Um mercador precisou sair a mercar mas antes perguntou às suas tres filhas o que lhes agradaria que trouxesse na volta.
Disse a mais velha: “Eu quero jóias e pérolas!”
Disse a do meio: “Eu quero um vestido da cor azul do céu!”
Disse a mais nova: “Pois nada desejava mais que provar uvas!”
Na feira, ele achou jóias e pérolas, que comprou com gosto, assim como um vestido azul da cor do céu, mas nenhumas uvas achou, coisa que o deixou triste pois amava a filha mais nova mais que às outras.
Com tristes pensares, voltava para casa quando um anáo apareceu diante dele e lhe perguntou: “Por que estás triste?”
"Olhe," respondeu o mercador, “que era suposto levar uvas para minha filha menor, mas não encontrei nenhumas no mercado.”
Respondeu-lhe o pequeno: “Pois entre naquele campo e logo encontrarás grande vinhedo guardado por grande urso branco. Ele virá para ti com fúria e crueldade, mas náo te deixes intimidar. Siga para as tuas uvas e as terás.”
Que náo faria o mercador pelo sorriso de sua filhinha? Pois confiou no miúdo, entrou no campo e logo viu a vasta vinha vigiada pelo grande urso branco que, ao ver o homem, correu para ele com urros ferozes.
“Que desejas aqui?” gritou-lhe o urso.
"Amigo urso, seja camarada e deixa-me colher um cacho d’uvas para minha filha menor!”
"Náo terás um simples gráo salvo que me prometas dar quem primeiro te saúde quando cheguares em casa!”
O mercador ponderou os riscos e lembrou que era sempre o seu cáo quem o recebia primeiro e aceitou a proposta. Colheu o cacho d’uvas e retornou feliz para casa.
Ao chegar ao lar, foi sua filha mais nova, que o esperava sempre à janela, quem primeiro correu para ele a cobri-lo de beijos, embora ele náo pudesse sorrir, gelado que estava pela triste surpresa.
E os dias que se seguiram foram de profunda tristeza para ele, sempre à espera de ver o grande urso branco chegar para tomar-lhe a sua menininha.
Passaram os dias e passou um ano desde o encontro na vinha, quando o grande urso branco bateu à porta do mercador e disse-lhe “Da-me agora quem primeiro te recebeu quando chegaste em casa!”
Respondeu-lhe o comerciante: “Toma o meu cáo. Foi ele quem primeiro correu para mim naquele dia!”
O grande urso branco deu um grande urro e disse-lhe: “Mentira! Dá-me quem primeiro te recebeu naquele dia ou como-te agora dum só trago!”
Respondeu-lhe o comerciante: “Tens razáo, perdoa-me. Quem primeiro me recebeu foi aquela macieira em frente de casa!”
O grande urso branco deu outro grande berro e disse-lhe: “Mentes! Dá-me quem primeiro te recebeu naquele dia ou devoro-te agora mesmo!”
O mercador viu mesmo tudo perdido. Chamou sua filha menor, contou-lhe a história toda e a entregou ao grande urso branco.
Veio entáo uma grande carruagem doirada. A menina entrou e o urso, que sentou-se ao seu lado. A um comando da fera, o carro se foi para longe e só parou no jardim dum grande castelo.
O grande urso branco disse à menina: “Este é teu novo lar e serás minha esposa. Náo há ninguém aqui além de nós, mas cuidarei para que nada te falte e que sejas feliz e entáo, quem sabe, esquecerás que teu marido é um urso. Um único cuidado te devo impor: nenhuma luz será acesa durante a noite!”
Era realmente uma estranha condiçáo: ao cair da noute, nem uma simples, pequena vela se podia acender naquele grande castelo. Mas outra coisa, igualmente estranha chamava a atençáo da moça: o fato de seu marido estar sempre com frio! Nada o aquecia!
Depois dum certo tempo o urso perguntou à jovem: “Sabes por quanto tempo estás comigo?”
“Náo”, disse ela
“Pois faz exatamente um ano. Prepara-te agora que vamos visitar teu pai!”
E assim foi: filha e pai abraçaram-se e misturaram as suas lágrimas de alegria. Ela contou-lhe tudo, como nada lhe faltava e era, d’algum jeito, feliz.
Quando o grande urso branco anunciou que deviam voltar ao castelo, o mdercador passou à filha uns palitos de fósforo, avisando-a para enconde-los do urso, mas este viu o movimento e com fúria rugiu ao velho “Pare com isso ou como-te já!” e apartou os dois, rumando para o castelo, onde viveram como antes.
Depois dum certo tempo o urso perguntou à jovem: “Sabes a quanto tempo estás comigo?”
“Náo”, disse ela
“Pois fazem hoje exatamente dois anos. Prepara-te agora que vamos novamente visitar teu pai!”
Assim fizeram e tiudo correu como antes, o mercador por pouco escapando de ser comido pelo genro ao passer palitos de fósforo para a filha. Mas quando foi o terceiro ano e eles fizeram terceira visita ao velho mercador, o grande urso branco, distraído com alguma coisa, não viu que novamente o pai passava à filha os palitos de fósforo.
Chegados ao castelo desta terceira visita, a moça mal podia conter-se, à espera da noite, e quando ela veio, o grande urso branco deitou-se junto da moça e depois de um tempo, dormiu.
A jovem riscou os palitos de fósforo e viu ao lado dela, um homem jovem e belo, com uma coroa doirada na cabeça.
Ele sorriu para ela e disse: Sou-te eternamente grato por me teres redimido! És a esposa dum príncipe encantado. Agora sim, podemos casar como se deve!”
Nesse momento, luzes se acenderam pelo castelo e dela emergiram toda a corte e servos que se puseram a servi-los!