«E serás feliz por eles não terem com que te
retribuir»
Notei (e é muito natural) que as Irmãs mais santas
são as mais amadas; procura-se conversar com elas, [e] prestam-se-lhes serviços
sem que os peçam. [...] As almas imperfeitas, pelo contrário, não são nada
procuradas; as pessoas mantêm-se, sem dúvida, em relação a elas, dentro dos
limites da cortesia religiosa, mas, receando talvez dizer-lhes algumas palavras
pouco amáveis, evitam a companhia delas. [...] Eis a conclusão que daí tiro:
devo procurar, no recreio, nas licenças, a companhia das Irmãs que me são menos
agradáveis, [e] exercer junto dessas almas feridas o ofício do Bom Samaritano
[Lc 10,30-35].
Uma palavra, um sorriso amável, bastam, muitas
vezes, para alegrar uma alma triste; mas não é exclusivamente para atingir esse
objectivo que quero praticar a caridade, pois sei que bem depressa desanimaria:
uma palavra que terei dito com a melhor intenção poderá ser interpretada
completamente ao contrário. Assim, para não perder o meu tempo, quero ser
amável para com todas (e em particular para com as Irmãs menos amáveis) para
dar alegria a Jesus e corresponder ao conselho que Ele dá no Evangelho mais ou
menos nestes termos: «Quando derdes um banquete, não convideis os vossos
parentes nem os vossos amigos, não vão eles também convidar-vos, por sua vez,
recebendo [vós] assim a vossa recompensa; mas convidai os pobres, os coxos, os
paralíticos, e sereis felizes por eles não vos poderem retribuir, pois o vosso
Pai, que vê no segredo, vos recompensará» [Mt 6,4]. Que banquete poderia uma
carmelita oferecer às suas Irmãs, senão um banquete espiritual composto de
caridade amável e alegre?
Quanto a mim, não conheço outro, e quero imitar
São Paulo, que se alegrava com os que encontrava alegres; é verdade que chorava
também com os aflitos [Rm 12,15], e algumas vezes as lágrimas devem aparecer no
banquete que quero oferecer, mas procurarei sempre que essas lágrimas se
transformem em alegria [Jo 16,20], já que o Senhor ama os que dão com alegria
[2Cor 9,7].