“O Espírito Santo deve tornar-se o meu Mestre interior, cuja voz “sonet sine sono” (soa sem som). Ele me sugerirá tudo, me recordará tudo o que disse Jesus, me guiará, tomará a direção de todo o meu ser, ajudará a minha fraqueza, suprirá a minha deficiência, cumprirá em mim a minha missão de contínua oração, porque a que valeria a minha oração se não fosse inspirada e valorizada por Ele?
“Ninguém será capaz de dizer: “Senhor Jesus”, a não ser pelo Espírito Santo” (1Cor 12,3), mas “o Espírito vem em socorro de nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir. É o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8,26). Devo pensar que é Ele que reza em mim e por mim, o Espírito Santo que louva Deus em mim, mesmo quando o cansaço ou a aridez ou as distrações me impedem de fixar o meu espírito ou me torna difícil a oração vocal, por exemplo, o rosário e o Ofício; devo então permanecer numa atitude humilde de oração e confiar que o Espírito Santo extrai do meu ser aquele louvor, aquela glória que eu não sei, mas quero dar-Lhe. Tanto que, são os mais belos pensamentos que posso ter?
E será o Espírito Santo que inspirará não só a minha oração, mas também as minhas ações, que presidirá as minhas relações com o próximo e produzirá em mim aqueles frutos admiráveis que são seus dons, como são dons seus todas as virtudes, porque nós sozinhos não poderemos jamais “adquiri-las”. “O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio” (Gal 5,22). Então também a observância externa, a modéstia, tornar-se-ão irradiação do Espírito Santo. Por isso, como dizem as nossas instruções do Noviciado: “o exercício da modéstia se apresenta como um exercício sobretudo interior que se explica na moderação das potencias, que procura o recolhimento da alma e a sujeita ao Espírito Santo, o qual a atrai, a penetra, a investe, a eleva, esquece de si, até ao louvor e glorificação de Deus. A modéstia é então uma virtude inerente à vida de oração, e por isso é uma virtude sumamente carmelitana; não só, mas a perfeição desta virtude, que é a paz interior e a submissão total ao influxo do Espírito Santo, coincide então, com a plenitude da vida espiritual na alma transformada em Deus pela união de amor. A natureza inferior, que está em nós e que permanece, não deve manifestar-se mais, mas se irradia só o espírito”.
Não se age mais de modo humano, mas de modo divino pelo Espírito Santo que está em nós.
“Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14), esta é a verdadeira vida, a vida dos filhos de Deus.
Esta deve ser a minha vida como Esposa de Jesus.
Uma esposa assume o espírito, o modo, os gostos do Esposo
Ela se conforma inteiramente à sua vontade, se associa à sua obra, se mantém em contínuo contato de amor com o Esposo, não pensa senão nos seus interesses, esquece de si …
Assim devo fazer eu com Jesus, ou ao invés, o fará em mim o Espírito Santo, por isso lhe peço isso: “altissimi donum Dei” (Dom altíssimo de Deus).
O ato inimitável da minha virgem patrona, Santa Apolônia[1] que espontaneamente se lançou nas chamas, na qual consumou seu martírio, posso imitá-lo espiritualmente: lançar-me naquele “fogo divino” que é o Espírito Santo para que complete a minha purificação, destrua o meu miserável “eu” e me transforme em amor.
Nestes Exercícios suplico por isso ao Espírito Santo de sobrevir em mim, dirigir-me no seu beneplácito e tornar-me dócil.
“De manhã em manhã ele me desperta, sim, desperta o meu ouvido para que eu ouça como discípulo” (Is 50,4b). “A minha unção vos instrui em cada coisa (1Jo 2,27). Mas é preciso grande recolhimento e silencio para ouvir esta voz delicada, é necessária muito mortificação para ouvir este toque, é preciso muita submissão para seguir esta moção tênue que convida e não obriga.
Ele sugere discretamente, não violenta: “O Espírito Santo que o Pai enviará no meu nome – diz Jesus no discurso da ultima ceia – ensinará a vós todas as coisas e vos sugerirá tudo” (Jo 14,26).
É toda a Trindade Santíssima que se ocupa desta pobre criaturazinha e é atenta a sua santificação, para transformá-la e levá-la a perfeita união, para fazer uma única coisa com Ela e com os irmãos: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti” (Jo 17,21).
Como é bela a Unidade de Deus e a unidade em Deus! Onde está o Espírito Santo aí está o Pai e o Filho. O Espírito Santo e o Filho dizem isto que diz o Pai: “não falará de si mesmo, mas dirá tudo quanto tiver ouvido” (Jo 16, 13) diz Jesus do Espírito Santo. Mesma a minha palavra não deve ser “minha” devo dizer somente o que o Espírito Santo me sugere.
“Quem me vê, vê o Pai. Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim, realiza suas obras” (Jo 14,910).
Assim devo fazer também eu as obras do Pai, que o Espírito Santo me sugerir, permanecendo nesta continua dependência de amor que fará alcançar a mais íntima união com Deus.
Fidelidade nas mínimas inspirações
Como deveria apreciar então cada mínima inspiração! É mais preciosa que todo mundo – quer que seja a mínima inspiração de renunciar uma palavra ou um olhar, de fazer bem uma inclinação (na recitação do Ofício) – porque é uma pequena “vocação”, um convite da Santíssima Trindade, e entrar mais dentro na sua intimidade se correspondendo lhe com fidelidade, cresça na graça e no amor.
Toda a nossa perfeição cristã em dizer sempre “Amém” ao Senhor que pede algo por meio da obediência ou das inspirações e depende da nossa fidelidade em seguir a sua conduta.
É preciso evitar toda pequena infidelidade, toda pequena hesitação, não rejeitar nada, como fez Santa Teresa do Menino Jesus desde a idade de três anos e então a luz irá sempre crescendo e o amor tornar-se-á um abismo que não se pode jamais entender. Mas sei que praticamente, com frequência cairei, faltarei – Deus meu! Não seja voluntariamente! – mas mesmo neste caso devo levantar-me, colocar-me de novo sob o influxo do Espírito Santo, com um ato de amor, sem deixar-me perturbar-me, nem desanimar, porque o Espírito é suave: “O quam… suavis est, Domine, Spiritus tuus!”[2] (Sab 12,1) e “onde está o Espírito do Senhor aí está a liberdade” (2Cor 3, 17), alegria e paz no Espírito Santo. A alma por Ele possuída e guiada, está sempre serena, humilde e confiante.
Terei sempre que vigiar e combater contra a minha natureza corrupta e soberba, mas “se vivemos pelo Espírito, procedamos também de acordo com o Espírito” (Gal 5,25); como disse São Paulo aos Gálatas: “Caminhai segundo o Espírito e não satisfareis os desejos da carne… Aqueles que são de Cristo, crucificaram a sua carne com os vícios e as concupiscências” ( 5, 16 e 24). Sei que, infelizmente, sentirei ainda tendências más: “E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,28). Trata-se de mortificar de desprezar estes modos maus, seguindo a moção oposta, isto é o Espírito Santo, e assim terei ocasião de demonstrar tantas vezes a Deus o meu amor.
Esta fidelidade a seguir os atos da graça, e não os da natureza, assim bem descritos na Imitação: “depende muito das nossas disposições. As mesmas coisas as vezes as acolhemos bem, generosamente e as vezes somos ao invés vis. Depende de nós, mas com frequência a nossa vontade é fraca, as virtudes são insuficientes, certas vezes acontece heroísmo ou luz maior: não se sabe como comportar-se, não se vê onde esteja o mais perfeito, como conciliar duas virtudes, dois deveres que parecem contrastantes, como superar uma prova”, etc.
Eis porque sinto desejo dos dons do Espírito Santo, desta qualidade permanente que nos fazem dóceis às inspirações divinas, de modo a ser movidas divinamente, quase por instinto divino, pelo sentido sobrenatural… e agir de modo divino. São como as velas em relação a barca prontas para serem levadas pelo vento, a levar antes rapidamente, sem esforço dos remos, a própria barca. Quando o Espírito Santo investe em uma alma com os seus dons a leva adiante rapidamente, e quase facilmente na via da santidade: “Correrei pelo caminho dos teus mandamentos, pois dilataste o meu coração” (Sl 118,32). “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe é dado do céu”. “Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há variação nem sombra de mudança”, diz São Tiago (1,17). Por isso peço com todo o coração ao Pai de infundir em mim o Espírito Santo com os seus dons, eu peço a Jesus como dom de núpcias e confio de obtê-lo porque Jesus disse: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7,11).
Depois invoco com todo o coração o mesmo Espírito Santo: “Vinde, Doador dos dons … Teus sete dons… vossos sete sagrados dons”.
“Ascendei a vossa luz em nossas almas,
Infundi o vosso amor em nossos corações;
E a fraqueza da nossa carne,
Fortalecei-a com perpétua força”.
Atitude interior diante do Espírito Santo
Nestes Exercícios me coloco diante dele, como um pequeno fruto colhido que deve amadurecer ao sol, como uma palha que deve ser queimada no fogo, como uma cera informe que deve ser absorvida pelo sol, como uma menina ignorante que deve ser instruída. Jesus disse: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3) … “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança não entrará nele” (Lc 13,7). “Todo aquele que se faz pequeno como esta criança, este será o maior no Reino dos céus” (Mt 18,4) … Devemos renascer no Espírito Santo, explica Jesus a Nicodemos (cf. Jo 3). E depois este nascimento sobrenatural ocorrido no Batismo, viver segundo o Espírito Santo. “o que nasceu do Espírito, é espírito” (Jo 3,6). Ele se infunde na alma pequena, pobre, humilde. Quero apresentar-me a Ele nesta atitude e com aquelas disposições, eu invoco:
Vinde, Espírito Santo, santifica-me!
Tenho tanto desejo da santidade! Santifica-me Tu, faz-me santa, grande santa, logo santa, sem que eu o saiba, no escondimento do Carmelo.
Vinde, Espírito do temor de Deus, guardai-me!
O Espírito Santo nos convida: “Vinde, ó filhos, escutai-me: vos ensinarei o temor do Senhor” (Sl 118, 12).
Não se trata do temor servil, mas do temor filial do menino que não quer ofender seu pai.
O temor servil é temor da pena, do castigo, inspira medo de Deus, o faz refugiar depois da culpa, como Adão e Eva, o considera como juiz exigente, como o servo infiel da parábola dos talentos…
O temor filial ao invés, inspirado pelo Espírito Santo é temor casto da ofensa de Deus que inspira a delicadeza, de consciência própria dos santos e ao mesmo tempo confiança, como em Santa Teresa do Menino Jesus.
O temor servil é imperfeito; por isso é dito que “o amor perfeito expulsa o temor” (1Jo 4,18).
O temor filial ao invés provém do amor e o acompanha, como explica o Santo Padre João da Cruz no Cântico: “Quando a alma chega a ter com perfeição o espirito de temor, conseguiu já perfeitamente o espírito do amor; enquanto que aquele temor… é um temor filial e o temor perfeito de filho nasce do amor perfeito pelo pai (C 26, n.3). E na Noite Escura diz que: “O temor de Deus, quando está perfeito, está perfeito o amor, que é quando se faz a transformação por amor da alma”. O temor filial pode ser inicial: “Toda sabedoria vem do Senhor Deus” (Eclo 1,16) e quando é perfeito torna-se “coroa da sabedoria” (Eclo 1,22)
O temor imperfeito incuti medo, restringe o coração. O temor perfeito dilata e torna vigilantes e confiantes.
Santa Teresinha aludia ao temor servil quando dizia: “a minha natureza é tal que o temor me faz retroceder; com o amor não só vou adiante, mas voo”. E era sob o influxo do temor filial quando, antes da viagem na Itália, pedia fervorosamente à Nossa Senhora de guardar a sua pureza.
O dom do temor de Deus nos preserva das culpas formais e também das materiais, porque nos torna continuamente vigilantes, e nos coloca na disposição de sofrer qualquer coisa antes que cometer o pecado. Nos santos chega a fazer-lhes evitar também as mínimas imperfeições voluntárias, e se alguma vez o Senhor, para purificar a alma, permite que este santo temor, projetando uma luz, mais forte sobre o estado da alma mesma, lhe incute angústias, tormentos de morte, reconhecendo a própria feiura e maldade diante de Deus, isto é, porém efeito da paixão de amor e é ordenado à perfeita união com Deus.
O temor de Deus nos dá assim o conhecimento experimental da nossa pequenez, miséria e da infinita grandeza de Deus, inspirando-nos grande respeito por Ele, dando-nos o sentido da sua transcendência.
E a alma que possui este dom ao máximo, dominando os movimentos naturais e toda desordem, adquire a verdadeira paz e liberdade de espírito. Nas almas santas se nota então uma admirável harmonia entre natureza e graça; nela tudo é amável, modesto, puro. São verdadeiramente simples e o Senhor concede-lhes aqueles bens, aquelas alegrias que por Ele tinha sacrificado, pelo qual não parecem mais tão austeras, tão rígidas como outra vez; tudo é suave nelas e irradiam verdadeiramente o Espírito Santo de quem estão cheias. Oh! Como é bela a santidade!
Vinde, Espírito de piedade, alegrai-me!
O temor santo de Deus, isto é o respeito pela sua grandeza e o desejo de não o ofender jamais, vai acompanhado pelo amor e pela piedade filial que nos faz considerar Deus como Pai e nos leva a honrá-lo, a pedir-lhe como tal: “De fato, vós não recebestes espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes o Espírito de adoção filial e no qual clamamos: Abbá, Pai! O próprio Espírito se une ao nosso espírito, atestando que somos filhos de Deus…” “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus” (Rm 8, 15.14)
Este dom nos leva à infância espiritual; nos torna como crianças confiantes e amantes do Pai e nos inclina a dedicar-nos todas ao Senhor, a consagrar-nos todas a Ele, ao seu serviço, à sua glória, inspira amor por tudo aquilo que diz respeito ao culto divino, assim também pela Regra, as Constituições, etc. como expressões da Vontade do Pai.
Faz-nos considerar o próximo como irmãos e nos torna justos, benévolos, suaves… Torna-nos prontos a compartilhar os sofrimentos, os defeitos dos outros.
“A piedade é útil para tudo” diz São Paulo, porque dá a perfeita posse de si, a inteira submissão à vontade paterna de Deus, por isso nos inspira também veneração e amor sobrenatural pelos nossos superiores, em quem reconhecemos a paternidade, a autoridade divina…
Peço ao Espírito Santo com todo o coração de infundir-me este precioso dom, que me torne uma verdadeira menina para com o Pai dos Céus, e verdadeiramente “boa” no sentido mais vasto da palavra, com todos, especialmente para as minhas queridas coirmãs.
Vinde, Espírito de força, robustecei-me!
O dom da fortaleza nos faz enfrentar com coragem, suportar com paciência coisas difíceis e graves, superando todos os obstáculos. Torna-nos generosas, intrépidas, amantes do sacrifício. É muito útil na vida religiosa e especialmente no Carmelo onde a Santa M. Teresa queria almas viris, desejosas e resolutas no tender à plena perfeição, animas cuja característica fosse a totalidade. Devo, portanto, pedir humildemente esta coragem e o amor ao sofrer.
É o dom de que precisam as almas pequenas que, como as crianças, são fracas e se cansam logo. Também sob este aspecto devo desejar e pedir tal dom, degustando aquele texto de Isaías tão próprio da “pequena via”: “Deus eterno, Senhor…não se cansa nem se afadiga pois é imperscrutável a sua sabedoria. Ele dá força a quem é cansado e aos que desanimam aumenta a robustez e o vigor. Os adolescentes se cansam e afadigam-se, os jovens caem por fraqueza. Mas aqueles que confiam no Senhor adquirirão nova força, tomarão asas como águia, correrão sem fadiga, caminharão sem cansar-se” (Isaías)
Então a alma torna-se forte com a fortaleza de Deus: “Deus é minha força e a minha salvação… quem temerei?… O homem não se sustenta com a sua força” ( cf. Sl 26) “Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13).
“Não temerei as feras, ultrapassando os fortes e as fronteiras” (Cântico Espiritual 3).
A alma, não obstante a sua fraqueza, supera as tentações, não se prende aos obstáculos e cumpre obras grandes pela graça de Deus, e com esse dom de fortaleza que a revigora, suporta com paciência, com alegria o sofrimento, antes o abraça, o deseja: “Ou morrer, ou sofrer”!
Este dom dá também energias físicas sobrenaturais para suportar fadigas e cumprir mortificações que seriam superiores às nossas forças naturais e para tirar proveito da nossa mesma fraqueza: “Quando sou fraco então sou forte… de fato, a virtude se aperfeiçoa por meio da fraqueza” (cf. 2Cor 12, 10.9).
Invoco este dom com todo o coração para ser generosa no sofrer, segura que o Senhor desejará fazer-me o grande dom da sua Cruz e para obter de poder fazer bem a santa observância do Carmelo:
“Com prazer… me alegrarei nas minhas fraquezas, afim de que habite em mim o poder de Cristo” (2Cor 12,9). E se Jesus, o Forte divino, quis sofrer com lágrimas e gemidos, será então possível derramar lagrimas sob o aperto da dor, mas com plena resignação.
Vinde, Espírito do conselho, recordai-me!
Ó como sinto necessidade e desejo deste dom para discernir sempre a vontade de Deus, por isso o mais perfeito. Para saber julgar e agir sempre de modo divino.
O dom do conselho, de fato, aperfeiçoando a virtude da prudência, nos dá uma grande estima do fim único a que tendemos, e nos faz escolher com segurança os meios melhores, sabendo descobrir e servir-se daqueles meios que humanamente não pareceriam adaptos, mas que nos desígnios da divina Sabedoria, devem ajudar-nos a alcançar o fim. Assim, por exemplo, nos faz dar conta numa tentação de orgulho – combatida e vencida – um meio para praticar a humildade.
Sob o influxo deste dom sabemos falar ou calar, agir ou esperar sem hesitação ou incerteza. Este dom inspira toda a nossa conduta, o nosso modo de comportar-nos com o próximo, nos sugere as palavras oportunas, os atos aptos para praticar as obras de misericórdia.
Mas para obter este dom é preciso fazer-se pequenos; sermos humildes, desconfiados de si, do próprio juízo; recorrer confiantemente ao Senhor na oração, ao Pai espiritual e às superioras para a direção. É preciso ser simples e dóceis para receber e seguir a luz do Espírito Santo…
Numa decisão a tomar, numa resposta a dar, etc. habitar-me sempre a elevar a mente ao Espírito Santo e, se é possível, pedir conselho a quem me representa Deus, depois segui-lo com grande docilidade e respeito.
Ocorre, porém, mortificação para renunciar com prontidão às nossas curtas vistas, ao nosso modo de ver, seguindo logo a moção divina, o conselho do Espírito Santo e isto será sempre inspirado pela caridade, pela misericórdia, pela humildade.
Pedir ao Espírito Santo com ardor de iluminar-me nos momentos de dúvida, e encomendar-me à Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho, para que me obtenha este dom.
Vinde, Espírito de ciência, ensina-me!
Não se trata de ciência adquirida por meio do estudo, mas uma ciência experimental mística, infundida pelo Espírito Santo, ciência que diz respeito às criaturas, levando-nos de um lado a conhecer o nosso nada, a nossa miséria diante do Criador e de outra parte a amá-las na justa medida, ordenando-as a Deus.
É a ciência dos santos a qual o Senhor a revela na oração e através de provas especiais. Em alguns santos desponta mais o primeiro aspecto deste dom: desapego das criaturas; em outros santos o segundo aspecto: uso amável das criaturas como meio para elevar-se a Deus, para que desdobrem também nas criaturas o simbolismo que contém e pela beleza da natureza se elevam a Deus.
Este dom se liga ao temor de Deus porque nos faz compreender a gravidade do pecado (que contrapõe a criatura ao Criador) e há por fruto as lagrimas de contrição: “Felizes os que choram…”.
Para atingir a perfeita união com Deus e gozar da experiência da sua imensa bondade, é preciso ser desapegadas das criaturas e conhecer a sua pobreza, a sua limitação. O dom da ciência, através sobretudo das noites do espírito, nos faz tocar com a mão e despojando a alma lhe dá, pois, um precioso equilíbrio que a preserva de temer ou amar as criaturas de modo que a separem de Deus: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8, 35).
A alma iluminada por este dom pede a Deus como São Nicolau de Flüe: “Tira-me tudo o que me desvia de Ti; concede-me tudo o que aproxima de Ti. Arrancai-me de mim, afim de que eu viva tudo e sempre por Ti”. É a oração de São Francisco de Assis, de todos os santos: “Arranca, Senhor, a ardente e doce força do teu amor a minha mente de todas as coisas terrenas…” Este dom nos faz então apreciar os sofrimentos, as humilhações, nos faz praticar a verdadeira humildade.
Às almas humildes o Senhor revela então os seus segredos: “Com os simples e em secreta intimidade” (Pr 3,32). Ensina a “ciência do amor”: “Revelastes aos pequeninos” (Mt 11, 25). Ensina-a sem o rumor das palavras, mas fazendo-se sentir no mais íntimo da alma, em cada momento, como diz Santa Teresa do Menino Jesus. Esta ciência que provém do amor e da humildade é a verdadeira ciência, aquela do Espírito Santo. Eu a desejo ardentemente, não aquela que incha. A Imitação me adverte: “Que te serve pensar até o fundo da Trindade, quando não és humilde e por isso desagradas a Trindade? … quero antes sentir a compunção que saber como defini-la”.
Vinde Espírito de inteligência, ilumina-me!
“Dá-me inteligência, e eu observarei a tua Lei…” (Sl 118, 34). O dom da inteligência (intus legere) nos faz penetrar com uma luz infusa nos mistérios da fé, nos preceitos, nos conselhos; nos mostra toda a sua evidência, a credibilidade, a oportunidade sem, porém, tirar a obscuridade e o mérito da fé.
Faz nos ultrapassar a letra para agarrar o sentido da Sagrada Escritura, da doutrina de Cristo de quem nos faz compreender o sentido escondido, dando-nos luzes particulares.
É o dom que convém às almas contemplativas para fazer nascer nelas a contemplação. Devo pedi-lo com humildade, sem pretensões, mas com vivo desejo, recordando que Deus a concede às almas pequenas e humildes: “Dá entendimento aos pequeninos” (Sl 118, 130).
Este dom precioso refina e torna mais penetrante o nosso espírito, de modo que possa conhecer a verdade sobrenatural sem alguma confusão, nem erro. Dá-nos a evidência da verdade revelada e a calma que deriva dela julgando, não segundo o modo humano, mas divino, não sensível, mas espiritual.
A isso corresponde a Bem-aventurança dos “puros de coração” a quem é prometida a visão de Deus. Pureza que não se refere somente aos afetos, mas também à mente, expulsando dela toda nuvem de erro, toda incerteza, toda ilusão, estabelecendo a alma na verdade, pela qual esta vê Deus através da fé nesta vida e na de lá, o verá face a face, como Ele se vê.
Peço ao Espírito Santo de dar-me a inteligência do mistério da Cruz, dos rebaixamentos do Verbo divino, da infinita Misericórdia e Providência divinas, do meu nada, do seu tudo.
Vinde, Espírito de sabedoria, atrai-me!
A Sabedoria, diz São Bernardo, é o conhecimento saboroso das coisas de Deus, é próprio o dom dos contemplativos, das almas pequenas e humildes, como diz São João da Cruz:
“Adquirem a sabedoria de Deus somente aqueles que, como crianças ignorantes, despindo-se do próprio saber avançam com amor no seu serviço” (Subida 1,1 e 4, 4). E o Salmista diz: “o testemunho do Senhor, torna sábios os simples (Sl 18, 8); antes, a Sabedoria mesma, o Espírito Santo diz: “Se alguém é pequeno venha a mim” (Prov 9,4); “Provai e vede como é suave o Senhor!” (Sl 33,9).
Aqui se trata de depor o juízo humano e de julgar segundo a sabedoria divina: “…as coisas de Deus ninguém conhece senão o Espírito de Deus…este Espírito de Deus nós o recebemos… O homem espiritual julga todas as coisas…Nós temos o sentido de Cristo” (cf. 1Cor 2, 11.12.16).
Esta sabedoria é loucura para o mundo, mas para nós e a luz mais preciosa e a fonte da alegria, da paz. De fato, o dom da sabedoria que é comunicado à alma em proporção da caridade, corresponde a bem-aventurança dos pacíficos, daqueles que já conquistaram o pleno domínio sobre si mesmos e sobre tudo, nem se deixam mais perturbar por nada.
O dom da sabedoria é um conhecimento místico afetivo fundado sobre o gosto e a experiência íntima da doçura divina. Ela nos dispõe a julgar tudo segundo as causas mais elevadas, a ver tudo na luz de Deus, a julgar retamente “recta sapere” por uma certa conaturalidade com as coisas divinas e um gosto experimental de tais coisas.
É o amor que ilumina a inteligência e lhe dá uma penetração saborosa superior. É um saber tudo espiritual que não provem de um raciocínio, mas de uma espécie de instinto divino, um sentido sobrenatural, que tornou-se para a alma como natural, o “sentido de Cristo”. Temos então um conhecimento quase experimental de Deus, mediante a ação que Ele exercita em nós e mediante a alegria espiritual e a paz que provém dele. “O próprio Espírito dá testemunho ao nosso espírito que nós somos filhos de Deus” (Rm 8, 16).
“Ó como é suave, ó Senhor, o teu Espírito” (Sb 12,1)[3].
A alma não vê mais senão Deus, o vê como causa primeira de tudo: “em tudo isso que vê em si e fora de si, toca Deus, saboreia Deus, como inebriada e transbordante da plenitude da divindade”. “Os canais de um rio alegram a cidade de Deus, as tendas santas do Altíssimo” (Sl 45, 5).
A alma experimenta e compreende de verdade que “tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28) e vive feliz, segura, imersa em Deus, mesmo no meio as dores desta vida. É a vida da alma transformada.
Oh como desejo este dom! Mas para isso devo habituar-me a ver Deus em tudo e em todos: “O Senhor está!”
Não me perder nos detalhes, não parar nas causas segundas, mas subir para Deus, reduzir tudo Nele, reduzir tudo na unidade, no amor!
Vinde, Espírito da verdade, enchei-me!
A sabedoria divina me estabelecerá na verdade. Dela sou sedenta e queria que reinasse na minha mente, nas minhas palavras, nos meus afetos, nas minhas ações, evitando tudo o que lhe é contrário, não só a mentira, mas dissimulações, duplicidades, faltas de sinceridade também com mim mesma.
Vinde, Espírito da paz, dá-me a tua paz!
Aquela paz profunda que dilata a alma, que a torna apta às suas divinas operações, que acalma e domina toda a parte sensível e também aquela superior.
Vinde, Espírito de caridade, inflamai-me!
E faz que eu seja tão inflamada do teu amor para extravasá-lo sobre todas as almas que queira levar a Ti. Oh! Transformai-me em amor. Só assim poderei responder plenamente à tua chamada e ser útil à Igreja.
Resoluções
Consagrada ao Amor pela minha Profissão na santa Ordem Carmelitana, não tenho mais outra missão, nem oficio “que então só no amar é o meu exercício”, por isso, agradecendo o Senhor por vocação tal alta, seguindo a moção do Espírito Santo, tomo a resolução de dar ao Senhor o máximo amor: amá-lo até o desprezo de mim mesma e nele amar o próximo, especialmente as minhas coirmãs, até o esquecimento de mim mesma. Ter pelo Senhor e pelas suas Esposas os mais delicados tons da caridade.
Em prática:
Por Deus: fazer tudo por Amor! – com generosidade, não com ganância ou negligência, porque cada meu dever me manifesta a vontade de Deus, que quero cumprir perfeitamente (voto do mais perfeito); – com simplicidade e pureza de intenção, somente para agradar a Ele (voto de castidade e voto de humildade); – com docilidade, prontidão, na obediência, sem replicar (voto de obediência); – trabalhando com assiduidade, sem perder tempo (voto de pobreza);
Pelas coirmãs: estimá-las melhores do que eu, considerando-me um nada; – alegrar-me com o bem delas como se fosse meu. – Evitar nas palavras e no trato o que poderia desgostá-las; – ser muito serviçal, tomando para mim a parte mais difícil, ser condescendente, aceitar amavelmente a ajuda delas.
Jesus, quereria amar-te quanto jamais foste amado! E queria amar as tuas Esposas como tu as amastes! Oh Espírito Santo, Amor incriado, vinde em mim e ama em mim!
Crer no Amor – Receber o Amor – Dar o Amor, eis a vida da carmelitana!