Como o rico que amava a vida de prazeres,
Eu amei os prazeres efémeros,
Com este meu corpo animal,
Nos prazeres insensatos. […]
E, de tantas benfeitorias
Que me deste gratuitamente,
Não Te devolvi o dízimo
Que de Ti tinha recebido.
Mas tudo o que estava sob o meu tecto
Feito de terra, ar e mar,
As Tuas benfeitorias inumeráveis,
Pensava que eram propriedade minha.
De tudo isso nada dei ao pobre
E para as suas necessidades nada pus de
lado:
Nem comida, para o esfomeado
Nem roupa, para o corpo nu.
Nem abrigo, para o indigente,
Nem morada, para o hóspede estrangeiro,
Nem visitei os doentes,
Nem cuidei dos prisioneiros
Não me entristeci com a tristeza
Do homem triste, por causa do que lhe
pesava;
Nem partilhei a alegria do homem feliz
Mas ardi de inveja dele.
Todos eles são outros Lázaros […]
Que jazem à minha porta. […]
Quanto a mim, surdo ao seu apelo,
Não lhes dei as migalhas da minha mesa.
[…]
Lá fora, pelo menos, os cães da Tua lei
Consolavam-nos com a língua;
E eu, que ouvia o Teu mandamento,
Com a língua feri aquele que se Te
assemelhava (cf. Mt 25,45). […]
Mas dá-me aqui na terra arrependimento,
Para que faça penitência pelos meus
pecados. […]
Para que as minhas lágrimas parem
A fornalha ardente e as suas chamas. […]
E, em vez da conduta de um homem sem
misericórdia,
Estabelece, no mais fundo de mim, a
piedade misericordiosa,
Para que, ao praticar a misericórdia com o
pobre,
Eu possa
obter misericórdia.