Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do Sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá !
Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá.
Pelas tranças da mãe-d'água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá.
Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá !
Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá !
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová !
Pela lança ensangüentado
Da flor do maracujá !
Por tudo que o céu revela !
Por tudo que a terra dá
Eu te juro que minh'alma
De tua alma escrava está !!..
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá !
Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em - a -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
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Saturday, 19 October 2019
Wednesday, 4 September 2019
Good Readings: “Juvenília VII” by Fagundes Varella (in Portuguese)
Ah! quando face a face te contemplo,
E me queimo na luz de teu olhar,
E no mar de tua alma afogo a minha,
E escuto-te falar;
Quando bebo no teu hálito mais puro
Que o bafejo inefável das esferas,
E miro os róseos lábios que aviventam
Imortais primaveras,
Tenho medo de ti!... Sim, tenho medo
Porque pressinto as garras da loucura,
E me arrefeço aos gelos do ateísmo,
Soberba criatura!
Oh! eu te adoro como a noite
Por alto mar, sem luz, sem claridade,
Entre as refegas do tufão bravio
Vingando a imensidade!
Como adoro as florestas primitivas,
Que aos céus levantam perenais folhagens,
Onde se embalam nos coqueiros presas
Como adoro os desertos e as tormentas,
O mistério do abismo e a paz dos ermos,
E a poeira de mundos que prateia
A abóbada sem termos! ...
Como tudo o que é vasto, eterno e belo;
Tudo o que traz de Deus o nome escrito!
Como a vida sem fim que além me espera
No seio do
infinito.
Wednesday, 11 January 2017
“Tristeza”by Fagundes Varela (in Portuguese)
Eu amo a noite quando deixa os montes
Bela, mas bela de um horror sublime
E sobre a face dos desertos quedos
Seu régio selo de mistério imprime
Amo os lampejos, verde-azul, funéreos
Que às horas mortas erguem-se da terra,
E enchem de susto o viajante incauto
No cemitério de sombria serra
Eu amo a noite com seu manto escuro
De tristes goivos coroada a fonte
Amo a neblina, que pairando ondeia
Sobre o fastígio de elevado monte
Amo nas plantas, que na tumba crescem
De errante brisa o funeral cicio;
porque minh'alma, como a noite, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio
Amo o silêncio, os areais extensos,
Os vastos brejos e os sertões sem dia
Porque meu seio como a sombra é triste
Porque minh'alma é de ilusões vazia
Amo o furor do vendaval que ruge
Das asas densas sacudindo estrago
Silvos de bala, turbilhões de fumo
Tribos de corvos em sangrento lago
Amo ao silêncio do ervaçal partido
Da ave noturna o funerário pio
Porque minh'alma, como a noite, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio
Amo a tormenta, o prepassar dos ventos
A voz da morte no fatal parcel;
Porque minh'alma só traduz tristeza,
Porque meu seio se abrevou de fel
Amo o corisco que deixando a nuvem
O cedro parte da montanha, erguido,
Amo do sino, que por morto soa,
O triste dobre n'amplidão perdido
Amo na vida de miséria e lodo,
Das desventuras o maldito selo,
Porque minh'alma se manchou de escárnios,
Porque meu seio se cobriu de gelo
Amo do nauta o doloroso grito
Em frágil prancha sobre mar de horrores
Porque meu seio se tornou de pedra,
Porque minh'alma descorou de dores
Como a criança, do viver nas veigas
Gastei meus dias namorando as flores
Finos espinhos os meus pés rasgaram
Pisei-os ébrio de ilusões e amores
Tenho um deserto de amargura n'alma
Mas nunca a fronte curvarei por terra
Tremo de dores ao tocar nas chagas
Nas vivas chagas que meu peito encerra
A paz, o amor, a quietação, o riso
A meus olhares não têm mais encanto,
Porque minh'alma se despiu de crenças
E do sarcasmo se embuçou no manto
Friday, 9 December 2016
“A Sonambula” by Fagundes Varela (in Portuguese)
Virgem de loiros cabelos
- Belos, -
Como cadeia de amôres,
Onda vás tão triste agora
- Hora -
De tão sinistros horrores?
Sob nuvem lutulenta,
- Lenta, -
Se esconde a pálida lua;
Nas sombras os gênios combatem;
- Batem -
Os ventos a rocha nua.
Noite medonha e funesta
- Esta -
Fundos mistérios encerra!
Não corras, olha, repara,
- Pára, -
Escuta as vozes da serra!...
Dos furacões nas lufadas,
- Fadas -
Traidoras passam nos ares!
Cruentos monstros e espiam!
- Piam -
As corujas nos palmares!
Bela doida, se soubesses
- Êsses -
Êsses gritos o que dizem,
Ah ! por certo que ouviras,
- Viras -
Que tredas coisas predizem!
Mas, infeliz, continuas!
- Nuas -
As tuas espáduas são!
E sob teus pés mofinos,
- Finos, -
Prendem-se às urzes do chão!
O orvalho teu rosto molha;
- Olha -
Como branca e fria estás!
Virgem de loiros cabelos,
- Belos -
Por Deus! conta-me onde vás!
Nestes ervaçais sem têrmos,
- Ermos -
Ninguém pode te acudir...
Toma sentido, sossega,
- Cega! -
Vê, são horas de dormir!
Teus olhos giram incertos;
- Certos -
Contudo teus passos vão!
Teu ser que a ilusão persegue
- Segue -
O impulso de oculta mão!
Ai! dormes! Talvez risonho
- Sonho -
Te chame a bailes brilhantes!
Talvez vozes que te encantam
- Cantam -
A teus ouvidos amantes!
Talvez eus ligeiros passos
- Paços -
Pisem d'oiro construidos!
Talvez quanto há de perfume
- Fume -
Pra agradar teus sentidos!
Mas ah ! Na cabana agora,
- Ora -
Tua pobre mãe por ti;
E teu pai além divaga,
- Vaga -
Sem saber que andas aqui!
Virgem de loiros cabelos
- Belos, -
Como cadeia de amôres,
Onda vás tão triste agora
- Hora -
De tão sinistros horrores?
Friday, 11 November 2016
“Sombras” by Fagundes Varela (in Portuguese)
Não me detestes, não! Se tu padeces
Também minh'alma teu sofrer partilha
E sigo em prantos de suplício a trilha
Curvado ao peso da tremenda cruz
Para nós ambos apagou-se a luz,
Tudo é tristeza no deserto vário,
Inda está longe o cimo do Calvário
Não para ti, mas para mim, precito!
Tenho na face o desespero escrito
Todos me odeiam - quando toco é pó!
Neste mundo tu me amaste, e só,
E em troco desse amor tiveste o inferno!
Pálida rosa do alcaçar eterno!
Cândida pomba que a inocência nutre!
Melhor te fôra a sanha de um abutre
Que estas profanas mãos que te roçaram!
Aos céus os anjos teu chorar levaram,
Irmãos preparam-te, amorosos,
E eu ainda fico!... E tenho por castigo
Sentir-me vivo quando tudo expira!
Oh! Quando à noite o vendaval se atira
Qubrando as vagas turbulentas, frias,
E lasca o raio as broncas penedias
Onde a chuva despenha-se escumando
Penso que Deus se abranda e vem chegando
A última cena de meu torvo drama
Mas do fuzil que passa à rubra chama
Vejo ainda longe o pouso derradeiro
Andar e sempre andar! O globo inteiro
Pendido atravessar como Caim!
Não achar um repouso, um termo, um fim
A dor que rói, lacera e não descansa
E jamais antever uma esperança!
Uma réstia de luz na escuridão!
Uma voz que me fale de perdão
E parta o bronzeo selo da agonia!
Ah! é cruel! Mas talvez um dia
Compreendas tão funda expiação
E o pobre nome que detestas hoje
Murmures entre lágrimas então!
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