A bullet-head with motion weird and slow

Precedes a bulk which drives the wolves away,

A dark and monstrous lizard-shape that glides

Upon the waters with the inland tides.

Saturday 26 October 2024

Saturday's Good Readin: “Por que Sou Forte” by Narcisa Amália (in Portuguese)

 


(A Ezequiel Freire)

Dirás que é falso. Não. É certo. Desço

Ao fundo d'alma toda vez que hesito...

Cada vez que uma lágrima ou que um grito

Trai-me a angústia — ao sentir que desfaleço...

E toda assombro, toda amor, confesso,

O limiar desse país bendito

Cruzo: — aguardam-me as festas do infinito!

 

O horror da vida, deslumbrada, esqueço!

É que há dentro vales, céus, alturas,

Que o olhar do mundo não macula, a terna

Lua, flores, queridas criaturas,

E soa em cada moita, em cada gruta,

A sinfonia da paixão eterna!...

— E eis-me de novo forte para a luta.

Wednesday 16 October 2024

Excellent Readings: Sonnet CVII by William Shakespeare (in English)

Not mine own fears, nor the prophetic soul
Of the wide world dreaming on things to come,
Can yet the lease of my true love control,
Supposed as forfeit to a confined doom.
The mortal moon hath her eclipse endured,
And the sad augurs mock their own presage;
Incertainties now crown themselves assured,
And peace proclaims olives of endless age.
Now with the drops of this most balmy time,
My love looks fresh, and Death to me subscribes,
Since, spite of him, I'll live in this poor rhyme,
While he insults o'er dull and speechless tribes:
   And thou in this shalt find thy monument,
   When tyrants' crests and tombs of brass are spent.

Wednesday 9 October 2024

Wednesday's Good Reading: "Oltre qui fu, dove ’l mie amor mi tolse" by Michelangelo Buonarroti (in Italian)

 
  Oltre qui fu, dove ’l mie amor mi tolse,
suo mercè, il core e vie più là la vita;
qui co’ begli occhi mi promisse aita,
e co’ medesmi qui tor me la volse.
  Quinci oltre mi legò, quivi mi sciolse;
per me qui piansi, e con doglia infinita
da questo sasso vidi far partita
colui c’a me mi tolse e non mi volse.

Saturday 31 August 2024

Saturday's Good Reading: "El ciglio col color non fere el volto" by Michelangelo Buonarroti (in Italian)

  El ciglio col color non fere el volto
col suo contrar, che l’occhio non ha pena
da l’uno all’altro stremo ov’egli è volto.
     L’occhio, che sotto intorno adagio mena,
picciola parte di gran palla scuopre,
che men rilieva suo vista serena,
     e manco sale e scende quand’ el copre;
onde più corte son le suo palpebre,
che manco grinze fan quando l’aopre.
     El bianco bianco, el ner più che funebre,
s’esser può, el giallo po’ più leonino,
che scala fa dall’una all’altra vebre.
     Pur tocchi sotto e sopra el suo confino,
e ’l giallo e ’l nero e ’l bianco non circundi.

Saturday 3 August 2024

Saturday's Good Reading: "Maquiavélico" by Raul de Leoni (in Portuguese)

Há horas em que minha alma sente e pensa,
Num tempo nobre que não mais se avista,
Encarnada num príncipe humanista,
Sob o Lírio Vermelho de Florença.

Vejo-a, então, nessa histórica presença,
Harmoniosa e sutil, sensual e egoísta,
Filha do idealismo epicurista,
Formada na moral da Renascença.

Sinto-a, assim, flor amável do Helenismo,
Virtuose – restaurando os velhos mapas
Do gênio antigo, entre exegeta e artista.

E ao mesmo tempo, por diletantismo,
Intrigando a política dos papas,
Com a perfídia elegante de um sofista...

Wednesday 31 July 2024

Wednesday's Good Reading: "The Snow-Storm" by Ralph W. Emerson (in English).

Announced by all the trumpets of the sky,
Arrives the snow, and, driving o'er the fields,
Seems nowhere to alight: the whited air
Hides hills and woods, the river, and the heaven,
And veils the farm-house at the garden's end.
The sled and traveller stopped, the courier's feet
Delayed, all friends shut out, the housemates sit
Around the radiant fireplace, enclosed
In a tumultuous privacy of storm.


Come see the north wind's masonry.
Out of an unseen quarry evermore
Furnished with tile, the fierce artificer
Curves his white bastions with projected roof
Round every windward stake, or tree, or door.
Speeding, the myriad-handed, his wild work
So fanciful, so savage, nought cares he
For number or proportion. Mockingly,
On coop or kennel he hangs Parian wreaths;
A swan-like form invests the hidden thorn;
Fills up the farmer's lane from wall to wall,
Maugre the farmer's sighs; and at the gate
A tapering turret overtops the work.
And when his hours are numbered, and the world
Is all his own, retiring, as he were not,
Leaves, when the sun appears, astonished Art
To mimic in slow structures, stone by stone,
Built in an age, the mad wind's night-work,
The frolic architecture of the snow.

Saturday 6 July 2024

Saturday's Good Reading: "Arder y Luego Irradiarte" by Mother Margarita Maria del Corazón Eucarístico de Jesús (in Spanish)

Arder y luego irradiarte
en silencio y puro amor
ante tu Cruz Redentora
cual “lamparita”, ¡Señor!
En favor de mis hermanos
que separados están
de tu Iglesia y tu Vicario,
de tu querida Unidad.
Hoy de nuevo me consagro
a tan santa ocupación,
ya que Tú me has confirmado
en mi”vocación” Señor.
Por tu Madre Inmaculada
la “Madre de la Unidad”
acelera ya la “hora”
como lo hiciste en Caná.

Wednesday 19 June 2024

Excellent Readings: Sonnet CVI by William Shakespeare (in English)

When in the chronicle of wasted time
I see descriptions of the fairest wights,
And beauty making beautiful old rhyme,
In praise of ladies dead and lovely knights,
Then, in the blazon of sweet beauty's best,
Of hand, of foot, of lip, of eye, of brow,
I see their antique pen would have expressed
Even such a beauty as you master now.
So all their praises are but prophecies
Of this our time, all you prefiguring;
And for they looked but with divining eyes,
They had not skill enough your worth to sing:
   For we, which now behold these present days,
   Have eyes to wonder, but lack tongues to praise.

Wednesday 5 June 2024

Good Reading: "La vita del mie amor non è ’l cor mio" by Michelangelo Buonarroti (in Italian)

 La vita del mie amor non è ’l cor mio,
c’amor di quel ch’i’ t’amo è senza core;
dov’è cosa mortal, piena d’errore,
esser non può già ma’, nè pensier rio.
  Amor nel dipartir l’alma da Dio
me fe’ san occhio e te luc’ e splendore;
nè può non rivederlo in quel che more
di te, per nostro mal, mie gran desio.
  Come dal foco el caldo, esser diviso
non può dal bell’etterno ogni mie stima,
ch’exalta, ond’ella vien, chi più ’l somiglia.
  Poi che negli occhi ha’ tutto ’l paradiso,
per ritornar là dov’i’ t’ama’ prima,
ricorro ardendo sott’alle tuo ciglia.

Saturday 25 May 2024

Good Reading: "Florença" by Raul de Leoni (in Portuguese)

Manhã de outono...
Través a gaze fluida da neblina,
Teu panorama, trêmulo, hesitante,
Se vai furtivamente desenhando,
Na alva doçura de uma renda fina...

Do florido balcão de San Miniato,
Como num cosmorama imaginário,
Vejo aos poucos despir-se o teu cenário,
Dentro de um sereníssimo aparato...
Em tons de madrepérola cambiante,
Ao reflexo de um íris fugidio,
Sob o ar transparente e o céu macio,
Abre-se em luz a concha colorida
Do vale do Arno...

Longe onde a névoa azul se dilui sobre as linhas
Amáveis das colinas,
Em caprichosas curvas serpentinas
De oliveiras em flor, de olmeiros e de vinhas,
De pinheiros reais e amendoeiras tranquilas,
Fiésole, bucólica e galante
Mostra, numa expressão fresca de tintas,
O esmalte senhorial das suas vilas
E o cromo pastoril das suas quintas,
Dentro dos bosques do Decameron...
 
Surgem zimbórios em mosaico, perfis duros
De arrogantes palácios gibelinos,
Silhuetas de basílicas votivas,
Torres mortas e suaves perspectivas
E o coleio longínquo dos teus muros,
Recortando a moldura azul dos Apeninos...
Teus sinos cantam num prelúdio lento
A elegia das horas imortais;
É a canção do teu próprio sentimento
Na voz sonâmbula das catedrais...

E é, então, que transponho as tuas portas
E ouvindo as tuas ruínas pensativas
Sinto-me em corpo e espírito em Florença:
A mais humana das cidades vivas,
A mais divina das cidades mortas!...

Florença, ó meu retiro espiritual!
Suave vinheta do meu pensamento!
Sempre te amei com o mesmo afeto humano
Dês que tu eras a comuna guelfa
Idealista, rebelde e sanguinária,
Até o dia
Em que tua alma, flor litúrgica e sombria
Do espírito cristão,
Fugindo do “Jardim das Escrituras”,
Foi, para ver a luz de outras alturas,
Sentar-se no “Banquete de Platão”!

Nobre e amável Florença!
Doce filha de Cristo e de Epicuro!
Flor de Volúpia e de Sabedoria!
Na tua alma de Vênus e Maria
Há uma estranha harmonia ambígua, indescritível:
A castidade melancólica dos lírios
E a graça afrodisíaca das rosas;
A mansuetude ingênua de Fra Angélico!
E a alegria picante de Bocácio!
Amo-te assim, indefinida e vária!
Casta e viciosa – gótica e pagã,
Harmoniosa entre a Acrópole e o Calvário.

Ó Pátria sereníssima
Das formas puras, das ideias claras;
Das igrejas, das fontes, dos jardins;
Dos mosaicos, das rendas, dos brocados;
Dos coloristas límpidos e meigos;
Das almas furta-cor e da graça perversa;
Da discreta estesia dos requintes;
Dos vícios raros, das perversões elegantes;
Dos venenos sutis e dos punhais lascivos;
Deliciosa no crime e na virtude,
Onde a existência foi uma bela atitude
De sensibilidade e de bom gosto
E passou pela História, assim, na ronda viva
Meditativa e brilhante
De uma “Fête Galante”!...

***

Trago-te a minha gratidão latina
Porque foi no teu seio que se fez
Toda a ressurreição da Vida luminosa:
Ó Florença! Florença!
A mais humana das cidades vivas!
A mais divina das cidades mortas!...

Wednesday 22 May 2024

Good Reading: "Berrying" by Ralph W. Emerson (in English).

'May be true what I had heard,—
Earth's a howling wilderness,
Truculent with fraud and force,'
Said I, strolling through the pastures,
And along the river-side.
Caught among the blackberry vines,
Feeding on the Ethiops sweet,
Pleasant fancies overtook me.
I said, 'What influence me preferred,
Elect, to dreams thus beautiful?'
The vines replied, 'And didst thou deem
No wisdom from our berries went?'

Saturday 11 May 2024

Good Reading: "Brasil" by St. Joseph of Anchieta (in Portuguese and Latin)

O Brasil que, sem justiça,
andava mui cego e torto,
vós o metereis no porto
se lançar de si a cobiça
que de vivo o torna morto.

Quae sine iustitia prauo Brasilia cursu
ibat et obliquum, caeca, tenebat iter,
nunc directa, tuae iusto moderamine uirgae,
seruabit, tuis rectis, iusque piumque uisu.

Wednesday 8 May 2024

Excellent Readings: Sonnet CV by William Shakespeare (in English)

Let not my love be called idolatry,
Nor my beloved as an idol show,
Since all alike my songs and praises be
To one, of one, still such, and ever so.
Kind is my love to-day, to-morrow kind,
Still constant in a wondrous excellence;
Therefore my verse to constancy confined,
One thing expressing, leaves out difference.
Fair, kind, and true, is all my argument,
Fair, kind, and true, varying to other words;
And in this change is my invention spent,
Three themes in one, which wondrous scope affords.
   Fair, kind, and true, have often lived alone,
   Which three till now, never kept seat in one.

Saturday 27 April 2024

Good Reading: "Adventurer" by Robert E. Howard (in English)

Dusk on the sea; the fading twilight shifts'
The night wind bears the ocean's whisper dim—
Wind, on your bosom many a phantom drifts—
A silver star climbs up the blue world rim.
Wind, make the green leaves dance above me here
And idly swing my silken hammock—so;
Now, on that glimmering molten silver mere
Send the long ripples wavering to and fro.
And let your moon-white tresses touch my face
And let me know your slim-armed, cool embrace
While to my dreamy soul you whisper low.

Dream—aye, I've dreamed since last night left her tower
And now again she comes on star-soled feet.
Welcome, old friend; here in this rose-gemmed bower
I've drowsed away your Sultan's golden heat.
Here in my hammock, Time I've dreamed away
For I have but to stretch a hand out, lo,
I'm treading langurous shores of Yesterday,
Moon-silvered deserts or the star-weird snow;
I float o'er seas where ships are purple shells,
I hear the tinkle of the camel bells
That waft down Cairo's streets when dawn winds blow.

South Seas! I watch when dusky twilight comes
Making vague gods of ancient, sea-set trees.
The world path beckons—loud the mystic drums—
Here at my hand the magic golden keys
That fit the doors of Romance, Wonder, strange
Dim gossamer adventures; seas and stars.
Why, I have roamed the far Moon Mountain range
When sunset minted gold in shimmering bars.
All eager eyed I've sailed from ports of Spain
And watched the flashing topaz of the Main
When dawn was flinging witch fire on the spars.

I am content in dreams to roam my fill
The vagrant, drifting sport of wind and tide,
Slave of the greater freedom, venture's thrill;
Here every magic ship on which I ride.
Gold, green, blue, red, a priceless treasure trove,
More wealth than ever pirate dared to dream.
My hammock swings—about the world I rove.
The sunset's dusk, the dawning's glide and gleam,
Moon-dappled leaves are murmuring in the wind
Which whispers tales. Lo, Tyre is just behind,
Through seas of dawn I sail, Romance abeam.

Wednesday 24 April 2024

Good Reading: "Sie pur, fuor di mie propie, c’ogni altr’arme" by Michelangelo Buonarroti (in Italian)

   La vita del mie amor non è ’l cor mio,
c’amor di quel ch’i’ t’amo è senza core;
dov’è cosa mortal, piena d’errore,
esser non può già ma’, nè pensier rio.
  Amor nel dipartir l’alma da Dio
me fe’ san occhio e te luc’ e splendore;
nè può non rivederlo in quel che more
di te, per nostro mal, mie gran desio.
  Come dal foco el caldo, esser diviso
non può dal bell’etterno ogni mie stima,
ch’exalta, ond’ella vien, chi più ’l somiglia.
  Poi che negli occhi ha’ tutto ’l paradiso,
per ritornar là dov’i’ t’ama’ prima,
ricorro ardendo sott’alle tuo ciglia.

Wednesday 17 April 2024

Good Reading: "Pórtico" by Raul de Leoni (in Portuguese)

 

Alma de origem ática, pagã,

Nascida sob aquele firmamento

Que azulou as divinas epopeias,

Sou irmão de Epicuro e de Renan,

Tenho o prazer sutil do pensamento

E a serena elegância das ideias...

 

Há no meu ser crepúsculos e auroras,

Todas as seleções do gênio ariano,

E a minha sombra amável e macia

Passa na fuga universal das horas,

Colhendo as flores do destino humano

Nos jardins atenienses da Ironia...

 

Meu pensamento livre, que se achega

De ideologias claras e espontâneas,

É uma suavíssima cidade grega,

Cuja memória

É uma visão esplêndida na história

Das civilizações mediterrâneas.

 

Cidade da Ironia e da Beleza,

Fica na dobra azul de um golfo pensativo,

Entre cintas de praias cristalinas,

Rasgando iluminuras de colinas,

Com a graça ornamental de um cromo vivo:

Banham-na antigas águas delirantes,

Azuis, caleidoscópicas, amenas,

Onde se espelha, em refrações distantes,

O vulto panorâmico de Atenas...

 

Entre os deuses e Sócrates assoma

E envolve na amplitude do seu gênio

Toda a grandeza grega a que remonto;

Da Hélade dos heróis ao fim de Roma,

Das cidades ilustres do Tirreno

Ao mistério das ilhas do Helesponto...

 

Cidade de virtudes indulgentes,

Filha da Natureza e da Razão,

– Já eivada da luxúria oriental, –

Ela sorri ao Bem, não crê no Mal,

Confia na verdade da Ilusão

E vive na volúpia e na sabedoria,

Brincando com as ideias e com as formas...

 

No passado pensara muito e, até,

Tentara penetrar o mundo das essências,

Sofrera muito nessa luta inútil,

Mas, por fim, foi perdendo a íntima fé

No pensamento, e agora pensa ainda,

Numa serenidade indiferente,

Mas se conforta muito mais, talvez,

Na alegria das belas aparências,

Que na contemplação das ideias eternas.

 

Cidade amável em que a vida passa,

Desmanchando um colar de reticências:

Tem a alma irônica das decadências

E as cristalizações de um fim de raça...

 

Conserva na memória dos sentidos

A expressão das origens seculares,

E entre os seus habitantes há milhares

Descendentes dos deuses esquecidos;

Que os demais todos têm, inda bem vivo,

Na nobre geometria do seu crânio

O mais puro perfil dólico-louro...

 

Os deuses da cidade já morreram...

Mas, amando-os ainda, alegremente,

Ela os tem no desejo e na lembrança;

E foi a ela (é grande o seu destino!)

Que Julião, o Apóstata, expirando,

Mandou a sua última esperança.

Pela boca de Amniano Marcelino...

 

Cidade de harmonias deliciosas

Em que, sorrindo à ronda dos destinos,

Os homens são humanos e divinos

E as mulheres são frescas como as rosas...

 

Jardins de perspectivas encantadas

– Hermas de faunos nas encruzilhadas –

Abrem ao ouro do sol leques de esguias

Alamedas: efebos, poetas, sábios

Cruzam-nas, dialogando, suavemente,

Sobre a mais meiga das filosofias,

Fímbrias de taças lésbias entre os lábios

E emoções dionisíacas nos olhos...

 

Como são luminosos seus jardins

De alegres coloridos musicais!

No florido beiral dos tanques, debruados

De rosas e aloés e anêmonas e mirtos,

Bebem pombas branquíssimas e castas,

E finamente límpidas e trêmulas

Irisadas, joviais e transparentes,

As águas aromáticas, sorrindo,

Tombam da boca austera dos tritões,

Garganteando furtivos ritornelos...

 

Dentro a moldura em fogo das auroras,

Pelas praias de opala e de ouro, antigas,

Na maciez das areias, em coréias,

Bailam rondas sadias e sonoras

De adolescentes e de raparigas,

Copiando o friso das Panatenéias...

 

Na orla do mar, seguindo a curva ondeante

Do velho cais esguio e deslumbrante,

Quando o horizonte e o céu, em lusco-fusco

Somem na porcelana dos ocasos,

Silhuetas fugitivas

De lindas cortesãs de Agrigento e de Chipre,

Como a sonhar, olham, perdidamente,

A volta das trirremes e das naves,

Que lhes trazem o espírito do Oriente,

Em pedrarias, lendas e perfumes...

 

Então, ondulam no ar diáfano e fluente

Suavidades idílicas, acordes

De avenas, cornamusas e ocarinas

Que vêm de longe, da alma branca dos pastores,

Trazidas pelos ventos transmontanos

E espiritualizadas em surdinas...

 

Terra que ouviu Platão antigamente...

Seu povo espiritual, lírico e generoso,

Que sorri para o mundo e para os seus segredos,

Não ouve mais o oráculo de Elêusis,

Mas ama ainda, quase ingenuamente,

A saudade gloriosa dos seus deuses,

Nas canções ancestrais dos citaredos

E nos epitalâmios do nascente...

 

Seus filhos amam todas as ideias,

Na obra dos sábios e nas epopeias;

Nas formas límpidas e nas obscuras,

Procurando nas cousas entendê-las

– Fugas de sentimento e sutileza –

E as entendem na própria natureza,

Ouvindo Homero no rumor das ondas,

Lendo Platão no brilho das estrelas...

 

Seus poetas, homens fortes e serenos,

Fazem uma arte régia, aguda e fina

Com a doçura dos últimos helenos

Estilizada em ênfase latina...

 

E os velhos da cidade, suaves poentes

De radiantes retores e sofistas,

Passam, olhando as cousas e as criaturas,

Com piedosos sorrisos indulgentes,

Em que longas renúncias otimistas

Se vão abrindo, entre ironias puras,

Sobre todos os sonhos do Universo...

 

Revendo-se num século submerso,

Meu pensamento, sempre muito humano,

É uma cidade grega decadente,

Do tempo de Luciano,

Que, gloriosa e serena,

Sorrindo da palavra nazarena,

Foi desaparecendo lentamente,

No mais suave crepúsculo das cousas...