Showing posts with label Basque Folktale. Show all posts
Showing posts with label Basque Folktale. Show all posts

Saturday, 28 November 2020

Good Reading: " A Bela e a Fera – un conto basco" Retold by José Thiesen (in Portuguese)

Era uma vez um rei que tinha tres filhas e que, por algum motivo obscuro, não dava muita atenção à sua  filha mais nova, mesmo sendo ela a mais adorável delas.

Esse rei gostava muito de festas e festivais e ia a quantos podia, sempre trazendo um presente às duas filhas mais velhas, mas nunca para a mais nova.

Até o dia em que ele, pondo-se a caminho pra uma grande festa num reino vizinho, lembrou-se da filha mais nova e disse a ela: eu jamais te trouxe uma prenda, como trago às tuas irmãs; mas desta vez, diz-me tu o que queres que te traga eu e to trarei.

A menina respondeu: mas não quero nada, papai!

- Mesmo assim, quero trazer-te algo. Diz-me o que te agradaria receber de mim!

- Pois que seja como o meu pai deseja. Traz-me uma flor, papai!

E o rei foi para a grande festa em outro reino onde ele riu e divertiu-se de mil modos e comprou um xale para a filha mais velha e um chapéu para a filha do meio mas esqueceu-se da filha mais nova.

Estava a caminho de seu palácio quando lembrou-se da caçulinha e pensou: onde encontrar uma flor para a minha pequenina agora, no meio do nada?

Foi quando viu um grande, belo castelo com um vasto jardim coberto de toda sorte de flores.

O rei sorriu para si mesmo e disse: bem, isso é que é mesmo sorte! Ninguém vai reclamar que de jardim tão grande, eu tire uma flor!

Adentrou no jardim e colheu as mais belas flores que encontrou, mas quando estava para sair, uma voz feia se fez ouvir: quem te deu permissão para roubar-me estas flores? Ouve bem, inconsequente: se em menos de um ano não me entregares uma de tuas filhas, eu te acharei e consumirei no fogo a ti e teu reino!

O rei tremia inteiro e como a voz silenciara tão bruscamente quanto soara, rápido ele pulou para a sela do cavalo e saiu dali em desesperada carreira.

Chegou no seu castelo e foi logo rodeado pelas filhas, a quem deu os devidos presentes, mas sem a alegria costumeira e, com o passar dos dias, seu silêncio e tristeza só fizeram crescer, o que chamou a atenção da filha mais velha, a qual o inquiriu sobre aquela tristeza grave e incomum.

O rei contou-lhe a aventura no jardim e a voz sem corpo e concluiu dizendo: imagina, filha minha, como estou, sabendo que já em menos de um ano devo entregar àquela voz tremenda uma de minhas filhas, ou eu e o reino seremos queimados até os ossos!

- Se o meu pai cometeu a imprudência tanta de invadir terra alheia por uma flor, queimar ‘té os ossos é bem feito. Seja como for, negoceie quem irá para tal voz com as outras duas, que eu por certo não vou entregar-me a um espírito mau!

Outro dia foi a filha do meio, também preocupada com a tristeza em seu pai que lhe perguntou a que vinha aquilo e o rei falou-lhe francamente, finalizando por dizer que não atinava que filha entregar.

A mocinha então lhe respondeu: resolva isso como lhe aprouver, mas nem morta vou entregar-me a uma voz sem corpo. Um corpo sem voz até vai, mas voz sem corpo?

Mais uns dias e veio a filha mais nova: que se passa, meu pai? Por que essa tristeza? Quem te fez mal?

- Pois ouve, minha filha, que a buscar flores para ti, adentrei num jardim onde achei as flores belas que te trouxe. Mas quando ia sair, uma voz vinda não sei de onde disse-me que lhe trouxesse uma das minhas filhas antes do ano findar; se não, a voz virá até nós e queimará a mim e ao reino.

A menina pensou por um segundo e disse ao pai: não te preocupes com isso. Eu vou até a voz.

E para não dar-se a chance de mudar de idéia, logo arrumou uma trouxa de roupa, providenciou um carro e se foi ao castelo.

Em frente a este, ainda hesitou um segundo mas entrou. Dentro, soava linda música sem músico algum presente. Houve jantar e ceia para a moça, mas ela não viu criado algum.

Veio a noute e ela dormiu e nova manhã com farto desjejum, mas ela ainda não viu ninguém.

Ouviu uma voz que lhe disse: fecha teus olhos que desejo repousar minha cabeça sobre os teus joelhos.

Ela respondeu: vem, não tenho medo.

E uma enorme serpente apareceu, rastejando para ela. A pobre menina ficou tão assustada que mal conteve um gritinho de horror. Isso foi o bastante para a serpe recuar para onde veio.

Sumindo nas sombras dum canto, a serpente disse: meu nome é Azor.

- E o meu, Fifine, murmurou ela.

Desde então a menina vivia no castelo habitado por vozes que lhe não deixavam faltar nada: banhos tépidos, a melhor comida, veste reais e muito mais.

Depois de muito tempo ela ouviu novamente a voz, que lhe disse: queres voltar para a casa de teu pai?

- Em verdade, tu me dás tudo e ainda mais do que preciso e nada me falta.

- Mas se quizeres, podes ir rever teu pai por tres dias. Vês o anel sobre a mesa? Veste-o enquanto estiveres fora. Se ele mudar de cor, é porque estou doente; se porém, ele sangrar, é porque estou em grande, grandíssima desgraça.

A menina vestiu o anel e tomou o rumo do castelo do rei, seu pai, o qual ficou cheio de alegria quando a viu.

As irmãs viram o quanto ela estava bela e bem vestida e perguntaram-lhe: com quem vives?

- Vivo com uma enorme serpente, a qual raramente vejo.

Elas não lhe creram.

Os tres dias passaram-se como um sonho breve e a menina esqueceu a serpente. No quarto dia ela olhou o anel e viu que ele estava com uma estranha cor de ferrugem. Pensando que estivesse sujo passou um dedo sobre ele e o anel começou a pingar sangue.

Muito assustada pelo que viu, ela correu ao rei seu pai, explicou-lhe o que se passava, tomou a carruagem e voltou para o castelo da serpente.

Ainda de fora, viu que o castelo estava tomado por sombras. Entrou, correu pelos salões tenebrosos e seu coração gelava em seu peito: as vozes tinham desaparecido!

Gritava: Azor! Azor!, mas tudo eram silêncio e trevas.

Atravessou o patio interno entre pranto e grito, até que chegou a um canto gelado, coberto de neve. Ali encontrou, em mil anéis, a enorme serpente, como morta.

Incontinenti, ela fez um fogo para aquecer o réptil que, aos poucos, recuperou a vida.

- Tu me esqueceste, disse a cobra. Não tivesses feito este fogo, por certo eu teria morrido.

Ainda em prantos, Fifine respondeu: de fato te esqueci, mas o anel me fez lembrar de ti.

- Não haja dor em teu coração nem lágrimas em teus olhos: eu sabia que isso iria acontecer; esta foi a razão de dar-te o anel.

Voltaram para dentro do castelo e as trevas se dissiparam, havia luz e calor, as vozes e a música se faziam ouvir novamente.

Alguns dias depois, Azor disse à moça: precisamos casar.

Fifine nada disse. Ele propôz de novo e de novo, mas ela permanecia em silêncio.

As trevas frias voltavam, lentamente, e as vozes e a música desapareceram em triste silêncio. A menina já não tinha comida pronta para comer, e um estranho inverno circundava o castelo.

Depois de muitos dias, ela disse: isso não pode continuar. Estamos todos a definhar e se não lhe tenho amor, ao menos gratidão eu tenho.

Um dia ouviu Azor: aceitas casar comigo?

Ela respondeu: aceito, mas com o homem, não a cobra!

Imediatamente o frio, as trevas, o silêncio triste desapareceram e voltaram o calor e a vida.

- Pois então, disse ele, casamos depois de amanhã. Por agora, vai à casa do rei teu pai e prepara o necessário para casarmos!

Ela fez como ordenado e pediu a benção e as devidas providências ao seu pai. Ele as deu, mas tanto o pai quanto as irmãs ficaram tomadas de vergonha de verem Fifine casar com um mostro!

Fifine retornou para Azor, contou-lhe o sucesso da empreitada e ele perguntou-lhe: queres uma serpente da casa para a igreja ou da igreja para casa?

- Gostava que fosse serpente de casa para a igreja.

- Também eu prefiro assim.

A riquíssima carruagem de Azor, puxada por quatro cavalos brancos com crinas doiradas esperava por eles. Dentro, a serpente poisou sua cabeça sobre os joelhos da moça e disse: feche as janelas da carruagem para que ninguém me veja.

- Mas todos te verão quando saires da carruagem.

- Faz como digo, meu coração!

Ela obedeceu e tiveram uma viagem tranquila.

Quando chegaram ao castelo do pai de Fifine, toda a corte estava reunida para receberem o tremendo monstro, mas heis que sai da carruagem o mais belo mancebo que já tinham visto.

Foram todos à igreja onde casaram-se os dois. Ao final, o rei ia levá-los a um grande banquete que preparara para as bodas, mas o esposo disse a todos:

- Não podemos ficar para a noite, mas antes, temos que voltar ao meu castelo para realizar u’a muito grande tarefa. Mas voltamos amanhã!

Todos, inclusive Fifine ficaram grandemente surpresos por essa novidade, mas ninguém quiz estragar a festa e aquiesceram todos.

Quando Azor e Fifine chegaram em seu castelo, era tarde da noite. Ele acendeu um fogo e apresentou a ela um grande cesto onde estava a pele da serpente e disse: quando ouvires a primeira badalada da meia-noite, deves queimar completamente a pele da serpente a ao soar da última badalada da meia-noite, deves jogar as cinzas pela janela e deixar que o vento as leve. Se falhares nisso, estarei condenado a ser, para sempre, a monstruosa serpente.

E assim ela fez; com grande diligência pôz a pele no fogo ao soar do primeiro toque e, com dois espetos, virava e revirava a pele para que queimasse toda. Ao décimo soar, a pele estava totalmente reduzida a cinzas e com uma pá e escova, a mulher recolheu as cinzas e jogou-as pela janela.

Isso feito, uma voz semelhante a um trovão, semelhante ao rugido duma fera atroou no salão: eu amaldioçôo tuda esperteza e o que fizeste!

Azor, seu marido, correu para ela entre mil lágrimas e jogou-se aos seus pés, sem parar de beijar-lhe as mãos e agradecer à sua esposa o grande, impagável bem que ela lhe fizera.

Dizia-lhe: agora nada mais temo na vida! Estou livre da maldição que me atormentava! Vamos amanhã à casa de teu pai celebrar nossas bodas!

Foram e tiveram magnífica acolhida onde todos os mistérios foram exclarecidos por Azor.

O rei ofereceu-lhes morada no castelo e o casal aceitou. Com o passar do tempo, Fifine teve dois meninos e duas meninas e, vendo sua boa fortuna, as suas irmãs cresciam em ciúmes e inveja e tanto fizeram que, ao final, o rei mandou-as embora do castelo.

Quando velho, o rei passou sua coroa a Azor que reinou com sabedoria e compaixão. Depois de muito tempo, Azor e Fifine morreram tão feliz morte quanto foram felizes as suas vidas.

Wednesday, 19 August 2020

Good Reading: "Monster and the Beauty" by Unknown Writer (in English)

 As there are many in the world in its state now, there was a king who had three daughters. He used continually to bring handsome presents to his two elder daughters, but did not pay any attention at all to his youngest daughter, and yet she was the prettiest and most amiable.

The king kept going from fair to fair, and from feast to feast, and from everywhere he used to bring something for the two eldest daughters. One day, when he was going to a feast, he said to his youngest daughter --

"I never bring anything home for you; tell me then what you want and you shall have it."

She said to her father: "And I do not want anything."

"Yes, yes, I am going to bring you something."

"Very well then, bring me a flower."

He goes off, and is busy buying and buying; for one a hat, for the other a beautiful piece of stuff for a dress, and for the first again a shawl; and he was returning home, when in passing before a beautiful castle, he sees a garden quite full of flowers, and he says to himself:

"What! I was going home without a flower for my daughter; here I shall have plenty of them."

He takes some then, and as soon as he has done so, a voice says to him:

"Who gave you permission to take that flower? As you have three daughters, if you do not bring me one of them before the year be finished, you shall be burnt wherever you are--you, and your whole kingdom."

The king goes off home. He gives his elder daughters their presents, and her nosegay to the youngest. She thanks her father. After a certain time this king became sad. His eldest daughter said to him:

"What is the matter with you?"

He says to her: "If one of my daughters will not go to such a spot before the end of the year, I shall be burned."

His eldest daughter answers him, "Be burned if you like; as for me, I shall not go. I have no wish at all to go, there. Settle it with the others."

The second also asks him, "You seem very sad, papa; what is the matter with you?"

He told her how he is bound to send one of his daughters, to such a place before the end of the year, otherwise he should be burned.

This one too says to him, "Manage your own business as you like, but do not reckon upon me."

The youngest, after some days, said to him, "What is the matter with you, my father, that you are so sad? Has someone done you some hurt?"

He said to her, "When I went to get your nosegay, a voice said to me, 'I must have one of your daughters, before the year be completed,'2 and now I do not know what I must do. It told me that I shall be burned."

This daughter said to him, "My father, do not be troubled about it. I will go."

And she sets out immediately in a carriage. She arrives at the castle and goes in, and she hears music and sounds of rejoicing everywhere, and yet she did not see anyone. She finds her chocolate ready (in the morning), and her dinner the same. She goes to bed, and still she does not see anyone. The next morning a voice says to her:

Shut your eyes; I wish to place my head on your. knees for a moment."

"Come, come; I am not afraid."

There appears then an enormous serpent. Without intending it, the young lady could not help giving a little shudder. An instant after the serpent went away; and the young lady lived very happily, without lacking anything. One day the voice asked her if she did not wish to go home.

She answers, "I am very happy here. I have no longing for it."

"Yes, if you like, you may go for three days."

He gives her a ring, and says to her, "If that changes colour, I shall be ill, and if it turns to blood, I shall be in great misery."3

The young lady sets out for her father's house. Her father was very glad (to see her). Her sisters said to her:

"You must be happy there. You are prettier than you were before. With whom do you live there?"

She told them, "With a serpent." They would not believe her. The three days flew by like a dream, and she forgot her serpent. The fourth day she looked at her ring, and she saw that it was changed. She rubs it with her finger, and it begins to bleed. Seeing that she goes running to her father, and says to him that she is going. She arrives at the castle, and finds everything sad. The music will not play--everything was shut up. She called the serpent (his name was Azor, and hers Fifine). She kept on calling and crying out to him, but Azor appeared nowhere. After having searched the whole house, after having taken off her shoes, she goes to the garden, and there too she cries out. She finds a corner of the earth in the garden quite frozen, and immediately she makes a great fire over this spot, and there Azor comes out, and he says to her:4

"You had forgotten me, then. If you had not made this fire, it would have been all up with me."

Fifine said to him, "Yes, I had forgotten you, but the ring made me think of you."

Azor said to her, "I knew what was going to happen; that is why I gave you the ring."

And coming into the house, she finds it as before, all full of rejoicings--the music was playing on all sides. Some days after that Azor said to her:

"You must marry me."

Fifine gives no answer. He asks her again like that three times, and still she remained silent, silent. The whole house becomes sad again. She has no more her meals ready. Again Azor asks her if she will marry him. Still she does not answer, and she remains like that in darkness several days without eating anything, and she said to herself, "Whatever it shall cost me I must say, Yes."

When the serpent asks her again, "Will you marry me?" she answers, "Not with the serpent, but with the man." As soon as she had said that the music begins as before. Azor says to her that she must go to her father's house and get all things ready that are necessary, and they will marry the next day. The young lady goes as he had told her. She says to her father that she is going to be married to the serpent to-morrow, (and asks him) if he will prepare everything for that. The father consents, but he is vexed. Her sisters, too, ask her whom she is going to marry, and they are astounded at hearing that it is with a serpent. Fifine goes back again, and Azor says to her:

"Which would you prefer, from the house to the church, serpent, or from the church to the house, (serpent)?"

Fifine says to him, "From the house to the church, serpent."

Azor says to her, "I, too."

A beautiful carriage comes to the door. The serpent gets in, and Fifine places herself at his side, and when they arrive at the king's house the serpent says to her:

"Shut the doors and the curtains, that nobody may see."

Fifine says to him, "But they will see you as you get down."

"No matter; shut them all the same."

She goes to her father. Her father comes with all his court to fetch the serpent. He opens the door, and who is astonished? Why, everybody. Instead of a serpent there is a charming young man; and they all go to the church. When they come out there is a grand dinner at the king's, but the bridegroom says to his wife:

"To-day we must not make a feast at all. We have a great business to do in the house; we will come another day for the feast."

She told that to her father, and they go on to their house. When they are come there her husband brings her in a large basket a serpent's skin, and says to her:

"You will make a great fire, and when you hear the first stroke of midnight you will throw this serpent's skin into the fire. That must be burnt up, and you must throw the ashes out of window before the last stroke of twelve has ceased striking. If you do not do that I shall be wretched for ever."

The lady says to him, "Certainly; I will do everything that I can to succeed."

She begins before midnight to make the fire. As soon as she heard the first stroke she throws the serpent's skin (on the fire), and takes two spits and stirs the fire, and moves about the skin and burns it, till ten strokes have gone. Then she takes a shovel, and throws the ashes outside as the last twelfth stroke is ending. Then a terrible voice says:

"I curse your cleverness, and what you have just done."

At the same time her husband comes in. He did not know where he was for joy. He kisses her, and does not know how to tell his wife what great good she has done him.

"Now I do not fear anything. If you had not done as I told you, I should have been enchanted for twenty-one years more. Now it is all over, and we will go at our ease tomorrow to your father's house for the wedding feast."

They go the next day and enjoy themselves very much. They return to their palace to take away the handsomest things, because they did not wish to stop any more in that corner of the mountain. They load all their valuable things in carts and waggons, and go to live with the king. This young lady has four children, two boys and two girls, and as her sisters were very jealous of her, their father sent them out of the house. The king gave his crown to his son-in-law, who was already a son of a king. As they had lived well, they died well too.

 

LAURENTINE.