São Paulo, 20 de
janeiro de 1935
Dr. Getúlio
Vargas
Por intermédio do
meu amigo Rônald de Carvalho, procurei no dia 15 do corrente, fazer chegar ao
seu conhecimento uma exposição confidencial sobre o caso do petróleo, estou na
incerteza se esse escrito chegou a destino. Talvez se perdesse no
desastre do dia 20. E como se trata de documento de muita importância pelas
revelações que faz, seria de toda conveniência que eu fosse informado a
respeito. Nele denuncio as manobras da Standard Oil para senhorear-se das
nossas melhores terras potencialmente petrolíferas, confissão feita em carta
pelo próprio diretor dos serviços geológicos da Standard Oil of Argentina, que
é o tentáculo do polvo que manipula o brasil. E isso com a cooperação efetiva
do sr. Victor Oppenheim e Mark Malamphy, elementos seus que essa companhia
insinuou ou no Serviço Geológico e agora dirigem tudo lá, sob o olho palerma e
inocentíssimo do dr. Fleuri da Rocha. É de tal valor a confissão, que se eu der
a público com os respectivos comentários o público ficará seriamente abalado.
Acabo agora de obter mais uma prova da duplicidade desse
Oppenheim, cornaca do Fleuri. Em comunicação reservada que ele enviou para a
Argentina ele diz justamente o contrário, quanto às possibilidades petrolíferas
do Sul do Brasil, do que faz aqui o Fleuri pelos jornais, com o objetivo de
embaraçar a marcha dos trabalhos da Companhia Petróleos.
O assunto é extremamente sério e faz jus ao exame sereno do
Presidente da República, pois que as nossas melhores jazidas de minérios já
caíram em mãos estrangeiras e no passo em que as coisas vão o mesmo se dará com
as terras potencialmente petrolíferas. E já hoje ninguém poderá negar isso
visto que tenho uma carta em que o chefe dos serviços geológicos da Standard
ingenuamente confessa tudo, e declara que a intenção dessa companhia é manter o
Brasil em estado de "escravização petrolífera".
Aproveito o ensejo para lembrar que ainda não recebi os
papéis, ou estudos preliminares do serviço que V. Excia. Tinha em vista
organizar, por ocasião do encontro que tivemos em fins do ano passado, no
Palácio Guanabara.
Respeitosamente,
J. B. Monteiro Lobato