Showing posts with label Raul de Leoni. Show all posts
Showing posts with label Raul de Leoni. Show all posts

Wednesday, 9 July 2025

Wednesday's Good Reading: "História Antiga" by Raul de Leoni (in Portuguese)

 

No meu grande otimismo de inocente,

Eu nunca soube por que foi... um dia,

Ela me olhou indiferentemente,

Perguntei-lhe por que era... Não sabia...

 

Desde então, transformou-se, de repente,

A nossa intimidade correntia

Em saudações de simples cortesia

E a vida foi andando para a frente...

 

Nunca mais nos falamos... vai distante...

Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante

Em que seu mudo olhar no meu repousa,

 

E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,

Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,

Mas que é tarde demais para dizê-la...

Wednesday, 21 May 2025

Wednesday's Good Reading: “Crepuscular” by Raul de Leoni (in Portuguese)

Poente no meu jardim... O olhar profundo
Alongo sobre as árvores vazias,
Essas em cujo espírito infecundo
Soluçam silenciosas agonias.

Assim estéreis, mansas e sombrias,
Sugerem à emoção com que as circundo
Todas as dolorosas utopias
De todos os filósofos do mundo.

Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
Ambas, não dando frutos, abrem ninhos
Ao viandante exânime que as olhe.

Ninhos, onde vencidas de fadiga,
A alma ingênua dos pássaros se abriga
E a tristeza dos homens se recolhe...

Wednesday, 19 February 2025

Wednesday's Good Reading: “Felicidade” by Raul de Leoni (in Portuguese)

 

I

Sombra do nosso Sonho ousado e vão!

De infinitas imagens irradias

E, na dança da tua projeção,

Quanto mais cresces, mais te distancias...

 

A alma te vê à luz da posição

Em que fica entre as cousas e entre os dias:

És sombra e, refletindo-te, varias,

Como todas as sombras, pelo chão...

 

O Homem não te atingiu na vida instável

Porque te embaraçou na filigrana

De um ideal metafísico e divino;

 

E te busca na selva impraticável,

Ó Bela Adormecida da alma humana!

Trevo de quatro folhas do Destino!...

 

 

II

Basta saberes que és feliz, e então

Já o serás na verdade muito menos:

Na árvore amarga da meditação,

A sombra é triste e os frutos têm venenos.

 

Se és feliz e o não sabes, tens na mão

O maior bem entre os mais bens terrenos

E chegaste à suprema aspiração,

Que deslumbra os filósofos serenos.

 

Felicidade... Sombra que só vejo,

Longe do Pensamento e do Desejo,

Surdinando harmonias e sorrindo,

 

Nessa tranquilidade distraída,

Que as almas simples sentem pela Vida,

Sem mesmo perceber que estão sentindo...

 

 

Wednesday, 1 January 2025

Wednesday's Good Reading: "Noturno" by Raul de Leoni (in Portuguese)


No parque antigo, a noite era afetuosa e mansa,
Sob a lenda encantada do luar...

Os pinheiros pensavam cousas longas,
Nas alturas dormentes e desertas...
O aroma nupcial dos jasmins delirantes,
Diluindo um cheiro acre de resinas,
Espiritualizava e adormecia
O ar meigo e silencioso...
A ronda dos espíritos noturnos,
Em medrosos rumores,
Gemia entre os ciprestes e os loureiros...
Na penumbra dos bosques, o luar
Entreabria clareiras encantadas,
Prateando o verde-malva das latadas
E as doces perspectivas do pomar...

As nascentes sonhavam, em surdina,
Numa tonalidade cristalina,
Monótonos murmurinhos,
Gorgolejos de águas frescas...

Sobre a areia de prata dos caminhos,
A sombra espiritual dos eucaliptos,
Bulindo ao sopro tímido da aragem,
Projetava ao luar desenhos indecisos
Ágeis bailados leves de arabescos,
Farândolas de sombras fugitivas...

E das perdidas curvas das estradas,
De paragens distantes
Como fantasmas de serenatas,
Ressonâncias sonâmbulas traziam
A longa, a pungentíssima saudade
De cavatinas e mandolinatas...
Lembro-me bem, quando em quando,
Entre as sebes escondidas,
Um insidioso grilo impertinente,
Roendo um som estridente,
Arranhava o silêncio...

No parque antigo, a noite era afetuosa e mansa,
Sob a lenda encantada do luar...
Eu era bem criança e, já possuindo
A sensibilidade evocadora
De um poeta de símbolos profundos,
Solitário e comovido,
No minarete do solar paterno,
Com os pequeninos olhos deslumbrados,
Passei a noite inteira, o olhar perdido,
No azul sonoro, o azul profundo, o azul eterno
Dos eternos espaços constelados...

Era a primeira vez que eu contemplava o mundo,
Que eu via face a face o mistério profundo
Da fantasmagoria universal
No prodígio da noite silenciosa.

Era a primeira vez...
E foi aí, talvez,
Que começou a história atormentada
Da minha alma, curiosa dos abismos,
Inquieta da existência e doente do Além...
Filha da maldição do Arcanjo rebelado...

Sim, que foi nessa noite, não me engano,
– Noite que nunca mais esquecerei –
Que – a alma ainda em crisálida, – velando
No minarete do solar paterno,
Diante da noite azul – eu senti e pensei
O meu primeiro sofrimento humano
E o meu primeiro pensamento eterno...

Como fora do Tempo e além do Espaço,
Ser sem princípio, espírito sem fim,
Sofria toda a humanidade em mim,
Nessa contemplação imponderável!

Já nem ouvia o trêmulo compasso
Das horas que fugiam pela noite,
Que os olhos soltos pela imensidade,
Numa melancolia deslumbrada,
Imaginando cousas nunca ditas,
Todo eu me eterizava e me perdia
Na ideia das esferas infinitas,
Na lenda universal das distâncias eternas...

No parque antigo, a noite era afetuosa e mansa,
Sob a lenda encantada do luar...

Foi nessa noite antiga
Que se desencantou para a vertigem
A suave virgindade do meu ser!

Já a lua transmontava as cordilheiras...
Cães ladravam ao longe, em sobressalto;
No pátio das mansões, na granja das herdades,
O cântico dos galos estalava,
Desoladoramente pelos ares,
Acordando as distâncias esquecidas...

E, então, num silencioso desencanto,
Eu fui adormecendo lentamente,
Enquanto
Pela fria fluidez azul do espaço eterno
Em reticências trêmulas, sorria
A ironia longínqua das estrelas...

Wednesday, 13 November 2024

Wednesday's Good Reading: “História de uma Alma” by Raul de Leoni (in Portuguese)

 

I Adolescência

Eu era uma alma fácil e macia,

Claro e sereno espelho matinal

Que a paisagem das cousas refletia,

Com a lucidez cantante do cristal.

 

Tendo os instintos por filosofia,

Era um ser mansamente natural,

Em cuja meiga ingenuidade havia

Uma alegre intuição universal.

 

Entretinham-me as ricas tessituras

Das lendas de ouro, cheias de horizontes

E de imaginações maravilhosas.

 

E eu passava entre as cousas e as criaturas,

Simples como a água lírica das fontes

E puro como o espírito das rosas...

 

 

II Mefisto

Espírito flexível e elegante,

Ágil, lascivo, plástico, difuso,

Entre as cousas humanas me conduzo

Como um destro ginasta diletante.

 

Comigo mesmo, cínico e confuso,

Minha vida é um sofisma espiralante;

Teço lógicas trêfegas e abuso

Do equilíbrio da Dúvida flutuante.

 

Bailarino dos círculos viciosos,

Faço jogos sutis de ideias no ar

Entre saltos brilhantes e mortais,

 

Com a mesma petulância singular

Dos grandes acrobatas audaciosos

E dos malabaristas de punhais...

 

 

III Confusão

Alma estranha esta que abrigo,

Esta que o Acaso me deu,

Tem tantas almas consigo,

Que eu nem sei bem quem sou eu.

 

Jamais na Vida consigo

Ter de mim o que é só meu;

Para supremo castigo,

Eu sou meu próprio Proteu.

 

De instante a instante, a me olhar,

Sinto, num pesar profundo,

A alma a mudar... a mudar...

 

Parece que estão, assim,

Todas as almas do Mundo,

Lutando dentro de mim...

 

IV Serenidade

Feriram-te, alma simples e iludida.

Sobre os teus lábios dóceis a desgraça

Aos poucos esvaziou a sua taça

E sofreste sem trégua e sem guarida.

 

Entretanto, à surpresa de quem passa,

Ainda e sempre, conservas para a Vida,

A flor de um idealismo, a ingênua graça

De uma grande inocência distraída.

 

A concha azul envolta na cilada

Das algas más, ferida entre os rochedos,

Rolou nas convulsões do mar profundo;

 

Mas inda assim, poluída e atormentada,

Ocultando puríssimos segredos,

Guarda o sonho das pérolas no fundo.

Saturday, 3 August 2024

Saturday's Good Reading: "Maquiavélico" by Raul de Leoni (in Portuguese)

Há horas em que minha alma sente e pensa,
Num tempo nobre que não mais se avista,
Encarnada num príncipe humanista,
Sob o Lírio Vermelho de Florença.

Vejo-a, então, nessa histórica presença,
Harmoniosa e sutil, sensual e egoísta,
Filha do idealismo epicurista,
Formada na moral da Renascença.

Sinto-a, assim, flor amável do Helenismo,
Virtuose – restaurando os velhos mapas
Do gênio antigo, entre exegeta e artista.

E ao mesmo tempo, por diletantismo,
Intrigando a política dos papas,
Com a perfídia elegante de um sofista...

Saturday, 25 May 2024

Good Reading: "Florença" by Raul de Leoni (in Portuguese)

Manhã de outono...
Través a gaze fluida da neblina,
Teu panorama, trêmulo, hesitante,
Se vai furtivamente desenhando,
Na alva doçura de uma renda fina...

Do florido balcão de San Miniato,
Como num cosmorama imaginário,
Vejo aos poucos despir-se o teu cenário,
Dentro de um sereníssimo aparato...
Em tons de madrepérola cambiante,
Ao reflexo de um íris fugidio,
Sob o ar transparente e o céu macio,
Abre-se em luz a concha colorida
Do vale do Arno...

Longe onde a névoa azul se dilui sobre as linhas
Amáveis das colinas,
Em caprichosas curvas serpentinas
De oliveiras em flor, de olmeiros e de vinhas,
De pinheiros reais e amendoeiras tranquilas,
Fiésole, bucólica e galante
Mostra, numa expressão fresca de tintas,
O esmalte senhorial das suas vilas
E o cromo pastoril das suas quintas,
Dentro dos bosques do Decameron...
 
Surgem zimbórios em mosaico, perfis duros
De arrogantes palácios gibelinos,
Silhuetas de basílicas votivas,
Torres mortas e suaves perspectivas
E o coleio longínquo dos teus muros,
Recortando a moldura azul dos Apeninos...
Teus sinos cantam num prelúdio lento
A elegia das horas imortais;
É a canção do teu próprio sentimento
Na voz sonâmbula das catedrais...

E é, então, que transponho as tuas portas
E ouvindo as tuas ruínas pensativas
Sinto-me em corpo e espírito em Florença:
A mais humana das cidades vivas,
A mais divina das cidades mortas!...

Florença, ó meu retiro espiritual!
Suave vinheta do meu pensamento!
Sempre te amei com o mesmo afeto humano
Dês que tu eras a comuna guelfa
Idealista, rebelde e sanguinária,
Até o dia
Em que tua alma, flor litúrgica e sombria
Do espírito cristão,
Fugindo do “Jardim das Escrituras”,
Foi, para ver a luz de outras alturas,
Sentar-se no “Banquete de Platão”!

Nobre e amável Florença!
Doce filha de Cristo e de Epicuro!
Flor de Volúpia e de Sabedoria!
Na tua alma de Vênus e Maria
Há uma estranha harmonia ambígua, indescritível:
A castidade melancólica dos lírios
E a graça afrodisíaca das rosas;
A mansuetude ingênua de Fra Angélico!
E a alegria picante de Bocácio!
Amo-te assim, indefinida e vária!
Casta e viciosa – gótica e pagã,
Harmoniosa entre a Acrópole e o Calvário.

Ó Pátria sereníssima
Das formas puras, das ideias claras;
Das igrejas, das fontes, dos jardins;
Dos mosaicos, das rendas, dos brocados;
Dos coloristas límpidos e meigos;
Das almas furta-cor e da graça perversa;
Da discreta estesia dos requintes;
Dos vícios raros, das perversões elegantes;
Dos venenos sutis e dos punhais lascivos;
Deliciosa no crime e na virtude,
Onde a existência foi uma bela atitude
De sensibilidade e de bom gosto
E passou pela História, assim, na ronda viva
Meditativa e brilhante
De uma “Fête Galante”!...

***

Trago-te a minha gratidão latina
Porque foi no teu seio que se fez
Toda a ressurreição da Vida luminosa:
Ó Florença! Florença!
A mais humana das cidades vivas!
A mais divina das cidades mortas!...

Wednesday, 17 April 2024

Good Reading: "Pórtico" by Raul de Leoni (in Portuguese)

 

Alma de origem ática, pagã,

Nascida sob aquele firmamento

Que azulou as divinas epopeias,

Sou irmão de Epicuro e de Renan,

Tenho o prazer sutil do pensamento

E a serena elegância das ideias...

 

Há no meu ser crepúsculos e auroras,

Todas as seleções do gênio ariano,

E a minha sombra amável e macia

Passa na fuga universal das horas,

Colhendo as flores do destino humano

Nos jardins atenienses da Ironia...

 

Meu pensamento livre, que se achega

De ideologias claras e espontâneas,

É uma suavíssima cidade grega,

Cuja memória

É uma visão esplêndida na história

Das civilizações mediterrâneas.

 

Cidade da Ironia e da Beleza,

Fica na dobra azul de um golfo pensativo,

Entre cintas de praias cristalinas,

Rasgando iluminuras de colinas,

Com a graça ornamental de um cromo vivo:

Banham-na antigas águas delirantes,

Azuis, caleidoscópicas, amenas,

Onde se espelha, em refrações distantes,

O vulto panorâmico de Atenas...

 

Entre os deuses e Sócrates assoma

E envolve na amplitude do seu gênio

Toda a grandeza grega a que remonto;

Da Hélade dos heróis ao fim de Roma,

Das cidades ilustres do Tirreno

Ao mistério das ilhas do Helesponto...

 

Cidade de virtudes indulgentes,

Filha da Natureza e da Razão,

– Já eivada da luxúria oriental, –

Ela sorri ao Bem, não crê no Mal,

Confia na verdade da Ilusão

E vive na volúpia e na sabedoria,

Brincando com as ideias e com as formas...

 

No passado pensara muito e, até,

Tentara penetrar o mundo das essências,

Sofrera muito nessa luta inútil,

Mas, por fim, foi perdendo a íntima fé

No pensamento, e agora pensa ainda,

Numa serenidade indiferente,

Mas se conforta muito mais, talvez,

Na alegria das belas aparências,

Que na contemplação das ideias eternas.

 

Cidade amável em que a vida passa,

Desmanchando um colar de reticências:

Tem a alma irônica das decadências

E as cristalizações de um fim de raça...

 

Conserva na memória dos sentidos

A expressão das origens seculares,

E entre os seus habitantes há milhares

Descendentes dos deuses esquecidos;

Que os demais todos têm, inda bem vivo,

Na nobre geometria do seu crânio

O mais puro perfil dólico-louro...

 

Os deuses da cidade já morreram...

Mas, amando-os ainda, alegremente,

Ela os tem no desejo e na lembrança;

E foi a ela (é grande o seu destino!)

Que Julião, o Apóstata, expirando,

Mandou a sua última esperança.

Pela boca de Amniano Marcelino...

 

Cidade de harmonias deliciosas

Em que, sorrindo à ronda dos destinos,

Os homens são humanos e divinos

E as mulheres são frescas como as rosas...

 

Jardins de perspectivas encantadas

– Hermas de faunos nas encruzilhadas –

Abrem ao ouro do sol leques de esguias

Alamedas: efebos, poetas, sábios

Cruzam-nas, dialogando, suavemente,

Sobre a mais meiga das filosofias,

Fímbrias de taças lésbias entre os lábios

E emoções dionisíacas nos olhos...

 

Como são luminosos seus jardins

De alegres coloridos musicais!

No florido beiral dos tanques, debruados

De rosas e aloés e anêmonas e mirtos,

Bebem pombas branquíssimas e castas,

E finamente límpidas e trêmulas

Irisadas, joviais e transparentes,

As águas aromáticas, sorrindo,

Tombam da boca austera dos tritões,

Garganteando furtivos ritornelos...

 

Dentro a moldura em fogo das auroras,

Pelas praias de opala e de ouro, antigas,

Na maciez das areias, em coréias,

Bailam rondas sadias e sonoras

De adolescentes e de raparigas,

Copiando o friso das Panatenéias...

 

Na orla do mar, seguindo a curva ondeante

Do velho cais esguio e deslumbrante,

Quando o horizonte e o céu, em lusco-fusco

Somem na porcelana dos ocasos,

Silhuetas fugitivas

De lindas cortesãs de Agrigento e de Chipre,

Como a sonhar, olham, perdidamente,

A volta das trirremes e das naves,

Que lhes trazem o espírito do Oriente,

Em pedrarias, lendas e perfumes...

 

Então, ondulam no ar diáfano e fluente

Suavidades idílicas, acordes

De avenas, cornamusas e ocarinas

Que vêm de longe, da alma branca dos pastores,

Trazidas pelos ventos transmontanos

E espiritualizadas em surdinas...

 

Terra que ouviu Platão antigamente...

Seu povo espiritual, lírico e generoso,

Que sorri para o mundo e para os seus segredos,

Não ouve mais o oráculo de Elêusis,

Mas ama ainda, quase ingenuamente,

A saudade gloriosa dos seus deuses,

Nas canções ancestrais dos citaredos

E nos epitalâmios do nascente...

 

Seus filhos amam todas as ideias,

Na obra dos sábios e nas epopeias;

Nas formas límpidas e nas obscuras,

Procurando nas cousas entendê-las

– Fugas de sentimento e sutileza –

E as entendem na própria natureza,

Ouvindo Homero no rumor das ondas,

Lendo Platão no brilho das estrelas...

 

Seus poetas, homens fortes e serenos,

Fazem uma arte régia, aguda e fina

Com a doçura dos últimos helenos

Estilizada em ênfase latina...

 

E os velhos da cidade, suaves poentes

De radiantes retores e sofistas,

Passam, olhando as cousas e as criaturas,

Com piedosos sorrisos indulgentes,

Em que longas renúncias otimistas

Se vão abrindo, entre ironias puras,

Sobre todos os sonhos do Universo...

 

Revendo-se num século submerso,

Meu pensamento, sempre muito humano,

É uma cidade grega decadente,

Do tempo de Luciano,

Que, gloriosa e serena,

Sorrindo da palavra nazarena,

Foi desaparecendo lentamente,

No mais suave crepúsculo das cousas...