Friday, 28 March 2014

"O Monge" by Raimundo Correia (in Portuguese)



—"O coração da infância", eu lhe dizia,
"É manso." E ele me disse:—"Essas estradas,
Quando, novo Eliseu, as percorria,
As crianças lançavam-me pedradas..."

Falei-lhe então na glória e na alegria;
E ele—alvas barbas longas derramadas
No burel negro—o olhar somente erguia
Às cérulas regiões ilimitadas...

Quando eu, porém, falei no amor, um riso
Súbito as faces do impassível monge
Iluminou... Era o vislumbre incerto,

Era a luz de um crepúsculo indeciso
Entre os clarões de um sol que já vai longe
E as sombras de uma noite que vem perto!...

Thursday, 27 March 2014

Sonnet IX by William Shakespeare (in English)



Is it for fear to wet a widow's eye,
That thou consum'st thy self in single life?
Ah! if thou issueless shalt hap to die,
The world will wail thee like a makeless wife;
The world will be thy widow and still weep
That thou no form of thee hast left behind,
When every private widow well may keep
By children's eyes, her husband's shape in mind:
Look what an unthrift in the world doth spend
Shifts but his place, for still the world enjoys it;
But beauty's waste hath in the world an end,
And kept unused the user so destroys it.
   No love toward others in that bosom sits
   That on himself such murd'rous shame commits.

Wednesday, 26 March 2014

"Como Nuvens que Passam" (Cantos II, III e IV) by José Thiesen (in Portuguese)

Canto II

     - E tu o amas muito?
     - Numa escala de um a dez?
     - Isso!
     - Trinta e dois!
     (risos)
     - Mas conte-me, como ele é?
     - Meu-deus, Eduardo! Como ele é? Dizer que Luciano é mais alto que eu, loiro, tem olhos verdes, boca pequena e grossa? Falar de seu bícepstóraxconstruçãoóssea? Falar o que, se ele é mais do que vejo  e  o que não vejo vai além das palavras?
     - Ui! pirou mesmo! Cuidado, hein? Vai e vai, ele vira obcessão sem que te livres dele nem depois de ele se ter livrado de ti!
     - Sei disso...
     - Sabe mesmo? Jura?
     - De pé junto...


Canto III

     - Mas porque recusas esse curso?
     - Oh, Luciano, eu... Parece-me que isso exige tanta concentração... Não sei se dou conta...
     - Mas não custa nada tentar! E podemos fazer o curso juntos!


Canto IV

     - Luciano, que é isso?
     - Oi!...
     - Estás todo molhado, homem!
     - Essa chuva...
     - Entra, enquanto busco uma toalha!
     - Não!... Quer dizer... Vai, vai, eu espero...
     (Essa! A mais bela, a de dias de festa!)
     - Toma, te enxuga!
     - Grato. Toalha bonita.
     - Nada. Se compra igual em qualquer esquina. Mas que é que queres? Eu já ia dormir...
     Então ele me abraçou ali na porta, chorando, depois de ter acabado comigo, tres semanas antes.

Tuesday, 25 March 2014

"12 Angry Men" by Reginald Rose (in English)



Juror #8: Look, there was one alleged eye witness to this killing. Someone else claims he heard the killing, saw the boy run out afterwards and there was a lot of circumstantial evidence. But, actually, those two witnesses were the entire case for the prosecution. Supposing they're wrong?

Juror #12: What do you mean, supposing they're wrong? What's the point of having witnesses at all?

Juror #8: Could they be wrong?

Juror #12: What are you trying to say? Those people sat on the stand under oath.

Juror #8: They're only people. People make mistakes. Could they be wrong?

Juror #12: Well, no, I don't think so.

Juror #8: Do you 'know' so?

Juror #12: Oh, come on. Nobody can know a thing like that. This isn't an exact science.

Juror #8: That's right, it isn't.

Saturday, 22 March 2014

"O Mar" by Dorival Caymmi (in Portuguese)



O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito
O mar... pescador quando sai
Nunca sabe se volta, nem sabe se fica
Quanta gente perdeu seus maridos seus filhos
Nas ondas do mar
O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito

Pedro vivia da pesca
Saia no barco
Seis horas da tarde
F#m
Só vinha na hora do sol raiá
Todos gostavam de Pedro
E mais do que todas
Rosinha de Chica
A mais bonitinha
E mais bem feitinha
De todas as mocinha lá do arraiá

Pedro saiu no seu barco
Seis horas da tarde
Passou toda a noite
Não veio na hora do sol raiá
Deram com o corpo de Pedro
Jogado na praia
Roído de peixe
Sem barco sem nada
Num canto bem longe lá do arraiá

Pobre Rosinha de Chica
Que era bonita
Agora parece
Que endoideceu
Vive na beira da praia
Olhando pras ondas
Andando rondando
Dizendo baixinho
Morreu, morreu, morreu, oh...
O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito

 O Mar - sung by Dorival Caymmi.

Sonnet by Álvares de Azevedo (in Portuguese)



Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti — as noites eu velei chorando,
Por ti — Nos sonhos morrerei sorrindo!