Thursday, 10 April 2014

"Fetichismo" by Raimundo Correia (in Portguese)




Homem, da vida as sombras inclementes
Interrogas em vão: - Que céus habita Deus?
Onde essa região de luz bendita,
Paraíso dos justos e dos crentes?

Em vão tateiam tuas mãos trementes
As entranhas da noite erma, infinita,
Onde a dúvida atroz blasfema e grita,
E onde há só queixas e ranger de dentes...

A essa abóbada escura, em vão elevas
Os braços para o Deus sonhado, e lutas
Por abarcá-lo; é tudo em torno trevas...

Somente o vácuo estreitas em teus braços;
E apenas, pávido, um ruído escutas
Que é o ruído dos teus próprios passos!...

Wednesday, 9 April 2014

"Noções" by Cecília Meireles (in Portuguese)


Entre mim e mim, há vastidões bastantes
Para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
Só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
E este abandono para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é minha alma:
Qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
Como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

Tuesday, 8 April 2014

"Como Nuvens que Passam" (Canto V) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto V

     - Pára e me ouve! Foi ótimo, foi maravilhoso. És importante pra mim, mas chega! Eu não suporto mais essa dor, a dor de não te alcançar! Teu jeito me fere, teu desleixo, tua obstinação, teu radicalismo! Ferem-me demais! A quanto tempo não conseguimos conversar? Somente nos ferimos com as palavras, com os olhares não trocados! Então te somes por todos esses dias e noites, dizendo que não podes conciliar a mim e tua vida, pra então vir chorando na chuva pedir o meu regaço? como se nada houvesse? Nada está mais ótimo e maravilhoso! Tudo caiu. Eu desmoronei. Fica com a minha toalha de festa.
     
     Fechei-lhe a porta e chorei eu.

   Tudo muito teatral, nós algumas noites antes. Estávamos numa praça escura e um chuvisqueiro miúdo antecipava a noite de hoje. Sentados num banco, silenciosos. Um pouco além, a avenida cheia de luz, ônibus passando, pessoas a correr.

   Eu havia escutado Luciano e suas razões tão certas, precisas, lógicas para terminarmos nossa relação e continuava em silêncio. As idéias, as palavras me passavam pela mente, mas a boca resignava-se á inutilidade de falar.

     Luciano, sempre incomodado com silêncios, perguntou-me em que pensava.

     - Estou lembrado as palavras de meu psicólogo. Ele me disse que quando uma relação vai mal, não a podemos terminar sem ter resolvido os erros nela cometidos, pois do contrário vamos repetir os mesmos erros na próxima.

      - Mas nossa relação não tem problemas; o problema são os outros que não nos aceitam.

      - Certo. O problema são os outros.

Saturday, 5 April 2014

"The Tempter" by Robert E. Howard (in English)



Something tapped me on the shoulder
Something whispered, "Come with me,
"Leave the world of men behind you,
"Come where care may never find you
"Come and follow, let me bind you
"Where, in that dark, silent sea,
"Tempest of the world ne'er rages;
"There to dream away the ages,
"Heedless of Time's turning pages,
"Only, come with me."
           

And my soul tugged at its moorings
And it whispered, "Set me free.
"I am weary of this battle,
"Of this world of human cattle,
"All this dreary noise and prattle.
"This you owe to me."
Long I sat and long I pondered,
On the life that I had squandered,
O'er the paths that I had wandered
Never free.

"Who are you?" I asked the phantom,
"I am rest from Hate and Pride.
"I am friend to king and beggar,
"I am Alpha and Omega,
"I was councilor to Hagar
"But men call me suicide."
I was weary of tide breasting,
Weary of the world's behesting,
And I lusted for the resting
As a lover for his bride.
           

In the shadow panorama
Passed life's struggles and its fray.
And my soul tugged with new vigor,
Huger grew the phantom's figure,
As I slowly tugged the trigger,
Saw the world fade swift away.
Through the fogs old Time came striding,
Radiant clouds were 'bout me riding,
As my soul went gliding, gliding,
From the shadow into day.

Friday, 4 April 2014

"Apologia" by Oscar Wilde (in English)



Is it thy will that I should wax and wane,
Barter my cloth of gold for hodden grey,
And at thy pleasure weave that web of pain
Whose brightest threads are each a wasted day?

Is it thy will--Love that I love so well--
That my Soul's House should be a tortured spot
Wherein, like evil paramours, must dwell
The quenchless flame, the worm that dieth not?

Nay, if it be thy will I shall endure,
And sell ambition at the common mart,
And let dull failure be my vestiture,
And sorrow dig its grave within my heart.

Perchance it may be better so--at least
I have not made my heart a heart of stone,
Nor starved my boyhood of its goodly feast,
Nor walked where Beauty is a thing unknown.

Many a man hath done so; sought to fence
In straitened bonds the soul that should be free,
Trodden the dusty road of common sense,
While all the forest sang of liberty,

Not marking how the spotted hawk in flight
Passed on wide pinion through the lofty air,
To where the steep untrodden mountain height
Caught the last tresses of the Sun God's hair.

Or how the little flower he trod upon,
The daisy, that white-feathered shield of gold,
Followed with wistful eyes the wandering sun
Content if once its leaves were aureoled.

But surely it is something to have been
The best belovèd for a little while,
To have walked hand in hand with Love, and seen
His purple wings flit once across thy smile.

Ay! though the gorgèd asp of passion feed
On my boy's heart, yet have I burst the bars,
Stood face to face with Beauty, known indeed
The Love which moves the Sun and all the stars!

Thursday, 3 April 2014

"A Song" by Lord Alfred Douglas (in English)



Steal from the meadows, rob the tall green hills,
Ravish my orchard's blossoms, let me bind
A crown of orchard flowers and daffodils,
Because my love is fair and white and kind.

To-day the thrush has trilled her daintiest phrases,
Flowers with their incense have made drunk the air,
God has bent down to gild the hearts of daisies,
Because my love is kind and white and fair.

To-day the sun has kissed the rose-tree's daughter,
And sad Narcissus, Spring's pale acolyte,
Hangs down his head and smiles into the water,
Because my love is kind and fair and white.