Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde és Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa,completamente silencioso,
Até a glória de ficar silencioso,
Sem pensar.
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Tuesday, 7 July 2015
Friday, 12 June 2015
"Soneto Antigo" by Cecília Meireles (in Portuguese)
Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.
Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.
O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.
Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.
O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
Friday, 8 May 2015
"Motivo" by Cecília Meireles (in English)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Friday, 10 April 2015
"Serenata" by Cecília Meireles (in Portuguese)
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo"
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo"
Thursday, 12 March 2015
"Pequeno Gesto" and "Alma Escura" by Cecília Meireles (in Portuguese)
Pequeno Gesto
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
Alma Escura
E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará...
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
Alma Escura
E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará...
Friday, 13 February 2015
“Epigrama n. 2” by Cecília Meireles (in Portuguese)
És precária e
veloz, Felicidade.
Custas a vir e,
quando vens, não te demoras.
Foste tu que
ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir,
se inventaram as horas.
Felicidade, és
coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para
sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se
vê que as horas todas passam,
e um tempo
despovoado e profundo, persiste.
Friday, 16 January 2015
“Abrir o Impossível” by Cecília Meireles (in Portuguese)
Tu tens um medo:
Se você errou
Se você errou,
peça desculpas...
É difícil
perdoar?
Mas quem disse
que é fácil se arrepender?
Se você sente
algo diga...
É difícil se
abrir?
Mas quem disse
que é fácil encontrar alguém que queira escutar?
Se alguém reclama
de você, ouça...
É difícil ouvir
certas coisas?
Mas quem disse
que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama,
ame-o...
É difícil
entregar-se?
Mas quem disse
que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil
na vida...
Mas, com certeza,
nada é impossível...
Sunday, 14 December 2014
“O Amor...” by Cecília Meireles (in Portuguese)
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
Thursday, 27 November 2014
“Lua Adversa” by Cecília Meireles (in Portuguese)
Tenho fases, como
a lua.
Fases de andar
escondida,
fases de vir para
a rua...
Perdição da minha
vida!
Perdição da vida
minha!
Tenho fases de
ser tua,
tenho outras de
ser sozinha.
Fases que vão e
vêm,
no secreto
calendário
que um astrólogo
arbitrário
inventou para meu
uso.
E roda a
melancolia
seu interminável
fuso!
Não me encontro
com ninguém
(tenho fases como
a lua...)
No dia de alguém
ser meu
não é dia de eu
ser sua...
E, quando chega
esse dia,
o outro
desapareceu...
Thursday, 6 November 2014
“Canção de Ninar” by Cecília Meireles (in Portuguese)
Canção da tarde
no campo
Caminho do campo
verde
estrada depois de
estrada.
Cerca de flores,
palmeiras,
serra azul, água
calada.
Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é
minha.
Meus pés vão
pisando a terra
Que é a imagem da
minha vida:
tão vazia, mas
tão bela,
tão certa, mas
tão perdida!
Eu ando sozinha
por cima de
pedras.
Mas a tarde é
minha.
Os meus passos no
caminho
são como os
passos da lua;
vou chegando, vai
fugindo,
minha alma é a
sombra da tua.
Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é
minha.
De tanto olhar
para longe,
não vejo o que
passa perto,
meu peito é puro
deserto.
Subo monte, desço
monte.
Eu ando sozinha
ao longo da
noite.
Mas a estrela é
minha.
Friday, 3 October 2014
“Leveza” by Cecília Meireles (in Portuguese)
Leve é o pássaro:
e a sua sombra
voante,
mais leve.
E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.
E o que lembra,
ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo
instante,
mais leve.
E a fuga
invisível
do amargo
passante,
mais leve.
Saturday, 13 September 2014
“4º Motivo da Rosa” by Cecília Meireles (in Portuguese)
Não te aflijas
com a pétala que voa:
também é ser,
deixar de ser assim.
Rosas verá, só de
cinzas franzida,
mortas, intactas
pelo teu jardim.
Eu deixo aroma
até nos meus espinhos
ao longe, o vento
vai falando de mim.
E por perder-me é
que vão me lembrando,
por desfolhar-me
é que não tenho fim.
Friday, 15 August 2014
“Canção” by Cecília Meireles (in Portuguese)
Pus o meu sonho
num navio
e o navio em cima
do mar;
- depois, abri o
mar com as mãos,
para o meu sonho
naufragar
Minhas mãos ainda
estão molhadas
do azul das ondas
entreabertas,
e a cor que
escorre de meus dedos
colore as areias
desertas.
O vento vem vindo
de longe,
a noite se curva
de frio;
debaixo da água
vai morrendo
meu sonho, dentro
de um navio...
Chorarei quanto
for preciso,
para fazer com
que o mar cresça,
e o meu navio
chegue ao fundo
e o meu sonho
desapareça.
Depois, tudo
estará perfeito;
praia lisa, águas
ordenadas,
meus olhos secos
como pedras
e as minhas duas
mãos quebradas.
Wednesday, 23 July 2014
“Discurso” by Cecília Meireles (in Portuguese)
E aqui estou,
cantando.
Um poeta é sempre
irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo
por onde passa.
Venho de longe e
vou para longe:
mas procurei pelo
chão os sinais do meu caminho
e não vi nada,
porque as ervas cresceram e as
serpentes andaram.
Também procurei
no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre
muitas nuvens.
E suicidaram-se
os operários de Babel.
Pois aqui estou,
cantando.
Se eu nem sei
onde estou,
como posso
esperar que algum ouvido me escute?
Ah! Se eu nem sei
quem sou,
como posso esperar
que venha alguém gostar de mim?
Saturday, 28 June 2014
“Máquina Breve” by Cecília Meireles (in Portuguese)
O pequeno vaga-lume
com sua verde
lanterna,
que passava pela
sombra
inquietando a
flor e a treva
— meteoro da
noite, humilde,
dos horizontes da
relva;
o pequeno
vaga-lume,
queimada a sua
lanterna,
jaz carbonizado e
triste e
qualquer brisa o
carrega:
mortalha de
exíguas franjas
que foi seu corpo
de festa.
Parecia uma
esmeralda
e é um ponto
negro na pedra.
Foi luz alada,
pequena
estrela em rápida
seta.
Quebrou-se a
máquina breve
na precipitada
queda.
E o maior sábio
do mundo
sabe que não a
conserta.
Tuesday, 3 June 2014
"Reinvenção" by Cecília Meireles (in Portuguese)
A vida só é
possível reinventada.
Anda o sol pelas
campinas
e passeia a mão
dourada
pelas águas,
pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas
piscinas
de ilusionismo...
— mais nada.
Mas a vida, a
vida, a vida,
a vida só é
possível
reinventada.
Vem a lua, vem,
retira
as algemas dos
meus braços.
Projeto-me por
espaços
cheios da tua
Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite
escura.
Não te encontro,
não te alcanço...
Só — no tempo
equilibrada,
desprendo-me do
balanço
que além do tempo
me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e
dada.
Porque a vida, a
vida, a vida,
a vida só é
possível
reinventada.
Tuesday, 6 May 2014
"Inscrição na Areia" by Cecília Meireles (in English)
O meu amor não
tem
importância
nenhuma.
Não tem o peso
nem
de uma rosa de
espuma!
Desfolha-se por
quem?
Para quem se
perfuma?
O meu amor não
tem
importância
nenhuma.
Wednesday, 9 April 2014
"Noções" by Cecília Meireles (in Portuguese)
Entre mim e mim, há vastidões bastantes
Para a navegação
dos meus desejos afligidos.
Descem pela água
minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina
arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.
Mas, nesta
aventura do sonho exposto à correnteza,
Só recolho o
gosto infinito das respostas que não se encontram.
Virei-me sobre a
minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era
esta errância por mares contraditórios,
E este abandono
para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto
é minha alma:
Qualquer coisa
que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
Como o vento
largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...
Thursday, 13 March 2014
"Primeiro Motivo da Rosa" by Cecília Meireles (in Portuguese)
Vejo-te em seda e
nácar,
E tão de orvalho
trêmula, que penso ver, efêmera,
Toda a Beleza em
lágrimas
Por ser bela e
ser frágil.
Meus olhos te
ofereço:
Espelho para face
Que terás, no meu
verso,
quando, depois
que passes,
jamais ninguém te
esqueça.
Então, de seda e
nácar,
Toda de orvalho
trêmula, serás eterna. E efêmero
O rosto meu, nas
lágrimas
Do teu orvalho...
E frágil.
Saturday, 22 February 2014
"Tu Tens um Medo" by Cecília Meireles (in Portuguese)
Acabar.
Não vês que
acabas todo o dia.
Que morres no
amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas
todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre
outro.
Que és sempre o
mesmo.
Que morrerás por
idades imensas.
Até não teres
medo de morrer.
E então serás
eterno.
Não ames como os
homens amam.
Não ames com
amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se
fosses outro.
Como se fosses
amar.
Sem esperar.
Tão separado do
que ama, em ti,
Que não te
inquiete
Se o amor leva à
felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum
destino.
Se te leva.
E se vai, ele
mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a
realizar.
Vai.
Sem caminho
marcado.
Tu és o de todos
os caminhos.
Sê apenas uma
presença.
Invisível presença
silenciosa.
Todas as coisas
esperam a luz,
Sem dizerem que a
esperam.
Sem saberem que
existe.
Todas as coisas
esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da
tua renúncia!
Sem orgulho da
tua renúncia!
Abre as tuas mãos
sobre o infinito.
E não deixes
ficar de ti
Nem esse último
gesto!
O que tu viste
amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste
inútil
Foi o que viram
os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua
renúncia
Estende sobre a
vida
Os teus olhos
E tu verás o que
vias:
Mas tu verás
melhor...
... E tudo que
era efêmero se desfez.
E ficaste só tu,
que é eterno.
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