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Thursday, 26 December 2024

Thursday's Serial: “A Moreninha” by Dr. Joaquim Manoel de Macedo (in Portuguese) - I

 

Trop occupc pour corrigec,

Je vous Jivre mcs rèveries.

.... .. .....

J'en fais pour me désennuyer.

(GRESSET.)

 

DUAS PALAVRAS

Eis aí vão algumas paginas escritas, ás quais me atrevi dar o nome de — ROMANCE. — Não foi ele movido por nenhuma dessas tres poderosas inspirações, que tantas vezes soem aparar as penas dos autores: — glória, amor e interesse —: d’este ultimo estou eu bem a coberto com meus vinte e tres anos de idade; que não é na juventude que póde ele dirigir o homem: a gloria, só se andasse ela caída de suas alturas, rojando as azas quebradas, me lembraria eu, tão pela terra que rastejo, de pretender ir apanha-la: a respeito do amor não falemos; pois, se me estivesse o buliçoso a fazer cócegas no coração, bem sabia eu que mais proveitoso me seria gastar meia dúzia de semanas aprendendo n’uma sala de dança, do que velar trinta noites garatujando o que por aí vai. Este pequeno romance deve sua existência somente aos dias de desenfado e folga, que passei no belo Itaborahi, durante as férias do ano passado. Longe do bulicio da Côrte, e quase em ócio, a minha imaginação assentou lá com sigo que bom ensejo era esse de fazer travessuras, e em resultado delas saiu — a Moreninha. —

Dir-me-ão que o ser a minha imaginação traquinas não é um motivo plausivel para vir eu maçar a paciencia dos leitores com uma composição balda de merecimento, e cheia de irregularidades e defeitos; mas o que querem? quem escreve olha a sua obra como seu filho, e todo o mundo sabe que o pai acha sempre graças e bondades na querida prole.

Do que vem dito concluir-se-há que a Moreninha é minha filha: exactamente assim penso eu. Pode ser que me accusem por não tel-a conservado debaixo de minhas vistas por mais tempo, para corrigir suas imperfeições: esse era o meu primeiro intento: a Moreninha não é a unica filha que possuo; tem tres irmãos, que pretendo educar com esmero; o mesmo faria a ela; poém esta menina saiu tão travessa, tão impertinente, que não pude mais sofre-la no seu berço de carteira, e para ver-me livre d’ela venho deposita-la nas mãos do Público, de cuja benignidade e paciência tenho ouvido grandes elogios.

Eu pois conto que, não esquecendo a fama antiga, o Publico a receba, e lhe perdôe seus senões, maus modos, e leviandades. É uma criança, que terá, quando muito, seis meses de idade; merece a compaixão que por ela imploro: mas, se lhe notarem graves defeitos de educação, que provenham da ignorância do pai, rogo que não os deixem passar por alto, acusem-os; que d’ai tirarei eu muito proveito, criando e educando melhor os irmãoszinhos, que a Moreninha tem cá.

E tu, filha minha, vai com a benção paterna, e queira o Céu que ditosa sejas: nem por seres traquinas te estimo menos: e como prova vou em despedida dar-te um precioso conselho: — Recebe, filha, com gratidão a critica do homem instruido; não chores, se com a unha marcarem o lugar em que tiveres mais notavel senão; e quando te disserem que por este erro ou aquela falta não és boa menina, jamais te arrepies antes agradece, e anima-te sempre com as palavras do velho poeta:

 

« Deixa-te repreender de quem bem te ama,

«Que ou te aproveita, ou quer aproveitar-te.»