art from Al Avison - from All Winners Comics Vol.1 #5, 1942.
Wednesday 25 September 2013
Sunday 22 September 2013
"Reinações de Narizinho" by Monteiro Lobato (in Portuguese)
extract from Reinações de Narizinho.
Numa casinha branca, lá no sítio do Pica-pau Amarelo, mora uma velha de
mais de sessenta anos. Chama-se dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na
varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz,
segue seu caminho pensando:
— Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto...
Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em
companhia da mais encantadora das netas — Lúcia, a menina do narizinho
arrebitado, ou Narizinho como todos dizem.
Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e
já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos.
Na casa ainda existem duas pessoas — tia Nastácia, negra de estimação
que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma boneca de pano bastante
desajeitada de corpo. Emília foi feita por tia Nastácia, com olhos de retrós preto
e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa. Apesar disso Narizinho gosta
muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro
acomodá-la numa redinha entre dois pés de cadeira.
Além da boneca, o outro encanto da menina é o ribeirão que passa pelos
fundos do pomar. Suas águas, muito apressadinhas e mexeriqueiras, correm por
entre pedras negras de limo, que Lúcia chama as “tias Nastácias do rio”.
Todas as tardes Lúcia toma a boneca e vai passear à beira d’água, onde
se senta na raiz dum velho ingazeiro para dar farelo de pão aos lambaris.
Não há peixe do rio que a não conheça; assim que ela aparece, todos
acodem numa grande faminteza. Os mais miúdos chegam pertinho; os graúdos
parece que desconfiam da boneca, pois ficam ressabiados, a espiar de longe. E
nesse divertimento leva a menina horas, até que tia Nastácia apareça no portão
do pomar e grite na sua voz sossegada:
— Narizinho, vovó está chamando!...
Saturday 21 September 2013
"Chanson" by Alfred de Mussert (in Portuguese)
Translated into Portuguese by Castro Alves.
Disse a meu
peito, a meu pobre peito:
- Não te
contentas com um só amante?
Pois tu não vês
que êste mudar constante
Gasta em desejos
o prazer do amor?
Êle respondeu: -
Não! não me contento;
Não me contento
com um só amante.
Pois tu não vês
que êste mudar constante
Empresta aos
gozos um melhor sabor?
Disse a meu
peito, a me pobre peito:
- Não te
contentas desta dor errante?
Pois tu não vês
que êste mudar constante
A cada passo só
nos traz a dor?
Êle respondeu: -
Não! não me contento,
Não me contento
desta dor errante...
Pois tu não vês
que êste mudar constante
Empresta às
mágoas um melhor sabor?
Thursday 19 September 2013
Hamlet's Soliloquy by William Shakespeare (in English)
from "Hamlet", Act 3, Scene 1.
To be, or not to be:
that is the question:
Whether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them? To die: to sleep;
No more; and by a sleep to say we end
The heart-ache and the thousand natural shocks
That flesh is heir to, 'tis a consummation
Devoutly to be wish'd. To die, to sleep;
To sleep: perchance to dream: ay, there's the rub;
For in that sleep of death what dreams may come
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause: there's the respect
That makes calamity of so long life;
For who would bear the whips and scorns of time,
The oppressor's wrong, the proud man's contumely,
The pangs of despised love, the law's delay,
The insolence of office and the spurns
That patient merit of the unworthy takes,
When he himself might his quietus make
With a bare bodkin? who would fardels bear,
To grunt and sweat under a weary life,
But that the dread of something after death,
The undiscover'd country from whose bourn
No traveller returns, puzzles the will
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all;
And thus the native hue of resolution
Is sicklied o'er with the pale cast of thought,
And enterprises of great pith and moment
With this regard their currents turn awry,
And lose the name of action. - Soft you now!
The fair Ophelia! Nymph, in thy orisons
Be all my sins remember'd.
Wednesday 18 September 2013
Dracula by Bram Stoker (in English)
Extract from Chapter II.
All I could do now was to be patient, and to wait the coming of morning.
Just as I had come to this conclusion I heard a heavy step approaching
behind the great door, and saw through the chinks the gleam of a coming light.
Then there was the sound of rattling chains and the clanking of massive bolts
drawn back. A key was turned with the loud grating noise of long disuse, and
the great door swung back.
Within, stood a tall old man, clean shaven save for a long white
moustache, and clad in black from head to foot, without a single speck of
colour about him anywhere. He held in his hand an antique silver lamp, in which
the flame burned without a chimney or globe of any kind, throwing long
quivering shadows as it flickered in the draught of the open door. The old man
motioned me in with his right hand with a courtly gesture, saying in excellent
English, but with a strange intonation.
"Welcome to my house! Enter freely and of your own free will!"
He made no motion of stepping to meet me, but stood like a statue, as though
his gesture of welcome had fixed him into stone. The instant, however, that I
had stepped over the threshold, he moved impulsively forward, and holding out
his hand grasped mine with a strength which made me wince, an effect which was
not lessened by the fact that it seemed cold as ice, more like the hand of a
dead than a living man. Again he said.
"Welcome to my house! Enter freely. Go safely, and leave something
of the happiness you bring!" The strength of the handshake was so much
akin to that which I had noticed in the driver, whose face I had not seen, that
for a moment I doubted if it were not the same person to whom I was speaking.
So to make sure, I said interrogatively, "Count Dracula?"
He bowed in a courtly was as he replied, "I am Dracula, and I bid
you welcome, Mr. Harker, to my house. Come in, the night air is chill, and you
must need to eat and rest."As he was speaking, he put the lamp on a
bracket on the wall, and stepping out, took my luggage. He had carried it in
before I could forestall him. I protested, but he insisted.
"Nay, sir, you are my guest. It is late, and my people are not
available. Let me see to your comfort myself."He insisted on carrying my
traps along the passage, and then up a great winding stair, and along another
great passage, on whose stone floor our steps rang heavily. At the end of this
he threw open a heavy door, and I rejoiced to see within a well-lit room in
which a table was spread for supper, and on whose mighty hearth a great fire of
logs, freshly replenished, flamed and flared.
Tuesday 17 September 2013
"Nada te Turbe" by St. Therese of Avila (in Spanish)
- Nada te turbe;
- nada te espante;
- todo se pasa;
- Dios no se muda,
- la paciencia
- todo lo alcanza.
- Quien a Dios tiene,
- nada le falta.
- Solo Dios basta.
Monday 16 September 2013
"Ondas..." by Raimundo Corrêa (in Portuguese)
Ilha de atrozes degredos!
Cinge um muro de rochedos
Seus flancos. Grosso a espumar
Contra a dura penedia,
Bate, arrebenta, assobia,
Retumba, estrondeia o mar.
Em circuito, o Horror impera;
No centro, abrindo a cratera
Flagrante, arroja um volcão
Ígnea blasfêmia às alturas...
E, nas ínvias espessuras,
Brame o tigre, urra o leão.
Aqui chora, aqui, proscrita,
Clama e desespera aflita
A alma de si mesma algoz,
Buscando na imensa plaga,
Entre mil vagas, a vaga,
Que neste exílio a depôs.
Se a vida a prende à matéria,
Fora desta, a alma, sidérea,
Radia em pleno candor;
O corpo, escravo dos vícios,
É que teme os precipícios,
Que este mar cava em redor.
No azul eterno ela busca,
No azul, cujo brilho a ofusca,
Pairar, incendida ao sol,
Despindo a crusta vil, onde
Se esconde, como se esconde
A lesma em seu caracol.
Contempla o infinito... Um bando
De gerifaltos voando
Passou, desapareceu
No éter azul, na água verde...
E onde esse bando se perde,
seu longo olhar se perde...
Contempla o mar, silenciosa:
Ora mansa, ora raivosa,
Vai e vem a onda minaz,
E entre as pontas do arrecife,
Às vezes leva um esquife,
Às vezes um berço traz.
Contempla, de olhos magoados,
Tudo... Muitos degredados
Findo o seu degredo têm;
Vão-se na onda intumescida
Da Morte, mas na da Vida,
Novos degredados vêm.
Ó alma contemplativa !
Vem já, decumana e altiva,
Entre as ondas talvez,
A que, no supremo esforço
Da morte, em seu frio dorso,
Te leve ao largo, outra vez.
Quanto esplendor! São aquelas
As regiões de luz, que anelas,
Rompe os rígidos grilhões,
Com que à Carne de agrilhoa
O instinto vital! E voa,
e voa àquelas regiões!...
Cinge um muro de rochedos
Seus flancos. Grosso a espumar
Contra a dura penedia,
Bate, arrebenta, assobia,
Retumba, estrondeia o mar.
Em circuito, o Horror impera;
No centro, abrindo a cratera
Flagrante, arroja um volcão
Ígnea blasfêmia às alturas...
E, nas ínvias espessuras,
Brame o tigre, urra o leão.
Aqui chora, aqui, proscrita,
Clama e desespera aflita
A alma de si mesma algoz,
Buscando na imensa plaga,
Entre mil vagas, a vaga,
Que neste exílio a depôs.
Se a vida a prende à matéria,
Fora desta, a alma, sidérea,
Radia em pleno candor;
O corpo, escravo dos vícios,
É que teme os precipícios,
Que este mar cava em redor.
No azul eterno ela busca,
No azul, cujo brilho a ofusca,
Pairar, incendida ao sol,
Despindo a crusta vil, onde
Se esconde, como se esconde
A lesma em seu caracol.
Contempla o infinito... Um bando
De gerifaltos voando
Passou, desapareceu
No éter azul, na água verde...
E onde esse bando se perde,
seu longo olhar se perde...
Contempla o mar, silenciosa:
Ora mansa, ora raivosa,
Vai e vem a onda minaz,
E entre as pontas do arrecife,
Às vezes leva um esquife,
Às vezes um berço traz.
Contempla, de olhos magoados,
Tudo... Muitos degredados
Findo o seu degredo têm;
Vão-se na onda intumescida
Da Morte, mas na da Vida,
Novos degredados vêm.
Ó alma contemplativa !
Vem já, decumana e altiva,
Entre as ondas talvez,
A que, no supremo esforço
Da morte, em seu frio dorso,
Te leve ao largo, outra vez.
Quanto esplendor! São aquelas
As regiões de luz, que anelas,
Rompe os rígidos grilhões,
Com que à Carne de agrilhoa
O instinto vital! E voa,
e voa àquelas regiões!...
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