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Friday, 9 May 2025

Friday's Sung Word: "Seu Condutor" by Herivelto Martins (in Portuguese)

Seu condutor, dim, dim
Seu condutor, dim, dim
Pare o bonde pra descer o meu amor

E o bonde da Lapa é sem reis de chapa
E o bonde Uruguai, duzentos que vai
E o bonde Tijuca me deixa em sinuca
E o praça Tiradentes não serve pra gente 

 

 Y

ou can listen "Seu Condutor" sung by Alvarenga and Ranchinho, Os Mosqueteiros da Folia and the Orchestra Odeon (Ascendino Lisboa makes the Portuguese speaker) here.

Wednesday, 7 May 2025

Wednesday's Good Reading: "Recordação" by Narcisa Amália (in Portuguese)


Lembras-te ainda, Adelaide,
De nossa infância querida?
Daquele tempo ditoso,
Daquele sol tão formoso
Que dava encantos à vida?

Eu era como a florinha
Desabrochando medrosa;
Tu, alva cecém do vale,
Entreabrias em teu caule
Da aurora à luz d'ouro e rosa.

Nosso céu não tinha nuvens:
Nem uma aurora fulgia,
Nem uma ondina rolava,
Nem uma aragem passava
Que não desse uma alegria!

Tu me contavas teus sonhos.
De pureza imaculada;
Eflúvios de poesia,
Trenos de maga harmonia.
Eras sibila inspirada!

E à nossos seres repletos
Desse amor que não fenece,
(Como sorria a existência!
Quanto voto de inocência
Levava ao céu nossa prece!

Hoje que apenas cintila
Ao longe a estrela da vida,
Venho triste recordar-te
Esse passado, abraçar-te,
Minh'Adelaide querida!

Friday, 2 May 2025

Friday's Sung Word: "Garimpeiro do Rio das Garças" by Braguinha (in Portuguese)

Garimpeiro do Rio das Garças.
Garimpeiro que sonhas achar.
Nas cacimbas mais fundas do rio
Diamantes de brilho sem par

Garimpeiro
Bem juntinho à cachoeira
Tens levado a vida inteira
Trabalhando sem parar

Garimpeiro, tua vida é sem bonança
Mas tu vives de esperança,
Continua a procurar!

Continua, garimpeiro rude e forte
Pois um dia vem a sorte
E te bendiz!
E acharás pedras lindas como estrelas
E nas mãos sorrindo ao vê-las
Serás feliz

Garimpeiro do rio da vida
Garimpeiro, não busques em vão
Nessas águas azuis, mas profundas
Só se encontra quimera, ilusão

Garimpeiro, diferente é tua sorte
Este rio traz a morte
Nessas águas de cristal.

Garimpeiro, que em teu sonho fugidio
Vai tentando nesse rio
Encontrar teu ideal

Garimpeiro, que será da tua vida
Quando um dia já perdida
Toda ilusão
Só achares, prêmio de teu sonho lindo
Uma lágrima luzindo
Em tua mão.

 

You can listen  "Garimpeiro do Rio das Garças" sung by Francisco Alves here.

Wednesday, 30 April 2025

Wednesday's Good Reading: "Dona Baratinha" by Ruth Guimarães (in Portuguese)

 

Dona Baratinha foi varrer a casa e achou um tostão. Na mesma hora, desatou o avental, lavou o rosto, passou pó-de-arroz nas faces, e foi fazer compras. Com o tostão achado comprou móveis, para mobiliar a casa inteira, uma geladeira, um aparelho de televisão, tapetes e cortinas, vestidos e mais vestidos, sapatos caros e enfeites. Comprou joias e espelhos de cristal. Comprou petiscos muito gostosos e fez um sortimento de doces que é coisa de que barata gosta muito. O troco pôs numa caixinha forrada de cetim vermelho, chaveou-a, amarrou um laço de fita nos cabelos e foi muito lampeira para a janela apreciar o movimento e arranjar um casório, uma vez que tinha dote.

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

Perguntou ela com a voz mais docinha do mundo.

Passou o boi.

- Eu quero – mugiu.

E ela:

- E como é que você muge de noite?

E o boi:

- Assim: buuuuuuuu! – abriu o focinho num berro de doer os ouvidos.

Dona Baratinha correu assustada para dentro. Lá cheirou o frasquinho de sais, e depois bem calma, voltou para a janela. O boi estava esperando a resposta.

- Ah! – Dona Baratinha se abanava toda afobadinha. – Não quero me casar com você, não. Você me assusta.

O boi foi embora, e ela fincou os cotovelos na janela outra vez, esperando que passasse outro moço bonito.

Passou o burro.

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

Ciciou a mocinha casadoura, esfregando de leve uma asa na outra.

O burro deu um zurro de abalar a casa:

- Eu quero.

Mas é assim que você zurra de noite? – perguntou a dona Baratinha, ainda toda trêmula do susto.

- Ah! – o burro deu um risadão. – De noite eu canto com voz muito mais forte. – E deu outro zurro, de arrebentar os tímpanos.

- Deus me livre de casar com você, burro. Você não me deixaria dormir.

O burro foi embora e a dona Baratinha se encostou outra vez romanticamente no peitoril da janela. Ora ajeitava a fita no cabelo, ora suspirava.

Passou o cavalo.

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

- Eu quero – relinchou o cavalo, mostrando todos os dentes, de satisfação.

- Como é que você faz, de noite?

 Eu, minha flor, cantarei de amor tão fortemente...

- Mas como?

- Assim: inoch! inoch! inoch! inoch! inoch!

- Ai! Chega! – gritou dona Baratinha tampando as mimosas orelhinhas. – Chega! Eu não me caso com cavalo de jeito nenhum. Você não me deixaria dormir direito.

 

O cavalo foi embora, dona Baratinha ajeitou os cotovelos em cima de uma almofada, prevendo que a espera seria longa.

Passou o cachorro.

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

Falou a moça, muito assanhadinha, vendo-o bonitão, de pelo lustroso, orelhas em pé, passo ligeiro.

- Eu quero. – O cachorro latiu um consentimento rápido.

- Como é que você faz de noite, cachorrinho?

- Depende.

- De quê?

- Se estou alegre é assim: au! au! au!. Se estou triste ou doente, é assim: Uaaaauauuuu! – E o cachorro uivou, de focinho para cima, caprichando nos bemóis.

- Ui! Ai! Aiaiaiai! Não me faça chorar! Você não me serve. Tanto a sua alegria como a sua tristeza me incomodam.

Dona Baratinha suspirou um pouco, pois fazia tanto tempo que estava na janela e ainda não tinha encontrado noivo que servisse.

Passou o gato.

Que belo bichano, de pelagem de seda, cinzento, macio, cara redonda, boquinha cor-de-rosa, bigodes eriçados, orelhas recortadas em triângulo isósceles.

O coração de dona Baratinha palpitava mais apressado quando ela cantou em voz emocionada, desta vez:

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

- Eu quero – ronronou o gato, no fundo da garganta, numa doçura de voz.

- Você ronrona assim, de noite, gatinho?

- De noite? – O gato fez um floreio com a cauda. – Não. De noite, subo ao telhado. Sou namorado da lua. E deliro miando assim: miaaau! miau! miiiiaaaau!

Dona Baratinha suspirou.

- Que pena! Você não me serve não. Não me deixaria dormir. Que pena!

Passou o bode.

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

O bode berrou, muito azuretado:

- Eu quero.

- Quer, coisa nenhuma! – respondeu logo dona Baratinha. – Você é muito sem modos, malcheiroso, barulhento. Com esse berro tremido vai me incomodar de noite.

Passou o galo. De crista e esporão. De barbela vermelha. Asas douradas, rabo empenachado. Bonito de se ver como um mosqueteiro do rei da França.

- Como eu gostaria que esse fosse o meu noivo – pensou dona Baratinha. E com voz muito esperançada:

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

- Eu quero – cocoricou o galo, riscando o chão com a aguda espora.

- Você canta de noite?

- Se canto! – blasonou ele, e a barbela ficou mais vermelha de orgulho. – Se canto! Começo à meia-noite e vou madrugada afora, cocoricóóóóóóó’!

Dona Baratinha virou a carinha bonita para o outro lado.

- Não serve! Vá andando!

E assim passaram o carneiro, o macaco, a onça, a anta, a capivara, o gambá, muitos e muitos bichos, de casa e do mato, nenhum servia, porque iria incomodar o soninho leve de dona Baratinha. Já bem tarde, quando as luzes da cidade se acenderam, passou um camundongo, quietinho, sorrateiro, dando corridinhas e paradinhas. Espiando matreiro para todos os lados. Correndo outra vez, os olhinhos espertos saltando daqui para ali. Dona Baratinha parou a espiar os seus inquietos manejos, divertida com o bichinho, e quase se esquecia de perguntar. Lembrou-se em tempo, quando o camundongo já ia longe:

"Quem quer casar com dona Baratinha,

Tão bonitinha

Que tem dinheiro na caixinha?"

- Eu quero – guinchou o ratinho, tão baixo que quase não se ouvia.

- O que é, ratinho? Você quer?

- Quero.

- Como é que você faz de noite?

O ratinho guinchou:

- Coin, coin, coin.

- Assim baixinho? – perguntou dona Baratinha, encantada. – Então serve. Você não me acorda com esse barulhinho. Como é o seu nome?

O ratinho empolou bem o peito e falou:

- Dom Ratão.

Deu outra corridinha, para longe, para perto.

Ficaram noivos.

No dia do casamento preparava-se uma festa de arromba. O troco do tostão dava para tudo. Mataram frangos, não sei quantos, leitões, bois, e fizeram doces e mais doces.

- Sabe do que eu mais gosto, Baratinha? – perguntou o noivo, no seu guincho macio.

- Do quê?

- De toucinho cozido no feijão.

E então dona Baratinha deu ordem para que se fizesse uma caldeirada de feijão com torresmo, bem temperado. O perfume da panela, logo pela manhã, recendia pela casa toda. Dom Ratão chegou, eram umas dez horas, muito elegante, de casaca e cartola, luvas brancas, bengala de castão dourado, calças listradas. Parecia um presidente em dia de recepção no palácio. Mas qualquer coisa o inquietava. Farejava, erguendo o focinho fino, dava corridinhas mais do que de costume.

- Está nervoso, querido?

- Estou.

Na hora da saída, desceu na frente dona Baratinha, arrastando a cauda do vestido de cetim, e o comprido véu de tule pela escadaria. O noivo veio a passo, atrás. A noiva já tinha entrado no automóvel, quando dom Ratão fez cara de contrariedade:

- Que maçada!

- Que foi?

- Esqueci o relógio lá em cima.

- Vou mandar alguém buscar.

- Não. Só eu sei onde o deixei. Espere um minuto.

Deu uma corridinha até o meio da escada, voltou, avisou:

- Um minutinho. Eu já venho.

Outra corridinha para cima. E a noiva ficou esperando.

Passou meia hora, dom Ratão não voltou. No relógio da sala soaram as onze. Dom Ratão não voltava. Chegou o meio-dia. Não voltara dom Ratão.

- Fugiu – gemia dona Baratinha inconsolável. – Não gosta mais de mim. Fingiu que ia buscar o relógio e fugiu para não casar. – Subiu novamente a escadaria arrastando o vestido de cauda e o véu. Por muito que fosse o desconsolo, não era caso para se fazer jejum por isso.

- Afinal, não se perdeu grande coisa – comentou uma empregada. É melhor pôr o almoço.

E lá se foram todos para a mesa.

Mas então é que foi uma dor. Ao mexerem o caldeirão de feijão encontraram o coitado do noivo, morto, cozido, misturado com os torresmos. Que horror! Dona Baratinha, depois de clamar que "Dom Ratão, coitado, era tão bom, eu sabia que ele gostava de mim, aconteceu, coitado!, de ir provar um torresmo e cair no caldeirão, podia ter pedido, a gente fazia um pratinho para ele, não quis me desgostar, coitado! tão delicado" – teve um chilique e foi um alvoroço monstro em casa de dona Baratinha, tão bonitinha. pois dom Ratão tinha morrido no caldeirão de feijão cozido, por causa de um pedaço apetitoso de toucinho.

Dona Baratinha pôs o luto, trancou todas as portas, e chorou tanto que lavou a casa com lágrimas. A cozinheira de dona Baratinha pegou o pote e foi buscar água no rio. Encheu a vasilha, mas em vez de ir para casa, começou a se lastimar:

- Como é triste esta vida. Dom Ratão morreu. Dona Baratinha, tão bonitinha, está de luto. E eu, por isso, quebro o pote.

Pam!

Bateu o pote numa pedra e foi-se embora. O rio ouviu tudo aquilo, encolheu-se e resolveu:

- Eu também seco.

Os bois vieram à tarde, nem sombra viram de água.

- Que é isso, rio? Que aconteceu?

- Dom Ratão morreu, cozido na panela de feijão com toucinho. Dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, e eu também sequei.

- Que horror!

Os dois abanaram a cabeçorra, melancólicos e declararam:

- Então nós derrubamos os chifres.

Foram pastar. O campo, quando viu os bois mochos, muito sem graça, pastando, se espantou:

- Que foi isso? Que fizeram vocês dos chifres?

- Você então não soube da grande desgraça?

- Não.

- Pois dom Ratão morreu cozido, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou e nós derrubamos os chifres.

- Que tristeza! Eu também vou secar.

De verdinho que estava, o campo ficou todo amarelado. Bem no meio dele estava um laranjeira e quando ela viu aquilo perguntou:

- Que é isso, campo? O que lhe deu? Está se sentindo mal?

- Não, dona Laranjeira. Eu estava muito bem até. Amarelei foi de desgosto. Não vê que dom Ratão morreu cozido na panela de feijão com toucinho, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou, os bois derrubaram os chifres e eu também sequei?

A laranjeira derramou uma lágrima e disse:

- Então, eu derrubo as folhas.

Choveram folhas no chão.

Os passarinhos que moravam nela, quando voltaram do trabalho à tarde, encontraram os ninhos expostos ao vento, ao sol e à chuva, na árvore nua.

- Que foi isso, dona Árvore, o que aconteceu que esta pensão está sem telhado?

- Vocês que andam voando por aí não souberam da desgraça?

- Não, senhora.

- Pois dom Ratão morreu, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou, os boi derrubaram os chifres, amarelou o campo e eu também derrubei as folhas.

Os passarinhos choraram, choraram.

- Que tristeza! Pois, de dó, nós também derrubaremos as penas.

E lá se foram eles, peladinhos, tremendo de frio, pelo campo, e andando em vez de voar, pois não tinham penas nem as asas.

O céu espiou aquele disparate, lá de cima, e estranhou:

- Ave Maria! Que mundo louco! O que será que deu naqueles passarinhos que perderam até a roupa?

Os passarinhos contaram:

- O senhor não sabe da grande desgraça?

- Não sei.

- Dom Ratão morreu cozido, dona Baratinha pôs luto, a cozinheira quebrou o pote, o rio secou, os bois derrubaram os chifres, o campo amarelou, a laranjeira ficou sem folhas, nós também nos depenamos.

- Que calamidade!

O céu se franziu numa carranca medonha. Começou a trovejar e a ventar. E depois urrou, com um vozeirão arrepiante:

- Pois então eu também vou despencar daqui de cima.

E desabou em cima da terra, no meio da tempestade mais horrorosa que já houve.

E foi assim que o mundo, certa vez, se acabou, só porque dom Ratão, que ia se casar com dona Baratinha, tão bonitinha, morreu cozido no feijão.

 

Ruth Guimarães. Lendas e Fábulas do Brasil. 1964.

Postado por GP. Feldman às 8:22 AM Nenhum comentário: Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

Marcadores: Contos e Lendas do Mundo

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Saturday, 26 April 2025

Saturday's Good Reading: a Prof. Olavo de Carvalho article (in Portuguese)

 

"Sempre achei curioso – para dizer o mínimo – que tantas pessoas criassem opiniões sobre o cristianismo sem jamais ter a curiosidade de averiguar o elemento essencial dessa religião: os milagres.

Em outras religiões os acontecimentos miraculosos podem ser apenas acréscimos posteriores aos quais se dá um valor de comprovação, mas o cristianismo começa com um milagre, o nascimento virginal de Cristo, culmina em outro milagre, a ressurreição, e prossegue de milagre em milagre até hoje.

Quando se fala de “revelação cristã”, o que se entende corretamente por isso não é o texto do Evangelho, mas os fatos que ele relata: vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, isto é, uma seqüência de milagres. Santo Tomás ensina que nós falamos por meio de palavras, mas Deus fala por meio de palavras e de fatos. Os fatos do Evangelho revelaram ao mundo aquilo que o texto, depois, simplesmente registrou.

Você pode não acreditar em nenhum desses fatos, mas não pode negar que eles, e não sua narrativa posterior, muito menos as conclusões que os teólogos, os papas e os concílios foram extraindo deles ao longo dos séculos, constituem a essência da revelação cristã. Logo, não há meio de entender nada do cristianismo sem prestar atenção aos milagres, dos quais depende todo o sentido da doutrina.

Você não tem nenhum meio de confirmar ou negar a veracidade dos milagres evangélicos, mas Jesus prometeu que continuaria a operar milagres pelos séculos dos séculos, e, a rigor, não há fatos de nenhum outro gênero, no mundo, que existam em tão grande número e tão bem documentados, sobretudo hoje em dia. O desinteresse de conhecê-los, da parte de pessoas que no entanto emitem opiniões em penca sobre o cristianismo, revela que essas pessoas preferem conhecer só pelas beiradas o assunto de que falam, com medo de chegar muito perto do centro e sair chamuscadas.

Muitas, antes de ter examinado um só desses fatos, já se apegam à idéia de que um dia todos eles terão uma 'explicação científica' – subentende-se: materialista – e ficará provado que não foram milagres de maneira alguma. Embora essa expectativa jamais tenha se cumprido com relação a nenhum milagre confirmado pela Igreja e embora a promessa da explicação demolidora tenha o seu cumprimento repetidamente adiado de novo e de novo em cada caso concreto (recentemente falhou de novo em 'explicar' o Santo Sudário de Turim), o fato é que essas pessoas continuam confiando na promessa como se fosse desde já uma prova realizada, cabal e irrespondível. Nada pode haver de mais irracional do que esse ato de fé que toma como prova uma promessa de prova e se renova a cada nova tentativa falhada de realizá-la. No entanto, as pessoas que o praticam acreditam que são, nisso, tremendamente científicas.

Se eu tivesse algum dinheiro, pagaria aos luminares do materialismo para que estudassem, pelo tempo que quisessem, os milagres do Padre Pio ou aqueles relatados pelo dr. Ricardo Castañon nos seus vídeos, e nos dessem uma 'explicação científica' de cada um."

Olavo de Carvalho, em 23 de agosto de 2013

Friday, 25 April 2025

Friday's Sung Word: "Vadiagem" by Alcebiades Barcellos/Francisco Alves (in Portuguese) - I

Francisco Alves claimed that this song was his own work, although it had actually been 'rented' to him by Alcebiades Barcellos the true creator. 'I didn't exactly sell it. Francisco Alves signs it, but he gives me 50% of the profits he makes'.

A vadiagem eu deixei
Não quero mais saber
Arranjei outra vida,
Porque deste modo não se pode viver

Eu deixei a vadiagem
Para ser trabalhador
Os malandros de hoje em dia
Não se pode dar valor
Ora, meu bem diga tudo o que quiser
Eu deixei de ser vadio
Por causa de uma mulher

Quando eu saio do trabalho
Pensativo no caminho
Que saudades do meu tempo
Que saudades do meu pinho
Mas chego em casa
É carinho sem ter fim
Vale a pena ser honesto
Pra poder viver assim.

You can listen "Vadiagem" sung by Mário Reis with the Orquestra Typica Pixinguinha-Donga here.

Wednesday, 16 April 2025

Wednesday's Good Reading: "Yolanda!" by Noel Rosa (in Portuguese).

 Lyrics and music by Noel Rosa in 1935; unfortunately the melody is lost.

 

 

- Yolanda! Yolanda!

- Yolanda! Yolanda!

 

Yolanda! Eu chamo, você não vem

E o eco só responde

"Yolanda... Yolanda..."

Se eu canto pro meu bem

Ele canta também...

 

Não se pode improvisar

Ele vem incomodar

Yolanda! Ele responde:

"Yolanda... Yolanda..."

 

Se me viro pro norte

Lá no sul ele está

Se me viro de frente

Lá nas costas vai ficar

 

Já estou até doente

Não consigo decifrar

Yolanda! Ele responde:

"Yolanda... Yolanda..."

Saturday, 12 April 2025

Saturday's Good Reading: "Os Dois Papudos" by Ruth Guimarães (in Portuguese)

 

Vivia numa povoação um alegre papudo, estimado de todos, muito folgazão e boêmio. Não o impedia o papo de soltar grandes risadas. Pouco se lhe dava que o achassem feio, ou o chamassem de papudo. A verdade é que o tal papo o incomodava, mas o que não tem remédio remediado está, filosofava ele. E vamos tocar viola, e vamos amanhecer nos fandangos, viva a alegria, minha gente, que se vive uma vez só.

Certo dia, foi ao povoado vizinho, a uma festa de casamento, levando embaixo do braço a inseparável viola. Demorou mais que de costume, bebeu uns tragos a mais, porém não deixou de voltar para casa, pois era tão trabalhador quanto festeiro, e tinha que pegar no serviço no outro dia bem cedo.

Havia luar. Num grande estirão avistava a estrada larga, as touceiras de mato. Passava o gambá por perto dele, e o tatu, roncando, e voava baixo, silenciosamente, a corujinha campeira. O papudo não sentia medo. Andava em paz com Deus e com os homens. Os animais, que adivinham nele um homem de coração compassivo, também não tinham medo dele.

De repente, ao virar numa curva, viu embaixo da figueira brava, ramalhuda, uma roda de anões cantando. Todos com capuzes vermelhos, cachimbo com a brasa luzindo, a barba branca comprida, descendo até a altura do peito.

- O que será aquilo?

Por um instante teve algum temor. Mas era tarde para fugir. Os foliões já o tinham visto. E, se tratava de festa, isto era com ele. Saltou decidido para o meio da roda, empunhando a viola.

- Eu também sei cantar.

Enquanto pinicava as cordas, prestava atenção às palavras dos dançarinos. Eles entoavam:

Segunda, terça

Quarta, quinta...

E tornavam ao começo:

Segunda, terça

Quarta, quinta...

E assim sempre, numa musiquinha muito chata. Acostumado aos desafios, a improvisar, o papudo esperou a sua deixa. Assim que os anões começaram:

Segunda, terça

Quarta, quinta...

Ele emendou:

Sexta, sábado

Domingo também

A roda pegou fogo. Os pequenos duendes barbudos gostaram da novidade. Rodopiavam cantando numa animação delirante, e foi assim a noite toda. E o papudo tocando e dançando.

De madrugada, ao primeiro cantar do galo, a roda se desfez. O mais velho deles, e que parecia o chefe, perguntou-lhe:

- Que é que você quer, em paga de ter tocado para nós?

- Eu até que me diverti com esta festa - replicou o papudo.

- Mas peça qualquer coisa.

- Posso pedir seja o que for?

- Pode.

- Eu queria - disse ele, meio hesitante - queria me ver livre deste papo, que me incomoda muito.

Um anãozinho agarrou o papo com as duas mãos, subiu pelo peito do papudo, firmou bem os pés, deu um arrancão.

O papudo fechou os olhos.

- Agora eles me matam.

De repente sentiu o pescoço leve. Abriu os olhos. Os anõezinhos tinham sumido. Não ouviu mais nada. Meio cinzento, despontava o dia.

"Sonhei", pensou ele. "Bebi demais naquele casamento."

Passou a mão pelo pescoço, estava liso, sem excrescência nenhuma.

"Agora fiquei mais bonito", pensou também, muito satisfeito.

E aí deu com o papo jogado em cima do capim.

Agarrou a viola e foi para casa.

Imagine-se a sensação que não foi, o papudo amanhecer, sem mais nem menos, sem o papo.

- Que milagre foi esse? - perguntavam.

Papudo ria, papudo cantava, continuava folgazão como sempre, mas não contava a aventura, de medo que o chamassem de louco, e não acreditassem.

Esse moço tinha um compadre, que também era papudo.

E tanto apertou o amigo, e tanto falou:

- Eu também quero me ver livre desse aleijão. Quero ficar bonito, e arranjar uma namorada. Você não é amigo.

Foi assim, até que o moço lhe contou tudo.

O outro encarou, incrédulo.

- Verdade?

- Verdade.

- O anão falou que você podia pedir o que quisesse?

- Falou.

- E você em vez de pedir riquezas, pediu para ficar sem o papo?

- Ora, pobreza não me incomoda, mas o papo incomodava.

- Mas você é louco. Você é um burro. Pedisse riqueza. Quem é rico, que é que tem o papo? Quem se incomoda com papo? Eu, se fosse rico, me casaria com uma mulher bonita, do mesmo jeito. Você é bobo. Onde é esse lugar, onde você encontrou os fantasmas?

O outro preveniu:

- Compadre, você vai lá com esganação, vai ofender os anõezinhos, e ainda se arrepende.

- Nada disso. Você o que é? É um egoísta. Está formoso, que se danem os outros.

Aí o moço encolheu os ombros e falou:

- Sua alma, sua palma. Vá lá, depois não se queixe.

Ensinou onde era, o compadre invejoso agarrou a viola e foi, noite alta, direitinho como o outro tinha feito. Também era noite de luar. Também dançou a noite inteira, cantando. Ao primeiro cantar do galo a roda se desfez.

- Que é que você quer, em paga de ter tocado para nós?

O papudo deu uma piscadela maliciosa para o anão e falou, esfregando o indicador e o polegar, no gesto clássico, que significa dinheiro:

- Eu quero aquilo que o meu compadre não quis.

Um anãozinho foi ao capim, tirou o papo do outro que estava lá, e grudou em cima do papo do invejoso.

E assim, por sua louca ambição, ele ficou com dois papos.