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Saturday, 7 June 2025

"As Dores Mentais de Jesus em sua Paixão" by St. Camila Varani (translated into Portuguese)

 

INTRODUÇÃO

Camila Batista Varani, filha de Júlio César, senhor de Camerino, monja Clarissa do Mosteiro de Santa Maria Nova (atualmente Santa Clara) em Camerino, escreveu este breve tratado por ordem expressa de Jesus, em agosto de 1448, e o endereçou à Irmã Pacífica Benedetti, então sua abadessa.

A origem desta obra é narrada pela própria autora em sua autobiografia[1]. Eis o que ela nos conta: “Um dia, mal havia me colocado em oração, logo me foi dito: ‘Vá e escreva aquelas dores mentais da Paixão que tu sabes’. Eu me desculpei e disse: ‘Meu Senhor, não sei nem mesmo por onde começar. Pois não quero dizer de nenhum modo que estas coisas são minhas.’ Foi-me dito: ‘Comece assim: Houve uma alma muito desejosa de nutrir-se...’ e etc...’ E foram-me ditadas duas páginas.

Logo levantei-me e obedeci a tal ordem. As palavras eram-me tão abundantes que não pensava naquilo que queria dizer”.

A Bem-aventurada, na sua profundíssima humildade, termina com uma amarga reflexão: “Quão penosa notícia foi para mim aquela ordem, quase como se Jesus quisesse dizer-me: ‘Eu vejo que o vaso de tua alma é muito sujo. Assim, exala o bálsamo das minhas dores mentais, expande-o sobre os outros, porque a ti, infecta, não podem mais agradar...’ Eis porque as escrevi”[2].

 

 

AS DORES MENTAIS DE JESUS NA SUA PAIXÃO

 

As páginas seguintes se referem às Dores mentais (dores da alma, do coração) de Cristo bendito.

Após voltar de Urbino a Camerino, falava seguidamente com minhas co-irmãs, para a consolação delas e minha. Dizia ter ouvido estas considerações de uma monja de Urbino, para que não pensassem que fosse farinha do meu saco. Irmã Pacífica muitas e muitas vezes me pediu para colocá-las por escrito. Protelava, dizendo que escreveria somente após a morte daquela santa irmã.

Quando, por ordem expressa de Jesus, preparei-me para escrever, enderecei estas páginas à Irmã Pacífica Benedetti, que era então a minha abadessa. Escrevi ter recebido a revelação de uma piedosa monja de Urbino. Para dar crédito à ficção, ia repetindo: “aquela alma santa, aquela alma bem-aventurada...me disse assim”.

*******************

Estas devotíssimas considerações sobre as dores mentais de Jesus Cristo na sua Paixão foram comunicadas pelo próprio Deus, pela sua misericórdia e graça, a uma santa monja de nossa Ordem de Santa Clara.

Esta irmã falava seguidamente comigo. Eu as dirijo fielmente para a utilidade das almas enamoradas da Paixão de Jesus Cristo.

 

PRIMEIRA DOR MENTAL DE JESUS: PELAS ALMAS QUE SE PERDEM

Houve uma alma muito desejosa de nutrir-se e saciar-se dos alimentos amaríssimos da Paixão do amantíssimo e doce Jesus, a qual, após muitos anos de ardente oração, por Sua graça admirável, foi introduzida pelo próprio Jesus no mar amaríssimo de seu Coração apaixonado.

Ela me dizia — enfim — que Jesus muitas e muitas vezes a havia imerso naquele imenso mar, ao ponto de fazê-la implorar: “Não mais, Senhor, não mais, que tanto sofrimento não posso suportar”. Isso, creio, porque Jesus sempre concede com abundância e benignidade a quem lhe pede com humildade e perseverança.

Aquela alma bendita me dizia que na oração pedia seguidamente a Deus com grande intensidade: “Ó meu Senhor, eu te peço que tu me introduzas no santíssimo tálamo de tuas dores mentais. Mergulha-me naquele mar amaríssimo, pois ali desejo morrer se agrada a ti, doce vida e amor meu. Diga-me Jesus, esperança minha: quanto foi grande a dor do teu amantíssimo coração ?”

E Jesus bendito lhe dizia: “Sabe quanto foi grande a minha dor? Foi grande como é grande o amor que tenho pelos seres humanos”.

Aquela monja me confiou que já outras vezes Deus a havia feito compreender, na medida do possível, a imensidão de seu Amor pelos seres humanos. Revelou-me coisas tão belas e devotas; porém ser-me-ia muito demorado escrevê-las.

Quando o Senhor lhe dizia: “Tão grande foi a dor quanto é grande o Amor que tenho pelos seres humanos”, pela intensidade de amor que Deus lhe comunicava, caía em delírio; era constrangida a apoiar a cabeça por causa da fadiga que lhe apertava o coração. Somente após bastante tempo recuperava as forças e então pedia assim: “Ó meu Deus, tu me disseste quão grande foi a tua dor, dize-me agora quantas penas sofreste no teu coração?”

E Jesus docemente lhe respondia: “Sabes, minha filha, foram inumeráveis e infinitas, porque inumeráveis são as almas que se separam de mim por causa do pecado. São membros que se desarticulam de mim, sua Cabeça, tantas vezes quantas pecam gravemente. Esta é a pena mais cruel que sofro no meu coração: a desarticulação dos meus membros. Pensa na dor atroz daquele que é martirizado, ao qual são arrancados os membros. Considera  que martírio foi o meu, à visão de tantas almas perdidas, separadas de mim.

A separação de um membro espiritual é tanto mais dolorosa quanto a alma é mais preciosa do que o corpo. A preciosidade da alma nem tu nem nenhuma pessoa poderá compreender plenamente. Somente eu conheço a nobreza da alma e a vileza e miséria do corpo; porque somente eu criei a uma e a outro. Nem tu, nem outra criatura nenhuma será capaz de compreender a tortura crudelíssima sofrida pela separação de membros tão caros a mim.

Quanto mais grave o pecado, mais atroz é a minha pena. Sabendo que a vontade perversa deles será eterna e, por isso, eterno o seu tormento, era imensa a angústia que me atravessava o coração. Aquelas almas diletas nunca mais estarão unidas e conjugadas a mim, sua Cabeça. Este “nunca, nunca, nunca mais” é aquilo que atormenta e atormentará eternamente, mais do que qualquer outro sofrimento, aquelas almas desventuradas.

Este “nunca, nunca” me causava uma pena tão aguda, que teria escolhido viver, não só uma vez, mas infinitas vezes, todas as separações que foram, que são e serão. Vivê-las-ias todas  para dar, ainda que fosse a uma só alma, a felicidade de reunir-se aos eleitos que viverão eternamente em espírito de vida, procedente de mim que dou a vida a cada ser vivo.

Considera quanto me é preciosa uma alma se, para aproximá-la de mim, quereria viver todas as minhas dores, não uma vez, mas infinitas vezes. E este “nunca, nunca” aflige tanto aquelas pobres almas que sofreriam mil infinitas penas para poder reunirem-se a mim, sua Cabeça, por uma vez ou ao menos por um instante. A intensidade da pena é, pois, proporcional à gravidade da culpa. Assim foi o meu sofrimento pela separação.

Como este “nunca, nunca” afligia a mim mais do que tudo, assim a minha justiça quer que este “nunca, nunca” atormente eternamente os perdidos mais do que qualquer outro mal. Pensa quantas dores repercutiram no meu coração durante a minha Paixão até minha morte por todas as almas perdidas”.

Então — assim continuava aquela alma bendita — nascia em minha alma um forte desejo, por divina inspiração, de expor minha perplexidade. Por isso, com grande temor e reverência, e junto a grande simplicidade e confiança, lhe disse: “Ó meu doce, doloroso Jesus. Ouvi dizer que tu, meu apaixonado Deus, sentiste em ti as penas de todos os perdidos. Queria saber se tu sofreste verdadeiramente todos os tormentos do inferno como: frio, calor, fogo, os espasmos dos membros batidos e despedaçados pelos espíritos infernais. Dize-me, Senhor meu: sentiste tudo isso? Meu Jesus, derrete meu coração só ao pensar em tua grande bondade. Tu falas com tanta doçura e condescendência a quem te procura e te quer!”

Então Jesus, benigno, lhe respondia graciosamente e a ela parecia que as suas perguntas não o desagradassem. “Minha filha, eu não senti todos os tormentos dos perdidos do modo que disseste, pois eram membros mortos, arrancados de mim, sua Cabeça. Eis um exemplo: se tivesses uma mão ou qualquer outro membro arrancado de ti, tu sentirias grande, indizível dor, enquanto lhe é cortado ou arrancado. Mas quando aquele membro fosse separado de todo, mesmo se batido, colocado no fogo, despedaçado por cães e lobos, não sentirias nenhuma dor, pois é membro morto, pútrido, completamente separado do corpo. Afligir-te-ias, porém, vendo-o batido, queimado, devorado, etc., pois é tua carne.

Assim foi para mim. Enquanto durou a separação, mas juntamente a esperança de vida, senti em mim infinita pena e também todos os afãs que aquelas almas sofreram nesta vida; pois até a morte deles não diminuía a esperança de que poderiam se reunir a mim. Mas depois da morte, não senti  mais pena alguma, porque então eram membros mortos, separados e excluídos eternamente de viverem em mim, verdadeira Vida. Profundo sofrimento, porém, era ver no fogo eterno, entre indizíveis tormentos, almas que foram meus membros.

Esta é a dor mental que sofri pelos perdidos”.

 

SEGUNDA DOR MENTAL DE JESUS: PELOS ELEITOS

“A outra dor que me perpassou o coração foi pelos eleitos. Sabes, filha, a mesma dor que provei pelos perdidos me dilacerou também pelos eleitos, pois pecando mortalmente se separaram temporariamente de mim. Como era grande meu amor pelos membros eleitos, que com boas obras se uniam a mim — sua Vida — e de mim se separavam pecando, do mesmo modo era grande a dor que eu sentia.

A minha dor diferia daquela que sentia pelos perdidos somente nisto: para os perdidos, membros mortos e desligados de mim não sentia pena alguma; com os eleitos, em vida e após a morte, condividia cada sofrimento e amargura, isto é, os tormentos de todos os mártires, as penitências de todos os penitentes, as tentações dos tentados, as doenças, as perseguições, os exílios, etc. Senti vivamente cada pena dos eleitos como tu sentirias se te furassem um olho, uma mão, um pé.

Pensa quantos foram os mártires e quantas as torturas que cada um deles sofreu, quantos foram os sofrimentos de todos os eleitos e a variedade das suas penas. Se tivesses mil olhos, mil mãos, mil pés e mil outros membros e em cada um sentisse mil penas, não seria refinado suplício?

Os meus membros, minha filha, não foram nem mil, nem milhares, mas infinitos. As várias penas não foram milhares, mas infinitas, porque inumeráveis foram os sofrimentos dos mártires, das virgens, dos confessores e de todos os outros eleitos.

Como jamais poderás compreender quais e quantas são as formas de beatitude e glória e os prêmios preparados no Paraíso para os justos, assim não é possível que compreendas quais e quantas são as penas mentais sofridas por mim pelos eleitos. Por justiça divina, beatitude, glória e prêmios serão proporcionais às penas sofridas.

Eu senti sobre mim em quantidade e qualidade toda a intensidade das penas que os justos sofreram no Purgatório. E isto porque os eleitos não eram membros pútridos, separados de mim como os perdidos. Eram membros vitais que viviam em mim, Espírito de Vida, prevenidos com a minha graça e benção.

Como tu sentirias viva dor por cada batida ou rasgo feito a um membro teu, que está deslocado e despedaçado até ser colocado no lugar, assim eu sentia em mim todos os tormentos que no Purgatório sofreram os meu membros eleitos, pois eram vivos e destinados a reunir-se a mim, sua Cabeça.

Entre as penas infernais, e aquelas do Purgatório, há somente esta diferença: aquelas são eternas e estas temporárias; no Purgatório as almas sofrem de boa vontade, com alegria e paz, rendendo graças a mim, suma justiça. Isto queria dizer-te da pena mental sofrida pelos eleitos”.

Quisesse Deus que pudesse recordar-me das devotas palavras que ouvi daquela alma santa enquanto, chorando amargamente, dizia-me ser capaz de compreender — na medida que era agradável ao Senhor — a gravidade e o horror do pecado. Quanta pena, quanto martírio havia dado ao seu amantíssimo Jesus, separando-se dele, sumo Bem, para unir-se às coisas vis deste mundo!

Recordo-me de que, entre muitas lágrimas, assim se exprimia: “Ó meu Deus, quão grandes e infinitas penas te dei, salva-me, que sou uma condenada. Ó Senhor, nunca teria pecado, nem mesmo venialmente, se soubesse o quanto o pecado te ofende. Porém, sei que faria até pior, se tua mão não me sustivesse. São tantas estas tuas penas, meu doce e benigno Senhor, que tu não pareces mais um Deus, mas antes um ‘inferno’ de penas amorosas”. Assim, por santa simplicidade, aquela alma bendita muitas vezes o chamava.

 

TERCEIRA DOR MENTAL DE JESUS: PELA SANTÍSSIMA VIRGEM, SUA MÃE

Então, o amorosíssimo e bendito Jesus assim continuava: “Escuta, minha filha. Devo dizer-te coisas amaríssimas; a dor da minha Mãe Imaculada foi o agudo punhal que passou e traspassou minha alma. Ela esteve tão aflita e amargurada por minha Paixão e Morte como nenhuma pessoa viva esteve ou estará.

Por isso no Paraíso nós[3] elevamos Maria, sublimada e premiada sobre todas as criaturas humanas e angélicas. Agimos sempre assim. Quanto mais a criatura é humilhada, aflita, aniquilada neste mundo por meu Amor, tanto mais por divina justiça é elevada e glorificada no Reino dos Céus.

Como neste mundo não houve pessoa mais angustiada do que minha santíssima Mãe, assim no Céu não há e nunca haverá alguém semelhante a ela na glória.

Como na terra a minha Mãe apenas foi a segunda depois de mim nas aflições e penas, assim o é também no Céu em poder e glória, porém sem a minha divindade, da qual partícipes somente Nós, Pai, Filho e Espírito Santo. Todos os sofrimentos e dores que eu — homem Deus — suportei, sofreu-os também a minha diletíssima Mãe. Eu em grau mais alto e perfeito, porque Deus e homem, e ela como simples criatura.

Tanto me angustiou a sua dor que, se fosse agradável ao meu Eterno Pai, escolheria sentir em dobro todos os tormentos da Paixão para tirar de minha Mãe cada sofrimento. Mas, embora implorasse com inúmeras lágrimas ao Pai Celeste esta graça, não me foi concedida, pois o meu infinito martírio deveria acontecer sem nenhuma consolação”.

Então aquela santa monja confiava a mim, Irmã Batista, que se lhe despedaçava o coração, considerando a dor imensa da gloriosíssima Virgem, e não conseguia murmurar outra coisa além destas palavras: “Ó Mãe de Deus, não quero mais chamar-te Mãe de Deus, mas Mãe das penas, Mãe das dores, Mãe de todas as aflições que jamais se poderão dizer nem pensar. Se o teu Filho é um abismo de dor, com que outro nome poderei chamar-te, a não ser Mãe das dores?”

E assim continuava: “Não mais, meu Senhor, não mais! Não digas mais nada das dores de tua bendita Mãe, pois sinto não podê-las suportar. Basta-me isto por toda a vida, mesmo se devesse viver por mil anos”.

 

QUARTA DOR MENTAL DE JESUS: PELA ENAMORADA DISCÍPULA MADALENA

Jesus, vendo aquela monja tão angustiada, não insistiu mais sobre as penas de sua Mãe e começou a dizer: “Podes tu medir as dores que provei pelas penas e aflições de minha dileta discípula e caríssima filha Maria Madalena? Nem tu, nem outros poderão  compreender a minha perfeição, Mestre amante, e a dileção e a bondade dela, discípula amada. Talvez, quem amasse alguém e fosse correspondido pudesse entender alguma coisa, se tivesse a experiência de um amor santo e espiritual. Mas um amor assim perfeito não existe sobre a terra porque não se encontrará mais um tal Mestre e mesmo uma tal discípula.

Excetuada minha santíssima Mãe, não existe pessoa que mais sofreu pela minha Paixão e morte, como Maria Madalena. Se minha Santíssima Mãe lá estivesse, depois de minha Ressurreição, apareceria a ela, antes de Madalena. Como Madalena foi a mais aflita depois de minha bendita Mãe, assim, depois de minha dolorosíssima Mãe foi ela a mais consolada.

No doce repouso que João, ‘meu dileto discípulo’ gozou sobre o meu sacratíssimo Coração na última Ceia, eu o fiz prever a minha gloriosa Ressurreição e o imenso fruto dado aos homens pela minha Paixão e Morte. Embora João sofresse  mais do que todos os outros discípulos, não penses que a sua dor superasse aquela da enamorada Madalena. Ela não possuía a capacidade de compreender coisas altas e profundas como João, o qual, embora sofrendo, não impediu a minha Paixão e Morte, porque conhecia o grande bem que viria depois.

Não era assim para Madalena. Vendo-me morto, parecia a ela que faltasse o céu e a terra, porque somente eu era sua esperança, a sua paz e toda a sua consolação. Ela, ‘sem ordem nem medida’ me amava, por isso ‘sem ordem nem medida’ foi a sua dor, que eu conheci plenamente e senti em meu ânimo, pois dela recebi toda a ternura que pode vir de um amor santo e espiritual; ela me amava perdidamente.

Os meus  discípulos, ainda não desprendidos das coisas terrenas, retornaram às suas redes, mas esta santa pecadora não retornou ao mundo, mas totalmente inflamada e flamejante de santo desejo, não podendo mais ver-me vivo, ansiosamente me procurava morto. Nenhuma criatura poderia, então, amar e gozar, a não ser o seu Mestre, vivo ou morto.

Vês que, para reencontrar-me morto, Madalena deixou até mesmo a companhia e a presença viva de minha diletíssima Mãe, que é a mais amável que se possa ter neste  mundo. Para Madalena, não aparecia nada, nem mesmo a visão e as doces conversas com os Anjos. Assim cada alma, quando me ama intensamente,  não se aquieta e nem repousa com nenhuma outra presença, mas somente em mim, seu Deus amado.

Tão grande foi a dor desta minha discípula dileta, que muitas vezes teria morrido se não a sustentasse com minha Força e Graça. A sua dor imensa repercutia agudamente no meu apaixonado coração e intensificava minhas penas. Não permiti, porém, que lhe fosse aliviada tanta dor, porque queria fazer dela aquilo que realmente ela foi: a apóstola dos Apóstolos. Foi ela, com efeito, que anunciou a verdade de minha gloriosa Redenção aos Apóstolos, como estes o fizeram, depois, a todo mundo.

Queria fazer dela, como de fato a fiz, modelo, espelho e norma de vida contemplativa vivida na solidão e no segredo. Nesta contemplação escondida, Madalena viveu trinta e três anos, sentindo e gozando os últimos efeitos do amor, o quanto é possível gozar e sentir nesta vida mortal”.

 

QUINTA DOR MENTAL DE JESUS: PELOS AMADOS DISCÍPULOS

“Outra dor que me feria a alma era a lembrança do colégio dos Apóstolos; colunas do céu, fundamento da minha Igreja, ovelhinhas sem pastor. Vi-os andarem dispersos, sentia todas as penas e os martírios que por mim suportariam. Nunca um pai amou tanto seus próprios  filhos, nem irmão aos irmãos, nem mestre os próprios discípulos, quanto eu amei estes meus amantíssimos filhos, irmãos e discípulos, os Apóstolos.

Embora eu tenha amado e ame sempre todas as criaturas com amor infinito, todavia amava com amor particular os irmãos com os quais vivi. Assim, particular dor sofreu por eles a minha apaixonada alma. Mais por eles do que por mim, repeti aquelas amargas palavras: ‘A a minha alma está triste até a morte’.

Deixava-os privados de seu pai e mestre; esta separação me angustiava tanto, quase como uma segunda morte. Seria bem duro de coração quem não chorasse, relembrando e meditando as doces palavras que dirigi aos meus Apóstolos no último discurso na Ceia do adeus. Aquelas palavras brotavam do profundo do meu coração. Parecia que quisessem arrebentar no peito por causa do amor.

Vi quem seria crucificado vivo por causa do meu nome, quem seria esfolado vivo, quem seria decapitado, todos aqueles que por amor a mim sofreriam cruéis martírios. Esta visão foi de grande dor para mim.”

E Jesus continuava: “Pensa, minha filha, quanto sofrerias se uma pessoa amada santamente por ti, fosse injuriada e maltratada por tua causa. Mas eu, para meus Apóstolos, fui causa não somente de injúria, mas de atrozes torturas e de morte; não somente para um, mas para todos. Não há imagem que possa mostrar-te a amplitude desta minha dor.”

 

SEXTA DOR MENTAL DE JESUS: PELO AMADO DISCÍPULO JUDAS, O TRAIDOR

“Uma outra dor íntima traspassava o meu coração apaixonado. Uma faca com três pontas agudíssimas e envenenadas me penetrava na alma amargurada: a ingratidão e a perfídia de meu discípulo traidor Judas, por mim tão amado; a dureza e esquecimento de meu povo eleito e predileto, o povo judeu, a cegueira e maldade de todas as criaturas que existiram, existem e existirão.

Considera quanto foi grande a minha pena pela ingratidão de Judas; eu o havia escolhido entre o número dos meus apóstolos, perdoei todos os seus pecados, fiz dele realizador de milagres, dispensador dos bens de nossa família apostólica. Sempre demonstrei-lhe particular amor para desviá-lo de seus maus propósitos. Mas quanto mais amor lhe dedicava, sempre mais maquinava traição. Quanto me amargurava a cegueira e dureza de seu coração! Quando, humilde e amorosamente, inclinei-me diante dele para lavar-lhe os pés, o meu coração não pode reprimir um pranto cheio de amargura.

E dos meus olhos saiam rios de cálidas lágrimas, enquanto minha alma ia repetindo: ‘Ó Judas, que te fiz para que tu me traias? Ó Judas, desventurado discípulo, é este o último sinal de amor; porque tu te afastas assim do teu pai e mestre? Ó judas, se queres trinta denários, porque não vais até minha e tua Mãe? Ela venderá a si mesma para libertar a ti e a mim deste grande perigo e da morte. Ó discípulo ingrato, eu com tanto amor te beijo os pés e tu, com vil traição me beijarás a boca? Que troca! Choro tua perdição, caro e dileto filho, não a minha paixão e morte, pois para isso vim a este mundo.

Estas palavras e outras semelhantes dirigia a ele com o coração, regando-lhe os pés com abundantes lágrimas. Mas ele não se dava conta, porque eu estava ajoelhado à sua frente com a cabeça inclinada, no ato de lavar-lhe os pés, e meus longos cabelos cobriam meu rosto repleto de lágrimas.

Mas meu amado discípulo João, que acompanhava e notava cada ato meu, percebeu bem o meu amoroso pranto. Compreendeu que cada lágrima minha procedia da ternura do amor. Como um pai, perto da morte, quer prestar um extremo serviço ao filho único, assim também eu o fiz. Lavei e beijei os pés de Judas, meu filho, e com grande ternura os aproximei e os estreitei junto à minha sacratíssima face.

João, águia que voa mais alto que todos, mais morto que vivo por causa do estupor e da admiração, guardava todos os meus gestos. Alma sensibilíssima, foi o último diante do qual me ajoelhei para lavar-lhe os pés. Quando me viu ao chão, abraçou-me e ficou estreitado junto a mim, fundindo as suas lágrimas às minhas. Sem voz me falava, dizendo: ‘Ó caro mestre, irmão, pai, meu Senhor e meu Deus, como pudeste lavar e beijar com tua sacratíssima boca os pés daquele cão traidor? Ó meu Jesus, querido mestre! Tu nos deixas um exemplo perfeito, mas nós pobrezinhos, que faremos sem ti, que és todo o nosso bem? Que fará, que dirá a tua desventurada Mãe quando lhe contar esta tua infinita humildade? A tua bondade me despedaça o coração. Porque queres lavar-me estes pés cheios de lama e pó e os queres beijar com tua dulcíssima boca? Ó meu Deus, estes novos sinais de amor são para mim sinais certos de infinita dor’. Ditas estas e outras palavras, que comoveriam um coração de pedra, com muita vergonha e reverência, João abandonou os pés entre as minhas mãos e deixou-se lavar”.

E  voltando-se sempre àquela santa monja, Jesus concluiu assim: “Disse a ti estas coisas para fazer-te compreender a profunda dor que me afligiu pela ingratidão de Judas, o traidor, que recompensou com vil esquecimento os sinais de particular preferência que lhe dei sempre até à última hora”.

 

SÉTIMA DOR MENTAL DE JESUS: POR SEU PREDILETO POVO JUDAICO

“Pensa, minha filha, quanto me afligiu e traspassou a alma a ingratidão e obstinação do povo judaico. Eu o fiz grande; povo santo e sacerdotal, escolhido como minha parte e herança sobre todos os povos da terra. Libertei-o da escravidão do Egito, das mãos do Faraó. Guiei-o a pés secos através do Mar Vermelho. Fui para ele coluna de nuvens durante o dia e luz durante a noite, alimentei-o durante quarenta anos com o maná. Sobre o Monte Sinai lhes dei a santa lei; tornei-o vitorioso contra seus inimigos. No meio daquele povo tomei carne humana; por toda a minha vida eduquei-os, ensinando o caminho do Céu. Naqueles anos fiz para eles vários milagres: iluminei os cegos, fiz ouvir os surdos, curei os paralíticos e enfim dei novamente a vida também aos mortos.

Quando entendi que com tanto furor invocavam a libertação de Barrabás e queriam que eu fosse crucificado e morto, parecia que meu coração arrebentasse.

Quem não experimenta não pode compreender, minha filha, quanto é dilacerante receber todo o mal justamente daqueles aos quais se deu todo o bem. Quanto é duro e amargo ouvir urrar em alta voz: ‘Viva! Viva!’ para quem é merecedor de mil penas e ‘crucifica, crucifica — morra, morra’ para quem é inocente e sumo benfeitor”.

 

OITAVA DOR MENTAL DE JESUS: PELA INGRATIDÃO DE TODAS AS CRIATURAS

Aquela alma santa me confiava que sentia nascer no coração sentimentos de grande humildade e sinceramente confessava a Deus e a toda a corte celeste ter recebido mais dons e benefícios do que Judas e que todo o povo judeu juntos. Pior e mais ingrata do que Judas era ela por trair Jesus; mais cruel e obstinada que o ingrato povo eleito, ela o havia crucificado e levado à morte.

Considerando isto, aquela santa monja colocava espiritualmente sua alma sob os pés do perdido e maldito Judas, e daquele lugar abissal gritava e chorava em direção ao seu amado Senhor: “Ó meu benigno Jesus, como poderei agradecer tudo o que sofreste por mim? Tratei-te mil e mil vezes pior que Judas. Tu fizeste a ele teu discípulo, e a mim, tua filha e esposa. Perdoaste a ele os seus pecados e a mim, por tua bondade e graça, tudo perdoaste, devolvendo-me a primeira inocência[4]. Tornaste-o dispensador das coisas materiais e a mim, ingrata, dispensaste tantos dons e graças do teu tesouro espiritual. A ele deste o dom dos milagres,  e por mim operaste o sumo milagre de conduzir-me voluntariamente neste lugar santo[5].

Ó meu Jesus, te vendi e te traí não somente uma vez, mas mil infinitas vezes. Ó meu Deus, tu o sabes: pior que Judas te traí com um beijo quando, sob a aparência de amizade espiritual, te deixei e me aproximei de ligações de morte. Se tanto te afligiu a ingratidão do povo hebreu, quanto mais não sofreste por minha causa! Porque eu te tratei de modo pior, após ter recebido de ti, meu bem verdadeiro, tantas graças e benefícios. Meu dulcíssimo Senhor, agradeço-te de todo o coração por haveres me arrancado da escravidão do mundo, do pecado, das mãos do cruel faraó, demônio infernal que dominava a minha pobre alma ao seu bel prazer! Me guiaste, meu Deus, com os pés secos através das águas do mar das vaidades mundanas.

Por tua graça passei à solidão do deserto, neste claustro. Aqui muitas vezes me nutriste do teu dulcíssimo maná, rico de todo bom sabor. Davam-me náuseas todos os prazeres do mundo, perto da menor de tuas consolações espirituais. Agradeço a ti, meu Pai benigníssimo, que muitas vezes com a tua dulcíssima boca sobre o Monte Sinai, da santa oração, me deste a Lei, escrita com o dedo de teu Amor sobre as tábuas do meu duríssimo e rebelde coração.

Agradeço a ti, meu Redentor benigníssimo, por todas as vitórias que me deste contra os meus inimigos, os vícios capitais. Somente de ti e por ti alcancei hoje a minha vitória; da minha malvadeza e do pouco amor que te dou, ó meu Deus, se deve cada uma de minhas derrotas. Tu, ó Senhor, nasceste por graça em minha alma, deste a mim a tua luz, luz da Verdade, Caminho para chegar a ti, verdadeiro Paraíso.

Nas trevas e escuridão do mundo, me fizeste ver, ouvir, falar e caminhar na tua luz. Porque verdadeiramente eu era cega, surda e muda a todas as coisas espirituais. Me ressuscitaste em ti, verdadeira Vida, que dá vida a cada criatura viva.

Mas, ó Deus e redentor meu, quem te crucificou? Eu. Quem te flagelou à coluna? Eu. Quem te coroou de espinhos? Eu. Quem te deu de beber fel e vinagre? Eu.”

Com reflexões semelhantes sobre as dores sofridas por Jesus, aquela alma bendita concluía dizendo: “Ó meu Jesus, sabes porque te digo isto? Porque a luz da tua graça me fez compreender que muito mais te fazem sofrer os meus pecados do que todas as dilacerações que atormentaram então teu sacratíssimo corpo.

Meu Deus, não fale-me mais das dores que te causou a ingratidão dos homens, pois a tua luz me iluminou para conhecer, ao menos em parte, a minha imensa ingratidão. Considero, por tua inspiração e graça, o quanto te fizeram sofrer todas as criaturas juntas. Nesta consideração o meu espírito se comove por tua imensa e paciente Caridade. A tua bondade nunca se cansa de providenciar para nos, tuas ingratíssimas criaturas, sustento em todas as nossas necessidades espirituais e corporais.

Como nunca poderemos conhecer plenamente as inumeráveis coisas que tu, meu Deus, fizeste no céu, na terra, na água e no ar para nós, vilíssimas criaturas, assim jamais poderemos compreender a nossa indizível ingratidão. Creio que somente tu, meu Senhor, pode saber o quanto pode ser dolorosa aquela amaríssima flecha que traspassou o teu coração por causa da ingratidão de todas as criaturas que existiram, existem e existirão. não passa mês, nem dia, nem hora ou instante sem que tu recebas inumeráveis ofensas. Reconheço e creio que a nossa indizível ingratidão foi uma das mais pungentes espadas que traspassou a tua alma.”

 

Termino estas poucas linhas sobre as dores mentais de Jesus. Sexta-feira, 12 de setembro do ano do Senhor de 1488[6]. Amém.

 

Muitas outras coisas ouvidas daquela alma bendita poderei ainda dizer para a utilidade e consolação dos leitores. Porém freio o impulso do meu coração, pois aquela monja ainda está viva. Talvez futuramente Deus me inspirará de juntar outras piedosas considerações, que agora calo por delicadeza.

 

[1] Camila Batista Varani, Autobiografia, Editrice Ancora, Milano 1983.

[2] Autobiografia, p.52.

[3] Jesus fala como pessoa da Santíssima Trindade.

[4] A inocência batismal.

[5] No mosteiro.

[6] A bem-aventurada tinha trinta anos.

Saturday, 24 May 2025

“Omne Datum Optimum” papal bull by Pope Pope Innocent II (translated into English)

 

Bishop Innocent, Servant of the Servants of God. To his beloved sons Robert, grandmaster of the religious order of the Temple which is situated in Jerusalem, and his followers and brothers, both present and in the future forever. Every good reward and every good gift is from above, descending from the Father of Light, with Whom there is no change and no overshadowing vicissitudes. Caringly, beloved sons in the Lord, we praise the omnipotent God for you and on behalf of you, because your religious order, your venerable institution is made known throughout the world. Although you were by nature sons of wrath, committed to the pleasures of this age, through inspiring grace you became attentive hearers of the Gospel, having forsaken worldly ostentation and private property, indeed having abandoned the wide path that leads towards death, you humbly chose the hard way that leads to life and in order to justify being considered among the knighthood of God you always bear on your chest the sign of the life-giving cross. In agreement with this is the fact that you, just as true Israelites and warriors most skilled in holy war, are indeed fired up by the flame of charity and fulfill by your deeds the words of the Gospel that says: “Greater love hath no man than this, that a man lay down his life for his souls [sic, the text has animis 'souls' where is should say amicis 'friends']“, whence, in accordance with the words of the great Shepard, you are not afraid to lay down your souls for your brothers and defend them from attacks of the pagans. Also, since you are known by the name of the Knights of the Temple, you were appointed by the Lord to be defenders of the Catholic Church and assailants of Christ’s foes. It is indeed lawful that may you exert in your pursuit and laudable devotion in such a holy deed with all your heart and all your mind. Nevertheless, we encourage your corporation in the Lord, and, for the remission of your sins, by the authority of God and St. Peter, prince of the apostles, we charge you, as well as your those serving you, that you intrepidly fight, invoking the name of Christ, against the enemies of the cross, in order to protect the Catholic Church and to secure that which is under the tyranny of pagans and ought to be rescued from their filth. As for the things that you will receive from the spoils, you can confidently put them to your own use, and we prohibit that you be coerced against your will to give anyone a portion of these. We establish that the house or “the Temple” in which you are gathered, for the praise and glory of God and the defense of his faithful ones, as well as liberation of the church of God, with all your goods and possessions that it is known to legitimately have at the present time or may acquire in the future through concessions of bishops, generosity of kings and princes, gifts of the faithful or in any other just away, with God’s help, shall be under the guardianship and protection of the Apostolic See for all time to come. We also establish in this present decree that the religious life that has been instituted in your house, inspired by divine grace, shall be observed inviolably and the brothers who serve the Lord therein shall live chastely without personal property, and, confirming their profession by words and morals, shall be subject and obedient to their master and to those whom he ordains. Moreover, since this house of your sacred institution merited to be the source and origin of the order, it shall likewise forever be considered the head and principal of all the places that belong to it. In addition, we command that, upon your, Robert, our beloved son in the Lord, or any of your successors’ death, no brother of this house shall be put forward unless he is a military and religious man who had professed the habit of your order, and if the proposed man is elected by none other than all of the brothers or by a better and purer part of them. Moreover, no ecclesiastic or layman may infringe upon or diminish the customs jointly instituted by the master and the brothers for the purpose of observing their duty and religion. Those same customs, that have been observed by you for some time and have been fixed in writing, cannot be changed by anyone other than a master, at the consent of at least the better part of the chapter. Also, we prohibit and forbid in all possible ways any ecclesiastic of layman to exhort from the master and the brothers of this house any fealty, homage, oaths or other securities, often employed by seculars. Be also aware that, as your holy institution and religious knighthood has been established by divine providence, it is not at all fitting for you to relocate to any other place under the pretext of a more religious life, because God who is indeed unchangeable and eternal, does not approve inconstant hearts, but rather wishes that you carry out the sacred plan, once intended, to the very end of the due action. How many great men in a military garb of worldly power pleased the Lord leaving him an eternal memorial? How many and how great men in battle armor, in their time, bravely fought in God’s witness and in defense of the laws of their fathers, consecrating their hands to the Lord in the blood of infidels, and after laboring in combat received the reward of eternal life? View your calling accordingly, brothers, both knights and servants, and, as the apostle says, “let each one of you abide in the calling wherein he was called.” Therefore we deny your once brothers, once dedicated and received into the holy order, any ability to return to secular life after making profession of your knighthood and assuming the religious habit. And it is not lawful for anyone, after making profession, to reject the Lord’s cross and the habit of your profession, once taken up, nor may he change residence to another place or even a monastery, under the pretext of a more or less religious life, if the brothers or the acting master have not agreed to it or have not been consulted, and no ecclesiastic or layman should have a permission to accept or retain them. And because those who are defenders of the Church should live and be sustained from the goods of the Church we by all means prohibit the exaction of tithes against your will from all moveable and unmovable possessions and anything that belongs to your venerable house. But we confirm with apostolic authority the tithes that you might extract by your zeal, with the advice and consent of the bishops from the hands of clerics and laymen, and even those that you obtain with the consent of bishops and their clerics. And, so that nothing would lack for they fullness of your salvation and the care of your souls, and so that sacraments of the church and holy services are more conveniently held within your holy order, we sanction, in a similar fashion, that it is permitted to you to receive honest priests and clerics, who had received ordination in God, to the best of your knowledge, wherever they arrive to you from, and to keep them both in your headquarters and in other locations subordinate to it — provided that, if they are from the neighborhood, you ask their bishops for them, and that they are not considered hostile to any other profession or order. But if the bishops happen not to be willing to concede them to you, in no way you have the right to receive and retain them by the authority of the holy Roman Church. If, however, some of them, after making the profession, appear to be troublemakers in your order or house, or simply not useful, you, along with the better part of the chapter, are allowed to remove them and give them the license to transfer to a different order where they wish to lead a godly life, replacing them with other suitable men. These, however, shall be tested within your community over a year’s term, after which, if their conduct measures up, and they have been found useful for your service, then they shall finally make the profession of living according to the rule and obeying their grandmaster, so that they may have the same food and clothing as you, as well as their bedding, except for what they wear as closed garments. But even these should not be permitted to become involved in the administration of your chapters or your houses other than so much as you would lay upon them. They shall also only have as much care of your souls as you have charged them with. Moreover, they shall not be subject to anyone outside of your chapter and they shall offer obedience in all and by all to you, Robert, my beloved son in the Lord, and your successors, as their masters and prelates. In addition, we command that you leave ordinations of the clerics, whom you might wish to be brought forth into the holy orders, to a Catholic bishop, if indeed he is Catholic and has the grace of the apostolic See, who, doubtlessly supported by our authority, bestows what is required. We also prohibit these clerics to preach for money or profit and you to send them to preach for the same purpose, unless it happens that the grandmaster of the Temple at the time makes a provision for this, for specific reasons. And whoever of these is accepted into your company, he shall promise to maintain permanency of residence, to change his habits and to fight for the Lord every day of his life, with obedience to the grandmaster of the Temple, having placed a written assurance thereof upon the altar. While also reserving for bishops episcopal rights, in regard to tithes, as well as religious services and burials, we likewise grant permission to build places of worship in locations given to the Holy Temple, where your community resides, in which religious services would certainly be held and where, if any one of your or your community should die, they may be buried. For it is not unbecoming and constitutes clear danger to the souls if the brothers of the order commingle with multitudes of men and crowds of women, under the pretext of going to church. In addition, we decree by apostolic authority that, in whatever place you happen to arrive, you should receive the sacraments of confession, unction and all others from honest and Catholic priests, lest something be lacking in the partaking of spiritual gifts. Because indeed we are all in one Christ, and there is no distinction of faces with God, both in the remission of sins and in other beneficences, and we wish both your communities and your servants to be recipients of the apostolic benediction that has been granted to you. Therefore, nobody is permitted to rashly trouble the aforesaid place or to take out its possessions or to retain the possessions that had been taken out, as well as to diminish them or to wear them out by any ill-treatment, but they should be kept untouched and be used for the good of your order and God’s other faithful, in every possible way. Therefore, if anyone, with the knowledge of this our decree, rashly attempts to act against it and, having been warned for the second and third time, and does not suitably correct his fault, he shall lose the dignity of his power and honor. He will find himself accused of the perpetrated injustice before the divine court and be unworthy of the most holy body and blood of our God, Lord and Savior Jesus Christ, and also be subject to severe vengeance at final judgment. Those, however, who maintain these precepts shall obtain the benediction and grace of the omnipotent God and his blessed apostles Peter and Paul. Amen.

 

Rota. – I, Innocent, bishop of the Catholic Church.

+ I, Egidius bishop of Tusculanum.

+ I, Gregory, cardinal priest of the SS. Apostols

+ I, Peter, cardinal priest of St. Susanna

+ I, Conrad, bishop of Sabina

+ I, Theodewinus, bishop of Rufina

+ I, Peter, cardinal priest of St. Marcellus

+ I, Aberic, bishop of Susa

+ I, Comes, cardinal priest of St. Eudoxia

+ I, Mathew, cardinal priest of St. Eudoxia

+ I, Gerard, cardinal priest of the Holy Cross in Jerusalem

+ I, Anselm, cardinal priest of St. Laurence in Lucina

+ I Lutifridus, cardinal priest of Vestina

+ I, Luke, cardinal priest of SS John and Paul

+ I, Grisogon, cardinal priest of St. Praxedis

+ I, Martin, cardinal priest of St. Sabel

+ I, Gregory, cardinal deacon of SS Sergius and Bachus

+ I, Adelulf, cardinal deacon of SS Mary in Cosmidia

+ I, Guido, cardinal deacon of St. Cosmas and Damian

+ I Vassal, cardinal deacon of St. Eustachia by the temple of Agrippa

 

Given at Lateran, by the hand of Imeric, cardinal deacon and chancellor of the Roman Church, on the 4th day before the Kalends of April, second indiction, in the year of incarnation of the Lord 1139, tenth year of the pontificate of our Lord Pope, Innocent II.