Numa ermida morava um virtuoso ermitão, ao qual se
chegou um salteador de caminhos, dizendo-lhe:
—
Vós rogais a Deus por todos. Rogai-Lhe que me tire deste mau ofício que trago,
senão eu vos hei de matar.
Saindo
dali, tornava a fazer o mesmo que dantes, e outra vez tornava a vir ao eremita,
dizendo:
—
Vós não quereis rogar a Deus por mim, pois hei de vos matar.
Tantas
vezes fez isto, que uma vez veio decidido a matar o eremita. Diante dessa
decisão, o eremita propôs:
—
Já que me queres matar, tiremos primeiro ambos uma pedra que tenho sobre minha
sepultura. Depois de morto, lançar-me-ás dentro sem muito trabalho.
Ele
aceitou, e assim foram ambos erguer a pedra. Porém, enquanto o salteador
trabalhava quanto podia para erguê-la, o ermitão trabalhava para que ela não se
erguesse. E desta maneira não faziam nenhuma mudança na posição da pedra.
O
salteador deu pela coisa, e disse:
—
Do modo como vós me ajudais, como posso eu erguê-la? Eu levanto a minha parte,
mas vós inutilizais o meu esforço.
Antes
que ele prosseguisse, o ermitão explicou:
—
E agora vamos ao que nos interessa. Que me adianta rogar a Deus por ti,
pedindo-lhe que te tire do pecado e mau ofício que trazes, se tu não te queres
tirar e estás muito de propósito perseverando nele?