Showing posts with label Portuguese Language. Show all posts
Showing posts with label Portuguese Language. Show all posts

Friday, 5 December 2025

Friday's Sung Word: "Pavãozinho Dourado" by Roberto Cunha (in Portuguese)

avãozinho dourado

(Gu-lu! Gu-lu! Gu-lu!)
Pavãozinho dourado
(Gu-lu! Gu-lu! Gu-lu!)
Pavãozinho dourado
Não fujas de mim
Eu quero que você
Volte a morar no meu jardim.

Pavãozinho, a sua beleza
Não há mãos que possam pintar
Meu pavãozinho, volte depressa
Que eu estou cansada de esperar.

 You can listen "Pavãozinho Dourado" sung by Odete Amaral here.


Wednesday, 3 December 2025

Wednesday's Good Reding: untitled sonnet by Guimarães Passos (in Portuguese).

XXXIV
 

Na terra estava quando te queria
De todas as mulheres diferente,
E olhando a altura com o fervor dum crente
Em nuvem de ouro a tua imagem via.

Na asa encantada que a paixão me abria
Subi, para buscar-te unicamente,
E em cima estando vi-te, de repente,
Na terra, no lugar donde eu saía.

Olhos de amante, que de tal maneira
Andam cheios de lúcida loucura,
Que assim se perdem na maior cegueira.

E vendo aquilo que não há, decerto,
Sonham longe a ilusão de uma ventura
E não vêem a ventura que têm perto.

Tuesday, 2 December 2025

Tuesday's Serial: Book of the Prophet Amos (translated into Portuguese) - I.

Amós, 1

 

1.Oráculos de Amós, que foi um dos pastores de Técua. Revelações que recebeu acerca de Israel no tempo de Ozias, rei de Judá, e de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel, dois anos antes do tremor de terra.*

2. Ele diz:

O Senhor rugirá de Sião,

trovejará de Jerusalém;

os prados dos pastores estarão de luto,

o cume do Carmelo secará.

3. Oráculo do Senhor:

Por causa do triplo e do quádruplo crime de Damasco,

não mudarei meu decreto.

Porque esmagaram Galaad com grades de ferro,*

4. porei fogo à casa de Hazael,

e esse fogo devorará os palácios de Ben-Adad.*

5. Quebrarei os ferrolhos de Damasco,

exterminarei os habitantes do vale da Injustiça

e o que tem na mão o cetro em Casa do Prazer.

E o povo da Síria será deportado para Quir, diz o Senhor.

6. Oráculo do Senhor:

Por causa do triplo e do quádruplo crime de Gaza,

não mudarei meu decreto.

Porque deportaram uma multidão de exilados,

para entregá-los a Edom,*

7. porei fogo aos muros de Gaza,

e esse fogo devorará os seus palácios.

8. Exterminarei os habitantes de Azoto,

e o que tem na mão o cetro em Ascalon.

Voltarei minha mão contra Acaron para

aniquilar o resto dos filisteus, diz o Senhor Javé.

9. Oráculo do Senhor:

Por causa do triplo e do quádruplo crime de Tiro,

não mudarei meu decreto.

Porque entregaram uma multidão de cativos a Edom,

e não se lembraram do pacto fraterno,*

10. porei fogo aos muros de Tiro para que

esse fogo devore os seus palácios.

11. Oráculo do Senhor:

Por causa do triplo e do quádruplo crime de Edom,

não mudarei meu decreto.

Porque perseguiu seu irmão com a espada

abafando toda a compaixão,

e porque sua cólera não cessa de despedaçar,

e persiste em guardar perpetuamente rancor,*

12. porei fogo em Temã,

o qual devorará os palácios de Bosra.

13. Oráculo do Senhor:

Por causa do triplo e do quádruplo crime dos amonitas,

não mudarei meu decreto.

Porque rasgaram os ventres das mulheres grávidas de Galaad,

a fim de dilatar suas fronteiras,*

14. porei fogo aos muros de Rabá,

para que devore seus palácios.

Em meio aos gritos de guerra no dia da batalha,

no meio do turbilhão, no dia da tempestade,

15. seu rei irá para o exílio com seus chefes, diz o Senhor.

 

Notas de rodapé:

1:1-2 - A introdução do livro de Amós destaca a chamada do profeta, que recebe a mensagem de Deus durante o reinado de Uzias em Judá e de Jeroboão II em Israel. A voz do Senhor ruge de Sião, sinalizando o começo de um julgamento divino contra as nações, começando por Israel (veja também Joel 3:16 e Miquéias 1:2).

1:3-5 - O juízo de Deus é pronunciado contra Damasco, a capital da Síria, por sua crueldade contra os gileaditas. Essa condenação reflete a justiça de Deus sobre os inimigos de Israel e revela a importância do comportamento ético e moral nas nações (veja também Isaías 17:1 e Jeremias 49:23-27).

1:6-8 - Deus pronuncia juízo contra Gaza, cidade dos filisteus, por sua captura e venda de israelitas como escravos. Esse julgamento reflete a grave injustiça praticada pelos filisteus, que exploraram o sofrimento de outros povos (veja também Jeremias 47:4 e Zacarias 9:5-7).

1:9-10 - O julgamento contra Tiro é anunciado por causa da quebra de um tratado com Israel e o tráfico de prisioneiros. A infidelidade nos tratados e a exploração das guerras são aspectos que Deus condena em todas as nações (veja também Ezequiel 26:3-6 e 1 Reis 5:12).

1:11-12 - Edom é condenado por sua vingança implacável contra os israelitas. O pecado de Edom inclui o ódio e a violência, que são atitudes contrárias aos princípios de paz e misericórdia estabelecidos por Deus (veja também Gênesis 27:41 e Obadias 1:10-14).

Friday, 28 November 2025

Friday's Sung Word: "Não Mando em Mim" by Alcebíades Barcelos and Ataulfo Alves (in Portuguese)

Tudo de meu já te dei
O que mais queres não sei
Já te dei meu próprio eu
Até meu coração é teu

Não sou mais dona de mim
Não mando em minha vontade
Mas sou feliz mesmo assim
Para mim, é bastante a tua amizade

Perto de ti sem falar
Eu esqueço a minha dor
Eu vivo só pra te amar
Pois eu não sou feliz com outro amor

 

You can listen "Não Mando em Mim" sung by Odete Amaral with the Diabos do Céu  here

Friday, 21 November 2025

Friday's Sung Word: "Ironia" by Ataulfo Alves, Alcebíades Barcelos, and Mário Nielsen (in Portuguese).

Ironia! Ironia!
Era só o que dizia
O moreno que eu amei
E por quem tanto chorei
Se chorei foi porque
Foi o meu grande amor
Eu não esqueço um só dia
Embora tenha sido tudo ironia
                   
Sim, foi o meu grande amor
E confesso por quem chorei
Mas não me deste valor
Ate´hoje a razão, não sei!

 

You can listen "Ironia" sung by Odete Amaral with the Diabos do Céu here.

Friday, 14 November 2025

Friday's Sung Word: "Foi de Madrugada" by Ary Barroso (in Portuguese).

Foi de madrugada, foi
Numa madrugada, foi
Que você me disse adeus
Foi s'embora e me deixou
E nosso amor terminou.

Por isso mesmo
Eu deixei a minha escola
E quebrei meu cavaquinho
Porque nem ele me consola.
Amor!
Linda imagem de poeta
Mas que na realidade
Só traz infelicidade.

Agora eu passo
No batente noite e dia
Para ver se trabalhando
Combato um pouco a nostalgia
Jurei
Esquecer aquele ingrato
Que surgiu no meu caminho
Pra zombar do meu carinho.

 

You can listen "Foi de Masdrugada" sung by Odete Amaral and the Diabos do Céu here

Wednesday, 12 November 2025

Wednesday's Good Reading: “Rex Pacificus” by Plinio Corrêa de Oliveira (in Portuguese)

 

Revista Legionário, 12-3-1939.

 

No dia em que se desenrolam em Roma as cerimônias faustosas da coroação do novo Pontífice, deve ser grato aos corações católicos meditar atentamente as circunstâncias dentro das quais essa solenidade se realiza.

No século passado, em que o liberalismo político grassava pela Europa inteira, agravado por uma monomania democrática vizinha do delírio, as grandes solenidades pontifícias se desenrolavam não raramente sob o olhar hostil e a censura surda de grandes setores da opinião pública. Evidentemente, durante toda a vida da Igreja, nunca faltou a esta o amor de filhos dedicados e entusiastas.

Entretanto, é incontestável que, no século passado, os fulgores dessas belas provas de amor alternavam sombriamente com o rancor igualitário daqueles que, na faina de destruir toda a ordem religiosa, política e social, não suportavam o espetáculo grandioso das cerimônias do Vaticano.

Os argumentos não faltavam para servir de pretexto a tanto rancor. O primeiro deles, já antigo, era da autoria de Judas Iscariotes: por que gastar tanto dinheiro, em lugar de dar aos pobres? O outro, de sabor mais acentuadamente luterano: não haverá idolatria em se prestar a um homem tantas provas de sumo respeito? Finalmente, a blasfêmia anarquista não deixava de se fazer ouvir neste triste concerto: quando chegará o dia feliz em que enforcaremos o último Papa nas tripas do último rei?

A Santa Sé nunca deu atenção a tais rancores. Com uma sublime e desassombrada energia, ela continuou a manter intacto seu magnífico e suntuoso cerimonial, que outra coisa não é senão a afirmação, através de cerimônias perceptíveis pelos sentidos, do princípio da autoridade, de que o Papa é o mais alto e mais sagrado representante na Terra.

Nas fileiras católicas, não faltou infelizmente quem tivesse a audácia de propor à Santa Sé que, para conciliar melhor as simpatias das massas, e vencer mais facilmente a revolução social que se fazia prenunciar de modo sinistro, o Papado se "democratizasse" e o Pontífice Romano renunciasse às manifestações exteriores e solenes de seu supremo poder.

A Igreja, entretanto, nunca deu ouvidos a essa falaciosa proposta. Não é de seu feitio transigir com o erro, ou procurar entabular com ele um duelo de subtilezas e astúcias.

Quando o princípio de autoridade periclitava no mundo inteiro, pondo em risco a autoridade de todos os monarcas e chefes de Estado, não era o Vigário de Cristo, do qual provém toda a autoridade, que tomaria ares de pactuar com a revolução. A missão da Igreja não consiste em se adaptar aos séculos, mas de adaptá-los a si própria. Ela nunca baixará até os erros dos homens, mas elevará a humanidade até si.

Por isso, enquanto as monarquias ruíam fragorosamente, as repúblicas se dissolviam na anarquia das crises sociais, e as mais antigas dentre as cortes sobreviventes se democratizavam a olhos vistos, o Vaticano conservou intacto seu grandioso cerimonial.

Vem, agora, o outro aspecto da questão.

Um verdadeiro vendaval político-social foi a consequência da pregação das doutrinas liberais. Esse vendaval suscitou a tendência geral para uma consolidação de autoridade. Todos os povos, outrora minados pela febre da liberdade, se sentem hoje trabalhados por uma intensa propaganda a favor da consolidação do Poder público, com preterição ou até supressão dos mais sagrados direitos da pessoa humana.

Os novos césares, como o exige a natureza das doutrinas que pregam, sentem a necessidade de confirmar sua autoridade com os sinais exteriores do poder, desenvolvidos através de imponentes cerimônias cívicas. E, com isso, todo um cerimonial político renasce em nossos dias, que bem poderia ser chamado a liturgia faustosa dos novos ídolos que as massas levantam acima de si mesmas para lhes prestar adoração.

Interessante é notar, a esse propósito, o ambiente que cerca essa nova e estranha liturgia política. Duas notas a caracterizam: força e domínio. Atente-se para uma cerimônia nazista. Em algum imenso estádio da Alemanha, comprime-se uma multidão incontável, que se torna cada vez mais densa porque os ônibus e os trens despejam ondas humanas sempre mais numerosas. Para encher o tempo, inúmeros alto-falantes transmitem a voz de um locutor.

Do que fala ele? Da luta do partido nazista, de suas vitórias passadas, dos inimigos que esmagou, esmaga e esmagará. Quando, ao cabo de uma longa série de injúrias e de ameaças, o locutor se cala para tomar fôlego, a multidão entoa cânticos guerreiros. Refletores deslumbrantes erguem para o céu colunas verticais. Uma tribuna imensa, composta de blocos graníticos pesados e brutais, se ergue no centro de tudo isso. De repente, estrugem gritos e urros de entusiasmo. É o “Führer” que chega.

As canções guerreiras redobram. Os canhões estrugem. A multidão ulula como um mar enfurecido. O “Führer” começa a falar: do outro lado das fronteiras, Chamberlain treme de medo, apoiado em seu guarda-chuva; Daladier prefere fingir que não ouve, para não ter de brigar (como os meninos bem educados, quando passam perto dos moleques na rua e ouve seus insultos, fingindo não notar nada). Mussolini presta atenção: é tão bonito; quem sabe se ele conseguirá fazer igual! Roosevelt não entende bem como é que, tendo ele tantos milhões de dólares, Hitler não é amigo dos Estados Unidos. E os povos fracos da Terra tremem.

Para completar o quadro, seria suficiente que uma legião de demônios aparecesse no céu, vociferando em gritos agrestes: glória ao novo messias, a opressão, na terra, para os povos que não têm canhões! E o mundo inteiro aplaude ou treme; mas, quer aplaudindo, quer tremendo, secretamente admira!

É sob o signo dessa dura liturgia do ódio e da guerra, do sangue e da luta, que o mundo curva a cabeça em atitude respeitosa e admirativa. Nessas grandes festas públicas, não há outro gáudio senão o do orgulho exacerbado e do ódio satisfeito.

Não são propriamente festas, esses tremendos “sabbats” cívicos. São bacanais em que as multidões não se embriagam mais, como no tempo dos césares, com o vinho capitoso e subtil das plantações itálicas, mas com o licor espiritual grosseiro, de um patriotismo levado até à loucura.

Enquanto isso, morre para o mundo e nasce placidamente para o Céu o Papa Pio XI. Sua morte não anunciada pelo troar dos canhões, mas pelo som paternal e suave dos sinos de São Pedro, que repercutem de campanário em campanário, até os extremos da China ou da Groenlândia.

Nenhum Departamento de Propaganda engaiola as multidões para levá-las à força para Roma. Mas Roma se enche de uma multidão que faria babar de inveja o Ministério da Propaganda da Alemanha [do período nazista], e muitas repartições congêneres de outros países. Não há desfiles marciais de soldados, nem desenrolar de tropas agressivas. Apenas a gendarmerie pontifícia, que contém e policia paternalmente a multidão pacífica e enlutada.

Anuncia-se, depois, o novo Papa. Uma multidão aguarda seu nome. Outras multidões afluem de todas as ruas e de todos os becos de Roma, para saber quem foi o eleito. Todo o mundo aplaude. Mas, ainda aí, não há outro eco senão o das sonoras e musicais trombetas de prata dos arautos, as harmonias graves dos sinos da Cidade Eterna, e os vivas da multidão.

Não, o Vaticano não é a caserna em que o gado humano é arregimentado para a carnificina, mas a casa suntuosa, porém acolhedora, do Pai comum, que é o lar espiritual de todos os povos da Terra, que ali ombreiam uns com os outros, numa alegria despreocupada e pacífica, de que só o Vaticano, hoje em dia, é teatro.

Finalmente, anuncia-se a coroação do Papa. Nenhuma cerimônia, no mundo inteiro, é mais majestosa. Nenhuma, porém, é ao mesmo tempo mais pacífica, mais serena, mais familiar. O povo não treme diante de um ídolo, mas delira de contentamento diante de um Pai. O povo não se ajoelha diante de um algoz, mas beija reverente os pés daquele que é uma branca e suave figura. E na majestade de seu porte, a Santidade e a Majestade suprema do Criador.

E, no menor Estado do mundo, que é o Vaticano, uma das maiores multidões que a Itália — mesmo a fascista — tenha jamais contemplado, celebra, à sombra do Vigário de Cristo, ao mesmo tempo a mais pacífica e a mais jubilosa das cerimônias deste sinistro século de lutas e de guerras.

Friday, 7 November 2025

Friday's Sung Word: "Colibri" by Ary Barroso

Assim como o colibri - i, i, i, i, i,
Que vai de flor em flor - ô, ô, ô, ô,
Pelo meu jardim
Você também vai
De amor em amor
Não sobra nem um tiquinho pra mim

Pelo amor de seu amor
O meu coração
Tem sofrido em vão
Agora posso acreditar
Que o seu maior prazer
É me ver penar.

 

You can listen "Colibri" sung by Odete Amaral and the Diabos do Céu here

Saturday, 1 November 2025

Saturday's Good Reading; “Abaixo a Verdade” by Olavo de Carvalho (in Portuguese)

 

Todos aqueles supostos liberais e conservadores que se calaram a respeito do Foro de São Paulo quando ainda era possível deter o crescimento do monstro – ou que até mesmo me acusaram de alarmismo e obsessão por insistir em falar do assunto – posam, agora, como especialistas tarimbados na matéria, verdadeiros profetas retroativos, que repetem, sem citar-lhes a fonte, e com um atraso que as torna perfeitamente inúteis, as advertências que fiz em tempo. Advertências, aliás, cujo mérito não era meu no mais mínimo que fosse, porém inteiramente do advogado paulista dr. José Carlos Graça Wagner, cujos arquivos constituíram a minha única fonte de informações sobre o Foro até 2001.

Se o esquerdismo trouxe tanto dano ao Brasil, foi apenas como modalidade especialmente sedutora de uma vigarice intelectual endêmica que se observa em todos os quadrantes do espectro ideológico e que constitui, ela sim, a causa mais profunda e permanente dos males nacionais.

Quando a “direita” brasileira recusou ouvidos ao Dr. José Carlos Graça Wagner e a mim, perdeu não só a oportunidade de sobreviver politicamente – hoje até o sr. presidente da República sabe e declara que ela já não tem a mínima perspectiva de acesso ao poder –, mas também a de dar um exemplo honroso de sensibilidade intelectual superior, capaz de prestar atenção à verdade mesmo quando não venha de fontes oficiais ou bem comportadinhas. Esse exemplo bastaria para lhe conferir imediatamente aquela autoridade moral, tão decisiva nas disputas políticas, que não raro sobrepõe a minoria sábia à maioria tagarela e, pelo menos a longo prazo, pode lhe assegurar as mais belas vitórias.

Com sua omissão, ela provou que sua subserviência aos bem-pensantes é ainda mais forte do que seu instinto de sobrevivência, já que cede às injunções deles ainda mesmo quando calculadas para funcionar como estupefacientes, para amortecer suas reações de autodefesa e até sua capacidade de perceber a presença do perigo. De 1990 até o ano passado, a direita nacional não fez senão tentar por todos os meios aplacar o inimigo, oferecendo-lhe uma resistência débil e risível que só criticava seus pequenos erros econômico-administrativos para melhor ajudá-lo a ocultar seus crimes maiores. Todo mundo sabe o que ela ganhou com esse colaboracionismo mal disfarçado: ganhou sua completa exclusão do processo político, só compensada – se cabe a palavra – por uma humilhante sobrevivência como força auxiliar da esquerda soft.

Concedendo agora a macaqueadores e oportunistas retardatários a atenção que recusou aos primeiros descobridores de uma verdade temível, ela mostra que não aprendeu nada com a experiência, que continua preferindo, ao conhecimento genuíno, o simulacro mais pífio que possa encontrar no mercado. Talvez porque nele enxergue o seu semelhante.

Não é preciso dizer que, se aquela primeira recusa da verdade determinou o fim dessa direita como facção politicamente relevante, esta de agora anuncia a perda de suas últimas reservas de vitalidade, o sacrifício integral de seu futuro às exigências de um presente miserável.

In Diário do Comércio, 9 de novembro de 2009

 

Friday, 31 October 2025

Friday's Sung word: "Falso Amigo" by Ubenor Santos e Miguel Baúso Guarnieri (in Portuguese).

Não acredito que ela me tenha esquecido
Este recado só pode ser inventado
Mantendo esse papel de falso amigo
Mas vá dizer a ela que eu lhe digo
Que eu duvido enfim
Que ela se esqueça de mim)

Se ela me deixou estava escrito
Porém o seu papel não foi bonito
Em briga de casal quem entra acaba mal
Se ela me esqueceu não acredito

(Pois eu duvido enfim
Que ela se esqueça de mim) 

You can listen "Falso Amigo" sung by  Carlos Galhardo with Benetido Lacerda e Seu Regional here.

Wednesday, 29 October 2025

Wednesday's Good Reading: "Fé e Juízo Privado" by Saint John Henry Newman (translated into Portuguese by unknown translator)

 

Quando consideramos a beleza e a majestade, a plenitude, os benefícios e as consolações da religião católica, pode nos parecer surpreendente, meus irmãos, que ela não converta a multidão dos que cruzam o seu caminho. Talvez vós mesmos tenhais experimentado essa surpresa; especialmente aqueles dentre vós que há pouco se converteram, e que por experiência podem comparar esta religião com outras que milhões deste país escolhem no lugar dela. Vós sabeis por experiência o quanto são estéreis, sem sentido e sem fundamento tais religiões, quão pouco atrativos oferecem e quão pouco elas têm a dizer em sua defesa. Multidões, de fato, não têm religião alguma; e certamente não vos surpreende que pessoas incapazes sequer de suportar a ideia de Deus não se sintam atraídas pela Igreja que Ele fundou. Muitos, também, ouvem falar muito pouco de catolicismo, ou escutam uma boa dose de calúnias e difamações a seu respeito, e decerto não vos surpreende que também estes não se tornem católicos todos de uma vez. Mas o que [vos] surpreende, [a vós] que gozais das bênçãos católicas em sua plenitude, talvez seja isto: que aqueles que sempre veem a Igreja de tão longe, chegando mesmo a vislumbrar réstias ou o tênue brilho de sua majestade, no entanto não se sintam tão atraídos pelo que veem a ponto de procurá-la para ver mais; não se ponham ao menos no caminho para ser conduzidos à Verdade, a qual, naturalmente, não é reconhecida em sua autoridade divina senão por etapas. Moisés, quando viu a sarça ardente, mudou de caminho para contemplar [de perto] “aquela grande visão” (Ex 3, 3). Natanael, embora pensasse que não podia vir algo bom de Nazaré, quando Felipe lhe disse: “Vem e vê”, ao menos seguiu o Apóstolo e foi até Jesus (cf. Jo 1, 46). Mas as multidões à nossa volta veem e ouvem em alguma medida, sim (muitos em ampla medida), e no entanto não se convencem a ver e ouvir mais, não são movidas a agir de acordo com esse conhecimento. Vendo, elas não veem; e ouvindo, não ouvem; contentam-se em ficar onde estão; não são levadas a indagar, ou pelo menos não são levadas a abraçar [a Igreja].

Podem-se dar muitas explicações para essa dificuldade. Acenarei aqui a uma que vos parecerá óbvia, mas que carrega um significado. Os homens não se tornam católicos porque lhes falta fé. Podeis então perguntar-me se isso não é o mesmo que dizer: os homens não acreditam na Igreja Católica porque não creem nela — o que é a mesma coisa que nada [dizer]. Nosso Senhor declara, por exemplo: “Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6, 35) — ora, vir e crer, nesta passagem, significam a mesma coisa. Se eles tivessem fé, é evidente que entrariam na Igreja, já que o significado mesmo da fé, o exercício próprio dela, é a adesão à Igreja.

Mas quero dizer mais do que isto: a fé é um estado de mente, é um modo particular de pensar e agir, exercido sempre em relação a Deus, sim, mas de modos bem variados. O que quero dizer é que a multidão de homens deste país não tem este hábito ou caráter mental. Imaginemos, por exemplo, que eles acreditassem em outras religiões que não a Igreja: isto seria fé, ainda que uma fé mal orientada. Mas eles não creem nem mesmo em suas próprias religiões; eles não acreditam em coisa alguma. Trata-se de um defeito definitivo em suas mentes: assim como se diz que uma pessoa não tem a virtude da mansidão, ou da liberalidade, ou da prudência, independentemente do exercício desta ou daquela [outra] virtude, assim também existe uma virtude religiosa da fé, e um defeito que é a sua ausência. Sustento aqui que a grande maioria dos homens deste país não tem essa virtude particular chamada fé; ela está totalmente ausente neles. Assim como um homem pode não ter olhos nem mãos, assim são eles sem a fé; trata-se de uma falha ou ausência distintiva em sua alma; e digo que, dado faltar-lhes essa faculdade da fé religiosa, não surpreende que eles não abracem aquilo que, sem tal faculdade, não pode ser abraçado. Eles não acreditam absolutamente em doutrina alguma; portanto, não acreditam na Igreja em particular.

Ora, em primeiro lugar, o que é fé? É assentir como verdadeira a uma doutrina que não vemos, que não podemos provar, e isto porque Deus, que não pode mentir, diz que ela é verdadeira. E, além disso, já que Deus diz que ela é verdadeira não com sua própria voz, mas pela voz de seus mensageiros, [fé também] é assentir ao que diz o homem, visto não como simples homem; [é assentir] ao que ele é incumbido de dizer, como mensageiro, profeta ou embaixador de Deus.

No curso ordinário deste mundo, nós tomamos as coisas como verdadeiras seja porque as vemos, seja porque podemos perceber que elas são dedutíveis a partir do que vemos; isto é, nós obtemos a verdade pela visão ou pela razão, não pela fé. Vós certamente [me] direis que aceitamos uma porção de coisas que não podemos provar nem ver com base na palavra de outras pessoas; sim, mas nesta circunstância aceitamos o que elas dizem apenas como palavra humana; e, em geral, nós não temos aquela confiança absoluta e irrestrita nelas, que nada pode abalar. Sabemos que o homem está sujeito a errar e, se a matéria é relevante, sempre nos alegra encontrar alguma confirmação do que ele disse, vinda de outras fontes; do contrário, recebemos a informação com negligência e desdém, como sendo coisa de pouca importância, ou mera opinião; se chegamos a agir de acordo com ela, é por questão de prudência, porque achamos melhor e mais seguro proceder assim. Damos à palavra recebida o peso que nos convém, e usamo-la de acordo com nossa necessidade, ou com sua probabilidade. A decisão fica a nosso critério, e reservamo-nos o direito de reabrir a questão sempre que quisermos.

Isto é muito diferente da fé divina: aquele que crê que Deus é verdadeiro, e que é sua a palavra que foi confiada aos homens, não tem dúvida nenhuma. Ele tem tanta certeza de que é verdadeira a doutrina ensinada quanto de que é verdadeiro [o] Deus [que a revela]; e ele tem certeza porque Deus é verdadeiro, porque Ele falou, não porque ele veja a sua verdade ou a possa provar. Ou seja, a fé tem duas particularidades: é muito certa, decidida, positiva, inabalável em seu assentimento; e este é dado não porque se veja com os olhos, ou com a razão, mas porque recebem-se as notícias de alguém vindo de Deus.

Eis o que era a fé no tempo dos Apóstolos, e ninguém o pode negar. E o que era a fé então, deve continuar a sê-lo agora, ou então deixa de ser a mesma coisa. Digo que certamente era assim no tempo dos Apóstolos pois, vós sabeis, eles pregaram ao mundo que Cristo era o Filho de Deus, que nascera de uma Virgem, que ascendera aos céus, e que de novo viria para julgar a todos, os vivos e os mortos. Podia o mundo ver tudo isso? Podia prová-lo? Como deviam então os homens aceitar essas coisas? Por que tantos as abraçaram? Por causa da palavra dos Apóstolos, que eram, como demonstravam os seus poderes, mensageiros de Deus. Os homens eram exortados a submeter-se a uma autoridade viva. Mais do que isso: o que quer que dissesse um Apóstolo, seus prosélitos estavam obrigados a acreditar; quando eles entravam na Igreja, entravam nela para aprender. A Igreja era sua mestra; eles não vinham para discutir, examinar e escolher, mas para aceitar o que quer que lhes fosse apresentado. Ninguém duvida nem pode duvidar [que era isto o que se dava] naqueles primeiros tempos. O cristão estava obrigado a aceitar, sem duvidar, tudo o que os Apóstolos declaravam ser verdadeiro. Se os Apóstolos falassem, ele tinha de dar um assentimento interno da mente. Guardar silêncio, não apresentar oposição, não era suficiente; acreditar até certo ponto, duvidar, não era permitido. Não: se um convertido tinha suas próprias ideias privadas a respeito do que era dito, e só as guardasse para si próprio; se ele fizesse alguma oposição secreta ao que era ensinado; se esperasse por mais provas antes de acreditar, seria uma prova de que não acreditava que os Apóstolos tinham sido enviados por Deus para revelar a sua vontade; seria uma prova de que ele definitivamente não tinha fé. A submissão imediata e incondicional da mente era, na época dos Apóstolos, o único sinal, o sinal necessário da fé; portanto, não havia lugar algum para o que hoje se chama de julgamento privado. Ninguém poderia dizer: “Eu mesmo escolherei a minha religião, crerei nisto e nisto não; não me comprometerei com nada; hei de crer somente enquanto me der na telha, e não mais; aquilo em que creio hoje, amanhã rejeitarei, se quiser. Crerei no que os Apóstolos já disseram, mas não no que dirão no futuro.” Não: ou os Apóstolos eram de Deus ou não; se eram, tudo o que pregavam devia ser crido por seus ouvintes; se não, não havia nada em que acreditar. Acreditar um pouco, acreditar mais ou menos, era impossível, uma contradição da própria noção de fé: se uma parte devia ser crida, tudo devia sê-lo; seria um absurdo acreditar em uma coisa e não em outra. Pois a palavra dos Apóstolos, que fazia ser verdade isto, fazia sê-lo também aquilo. Em si mesmos eles não eram nada, mas [ao mesmo tempo] eram tudo: uma autoridade infalível, vinda de Deus. O mundo devia ou tornar-se cristão ou fugir deles; não havia lugar algum para gostos e fantasias privadas, lugar algum para julgamentos privados.

Ora, com certeza isso fica bastante claro pela natureza da questão; mas também pelas palavras da Escritura: “Nós damos graças a Deus sem cessar”, diz São Paulo, “porque, ao receberes a palavra de Deus que ouvistes de nós, vós a acolhestes não como palavra humana, mas como o que ela é verdadeiramente: palavra de Deus” (1Ts 2, 13). Aqui vedes São Paulo expressar o que eu disse acima: que a Palavra vem de Deus, que ela é proferida pelos homens, que ela deve ser recebida não como palavra humana, mas como palavra de Deus. Mais adiante ele diz também: “Quem rejeita esta instrução, não rejeita um ser humano, mas o próprio Deus, que vos dá também o seu Espírito Santo” (1Ts 4, 8). Nosso Salvador já declarara algo semelhante: “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10, 16). Na mesma linha diz São Pedro no dia de Pentecostes: “Homens de Israel, escutai estas palavras… a esse Jesus Deus ressuscitou, e disso nós todos somos testemunhas. Que toda a casa de Israel reconheça com plena certeza… a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo” (At 2, 22.32.36). Noutra ocasião ele diz: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens… disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem” (At 5, 29.32). E de novo: Deus “nos mandou proclamar ao povo, e testemunhar, que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10, 42). E, vós sabeis, a mensagem persistente dos primeiros pregadores era: “Crê e serás salvo”; eles não diziam: “Prova nossa doutrina com tua própria razão”, nem tampouco: “Espera só até que vejas, para acreditares”; mas, sim: “Crê sem ver e sem provar, porque nossa palavra não é nossa, mas de Deus”. Os homens podiam, é claro, usar a própria razão para averiguar as pretensões dos Apóstolos; podiam averiguar se eles faziam milagres ou não; podiam averiguar se eles haviam sido prenunciados no Antigo Testamento como vindos de Deus. Mas, verificado isso de forma justa, por quaisquer que fossem as vias, era necessário tomar por verdadeiro tudo o que diziam os Apóstolos, sem provas; eles deviam exercitar a sua fé; sua salvação viria pelo ouvir. É significativo, portanto, que São Paulo chame à doutrina revelada “palavra ouvida”, na passagem supracitada (cf. 1Ts 2, 13): os homens se aproximavam para ouvir, para aceitar, para obedecer, não para criticar o que se dizia. E nessa mesma linha ele pergunta noutro lugar: “Como crerão naquele a quem não ouviram? E como ouvirão, se ninguém proclamar?... A fé vem pelo ouvir; e o ouvir, pela palavra de Cristo” (Rm 10, 14.17).

Considerai agora, meus caros irmãos: não são estes dois estados ou atos da mente completamente distintos um do outro — o acreditar simplesmente no que diz uma autoridade viva; e o tomar um livro, como a Escritura, e usá-lo a bel-prazer, para dominá-lo, isto é, para assenhorar-se dele, para interpretá-lo por conta própria, e para aceitar apenas o que se escolheu ver nele, e nada mais? Não se distinguem estes dois procedimentos nisto: que no primeiro nos submetemos e no segundo emitimos juízos? Neste momento, não estou perguntando qual dos dois é melhor, não estou perguntando se um ou outro é praticável agora; mas não são eles dois meios de receber uma doutrina, ao invés de um? Submissão e julgamento não são completos opostos? Ora, não é certo que a fé no tempo dos Apóstolos consistia em submeter-se, e não em emitir juízos individuais?

Debalde alguém dirá que o homem que emite juízos sobre os escritos dos Apóstolos, primeiro se submete a esses escritos e, portanto, tem fé neles; do contrário, não faria qualquer referência a eles. Repito: há uma diferença essencial entre o ato de submeter-se a um oráculo vivo e [o de submeter-se] a suas palavras escritas. No primeiro caso, não há recurso contra quem fala; no segundo, compete ao leitor a decisão final. Consideremos quão diferente é a confiança com que relatamos as palavras de outro, estando ele presente ou não. Se não está, enchemos a boca para dizer que sustenta isto e aquilo, ou que disse tal e tal coisa; mas deixe só a pessoa pôr-se no meio de nós, para que mude imediatamente o tom da conversa. Dizemos, então: “Acho que ouvi você dizer algo mais ou menos assim, ou interpretei-o de tal modo…”; ou modificamos consideravelmente a declaração ou o fato que lhe havíamos imputado, omitindo metade por segurança, ou retirando as partes mais problemáticas; e depois de tudo isso esperamos com alguma ansiedade para ver se pelo menos alguma parte do que dissemos será aceita pela pessoa. O mesmo tipo de processo se dá no caso dos escritos de uma pessoa já falecida. Posso imaginar um homem que exponha em tom professoral a Carta de São Paulo aos Gálatas, ou aos Efésios, muito mais satisfeito com a ausência do autor que com sua súbita reaparição em nosso meio — pois, neste caso, o Apóstolo poderia tirar sua própria intenção das mãos de seu intérprete e explicá-la por si mesmo. Em uma palavra, mesmo dizendo ter fé nos escritos de São Paulo, esse homem assumidamente não tem fé alguma em São Paulo; e mesmo que fale muito da verdade tal como se acha na Escritura, não deseja de forma alguma ser como aqueles cristãos cujos nomes e feitos aparecem nela.

Penso poder presumir que esta virtude, exercida pelos primeiros cristãos, é absolutamente desconhecida dos protestantes de agora; ou pelo menos, se há casos dela, é em relação a seus mestres e teólogos, os quais negam expressamente ser objetos dignos dela e exortam seu povo a emitir juízos por si mesmo. Falando em geral, os protestantes não têm fé, no sentido primitivo da palavra; fica claro a partir do que estou dizendo, e aqui está uma confirmação disso. Se os homens acreditassem agora como nos tempos dos Apóstolos, eles não poderiam duvidar nem mudar [de opinião]. Ninguém pode pôr em dúvida que uma palavra dita por Deus deve ser crida; é evidente que deve; ao passo que qualquer pessoa modesta e humilde facilmente pode ser conduzida a duvidar de suas próprias inferências e deduções. Como os homens hoje em dia deduzem [as coisas] a partir da Escritura, ao invés de acreditar em um mestre, é esperado que os vejamos vacilar; eles sentirão a força de suas próprias deduções com mais veemência uma hora ou outra, mudarão de ideia a respeito delas ou talvez as negarão todas de uma vez. Mas isso não pode se dar se um homem tem fé, ou seja, se crê vir de Deus o que lhe está dizendo um pregador. É especialmente nisso que insiste São Paulo ao dizer-nos que os Apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores, os mestres, nos são dados a fim de “chegarmos, todos justos, à unidade na fé” e, por outro lado, de modo a que não sejamos como crianças, “entregues ao sabor das ondas e levados por todo vento de doutrina” (Ef 4, 13-14). Ora, não é verdade que os homens de hoje mudam suas opiniões religiosas sem limite nenhum? Não é esta então a prova de que eles não têm a fé que os Apóstolos exigiam de seus prosélitos? Se eles tivessem fé, não mudariam. Se acreditamos que Deus falou, estamos certos de não poder desdizer o que Ele já disse; Ele não pode enganar nem mudar; o que recebemos, recebemo-lo de uma vez por todas e acreditaremos nisto para sempre.

Eis a única descrição racional e consistente da fé. Mas encontram-se tão longe de professá-la os protestantes, que riem eles da própria noção dela. Eles riem da noção mesma de um homem colocar a sua confiança em um Papa ou um Concílio; eles pensam que seja simplesmente superstição e ignorância professar apenas o que professa a Igreja, e assentir ao que quer que ela diga no porvir em matéria de doutrina. Ou seja, eles riem da simples noção de fazer o que os cristãos inegavelmente fizeram no tempo dos Apóstolos. Percebei: eles não se limitam a perguntar se a Igreja Católica tem a prerrogativa de ensinar, se tem autoridade, sem tem os carismas [para tanto] — esta é uma questão razoável. Não: eles acham que o próprio estado de mente exigido por uma tal prerrogativa, isto é, a disposição a aceitar tudo sem reserva ou questionamento, que isto é escravidão. Para eles, insistir nesta submissão da razão é artimanha clerical; e realizá-la, superstição. Ou seja, eles contestam o próprio estado de mente que todos os cristãos tiveram na época dos Apóstolos, de modo que, sem dúvidas (quem o negará?), aqueles que hoje se gabam de não ter vendas nos olhos, de julgar por si mesmos, de acreditar só no tanto e no pouco que lhes convém, de odiar imposições e assim por diante, teriam achado extremamente difícil pender da boca dos Apóstolos, caso lhes fossem contemporâneos; ou, ao contrário, teriam simplesmente resistido ao sacrifício de sua própria liberdade de pensamento, achando demasiado alto este preço para a vida eterna, e, assim, teriam morrido em sua descrença. Em sua defesa, eles argumentariam ser absurdo e infantil que lhes pedissem para acreditar sem provas; para abrir mão de sua educação, inteligência e ciência; e, não obstante todas as dificuldades da razão e dos sentidos em relação à doutrina cristã, não obstante o seu mistério, a sua obscuridade, a sua estranheza, a sua severidade, exigir deles que se submetessem ao ensinamento de alguns galileus iletrados, ou de um fariseu até letrado, mas fanático. É isso que eles teriam dito então; em sendo assim, deveria acaso surpreender-nos que [estes mesmos] não se tornem católicos agora? A explicação simples para eles permanecerem como estão é que lhes falta uma coisa: falta-lhes fé, este estado de mente, esta virtude que eles não reconhecem como sendo louvável e que eles não almejam possuir.

O que eles sentem agora, meus irmãos, é exatamente o que tanto judeus quanto gregos sentiam antes deles no tempo dos Apóstolos, e o que o homem natural sempre sentiu desde então. Os grandes e sábios da época desprezavam a fé, tanto então quanto agora, como algo indigno da natureza humana:

 

    De fato, irmãos, vede vossa vocação: não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família nobre. O que, porém, para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios; e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar aquilo que é forte. O que para o mundo é sem prestígio e desprezível Deus o escolheu, aquilo que é nada, para anular aquilo que é. Assim, ninguém poderá gloriar-se diante de Deus (1Cor 1, 26-29).

 

Daí o mesmo Apóstolo falar da “loucura da pregação” (1Cor 1, 21). Semelhante a isto é o que disse Nosso Senhor em sua oração ao Pai: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25). Ora, não é fácil perceber que os homens de agora simplesmente herdaram os sentimentos e as tradições daqueles falsos sábios e fatalmente prudentes da época de Nosso Senhor? O mesmo obstáculo para entrar na Igreja Católica que eles trazem no coração, tinham-no antes deles os fariseus e os sofistas; é contra seu espírito acreditar na doutrina dela, não tanto por falta de evidência de que ela venha de Deus, mas porque, se ela de fato vem de Deus, suas mentes terão de submeter-se a homens vivos, que não são eles mesmos intelectualmente cultos ou profundos; e porque eles deverão aceitar, querendo ou não, inúmeras doutrinas estranhas à sua imaginação e difíceis para a sua razão. A própria marca do magistério e do mestre católicos é, para eles, uma objeção preliminar à sua adesão ao catolicismo, a ponto de obscurecer qualquer argumento, por forte que seja, em favor da missão destes mestres e da origem deste magistério. Em suma: eles não têm fé.

Não há neles o princípio da fé; e, repito, de nada adianta insistir aqui em que pelo menos eles creem firmemente na Escritura como sendo a Palavra de Deus. Na verdade, é muito de se temer que a sua própria aceitação da Escritura não seja nada mais que um preconceito ou um sentimento arraigado que lhes foi incutido quando eram crianças. Uma prova disto é que, embora professem seu estupor com os milagres católicos, apressando-se em chamá-los de “lendas mentirosas”, eles não têm dificuldade alguma com as narrativas bíblicas, que são quase tão difíceis para a razão quanto quaisquer milagres registrados nas histórias dos santos. Ao contrário, ouvi falar de católicos admirados ao ler pela primeira vez na Escritura os relatos da arca e do dilúvio, da torre de Babel, de Balaão e Balac, da fuga dos israelitas do Egito e de sua entrada na terra prometida, e da rejeição de Esaú em favor de Jacó — [relatos] que a maior parte dos protestantes aceita sem nenhum esforço mental. Como então os católicos aceitam esses relatos? Pela fé. Eles dizem: “Deus é verdadeiro, e todo homem é mentiroso.” E como chegam os protestantes a aceitá-los tão facilmente? Pela fé? Não! Suponho que, na maioria das vezes, não há submissão alguma da razão; eles simplesmente estão de tal modo familiarizados com a passagem em questão, que a narrativa não lhes apresenta à imaginação dificuldade alguma; eles não têm nada a superar. Se são levados, no entanto, a contemplar essas passagens em si mesmas, a pesá-las na balança da probabilidade, a começar a questioná-las — como acontecerá se forem intelectualmente cultos —, então não há nada para os trazer de volta à sua primeira fé habitual ou mecânica. Eles desconhecem o que seja submissão a autoridade; ou seja, nada sabem de fé; pois não têm autoridade alguma a que submeter-se. Ou eles permanecem em um estado de dúvida, sem grande perturbação mental, ou seguem em frente até chegar à descrença completa em matérias deste gênero, embora nada venham a dizer a esse respeito. Não há neles, nem antes de duvidarem nem quando duvidam, qualquer sinal da presença de um poder que sujeite a razão à Palavra de Deus. Não: o que parece ser fé é mera convicção hereditária, e não princípio pessoal; trata-se de um hábito aprendido na infância, jamais transformado em algo superior, e que se dissipa e desaparece ante a razão, tal como a névoa diante da luz.

Se há protestantes, no entanto, que não se encontram em nenhum desses estados, quer o de credulidade [mecânica], quer o de dúvida, mas que creem com firmeza apesar de todas as dificuldades, certamente estes têm algum direito de considerar-se sob a influência da fé. Mas nada indica que tais pessoas, onde quer que se encontrem, não estejam no caminho para tornar-se católicas; e talvez elas já tenham até sido chamadas a fazê-lo por seus amigos, mostrando com o seu próprio exemplo a associação lógica e indiscutível que existe entre a posse da fé e a adesão à Igreja.

Que a fé seja agora a mesma faculdade mental, o mesmo tipo de ato ou hábito da época dos Apóstolos, foi o que me propusera a demonstrar, e creio tê-lo feito bem. As duas coisas devem ser a mesma; não podem ser diferentes; a Palavra não pode ter mudado o seu sentido. Ou se diga que hoje a fé não é mais necessária em absoluto, ou se admita que ela é aquilo que os Apóstolos entendiam como fé; mas não se venha dizer que existe fé onde se mostra algo completamente diferente posto em seu lugar. Nos tempos dos Apóstolos a particularidade da fé era a submissão a uma autoridade viva; era isto o que tanto a distinguia; era isto o que a tornava, na verdade, um ato de submissão; era isto o que destruía o julgamento privado em matéria religiosa. Se não estais à procura de uma autoridade viva, se a trocastes pelo julgamento privado, então dizei de uma vez por todas que não tendes fé apostólica. E de fato não a tendes; a maior parte desta nação não a possui; confessai [pois] que não a tendes; e confessai ser esta a razão pela qual não sois católicos. Não sois católicos porque não tendes fé.

Por que os cegos não veem o sol? Porque não têm olhos. Assim também é inútil discorrer sobre a beleza, a santidade e a sublimidade da doutrina e do culto católicos, quando não se tem fé para aceitá-los como divinos. É até possível confessar-lhes a beleza, a sublimidade e a santidade, sem neles crer; pode-se até reconhecer que a religião católica seja nobre e majestosa; sua sabedoria pode até estontear, sua adequação à natureza humana pode até causar admiração, sua ternura e atratividade podem até compenetrar, sua consistência pode até impressionar. Mas entregar-se a ela é outra coisa; tomá-la por quinhão, dizer com a moabita agraciada: “Para onde fores, eu irei, e onde quer que permaneças, permanecerei contigo. Teu povo é meu povo, teu Deus é meu Deus” (Rt 1, 16) — esta é a linguagem da fé. Um homem pode reverenciar e exaltar uma coisa, sem propensão alguma a obedecer, sem intenção alguma de professá-la. E de fato isto se dá com frequência: os homens respeitam a religião católica; reconhecem seus serviços prestados à humanidade; encorajam-na, a ela e a seus mestres; gostam de conhecê-los; interessam-se por ouvir falar de suas ações, mas não são nem se tornarão católicos jamais. Eles morrerão como viveram, fora da Igreja, porque não possuíam eles mesmos a faculdade com que se deve acercar-se dela. Os católicos que não os estudaram, nem a eles nem à natureza humana, ficarão surpresos que eles permaneçam onde estão. Pior: eles mesmos (ai deles!) algumas vezes lamentarão não poder tornar-se católicos. Hão de sentir tão intimamente a bênção que é ser católico, que exclamarão: “Oh, que não daria eu para ser católico! Gostaria tanto de crer no que admiro! Mas não creio, e não posso fazê-lo por simples desejo, assim como não posso saltar uma montanha. Eu seria muito mais feliz se fosse católico, mas não sou; para que enganar a mim mesmo? Eu sou o que sou. Respeito [a Igreja], mas não posso aceitá-la.

Oh, estado deplorável! Deplorável porque total e absolutamente culposo, e porque, como eles sabem, a Escritura dá grande ênfase à necessidade da fé para a salvação, apresentando-a como fundação e princípio de toda obediência aceitável, descrevendo-a como “argumento” ou “prova de realidades que não se veem” (Hb 11, 1). Pela fé os homens entenderam que Deus existe, que criou o mundo, que recompensa aqueles que o procuram, que o dilúvio estava para vir e que seu Salvador devia nascer. “Sem a fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11, 6); pela fé permanecemos de pé (cf. 2Cor 1, 24); “caminhamos pela fé” (2Cor 5, 7); pela fé vencemos o mundo (cf. 1Jo 5, 4). Quando Nosso Senhor deu aos Apóstolos o mandato de pregar a todo o mundo, Ele continuou: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer, será condenado” (Mc 16, 16). E declarou a Nicodemos: “Quem nele crê não é julgado, mas quem não crê já está julgado, porque não creu no nome do Filho Unigênito de Deus” (Jo 3, 18). Aos fariseus Ele disse: “Se não crerdes que ‘eu sou’, morrereis nos vossos pecados” (Jo 8, 24). Aos judeus: “Vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10, 26). E deveis lembrar-vos que, antes de seus milagres, Ele costumava exigir a fé de quem suplicava: “Tudo é possível para aquele que crê” (Mc 9, 23); e lemos noutro lugar que Ele “não conseguia fazer ali nenhum milagre” (Mc 6, 6), por causa da incredulidade de seus habitantes.

Acaso a fé mudou de significado ou é menos necessária agora? Não é ela ainda o que era na época dos Apóstolos: o próprio distintivo do cristianismo, o instrumento especial da regeneração, a primeira disposição para ser justificado, uma das três virtudes teologais? Deus poderia ter nos regenerado por outro meios: pela visão, pela razão, pelo amor, mas Ele escolheu purificar nossos corações mediante a fé (cf. At 15, 9); foi de seu agrado eleger um instrumento desprezível aos olhos do mundo, mas de imenso poder. Em sua infinita sabedoria, Ele o preferiu a qualquer outro; e se os homens não o possuem, falta-lhes a própria matéria com que são talhados, o próprio alicerce sobre o qual são edificados, os santos e servos de Deus. E os homens não o têm; estão vivendo e morrendo sem as esperanças, sem os socorros do Evangelho, porque, não obstante todo o bem que há neles, não obstante o seu senso de dever, sua delicadeza de consciência em tantos pontos, sua benevolência, sua retidão, sua generosidade, estão eles (devo dizer) sob o domínio de um demônio orgulhoso; eles trazem este espírito arrogante dentro de si, eles se erigem como mestres de si próprios em matérias de pensamento, a respeito das quais sabem tão pouco; consideram sua própria razão melhor que a de qualquer outra pessoa; não admitirão que venha de Deus quem quer que contradiga sua própria visão de verdade.

 [Mas] quê?! Ninguém, em lugar algum, iguala-se a eles em sabedoria? Não há nenhum outro cuja palavra deva ser tomada em consideração em matéria religiosa? Não há ninguém para arrancar deles seu último recurso a si próprios? Não lhes resta, por nenhum outro meio possível, a ocasião ou a oportunidade da fé? Trata-se de uma virtude que, em razão de sua transcendente sagacidade, de sua prerrogativa de onisciência, eles devem desistir de exercer? Se as pretensões da Igreja Católica não lhes satisfazem, que vão para um outro lugar qualquer, se puderem. Se são tão exigentes a ponto de não confiar nela como oráculo de Deus, que encontrem outra mais seguramente divina que a casa que Ele mesmo instituiu, que sempre foi chamada por seu nome, que sempre preservou as mesmas prerrogativas, que sempre ensinou substancialmente a mesma doutrina e que triunfou sobre aqueles que pregaram qualquer outra. Já que a fé apostólica era no princípio a confiança em uma palavra humana como sendo de Deus, já que a fé era então o que é agora, já que é necessária para a salvação, que [eles] tentem praticá-la em relação a outra noiva, já que a do Cordeiro não lhes basta. Que ponham [sua] fé, se puderem, em algumas daquelas religiões que duraram ao todo dois ou três séculos em algum canto da terra. Que apostem suas fichas eternas em nobres e príncipes, parlamentos e soldados; que tomem por profeta de Deus alguma mera ficção de lei, ou aborto de escola, ou ídolo do populacho, ou aproveitador de alguma crise, ou oráculo de sala de aula. Ai deles: estarão muito mal arranjados, se devem possuir uma virtude que não têm meios de exercer; se devem fazer um ato de fé, sem saber em quem, sem saber por quê!

Que ação de graças não devemos render ao Deus onipotente, meus caros irmãos, por nos fazer ser o que somos! É uma questão de graça. Existem, é claro, muitos argumentos convincentes para levar alguém à Igreja Católica, mas eles não forçam a vontade. Nós podemos conhecê-los, sem que sejamos movidos a agir por causa deles. Podemos estar convencidos sem que sejamos persuadidos. As duas coisas são bem diferentes uma da outra: ver que deves acreditar, e acreditar; a razão, abandonada a si própria, levar-te-á à conclusão de que há motivos de sobra para acreditar, mas o [ato mesmo de] crer é dom da graça. Portanto, és o que és não por alguma excelência ou mérito de tua parte, mas por graça de Deus, que escolheu-te para crer. Tu poderias ter sido como o selvagem da África, ou o livre-pensador da Europa, com graça suficiente para condenar-te, porque ela não auxiliou a tua salvação. Tu poderias ter recebido fortes inspirações da graça, e resistido a elas, e então não te seria dada mais graça para superar a tua resistência.

Deus não dá a todos a mesma medida de sua graça. Acaso não vos visitou Ele com [sua] graça superabundante? E não foi necessário para vossos corações endurecidos receber mais do que as outras pessoas? Louvai-o e bendizei-o continuamente pelo benefício; não vos esqueçais que é de graça o tempo que passa; não vos deixeis ensoberbecer por causa dela; rezai sempre a fim de não perdê-la; e fazei o vosso melhor para tornar as outras pessoas partícipes dela.

E vós também, meus irmãos, se acaso estais presentes, vós que ainda não sois católicos, mas que, ao virdes aqui, pareceis demonstrar interesse em nossa doutrina, e desejais conhecer mais a respeito dela, lembrai-vos também vós que, mesmo ainda não possuindo fé na Igreja, Deus vos colocou no caminho para obtê-la. Vós estais sob o influxo da sua graça. Ele vos fez dar um passo a mais em vossa jornada, e deseja levar-vos mais longe, deseja conceder-vos a plenitude de suas bênçãos, e fazer-vos católicos. Ainda estais em vossos pecados; provavelmente carregais a culpa de muitos anos, a culpa acumulada de muitas ofensas mortais e profundas, que nenhuma contrição [ainda] lavou, e sobre as quais nenhum sacramento [ainda] foi aplicado. Por ora, perturba-vos uma consciência inquieta, uma razão insatisfeita, um coração impuro e uma vontade dividida; vós precisais de conversão. No entanto, os primeiros convites da graça estão a operar agora dentro de vossas almas, prontos para transformar-se em perdão do vosso passado e santidade para o vosso futuro. Deus vos está movendo a fazer atos de fé, esperança, caridade, aversão ao pecado e arrependimento; não o desaponteis, não o contrarieis, cooperai com Ele, obedecei-lhe. Vós olhais para o alto e vedes, por assim dizer, uma grande montanha a ser escalada; dizeis: “Como poderei jamais encontrar um caminho, em meio a esses entraves gigantescos que encontro na via para tornar-me católico? Não compreendo esta doutrina, e sofro por isso. Uma outra parece-me impossível. Nunca hei de familiarizar-me com uma prática e tenho medo de outra. Sinto-me confuso e desconfortável, prestes a naufragar no desespero”. Não digais isto, meus caros irmãos: olhai para o alto com esperança, tende confiança naquele que vos chama a seguir adiante. “Quem és tu, grande monte? Diante de Zorobabel, uma planície” (Zc 4, 7). Passo a passo, Ele vos conduzirá adiante, assim como conduziu a muitos outros antes de vós. Ele endireitará o que é torto e aplainará o que é áspero, desviará as torrentes e secará os rios que se acham em vossa estrada. Ele tornará velozes os vossos pés, como os da corça, e vos firmará nas alturas (cf. Sl 18, 34); abrirá largo caminho aos vossos passos, e não vacilarão os vossos pés (cf. Sl 18, 37). “Não há outro Deus, como o Deus dos justos, que paira sobre os céus, para teu auxílio, e sobre as nuvens majestosamente. A sua habitação é lá no alto, e cá embaixo estão os seus braços eternos. Ele expulsará da tua presença o inimigo e dirá: ‘Sê reduzido a pó’” (Dt 33, 26-27). “Até os adolescentes se afadigam e cansam, e mesmo os jovens às vezes tropeçam! Aqueles, porém, que esperam no Senhor, renovam suas forças, criam asas como de águia, correm e não se afadigam, caminham e não se cansam” (Is 40, 30-31).

 

Referências

[São] John Henry Newman, “Faith and Private Judgment”. In: Discourses to Mixed Congregations. New York & Bombai: Longmans, Green, and Co.: 1906, pp. 192-213.