Saturday, 28 June 2014

“Rimas” by Raimundo Correia (in Portuguese)



Rondo pela noite
Imaginando mil coisas
Meditando sozinho
Até a madrugada

Isto tudo é tão contrário
Medo e coragem
Amor e ódio
Revolta e compreensão

Mas nada rima nesse mundo
Apenas eu e você restávamos
Resto do que o mundo já foi
Intensamente, imensamente, eternamente

Até mesmo nós sucumbimos
Reavaliamos nossa condição
Indiferentes, deixamos de rimar
Menos um casal no mundo

Agora ando sozinho
Meditando noite adentro
Imaginando e esquecendo mil e uma coisas
Rondando até a madrugada

“Máquina Breve” by Cecília Meireles (in Portuguese)



O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna,
que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
— meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste e
qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.
Parecia uma esmeralda
e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena
estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.

Friday, 27 June 2014

“Ava Maria Plena Gratia” by Oscar Wilde (in English)



Was this His coming! I had hoped to see
A scene of wondrous glory, as was told
Of some great God who in a rain of gold
Broke open bars and fell on Danae:
Or a dread vision as when Semele
Sickening for love and unappeased desire
Prayed to see God's clear body, and the fire
Caught her white limbs and slew her utterly:
With such glad dreams I sought this holy place,
And now with wondering eyes and heart I stand
Before this supreme mystery of Love:
A kneeling girl with passionless pale face,
An angel with a lily in his hand,
And over both with outstretched wings the Dove.

Thursday, 26 June 2014

“In Memoriam: Francis Archibald Douglas” by Lord Alfred Douglas (in English)



Dear friend, dear brother, I have owed you this
Since many days, the tribute of a song.
Shall I cheat you who never did a wrong
To any man ? No, therefore though I miss
All art, all skill, in this short armistice
From my soul's war against the bitter throng
Of present woes, let these poor lines be strong

In love enough to bear a brother's kiss.
Dear saint, true knight, I cannot weep for you,
Nor if I could would I call back the breath
To your dear body ; God is very wise,
All that this year had in its womb He knew,
And, loving you, He sent His Son like Death,
To put His hand over your kind gray eyes.

Wednesday, 25 June 2014

“Fables For Little Folk” by Robert E. Howard (in English)



He was six foot four and wide as a door
And he weighed two hundred pounds
And he laughed as he spoke, "I’ll cool that bloke.
I’ll flatten him in two rounds."
Ah, the crowd they cheered, but the crowd they jeered
When his foeman stepped in the ring;
They hissed and jowled and the giant scowled
And rushed with a round-house swing.
Yes, he came full tilt but the beans were spilt
For the smaller man timed him fair
And knocked him out with a left hand clout
And the crowd gave him the air.
So the moral is this: make your foeman miss
And never lead with your right,
But the first that you’re to do is be sure
That it’s not Jack Dempsey you fight.

Tuesday, 24 June 2014

"Os Primeiros Minutos" by José Thiesen (in English)

Quando ela olhou para ele compreendeu que não o amava mais.
Ela virou para o lado e tentou até sorrir. Sempre soube que esta certeza um dia viria e que, vindo, não teria retorno.
Ele ainda comia seus ovos fritos com evidente prazer.
Ela egueu-se da mesa e foi até o banheiro branco encontrar-se consigo no espelho na parede. Aos trinta anos ainda era bela ela, Anabela bela.
Ouviu os pratos serem postos na pia.
Encontraram-se no quarto de dormir, ele a desabotoar a camisa.
- Não mais te amo.
- O quê?
- Eu não mais te amo.
- Piada?
- Sério. Eu não mais te amo.
- Tu queres dizer que não me amas mais?
- Isso.
Eles estava aturdido; ela, séria. Ele queria falar mas não conseguia achar as palavras.
- E esperou até agora pra me dizer isso?
- Eu não esperei. Descobri agora.
- Mas como assim, “descobri agora”?
- Apenas isso. Descobri agora que não mais te amo.
- Eu não acredito.
- Eu vou embora.
- Como assim, vais embora?
- Não mais te amo; não posso mais ficar aqui.
- Estás maluca? Eu te amo e quero que fiques comigo!
- Não é possível.
- Mas o teu amor por mim, o que houve com ele?
- Foi uma luz que se apagou. Não sei o que houve; apenas não mais te amo!
- Pare de dizer isso!
- Eu sempre soube que um dia te diria isso.
- Escute, meu amor: guarde essa mala e vamos dormir, dormir, talvez sonhar e então amanhã tudo isso parecerá distante e as coisas voltarão ao normal.
- As coisas estão normais e vou embora assim mesmo.
- Eu não posso te impedir...
- Não.
- Eu quero... eu quero te odiar!
- Faça-o. Será melhor pra ti.
Ele sentou se cama e lágrimas que vinham do fundo de sua alma começaram a rolar lentas por sua face. Mas ele não chorava, realmente.
Ela terminou sua mala e a fechou.
- Eu não tenho raiva, nem ódio nem mágoa de ti. Apenas não mais te amo.
Sem virar-se ela o ouviu sair e fechar a porta do apartamento. Ele foi até a janela e do alto de nove andares a viu sair do prédio e pegar um taxi.
Com um gesto de abraça-la, fechou os olhos e abraçou o espaço.
Como ela não lia jornais, jamais descobriu-lhe a morte.


"Ecclesiastes" (Chapter VI) by Qoheleth (in English)



Chapter 6

1 There is another evil which I have seen under the sun, and it weighs heavily upon man: 2 there is the man to whom God gives riches and property and honor, so that he lacks none of all the things he craves; yet God does not grant him power to partake of them, but a stranger devours them. This is vanity and a dire plague. 3 Should a man have a hundred children and live many years, no matter to what great age, still if he has not the full benefit of his goods, or if he is deprived of burial, of this man I proclaim that the child born dead is more fortunate than he.

4 Though it came in vain
and goes into darkness

and its name is enveloped in darkness;

5 though it has not seen  or known the sun,
yet the dead child is at rest rather than such a man.

6 Should he live twice a thousand years and not enjoy his goods, do not both go to the same place?

7 All man's toil is for his mouth,
yet his desire is not fulfilled.

8 For what advantage has the wise man over the fool, or what advantage has the poor man in knowing how to conduct himself in life? 9 "What the eyes see is better than what the desires wander after." This also is vanity and a chase after wind. 10 Whatever is, was long ago given its name, and the nature of man is known, and that he cannot contend in judgment with one who is stronger than he. 11 For though there are many sayings that multiply vanity, what profit is there for a man?

12 For who knows what is good for a man in life, the limited days of his vain life (which God has made like a shadow)? Because-who is there to tell a man what will come after him under the sun?